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CAPES

Volume 9, Número 2, Abr/Jun - 2005

ARTIGOS DE REFLEXÃO

 

Método história de vida e sua aplicabilidade no campo da enfermagem

 

The history of life method and its applicability in the field of nursing

 

Método historia de vida y su aplicación en el campo de la enfermería

 

 

Iêda Maria Vargas DiasI; Rosângela da Silva SantosII

Doutoranda da Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro e-mail: adrieda@superig.com.br
Professora Doutora Titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

 


RESUMO

Esta publicação tem o objetivo de apresentar as atuais contribuições literárias referentes ao Método História de Vida e avaliar os avanços da aplicação desse método. No referencial teórico são abordadas questões sobre o método que utiliza-se da trajetória pessoal no âmbito das relações humanas, na busca de conhecer as informações contidas na vida pessoal de um ou de vários informantes. Após a realização do estudo que se constitui numa revisão bibliográfica sobre o método história de vida, constatamos que esse método tem sido utilizado em diversas áreas do conhecimento como a sociologia, a antropologia, a psicologia, entre outras, e que a enfermagem vem se apropriando gradativamente do método nesses últimos anos. A conclusão mostra que o método fornece uma riqueza de detalhes sobre o tema e que os sujeitos têm liberdade para dissertar livremente sobre sua experiência pessoal em relação ao que está sendo indagado pelo entrevistador.

Palavras-chave: Enfermagem. Revisão bibliográfica. Método História de Vida.


ABSTRACT

This publication has the objective of presenting the current literary contributions regarding the History of life Method, and it evaluates the progress of its application. In the theoretical referring subjects are approached on the Method is used in a personal way, in the extent of the human relations, in looks after an information, belonging to a personal life of each one individual or of several informers. After the accomplishment of the study it can constitutes in a bibliographical revision on the own history of life, consisted that this method it has been used in several areas of knowledge, as the sociology, the anthropology, psychology, as such others like nursing, that is gradually adjusting the method on these last years. The conclusion shows that the method supplies a wealth of details on the theme, the subjects are free for the lecture, about each personal experience itself in relation to whom that is being investigated by the interviewer.

Keywords: Nursing. Bibliographical revision. History of life Method.


RESUMEN

Esta publicación tiene el objetivo de presentar las actuales contribuciones literarias referentes al Método Historia de Vida y evaluar los avances de la aplicación de ese método. En el referencial teórico, son enfocadas cuestiones sobre el método que se utiliza de la trayectoria personal en el ámbito de las relaciones humanas, en la busca conocer las informaciones contenidas en la vida personal de uno o de varios informantes. Despues de la realización del estudio, lo cual es una revisión bibliográfica sobre el método Historia de Vida, hemos constatado que ese método es aplicado en diversas áreas del conocimiento como la sociología, la antropología, psicología, entre otras, y que la enfermería viene se apropiando gradualmente del método en los últimos años. La conclusión muestras que el método fornece una riqueza de detalles sobre el tema y que los sujetos tienen libertad para disertar libremente a cerca de su experiencia personal en relación a lo que está siendo indagado por el entrevistador.

Palabras clave: Enfermería. Revisión Bibliográfica. Método Historia de Vida.


 

 

INTRODUÇÃO

O presente estudo constitui-se numa revisão bibliográfica realizada no decorrer da disciplina Tópicos Avançados em Enfermagem, oferecida pelo programa de pós-graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A proposta da disciplina consistiu em discutir enfoques teóricos metodológicos do processo de investigação e propiciar a elaboração do referencial metodológico do projeto de doutorado. O que permitiu a familiarização em profundidade com o método História de Vida.

No decorrer dessa disciplina, além dos objetivos propostos, foi possível, ainda, identificar as pesquisas que se utilizaram do método história de vida nas áreas da saúde, da educação e da ciências sociais, pontuar as principais dificuldades na escolha desse referencial metodológico e discutir as semelhanças e diferenças entre história de vida e história oral.

Foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de busca manual nos periódicos da área de enfermagem, teses e dissertações publicadas nas instituições de ensino Stricto Sensu das áreas de enfermagem, educação e ciências sociais da cidade do Rio de Janeiro e através da busca eletrônica no catálogo de publicações do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem. O que possibilitou conhecer as atuais contribuições literárias referentes ao Método História de Vida e avaliar os avanços da sua aplicação.

 

CONHECENDO O MÉTODO HISTÓRIA DE VIDA

O Método História de Vida, também denominado como Método Biográfico, é uma situação de intervenção social, de comunicação, onde se defrontam o pesquisador com um projeto definido e o pesquisado que, aceitando a proposta, faz um relato de sua existência onde está contida uma mensagem destinada ao seu interlocutor. O que o entrevistador ouve é um discurso no qual o sujeito fala da representação que tem dos fatos de sua vida, segundo suas categorias de valores e seus códigos temporais. Para Brioschi et al. 1, é um trabalho de interpretação, onde o filtro perceptivo vai determinar desde a seleção de fatos até o significado atribuído a eles. O narrador conta sua vida, hierarquizando, valorizando e reforçando aspectos, imprimindo a sua visão pessoal e subjetiva. É uma narrativa onde o narrador dá a interpretação pessoal sobre os fatos de sua própria vida.

O método história de vida utiliza-se das trajetórias pessoais no âmbito das relações humanas. Busca conhecer as informações contidas na vida pessoal de um ou de vários informantes, fornecendo uma riqueza de detalhes sobre o tema. Os sujeitos têm liberdade para dissertar livremente sobre sua experiência pessoal em relação ao que está sendo indagado pelo entrevistador. Para Glat 2, uma importante característica do Método História de Vida é que o pesquisador não tem o controle da situação, ao contrário, todo o estudo é direcionado pelo entrevistado, a partir de sua visão de mundo, de como vivenciou os fatos e como eles interagem com o presente.

Para a autora, a diferença fundamental desse método para outras abordagens metodológicas é o respeito que o autor tem pela opinião do sujeito. O método respeita a individualidade e a especificidade do autor, porém, seu discurso é decomposto, reagrupado e interpretado. As experiências humanas são descritas na dimensão temporal da pessoa que vivenciou.

Em relação à precisão do vocabulário, é mister destacar que, após um longo período de hesitação terminológica, o sociólogo americano Norman Denzin apud Bertaux 3 propôs a distinção dos vocábulos story e history. De acordo com o autor, life story é o relato de vida narrado tal como a pessoa vivenciou. O pesquisador não confirma a autenticidade dos fatos, pois o importante é o ponto de vista de quem está narrando. Já a expressão life history é utilizada para aprofundar estudos sobre a vida de um indivíduo, como nos estudos de caso. Neste, além da narrativa de vida, inclui-se todos os documentos que possam ser consultados, tais como prontuário médico, processo jurídico, testes psicológicos, testemunhos de familiares, amigos, entrevistas com pessoas que conhecem o sujeito ou a situação em estudo. O pesquisador, porém, deve confiar na autenticidade dos fatos.

A história de vida pode ser utilizada de diversas formas. Pode constituir-se em autobiografia, entrevista biográfica ou como fonte de pesquisa propriamente dita. Para Santos4 autobiografia consiste na história de vida narrada pelo próprio autor, onde não há interferência externa do pesquisador; entrevista biográfica caracteriza-se por ter como objeto da indagação o ator e não um tema específico e por revelar os aspectos integrados de uma estrutura social que o pesquisador já conhece, dela participa interferindo na composição e estrutura do relato, porém não analisa nem interpreta as informações, apenas seleciona e ordena; e por fim, a narrativa utilizada academicamente no método história de vida, que consiste num meio de colher informações relevantes para a pesquisa, tendo como objeto de investigação um tema específico e não o ator.

Parafraseando Bogdan e Biklen 5, enquanto algumas narrativas de vida são dirigidas para abarcar a vida inteira do sujeito, desde o nascimento até o presente, outras são mais limitadas e procuram dados referentes a um período específico da vida da pessoa, sendo denominada de História de Vida Tópica. Ou seja, é possível fazer uso da história de vida enfocando uma determinada etapa, ou um determinado acontecimento vivenciado pelo individuo.

Numa perspectiva histórica, pode-se dizer que a antropologia tem a mais antiga tradição na abordagem biográfica; utilizou o método já no século XIX, porém, foi somente a partir de 1920 que o método teve grande desenvolvimento. No campo da sociologia, apesar do uso mais restrito, cabe ressaltar as investigações da Escola de Chicago, cujos relatos de vida forneceram elementos para se compreender categorias consideradas desviantes da sociedade. Na história, o uso do método também data dos anos 20 e nasceu com a necessidade de estudar culturas iletradas com extensa tradição oral. A partir de 1945, o método biográfico passou a ocupar posição secundária na investigação social, em função da valorização da objetividade e rigor científico, implicitos na quantificação 1.

Bertaux3 refere que nos anos 70 acentuou-se o interesse pelo uso dos depoimentos pessoais na pesquisa social e, com isso, vários estudos com o objetivo de procurar estabelecer a ordem conceitual e metodológica das histórias de vida surgiram no cenário da produção científica. O interesse pelo indivíduo como ator, em situações específicas, surgiu tanto no plano da ciência como dos meios de comunicação de massa, colocando em evidência o vivido, o típico, o regional. O recrudescimento do interesse pelo método biográfico pode ser explicado, na prática, pela divulgação do gravador. No nível mais teórico, foi significativa a ruptura na transmissão da informação oral de uma geração para outra, num ambiente social marcado pelas mudanças rápidas.

O método história de vida, contrariamente a outros métodos que distingue as várias etapas de investigação, dissolve o fazer fragmentado pela introdução da reflexão em todas as etapas da pesquisa, desde a elaboração teórica até a coleta de dados. De acordo Bertaux3, uma das condições para que a narrativa de vida se desenvolva plenamente é que o interlocutor seja tomado pelo desejo de relatar, ou que ele próprio passe a conduzir a conversa. Na entrevista, o papel do informante se modifica, isso porque o sujeito não recita sua vida, ele reflete sobre ela enquanto a narra.

No método história de vida, o processo de coleta de dados é um processo de comunicação e de interação social, na qual a neutralidade da observação é substituída por um questionamento, envolvendo as condições da situação de entrevista em todos os seus aspectos. Pela própria situação de entrevista, estaria automaticamente superado o distanciamento na observação, sendo a pretensa neutralidade do investigador substituída pela relação de comunicação entre entrevistado e entrevistador. Em relação à neutralidade, Brioschi e Trigo1 referem que, a partir do reconhecimento da identidade de natureza entre sujeito e objeto, decorre uma mudança de postura na relação pesquisador/pesquisado, na qual objetividade e neutralidade deixam de ser requisitos para a validade das conclusões.

O pesquisador depara no seu processo de pesquisa com um objeto que reage à sua presença; que detém um saber que lhe é próprio, decorrente de sua experiência de vida; que é capaz de atribuir significado às suas ações e ao seu discurso, expressando e articulando seus pensamentos à sua maneira. O investigador não é um observador neutro e deve estar consciente de que em todos os momentos do processo de investigação sua subjetividade está presente. Portanto, por mais que procure captar dados reais e objetivos, o resultado é uma interpretação, uma versão dos fatos que poderá ser confrontada com outras.

Os registros dos relatos de vida são muito pouco manipuláveis, e com certeza é preciso transcrevê-los. Bertaux3 recomenda a transcrição imediata das entrevistas, o que permitirá ao pesquisador organizar as idéias em relação ao questionamento e atingir o ponto de saturação. Em relação à análise, o autor adverte que, se os relatos de vida não se coadunam com uma postura positivista no processo de formulação da problemática e da coleta de dados, eles não estão isentos de cair nisso, quando se trata de sua análise. Muito facilmente, a riqueza dos relatos de vida leva o pesquisador, desprovido de um quadro conceitual explícito, a tratar o discurso como fato ao invés de uma determinada versão do mesmo. A proposta exige do investigador reflexão sobre seu procedimento, sobre o objeto investigado, e a relação social implicita no processo de investigação exige uma especificidade de procedimentos. Portanto, é aconselhado que a análise seja realizada ao longo da pesquisa.

Segundo Bertaux3, o campo atual da abordagem biográfica apresenta algumas características importantes; a primeira refere-se ao processo que levou da unidade à diversidade. Os estudos baseados em narrativas de vida apresentam uma grande diversidade quanto ao tipo de objeto estudado, população pesquisada e número de pessoas interrogadas que vai de um a mais de cem.

Referente ao número de pessoas, o autor propõe que se busque a solução deste problema no conceito de saturação, que surge a partir de um certo número de entrevistas, ou seja, quando o pesquisador tem a impressão de não apreender nada de novo no que se refere ao objeto de estudo, acredita-se que alcançou o ponto de saturação. Mas o pesquisador não pode estar certo de ter atingido a saturação, sem que tenha procurado diversificar ao máximo seus informantes. A saturação é um processo que se opera não no plano da observação, mas dentro do plano das representações que o pesquisador constrói paulatinamente de seu objeto de pesquisa.

 

METODOLOGIA

Para nos aproximarmos do objeto de estudo e conhecermos as atuais contribuições pertinentes ao tema, propusemo-nos a realizar uma revisão bibliográfica sobre o Método História de Vida. Rampazzo6 define a pesquisa bibliográfica como exame da literatura corrente ou retrospectiva com a finalidade de conhecer contribuições científicas que se efetuaram sobre o assunto assumido como tema de pesquisa pelo investigador.

Para Yamamoto et al7, os propósitos da revisão de literatura consistem em observar como a situação-problema a ser tratada se relacionam com as situações problemas de outros autores, provocar familiarização do autor de um projeto de pesquisa com resultados significativos de projetos de pesquisas afins, levar o autor de um projeto a localizar e definir melhor a situação-problema, e perceber a importância da situação-problema que deseja estudar e como ela se situa em um conjunto mais amplo de outras experiências.

Segundo Salomon8, o processo de avaliação do material bibliográfico que o pesquisador encontra lhe mostrará até onde outros investigadores têm chegado em seus esforços, os métodos empregados, as dificuldades que tiveram de enfrentar, o que pode ser ainda investigado. Ao mesmo tempo, o pesquisador poderá ir avaliando seus recursos humanos e materiais, as possibilidades de realização de seu trabalho, a utilidade que os resultados alcançados podem emprestar a determinada área do saber e de ação. Ao realizar uma pesquisa bibliográfica, deve-se obedecer a uma seqüência ordenada de procedimentos que, além de auxiliarem a manter a perspectiva global do estudo, contribuem para uma organização racional e eficiente. Nesse sentido, Almeida9 estabelece que a revisão bibliográfica seja realizada através do levantamento, seleção, fichamento, categorização e análise dos documentos.

Aos termos definido o método história de vida como objeto de estudo, partimos para o levantamento das fontes. O levantamento bibliográfico foi realizado por meio de busca eletrônica nas bases de dados digital, Anais do 12º Seminário de Pesquisa em Enfermagem e nas publicações editadas do catálogo Informações sobre Pesquisas e Pesquisadores em Enfermagem, do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, da Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn. A busca manual foi realizada nos periódicos da área de enfermagem, teses e dissertações publicadas nos últimos 10 anos, nas seguintes instituições de ensino stricto sensu: Escola de Enfermagem Anna Nery e Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ; Escola de Enfermagem da UNIRIO, Escola de Enfermagem da UFF, Faculdade de Enfermagem, Faculdade de Psicologia Social e Faculdade de Educação da UERJ.

De posse do material, iniciamos a leitura, seguindo as etapas sugeridas por Gil10: leitura exploratória, que é realizada com o objetivo de verificar em que medida a obra consultada atende às intenções do pesquisador; seletiva, que tem como fim determinar qual material de fato interessa à pesquisa; e analítica, que tem a finalidade de ordenar e sumarizar as informações contidas nas fontes. Após a leitura, partimos para a fase de categorização do material, destacando os sujeitos do estudo, a área temática, a origem do estudo; a data de publicação; a classificação do estudo e o tipo de análise utilizada. Finalizando, passamos para a fase de análise do material que culminou na elaboração do capítulo de apresentação e discussão dos resultados.

 

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Iniciamos este capítulo apresentando o quadro demonstrativo dos resultados obtidos a partir do levantamento bibliográfico, que foi organizado em ordem cronológica de publicação:

 


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Na presente revisão bibliográfica, foram localizados 18 estudos que utilizaram o Método História de Vida e evidenciado que, neste total de estudo garimpado, tamanha é a variedade de sujeitos investigados através deste método, abrangendo diversos segmentos populacionais, como: idosos, jovens favelados, mães de crianças especiais, pais de recém-nascido internados em unidade de tratamento intensivo neonatal, alfabetizadoras, portador de doenças específicas, mulheres em situação abortiva, transplantados, profissionais de enfermagem, parteiras, entre outros.

Da mesma forma que o objeto de estudo, a área de conhecimento, também, mostrou-se variada, tendo sido localizado estudos na psicologia, na enfermagem, na medicina, na educação, nas ciências sociais. O que mostra que este método pode ser aplicado em diferentes áreas do conhecimento. Com destaque para a área de educação e de saúde, em especial, a área de saúde materno-infantil que apresentou um grande número de publicações. Este dado pode ser justificado pelo fato de que pesquisadoras que utilizam este método estarem inseridas em núcleo de pesquisa na área de saúde da mulher.

Os objetivos dos estudos levantados, basicamente, inferiam em discutir situações vivenciadas por esses diversos personagens reais, através de suas histórias de vida, e a repercussão disso em determinada situação. A origem dos estudos é ampla, sendo que a Escola de Enfermagem Anna Nery mostrou uma grande concentração de estudos que utilizaram este método, principalmente a partir do ano 1995, quando Santos4 defendeu a primeira tese de doutorado em enfermagem, que utilizou o método história de vida como referencial teórico metodológico. Em relação à data de publicação, observamos que a partir do ano de 2000 houve um aumento significativo no número de publicações comparado aos anos anteriores.

Os estudos que utilizaram o Método História de Vida, todos de natureza qualitativa, permitiram conhecer a diversidade, atualidade e pertinência do método, nesses tempos que a premissa de dar voz a quem é cuidado permea os discursos acadêmicos de humanização da contemporaneidade. Os estudos evidenciam que o método privilegia as atitudes dos atores envolvidos, valorizando-os sem delimitar as dimensões de cada idéia abordada e evidencia que os pesquisados não saiam do universo da investigação.

 

CONCLUSÃO

Mediante o estudo realizado, observamos que o Método História de Vida abandona radicalmente o Positivismo, onde a pesquisa dá-se de forma cartesiana, sem levar em consideração as vivências do sujeito da pesquisa. O método confere ao sujeito o poder de direcionar o estudo, pois o mesmo é determinado pelo que o sujeito retrata. Para que o método seja desenvolvido, é necessário que o pesquisador faça um esforço em se despir de preconceitos e pressupostos, para que seja possível posicionar-se de modo genuíno diante do sujeito, sem questionar se o que ele diz é verdade ou não, pois é a sua história que está sendo narrada, é a sua verdade, e não cabe ao pesquisador julgar ou se posicionar contrário ou favorável ao que está sendo dito. É preciso captar aquilo que está sendo dito de forma singular.

A enfermagem vem se apropriando gradativamente do método nestes últimos anos. O objeto da enfermagem é o cuidar, cuidado este que abrange a pesquisa, a prática e o ensino, mas para exercer devidamente este cuidado, é preciso conhecer, ouvir o sujeito, em qualquer instância, e o método história de vida possibilita tal exercício.

Ao realizar o presente estudo, obtivemos algumas dificuldades mediante concretização do levantamento, pois a maioria dos resumos das pesquisas não apresentava claramente a definição do método, e isto era primordial para realização do trabalho. Entretanto, a realização da presente revisão bibliográfica possibilitou compartilharmos e apreendermos diversas maneiras de pensar, agir e exercer a prática profissional de pesquisadores que se utilizaram deste método para construir um novo saber. O que foi enriquecedor, pois nos despertou para um profundo mergulho no método, mediante constatação de sua importância, logo, necessidade de difundi-lo através de estudos, pesquisas e aplicabilidade no cotidiano prático.

 

REFERÊNCIAS

1. Brioschi LR, Trigo MHB. Relatos de vida em ciências sociais: considerações metodológicas. Cienc Cult 1987 jul;39(7):631-6.

2. Glat R. Questões atuais em educação especial. A integração social dos portadores de deficiência: uma reflexão. Rio de Janeiro (RJ): Sette Letras; 1995.

3. Bertaux D. L'approche biografique: as valideté méthodologique, ses potentialités. Cah Int Sociol 1980;60(9):197-225.

4. Santos RS. Ser mãe de uma criança especial: do sonho a realidade [tese de doutorado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 1995.

5. Bogdan R, Biklen S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Tradução de Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo Baptista. Porto (PT): Porto Ed; 1994.

6. Rampazzo L. Metodologia científica para alunos de graduação e pós- graduação. São Paulo (SP): Stiliano; 1998.

7. Yamamoto T, Miako R. Metodologia da pesquisa em saúde: fundamentos essenciais. Curitiba (PR): As autoras; 1999.

8. Salomon DV. Como fazer uma monografia. São Paulo (SP): Martins Fontes; 1996.

9. Almeida ML. Como elaborar monografias. Belém (PA): CEJUP; 1992.

10. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo (SP): Atlas; 1996.

 

NOTA

Referências apresentadas no quadro demonstrativo

Assad LG. Entre o sonho e a realidade de ser transplantado renal [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 1998.

Chamilco RASI. Práticas obstétricas adotadas pelas parteiras na assistência ao parto e nascimento domiciliar na Amazônia Legal-Santana ,AP [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 2001. 184 p.

Gonçalves LRR A mulher portadora de doenças sexualmente transmissíveis: compartilhando sua vivência na consulta de enfermagem [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 1999.

Lemi Z. Estudos das situações vivenciadas por pais de recém-nascidos internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal [dissertação de mestrado] UERJ; 1995.

Knox W. Analisar as relações de poder em uma favela través de suas lideranças. Faculdade de Psicologia Social / UERJ; 1994.

Marquéz COC. O trabalho comunitário de saúde em Villa El Salvador (Lima/Peru): percepção das promotoras de saúde [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 2000.

Maluhy MA. A percepção da mulher frente ao exame ginecológico: um olhar a partir do profissional da equipe de enfermagem [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 2001.

Nery IS. O aborto provocado e a questão de gênero: mulheres em evidência e a evidência das mulheres para as bases da assistência de enfermagem [tese de doutorado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2000.

Ribeiro MGM. Gestante HIV positivo: a história de vida contribuindo para a assistência de enfermagem [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2000.

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Santos IMM. O olhar da mãe sobre o desenvolvimento de seu filho no contexto de história de vida [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 1998.

Santos RS. Ser mãe de uma criança especial: do sonho a realidade [tese de doutorado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 1995.

Torres VLS. Velhice numa cidade do trópico [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2001.

Spindola T. Trabalho feminino: muitos papéis... uma só mulher! Ambivalência do cotidiano. [tese de doutorado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2002.

 

 

Recebido em 21/07/2004
Reapresentado em 27/05/2005
Aprovado em 30/05/2005

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