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CAPES

Volume 4, Número 3, Set/Dez - 2000

INTRODUÇÃO

O convite da Escola de Enfermagem Anna Nery, por intermédio do Núcleo de Pesquisa de História da Enfermagem Brasileira - NUPHEBRAS - para participarmos da Comunicação Coordenada sobre "Panorama da História da Enfermagem no Brasil", tem ligação com uma linha de pesquisa sobre História de Enfermagem do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano e Saúde - NUPEQS - do qual somos membros. Realizamos recentemente uma pesquisa sobre a história da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais -EEUFMG - que foi publicada sob a forma de livro com o título Criação, quotidiano e trajetória da Escola de Enfermagem da UFMC: um mergulho no passado (Nascimento, Santos e Caldeira, 1999).

Agradecemos aos organizadores do Colóquio pela oportunidade de uma reflexão conjunta sobre esse tema.

O objetivo desse estudo foi traçar um panorama da História da Enfermagem no ensino e na pesquisa, bem como do cuidado dispensado à documentação histórica nas escolas de Enfermagem da Região Sudeste. Para tanto, elaboramos as seguintes questões: de que maneira o conteúdo referente à História da Enfermagem tem sido considerado no ensino de graduação e pós-graduação das Escolas de Enfermagem da Região Sudeste? Se a história da Enfermagem tem sido objeto de pesquisa, quais são as produções científicas que contemplam essa temática? Quais foram as formas utilizadas pelas escolas estudadas para a preservação da documentação histórica?

Iniciamos nossa reflexão focalizando, ainda que de modo breve e pontual, a maneira pela qual a História da Enfermagem, no Brasil, aparece no ensino, na produção científica e na preservação de documentos.

Desde a institucionalização do Ensino da Enfermagem no Brasil, a História da Enfermagem constitui objeto de ensino formal fazendo parte dos currículos. Atualmente, a Portaria 1.721, de 15 de dezembro de 1994, do MEC, que fixa os mínimos de conteúdos e duração para os Cursos de Enfermagem, inclui a história da Enfermagem como conteúdo obrigatório (Brasil, 1994).

Se, por um lado, a existência de conteúdo de história da Enfermagem nos currículos deixa evidente a preocupação com o seu ensino, por outro, os estudos sobre os aspectos históricos da profissão sempre foram escassos.

Merecem destaque três trabalhos pioneiros elaborados por enfermeiras brasileiras: a) o livro de Waleska Paixão Páginas de História da Enfermagem, de 1951 (Paixão, 1951); b) o trabalho de Glete Alcântara Enfermagem moderna como categoria profissional: obstáculo à sua expansão na sociedade brasileira, de 1966 (Alcântara, 1966); e c) o livro de Anayde Corrêa de Carvalho Associação Brasileira de Enfermagem: de 1926-1976,publicado pela ABEn em 1976 (Carvalho, 1976).

Com a implementação da pós-graduação, na década de 70, especificamente, no Rio de Janeiro e em São Paulo começaram a surgir trabalhos focalizando a evolução do ensino, da prática e das Escolas de Enfermagem no país.

A preservação sistemática de documentação histórica é uma prática ainda mais recente. Somente no início desta década, pelo trabalho pioneiro do Centro de Documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery, criado em 8 de dezembro de 1993, pode-se falar em uma prática sistemática de preservação e tratamento de documentos.

Portanto, é nesse cenário, pode-se dizer um tanto paradoxal, de exigência do ensino de História da Enfermagem nos currículos, sem sustentação de uma produção científica própria sobre essa mesma história, que o presente estudo precisa ser entendido.

Seja como for, estamos aqui disponibilizando aos interessados alguns dados que poderão suscitar reflexões e discussões sobre o tema em questão.

 

ASPECTOS METODOLÓGICOS

A identificação das Escolas de Enfermagem da Região Sudeste foi feita a partir de três listagens fornecidas pelos seguintes órgãos: a) Conselho Federal de Enfermagem - COPEN; b) Núcleo de Pesquisa de História da Enfermagem Brasileira da EEAN - NUPHEBRAS; e c) Programa de Desenvolvimento da Enfermagem da EEUFMG -PRODEN.

Foi enviado um questionário para 58 escolas de Enfermagem da região, sendo recebidas, decorridos 45 dias, 14 respostas. Nova correspondência foi enviada para as escolas que não responderam à primeira, sendo recebidas mais seis respostas, o que perfaz um total de 20 respostas.

Com relação à participação das escolas por Estado, a distribuição foi a seguinte: a) Estado de São Paulo, enviados 31 questionários, recebidos 11; b) Estado de Minas Gerais, enviados 14, recebidos sete; c) Estado do Rio de Janeiro, enviados 13, recebidos dois; e d) Estado do Espírito Santo, enviado um, sem retorno.

 

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Passaremos a apresentar os resultados do levantamento feito sem a preocupação, neste momento, de aprofundar a análise. Como já explicitamos, o nosso objetivo foi traçar um quadro panorâmico da configuração da História da Enfermagem no que se refere à preservação de documentos, ao ensino e à pesquisa.

A data de criação das escolas que responderam ao questionário varia de 1922 a 1998. A maioria delas é do tipo instituição pública-12 escolas -, sendo sete particulares e uma filantrópica.

Em se tratando do ensino de História da Enfermagem na graduação, verificamos que 50% das escolas possuem uma disciplina denominada de História da Enfermagem; 20%, das escolas têm uma disciplina específica para esse conteúdo, mas possuem outras denominações; 30% delas não possuem disciplinas específicas para ministrarem o conteúdo de História de Enfermagem, que fica diluído em outras disciplinas. Ressaltamos que uma única escola informou sobre a existência, na graduação, de mais de uma disciplina sobre História da Enfermagem.

A carga horária das disciplinas específicas de História da Enfermagem varia de 20 a 90 horas. Nas disciplinas não específicas de História da Enfermagem, a carga horária destinada a esse conteúdo varia de duas a 20 horas.

Ao procedermos à leitura das ementas das disciplinas que tratam especificamente de História da Enfermagem, conseguimos extrair núcleos comuns e variações. Assim, a evolução histórica da Enfermagem e das práticas de saúde, evolução e contexto social e os estudos sobre Florence e Ana Justina constituem os núcleos comuns. Como variações encontramos: O estudo das escolas de Enfermagem, (geralmente da própria escola); O modelo Nightingale; Entidades de Classe; Contribuição de religiosas e enfermeiras; Conceitos de história; Evolução do pesquisar em Enfermagem; Fatos históricos X história da Enfermagem; Tendências da Enfermagem; Implantação da Enfermagem moderna no Brasil; Planejamento e implantação dos serviços de Enfermagem nos hospitais modernos com ênfase nas especialidades.

Uma das escolas informou sobre disciplinas diferenciadas: uma, direcionada para preservação de documentos e duas, voltadas para pesquisa histórica.

No que diz respeito ao ensino de História da Enfermagem na pós-graduação - stricto sensu - três escolas apresentaram as informações que se seguem. Uma delas, localizada no Estado do Rio de Janeiro, oferece três disciplinas de História da Enfermagem, sendo uma para o mestrado, uma para o doutorado e outra para o mestrado e doutorado. Focaliza, ainda, a temática como conteúdo de uma disciplina do mestrado e do doutorado. Uma escola, no Estado de São Paulo, oferta a mesma disciplina de História da Enfermagem para o mestrado e para o doutorado. A terceira escola, localizada no Estado de Minas Gerais, informa que no mestrado a História da Enfermagem está presente enquanto conteúdo de uma disciplina.

Com relação à produção científica sobre História da Enfermagem, as informações obtidas estão apresentadas no Quadro 1.

 

 

Produção científica sobre história da enfermagem das escolas de enfermagem da região sudeste - 2000

Pode ser observado no quadro apresentado, predomínio de produção no Estado do Rio de Janeiro, com destaque para 26 artigos publicados em periódicos nacionais, 19 teses e nove dissertações defendidas e oito livros editados.

No que se refere à documentação histórica, o Quadro 2 mostra as diversas formas pelas quais os documentos relativos à História da Enfermagem estão sendo tratados e preservados.

 

 

Formas de Preservação de Documentos Referentes à História da Enfermagem pelas Escolas de Enfermagem da Região Sudeste - 2000

Pode ser observado no quadro apresentado que a maioria das escolas concentra a documentação em arquivos correntes, associados ou não a outras modalidades. Chama atenção o descarte de documentos históricos realizado por uma das escolas.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando o propósito deste trabalho de traçar um panorama da História da Enfermagem no ensino e na produção científica e das formas de preservação da documentação histórica nas escolas de Enfermagem da Região Sudeste, finalizamos com algumas reflexões.

O ensino da História da Enfermagem e o tratamento dispensado à documentação histórica permitem ser fotografados instantaneamente, sendo possível obter fotografias bastante nítidas, que deixam à mostra um panorama central com todo o horizonte circunjacente. Todavia, o mesmo não pode ser dito da produção científica da qual obtivemos um panorama com muitos pontos opacos. Tal assunto exige um levantamento minucioso e retroativo por parte do informante envolvendo certas dificuldades. Entre tantas, destacamos:

• Disponibilidade de tempo para realização do levantamento.

• Disponibilidade da informação. Dificilmente as escolas possuem um sistema de informação centralizada. Sobre trabalhos de dissertação e tese defendidos em outras escolas, de Enfermagem ou não, será que o trabalho consta como produção do corpo docente da escola respondente? Provavelmente, não.

• Interesse em estar respondendo detalhadamente sobre a produção. Entendemos que este levantamento dá trabalho e questões relativas à nossa história nem sempre são consideradas relevantes.

• Falta de intercâmbio entre as diversas escolas para divulgação dos trabalhos realizados ou em andamento.

Diante disso, pensamos ser importante não só discutirmos o tema no Colóquio, mas também pensarmos em algumas ações futuras como as apresentadas a seguir:

• Encaminhar para as escolas da região os Anais do presente evento.

• Realizar outros encontros ligados à História da Enfermagem e abertos a participantes diversos.

• Buscar formar parcerias e consórcios no sentido da preservação de documentos de forma sistemática: essa é uma área especializada que exige domínio de conteúdo.

• Oferecer, nos vários eventos de Enfermagem, oficinas sobre tratamento de documentos e cursos sobre pesquisa histórica, análise de fontes e outros assuntos pertinentes.

A presente iniciativa aponta para um futuro promissor. Obrigada.

 

Notas

1. Trabalho apresentado na Mesa de Comunicações Coordenadas sobre Panorama da História da Enfermagem no Brasil do Primeiro Colóquio Latino-Americano de História da Enfermagem, realizado na Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, no Rio de Janeiro, no período de 28 a 31 de agosto de 2000.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALCANTÂRA, Glete de. A enfermagem moderna como categoria profissional: obstáculos à sua expansão na sociedade brasileira. 1963,117 p. (Tese de Concurso para Professor Titular) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, 1963.

BRASIL. Portaria N° 1.721 de 15 dez. 1994. Fixa os mínimos de conteúdos e duração do curso de graduação em Enfermagem. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil, Brasília, dez. 1994.

CARVALHO, Anayde Corrêa de. Associação Brasileira de Enfermagem. 1926 - 1976: documentário. Brasília: ABEn, 1976. 514 p.

NASCIMENTO, Estelina Souto do; SANTOS, Geralda Fortina dos; CALDEIRA, Valda da Penha. Criação, Quotidiano e trajetória da Escola e Enfermagem da UFMG: um mergulho no passado. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1999.220 p. ilust.

PAIXÃO, Waleska.Páginas de história da enfermagem. Petrópolis: Vozes, 1951.

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