ISSN (on-line): 2177-9465
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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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Ministério da Educação
CAPES

Volume 4, Número 3, Set/Dez - 2000

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objeto os motivos que levaram enfermeiras brasileiras, formadas em escolas filiadas ao modelo nightingaleano, a escolher o trabalho em enfermagem em instituições psiquiátricas no período compreendido entre as décadas de 30 a 70. O interesse pelo tema originou-se durante a elaboração de uma pesquisa de maior abrangência, cujo resultado está contido em minha tese de doutorado (Kirschbaum, 1994), que tinha como objetivo reconstituir os saberes e práticas de enfermagem produzidos no campo da assistência psiquiátrica, no Brasil, no período que compreendia as décadas de 20 e 50. Então, tinha-se como pressuposto que o próprio modo de ingresso para trabalhar nas instituições para doentes mentais revelaria traços do processo de disciplinamento e moralização a que foram submetidos os trabalhadores de enfermagem durante a implementação do projeto psiquiátrico de consolidação do modelo manicomial no país e, consequentemente, das formas tomadas por aqueles saberes e práticas.

Tal pressuposto sustentava-se numa certa interpretação das fontes primárias de que dispúnhamos na época do projeto de pesquisa, que revelavam condições de trabalho tão desfavoráveis e adversas e um preconceito tão grande em relação à formação moral e à conduta desses trabalhadores não só por parte dos diferentes setores sociais e seus respectivos segmentos, como também dos médicos que com eles trabalhavam, que suscitava uma série de interrogações a respeito do que faria esses homens e mulheres procurarem este tipo de ocupação, tranformando tal questão em um dos objetivos do trabalho.

Além disso, outro elemento que reiterava a pertinência de uma investigação como esta era a constatação de que também em estudos recentes (Rocha, 1994; Fraga, 1993; Filizola, 1999) que tomam o trabalho de enfermagem no campo da saúde mental como objeto de análise, observa-se que ainda são poucos os enfermeiros que atuam em serviços dessa natureza que apontam a identificação, as afinidades e o interesse intelectual ou até mesmo a chamada vocação como motivos que acarretaram sua escolha por esse tipo de atividade. Tal observação não deixa de ser surpreendente, sobretudo num contexto histórico em que o campo da assistência psiquiátrica vem passando por significativas reestruturações, nas quais propõe-se a desinstitucionalização dos doentes mentais e das instituições psiquiátricas, assim como importantes mudanças no papel dos profissionais de enfermagem, cuja possibilidade de ampliação do campo de atuação é cada vez mais real, o que justificava ainda mais a importância deste estudo.

Durante a realização desta investigação, foi possível notar que se, de fato, um certo segmento dos entrevistados afirma que a necessidade econômica foi o motivo determinante que os levou a procurar um trabalho em enfermagem numa instituição psiquiátrica - reforçando as idéias veiculadas pelos psiquiatras de que em geral quem procurava este tipo de atividades não o fazia propriamente por vocação, para outro grupo, coincidentemente ou não, composto por enfermeiras formadas por escolas ligadas ao modelo nightingaleano, esses dados não correspondem à realidade, pois, ao contrário dos primeiros, estes sujeitos apontam diversas motivações, sobretudo as de caráter subjetivo, para justificar a opção pela área. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo apresentar as motivações identificadas pelas enfermeiras para explicara escolha que fizeram pelo trabalho em psiquiatria.

 

PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

Trata-se de uma pesquisa histórica inscrita no campo da história das mentalidades (Le Goff, 1993), utilizando a pesquisa documental e a história oral (Thompson, 1992; Alberti, 1989) como técnicas de pesquisa. Os dados, coletados através de entrevistas não diretivas, baseadas num roteiro de entrevistas semi-estruturado, composto de questões abertas, foram analisados por meio da análise de conteúdo que contou, também, como fontes primárias, com os mais diversos documentos escritos2.

O critério utilizado para definir os locais onde foi realizada a pesquisa de campo foi a cronologia de criação dos hospitais psiquiátricos públicos e das primeiras escolas de enfermagem brasileiras3. No período de janeiro de 1991 a outubro de 1992, foi realizada a pesquisa de campo, que consistia no levantamento dos documentos pertencentes ao acervo (quando existia) de cada instituição e num levantamento de nomes e endereços de antigos funcionários, médicos ou da enfermagem, no Departamento de Pessoal. Quando este levantamento era prejudicado pela má conservação dos arquivos ou pelo extravio de fichas, o que ocorreu com bastante frequência, recorria-se aos funcionários mais antigos em exercício na instituição. Eles forneciam os nomes e endereços de colegas aposentados, cujas características preenchiam os critérios estabelecidos para seleção dos sujeitos da pesquisa, que eram os seguintes: a) ter participado dos processos de preparação de pessoal de enfermagem para trabalharem psiquiatria, ou como aluno, ou como professor, no período de 20 a 50; b) ter trabalhado no setor de enfermagem, ou como médico, no referido período, nas instituições selecionadas; c) ter ingressado no hospital naquele período; d) apresentar condições de saúde que lhe permitissem realizara entrevista; e) disponibilidade do entrevistado para relatar sua experiência profissional. Após a localização dos mesmos, a pesquisadora dirigia-se ao local de residência dos sujeitos e realizava pessoalmente as entrevistas, gravadas após a prévia autorização do entrevistado. A identidade dos mesmos foi mantida em sigilo.

 

IDENTIFICANDO AS MOTIVAÇÕES

De fato, há motivos bem concretos para surpreendermo-nos com uma escolha deliberada pela psiquiatria como área de atuação, uma vez que na própria literatura há hipóteses explicativas suficientes para a existência de uma certa resistência à procura por este tipo de trabalho. Assim, no âmbito da história da loucura e da psiquiatria, nota-se que mesmo antes do nascimento da última e dos seus locais de realização, na época, os hospitais psiquiátricos (Machado et al., 1978; Birman, 1978), o trabalho e os trabalhadores de enfermagem em instituições psiquiátricas já eram vistos de maneira preconceituosa, ou seja, como pessoas de conduta duvidosa, tendo sido esses trabalhadores, inclusive, objeto das estratégias de moralização e disciplinamento a que eram submetidos os internos (Machado et al., 1978; Birman, 1978; Miranda, 1994; Kirschbaum, 1994).

Como foi mencionado antes, os depoimentos das enfermeiras que examinaremos no presente trabalho possuem uma especificidade que os diferencia dos depoimentos coletados junto aos outros trabalhadores que ingressaram no campo da assistência psiquiátrica no mesmo período e que são analisados em outro trabalho (Kirschbaum, 1994,1996), no tocante às motivações para trabalhar em psiquiatria.

O que marca essa especificidade é a observação de que a maioria das informantes deste grupo apontou uma identificação com o trabalho em psiquiatria como o principal motivo que as levou a escolher o ensino de enfermagem psiquiátrica, assim como o cuidado ao doente mental como campo de atividade, ao contrário do que acontecia com outros trabalhadores de enfermagem que identificavam a necessidade de sobrevivência econômica como a maior motivação para inserirem-se nesse tipo de atividade.

Neste sentido, apesar da singularidade que apresenta cada trajetória individual, foi possível de apreender uma certa regularidade entre as experiências pessoais e o contexto social que favoreceram a escolha por aquele tipo de atividade.

Dentre estas, vale a pena destacar que todas as entrevistadas receberam seu preparo para trabalhar em enfermagem em escolas brasileiras ligadas ao modelo Nightingale, o que já sugere que possuíam uma origem social ou um grau de escolaridade mais favorecidos do que o de que dispunham a maioria dos demais agentes de enfermagem que trabalhavam em psiquiatria naquela época, uma vez que dessas pessoas era exigido apenas que soubessem ler e escrever ou que possuíssem escolaridade primária para serem admitidas nas instituições psiquiátricas públicas (Kirschbaum, 1994).

Tal suposição é confirmada pelos relatos a seguir, nos quais elas expõem as motivações que as levaram a procurar a psiquiatria como especialidade e o contexto social e familiar que lhes possibilitou escolhê-la com relativa liberdade.

 

AS INFLUÊNCIAS FAMILIARES E DOS MESTRES

Percebe-se que neste grupo algumas profissionais eram filhas ou netas de profissionais de saúde e apontam este aspecto como um fator que contribuiu para a escolha da enfermagem como atividade profissional. O depoimento a seguir foi fornecido por uma entrevistada que foi aluna da quarta turma diplomada pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professora da disciplina de Enfermagem Psiquiátrica deste estabelecimento de ensino desde 1951.

"Meu pai era médico e, no tempo, dele não havia especialidade tão caracterizada como hoje. Mas ele trabalhou no Hospital Juliano Moreira, entendeu? Não sei se isso teria tido uma influência meio inconsciente. Eu sempre fui uma pessoa muito voltada para conheceras pessoas, sempre me fascinou isso: porque as pessoas se comportam de tal maneira? Desde adolescente, eu gostava de ouvir, conversar, conhecer. Eu ficava horas conversando com minha avó para saber como era a vida dela, a história de vida dela. Isso sempre me interessou muito. Depois, eu quis fazer psicologia. Bem, eu tenho 36 anos de formada. Então, veja você, tenho 59 anos de idade. Então, eu quis fazer psicologia no tempo em que não existia psicologia (em Salvador). E meu pai não tinha uma situação financeira... era classe média. Mas a gente era de uma classe média metida a besta, entendeu? Gente de uma sociedade pequena. Minha família era de um meio conhecido. Eu tinha um tio, irmão de minha mãe, que fundou a universidade, foi Edgar Santos. Foi Reitor durante 15 anos. Mas lá em casa as mulheres foram criadas para serem senhoras da sociedade, então... Eu voltei para fazer o curso científico, que me dava mais coisas do que o clássico e fiquei em Salvador (...) Eu sabia que a escola de enfermagem estava a todo pano e me atraiu o sistema do curso de enfermagem, que era uma coisa, assim, diferente. Isso me atraiu e eu vim. Adorei o curso de enfermagem a rigor, detestei pronto-socorro. Se eu tivesse que trabalhar nisso tinha deixado. E aí veio, quer dizer, eu já tinha uma tendência, e veio uma pessoa que realmente me ajudou a decidir, que foi Teresa Sena, que você deve ter conhecido. Então, Teresa foi uma pessoa que definitivamente me encaminhou. Ela dava aquelas aulas maravilhosas, e do convívio que eu tive com Teresa, eu já me inclinei. Então, o destino é isso. Eu, com essa inclinação que tinha, eu já fiz estágio de senior voltado para a psiquiatria. Nesta oportunidade, Teresa saiu da escola. Foi para o Rio, São Paulo, e a pessoa mais indicada para substituí-la era eu, porque eu havia feito senior. Então, eu já fui orientada, já no quarto ano de enfermagem para assumir a enfermagem psiquiátrica. E foi o que realmente aconteceu. " (Enfa. 1, p.2-3).

Pelo exposto acima, nota-se que a entrevistada atribuiu sua escolha profissional a influências familiares e de professores, assim como à "tendência " ou "inclinação " que tinha pelos assuntos relacionados com psicologia e psiquiatria. Todavia, tal escolha profissional também esteve relacionada às condições materiais de existência na medida em que, antes de optar pela profissão de enfermagem, ela pensara em fazer psicologia e não pôde realizar esse curso porque ele não era oferecido em Salvador. Vê-se, ainda, que a possibilidade de assumir um trabalho em psiquiatria também decorreu de uma oportunidade que lhe foi apresentada quando era estudante de enfermagem.

O próximo depoimento também ilustra de que modo as condições materiais de existência associadas às influências familiares levaram a entrevistada a escolher a enfermagem psiquiátrica como atividade profissional:

"Eu entrei na Escola (de Enfermagem da USP) em 1954 e me formei em 1957. A motivação...naquela época, a enfermagem era bem pouco conhecida, mas eu fui recrutada pela professora Glete de Alcântara. Eu fazia o científico e queria a área de saúde. Mas não sabia ao certo se era medicina, farmácia... A família de meu avô estava toda nesta área, e eu não sabia muito bem o que queria. Aí, a dona Glete foi fazer o recrutamento e eu decidi fazer enfermagem mais para ver o que que era, e depois, era isso mesmo e pronto. " E - A senhora cursou escola normal? "Não, eu estudava no científico (...), o que se exigia era o segundo grau. Eu entrei em 1954. Então ainda aceitavam pessoal só com o primeiro grau ginásio ou equivalente. Mas, tinha vestibular e a seleção era feita no vestibular. (...) Mas a minha escolha inicial era psiquiátrica. O estágio curricular de enfermagem psiquiátrica, se tivesse relação teria que ser negativa, porque o meu estágio de enfermagem psiquiátrica foi muito sofrido. Eu tinha uma paciente que ficou comigo e tornou minha vida um inferno lá (no campo de estágio). Mas, não deu certo Ia escolha inicial). Então, eu aceitei um emprego no Rio e fui trabalhar lá numa clínica particular e uma parte da clínica era ocupada por doentes mentais. Então, era eu, um cardiologista e um psiquiatra. Então, eu tive uma experiência que foi justamente o contrário da minha vivência como estudante. E aí, eu passei a respeitar mais, com a experiência, acreditei que eu tinha jeito para a coisa. Então, quando eu voltei do Rio, eu vim trabalhar na psiquiatria. " (Enfa. 2, p.1-2).

Pelo exposto no depoimento acima, verifica-se que esta informante não considerou a experiência vivida enquanto aluna como um aspecto relevante para sua escolha pelo trabalho em enfermagem psiquiátrica, dando maior importância a outros aspectos subjetivos que a levaram a optar pela referida especialidade. Todavia, ela ressalta que o contato com outros profissionais e a vivência profissional contribuíram para que percebesse que tinha jeito para a coisa. Dos depoimentos apresentados até aqui, nota-se que não é possível atribuir as escolhas profissionais a um único motivo, dado que diversos aspectos estavam envolvidos nesse processo. Todavia, percebe-se que o contexto social, familiar e educacional em que as entrevistadas estiveram envolvidas contribuiu sobremaneira para que elas pudessem fazer opções profissionais com relativa liberdade, diferentemente do que acontecia com os entrevistados que possuíam nível de escolaridade elementar.

Veja-se mais um exemplo em que a posição social e o contexto familiar é identificado pela informante como uma influência importante para sua opção profissional. Tendo sido a primeira enfermeira admitida no Hospital-Colônia de Barbacena, no início dos anos 70, a entrevistada expõe os motivos que a levaram a ingressar no campo da assistência psiquiátrica da seguinte forma:

"A minha família era toda ligada assim à área de saúde, não é? Desde pequena, a minha vó era daquelas pessoas que eram as antigas obstetrizes, não é? E fazia parto na casa de todo mundo, não é? Então, eu já fui me despertando desde pequeninhinha, porque eu acompanhava minha avó.. E meu pai sempre teve farmácia, e sempre existiu aqui em Barbacena hospital para tudo quanto é lado. Era a única farmácia que tinha aqui em Barbacena, ele que distribuía os remédios nas farmácias. Me levava, não é, para tudo quanto é lado. E isso foi me despertando, sabe? Eu quero mexer com alguma coisa ligada à área de saúde. Eu adorava quando chegava dentro dos hospitais. E sempre gostei mesmo desta parte de saúde, mexer, cuidar dos outros. Aí eu fui fazer enfermagem e minha família queria até que eu fizesse medicina. Fiz enfermagem. Quando formei, eu não sabia o que que eu queria, assim, mexer. Qual a tendência que eu tinha. Obstetrícia, eu não gostava (...). E pediatria eu também não queria. Aí eu cheguei e disse: eu não quero é nada mais. Eu não sei mais porque que eu fiz. Então eu formei em dezembro de 70, vim para Barbacena e fiquei aqui janeiro e fevereiro sem fazer nada, sabe. Um belo dia, meu pai me chamou, em 73, e falou assim: ' Você quer ir lá para o hospital?' E aqui era um, este hospital aqui, não é? Antigo Hospital Colônia, horrível, pavoroso, uma história de cadáveres para tudo quanto é lado, de venda de cadáveres e tudo. Meu pai já é falecido, mas era, assim, uma pessoa de idéias evoluídas. Eu disse quero. Ai aquela briga da mamãe não vai, não vai... Eu disse, não, eu vou. Então, foi mais como um desafio até para a família. Eu ter vindo para cá, para minha mãe, aquela guerra de filho com mãe... Eu disse: eu vou mostrar à ela que eu dou conta. Quando eu cheguei aqui tinha cinco mil pacientes, sabe? Não existia nada, não tinha nada, tinha acabado de sair um militar daqui, que dava tiro assim para cima, em funcionário, sabe? (..). Isso aqui, você não sabia a loucura onde é que estava. Se era com funcionário, se era com quem morava aqui. Eu era a única enfermeira de Barbacena, ..Porque eu comecei a gostar de psiquiatria, apesar de que eu tinha muita angústia no outro hospital privado, fechado... Mas eu comecei a gostar, porque eu gosto muito de mexer com as pessoas não é? Adoro ficar escutando os outros, e eu disse assim, é diferente daquele trabalho de, aquele feijão com arroz, todo dia, de clínica, de cirurgia, todo dia você vai e faz aqueles procedimentos; isso aí não me agrada muito não. E aí, eu resolvivir para cá e aí eu vi que era um desafio. Não tinha nada, nada, nada, nada (ênfase).'' (Enf. 3, p.2-4)

Verifica-se, que como ocorria nos dois depoimentos anteriores, a enfermeira 3 apontou como motivo para ingressar no campo da assistência psiquiátrica uma identificação com a especialidade. Conforme sugerem os relatos, tal identificação com o trabalho de enfermagem foi propiciada ou por experiências educacionais e profissionais ou por características pessoais das entrevistadas, que acreditavam ser a enfermagem uma atividade na qual poderiam explorar mais adequadamente certas potencialidades e qualidades pessoais. Expressando-a através de frases como, por exemplo, "acreditei que eu tinha jeito para a coisa, comecei a gostar, porque eu gosto muito de mexer com as pessoas, adoro ficar escutando os outros, sempre fui uma pessoa muito voltada para conhecer as pessoas; tinha inclinação ", as entrevistadas resgatam aspectos que, em geral, são referidos por pessoas cujas condições de vida e origem social propiciaram-lhes uma maior possibilidade de escolha. Ou seja, justificam a procura pelo trabalho em psiquiatria referindo-se ao fato de terem vocação (inclinação, dom) ou habilidades, interesses e aptidões que supostamente um profissional de enfermagem deveria possuir para trabalhar com doentes mentais: saber ouvir e comprender o outro.

É difícil supor que uma escolha profissional realize-se independentemente das condições materiais de existência vivenciadas pelo indivíduo. Para certos autores (Ferretti, 1988; Chauí, 1983), a suposição de que os indivíduos possuem liberdade para realizar opções profissionais baseia-se, na realidade, em formulações de ordem ideológica, originárias do liberalismo. Segundo Mello (1982, p.127-8), "Afirmar que se está numa carreira ou profissão por 'vocação' é extremamente vago. Provavelmente este termo sintetiza (ou dissimula) vários tipos de determinações que, segundo se sabe, condicionam de fato a opção profissional, os quais sofrem um processo de acomodação e racionalização que se exprime, ao final, num dom ou gosto pelo que se faz."

Dos depoimentos reproduzidos acima, depreende-se que, além da motivação apontada, a escolha pela enfermagem psiquiátrica esteve relacionada à origem e ao contexto social e familiar, bem como à condição feminina das entrevistadas. Quanto ao primeiro aspecto, observa-se que a origem social das informantes era predominantemente a classe média urbana. Dentre elas (como exemplificam os relatos acima), algumas provinham de famílias cujos sujeitos do sexo masculino, principalmente, ocupavam-se com atividades ligadas à área de saúde, sendo, às vezes, profissionais liberais. Tal condição propiciou-lhes o acesso a níveis de escolaridade mais elevados, como, por exemplo, o ginasiaI e o secundário, que, conforme já visto, eram exigidos como pré-requisito para ingresso nos estabelecimentos de ensino profissionalizante ligados às universidades.

Além disso, seu grau de escolaridade permitia-lhes aspirar às profissões de maior prestígio social na hierarquia das chamadas profissões femininas, dentre as quais situava-se a enfermagem (obviamente, a de nível universitário). Neste sentido, de fato as influências familiares e de professores apontadas pelas entrevistadas podem ter contribuído para a escolha de uma profissão ligada especificamente à área de saúde e particularmente à psiquiatria4.

Apesar disso, a liberdade que possuíam para proceder à escolha profissional foi relativa, não só pelos motivos apontados nos depoimentos, tais como: limitações econômicas, resistências familiares às opções vislumbradas pelas informantes, mas também devido ao contexto social em que viviam. É preciso levar em conta que, a despeito da diversifica cão das oportunidades de escolarização e profissionalização feminina emergentes nas décadas de 50 e 60, não houve uma mudança significativa dos padrões culturais dominantes que determinavam quais eram as profissões socialmente consentidas para o sexo feminino (Mello, 1982). Tampouco aceitava-se tranquilamente que estas possuíssem indepêndencia econômica e que seu trabalho fora do ambiente doméstico não fosse simplesmente uma atividade subsidiária (Safiotti, 1976). Neste sentido, mesmo para as mulheres das classes média e dominante, as possibilidades de seguirem carreiras que não fizessem parte das consideradas tradicionalmente femininas eram limitadas, o que transformava a profissão de enfermeira numa das poucas alternativas de trabalho feminino socialmente valorizadas.

Um exemplo dessa restrição aparece claramente nos próximos depoimentos, nos quais, além de indicar as motivações que as levaram a ingressar no campo da assistência psiquiátrica, as entrevistadas relatam as suas experiências ocupacionais anteriores ao ingresso na escola de enfermagem. O primeiro trata da trajetória de vida de uma enfermeira diplomada pela primeira turma da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (UFBA); que foi a primeira pessoa a ocupar o cargo de enfermeira no Hospital Juliano Moreira, nos anos 50:

"Eu me formei como professora muito mocinha, com dezesseis anos. Fiz concurso, fui trabalhar no interior. (...) Então, quando eu voltei, eu aproveitei para ficar em Salvador. Aí, eu trabalhava na escola de manhã e de tarde ficava fazendo minha costurinha. Eu queria mais coisas e dizia assim à mamãe: Mamãe, eu quero continuar a estudar. Ai, eu procurava estudar, mas o povo dizia assim: Ah, J., para você fazer um curso superior, você tem que fazer ginásio.' Porque minha escolaridade era o Normal. Mas, isso, já não era mais uma menininha. Aí, eu estou em casa, quando sai uma nota no jornal que diz: o governo estava dando bolsas de estudo para professoras que quisessem fazer o curso de enfermagem, que a escola de enfermagem estava sendo inaugurada. Aí, eu resolvime inscrever. Quando eu cheguei, me apresentei à diretora da escola, que era a Haydée Dourado. Aí, nós conversamos muito, ela mandou que eu voltasse num determinado dia para fazer uma entrevista e uma autobiografia. Porque, naquele tempo, quando a gente entrava na escola, não tinha vestibular, era bolsa do estado. (...) e eu fui aprovada. Aí eu fui. Mas, eu me encantei. Tudo para mim era a coisa mais linda do mundo. Cada matéria que eu estudava, mais eu encontrava a beleza, a profundidade, mais se abria um novo mundo.(...) Então caiu, quer dizer, o ensino, o conhecimento, a mensagem caíram num terreno fértil. Aí, eu terminei o curso. Quando terminei, a nossa turma foi fazer psiquiatria em São Paulo, um estágio prático. Eu fiz a psiquiatria teórica toda aqui. Então...eu adorava psicologia, psiquiatria, tudo o que fosse essas coisas assim, lá de cima, eu adorava e me saía muito bem nisso, não é? Quando eu cheguei (em São Paulo), a enfermeira Edith Fraenkel, que era diretora da Escola de Enfermagem da USP, disse-me assim: ' Olha, J., eu vou lhe preparar para você assumir a cadeira de psiquiatria lá em Salvador'. Aí eu fui. Fazia o estágio de psiquiatria e à tarde a professora tinha sempre uma entrevista comigo, me preparando, preparando. E, naquele tempo, a gente fazia psiquiatria no Juqueri, que era aquele caos, não é? Mas, mesmo assim, gostei muito. Quando terminei o curso, voltei para Salvador. Então, quando eu vi que não tinha vaga para mim na escola, eu fui à Secretaria da Saúde. Lá, o secretário substituto conversou comigo e me colocou para ser enfermeira de saúde pública. Então, fiquei em saúde pública.(...). O secretário (respondeu-lhe): ' Olhe, J., não podemos fazer nada, já temos outra pessoa no seu lugar. Mas, sabe de uma coisa? Tem uma coisa interessante. O Juliano Moreira está precisando de enfermeira, você quer ir? Eu disse quero, e aí foi o meu sonho. Psiquiatria foi o meu sonho. Ah, minha filha, quando eu fui para o Juliano Moreira, eu fiquei lá na colônia, que era lá no Engenho Velho, em Brotas(...). " (Enfa. J.P., p.1-4).

Observe-se, agora, o depoimento de outra informante que, antes de ingressar na escola de enfermagem, atuava como professora primária. Trata-se de uma enfermeira diplomada pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), nos anos 40, que trabalhou no Hospital do Juqueri, nos anos 50:

"Em primeiro lugar por que eu gosto muito de estudar e, terminado o curso normal, eu achei que era um horizonte muito limitado exercer o magistério, lá no interior da Bahia, naquela época. E, recebendo a visita de umas primas que fizeram Enfermagem na Anna Nery, eu fiquei muito entusiasmada com o que elas relataram sobre a escola e sobre a enfermagem. Quando eu terminei o curso normal, falei para o meu pai que eu queria fazer enfermagem lá na Anna Nery. Como éramos onze irmãos, meu pai me disse que ele seria muito feliz se pudesse dar um diploma para cada um, que não podia dar dois. Eu fui lecionar, fui a Salvador para fazer o concurso para conseguir uma cadeira de professora no estado. Lá chegando, tive contato com um primo que fazia medicina e esse meu primo me aconselhou a fazer enfermagem.(...) Pensei, e fiz uma carta para Getúlio (Vargas). E Getúlio me respondeu, encaminhou esta carta (...) e ela foi parar nas mãos de Dona Edith Magalhães Fraenkel, que estava fundando a escola de São Paulo. Então, dona Edith entrou em contato com o SESP, e este me mandou uma bolsa de estudos. Um telegrama avisando da bolsa de estudos.(...) Como a carta foi parar aos cuidados de dona Edith, eu não fui fazer enfermagem lá no Rio e sim aqui em São Paulo, o que muito me agradou, porque adorei São Paulo, adorei a escola, adorei a profissão e dei tudo que eu podia dar para fazer o curso. (Durante o curso), a escola de enfermagem tinha internato e eu morava lá como todas as outras estudantes. No princípio, as primeiras turmas moraram no Hospital das Clínicas. Quando a minha turma já estava no segundo ano foi que nós fomos para o prédio que hoje é a escola de enfermagem. E mesmo depois de formadas, nós tínhamos direito a residir lá por um ano, até providenciar uma residência compatível com o nosso trabalho, com o nosso status. Mas, terminado esse ano, eu fui para Salvador. 0 reitor veio convidar enfermeiras em São Paulo e no Rio e eu fui indicada pela minha diretora para fazer parte do grupo que instalou a faculdade de enfermagem em Salvador. A minha opção foi por pediatria. Fiquei lá dois anos e voltei para casar. Casei-me e lá eu trabalhei em pediatria. Aí, eu voltei para São Paulo. Quatro anos depois, o Dr. Malta Santos pretendeu instalar uma escola de auxiliares de enfermagem em Franco da Rocha e, conhecedor do meu trabalho, ele me localizou e me convidou para ir para Franco da Rocha. Então, foram duas coisas que me interessaram: estar perto da minha filha e trabalhar numa escola de auxiliares de enfermagem dentro de um hospital psiquiátrico. Porque, quando eu fiz o curso e, no curso, o estágio de psiquiatria, eu fiquei muito sensibilizada com a situação do doente mental. Mais do que sensibilizada; sofrida mesmo. (...) " (Enfa. 4, p.1-3).

Note-se que o magistério, profissão considerada tradicionalmente feminina, sempre aparece como ocupação anterior entre as entrevistadas que relataram ter exercido alguma atividade profissional previamente ao ingresso nas escolas de enfermagem e no campo da assistência psiquiátrica. Afora o que já foi discutido, é preciso salientar que, nos anos 40, apesar de estarem vinculadas à estrutura universitária, as escolas de enfermagem dispensavam a formação de nível secundário, exigindo das candidatas a ingresso o grau de escolaridade elementar ou o certificado de conclusão do curso normal6, o que explica o número de professoras entre as alunas não só da Escola de Enfermagem da UFBa, como também da Anna Nery, dentre outras (Carvalho, 1980; Silva, 1986).

Outro aspecto salientado no depoimento acima é que, naquele período, as escolas de enfermagem que seguiam o modelo norte-americano ofereciam muitas oportunidades de crescimento profissional às suas alunas, através de bolsas de estudo e viagens para aperfeiçoamento no exterior, o que constituía um grande atrativo para as moças oriundas das classes dominantes ou da classe média que decidissem seguir esta profissão (Carvalho, 1980; Silva, 1986).

 

A IDENTIFICAÇÃO COM A ESPECIALIDADE

Por outro lado, conforme sugerem os relatos anteriores, um número bastante reduzido de enfermeiras escolhia a psiquiatria como área de atuação. Esta questão emergiu mais explicitamente no depoimento fornecido pela primeira docente a lecionar a disciplina de Enfermagem Psiquiátrica na Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), fundada em 1950, que se refere da seguinte forma aos motivos que a levaram a trabalhar em psiquiatria:

"Eu me formei em Juiz de Fora, em Enfermagem (...). Eu sou carioca, mas fui estudar em Minas, em Juiz de Fora. E como lá a escola estava no início, nós fazíamos muitos estágios na Escola de Enfermagem de São Paulo. E um dos estágios que eu fiz foi em psiquiatria. A gente fez em salas cirúrgicas e em Saúde Pública. Todas as coisas que não tinham campo em Juiz de Fora. Lá, na escola de São Paulo, íamos fazer a parte prática em Franco da Rocha, (...) em mais ou menos 1950, mais ou menos...(...) A gente recebia toda teoria em Juiz de Fora e ia a campo com trabalho preparado... com a professora Elizabeth... não lembro o sobrenome. Eu gostei do estágio (ênfase). Era uma coisa horrorosa (ênfase), mas de todas as alunas fui a que mais gostei. Porque vi que era eu a que menos se assustava. A professora ficava sentada e nós, alunas, ficávamos junto com o paciente. E nós não sabíamos o que falar para um paciente, mas eu, pelo meu temperamento ou sei lá o que, me firmei em fazer enfermagem psiquiátrica. Como eu era do SESP, bolsista em Saúde Pública, eu tinha recebido uma bolsa para fazer o curso de enfermagem e nós tínhamos o compromisso de ir para qualquer lugar do país. Nós éramos 5 bolsistas. (...) E eu vim para o sul.(...). A escola daqui tinha sido recém inaugurada e eu fui designada para vir para cá. Em 1952, eu tinha vinte e poucos anos, sozinha... A escola daqui era anexa à Escola de Medicina, como a lei mandava (ênfase). Eu já fui logo para o campo de Enfermagem Psiquiátrica. eu era a única de todas as professoras que queria fazer Enfermagem Psiquiátrica. E então, a primeira turma que saiu da Escola de Enfermagem passou pelas minhas mãos (ênfase) ". (Enfa. 5, p. 1-2 ) (grifo nosso).

Tal como algumas outras informantes, o depoimento acima revela que a escolha pelo trabalho em psiquiatria teve como principal motivação a identificação com a especialidade. Observa-se, ainda, que, apesar da precariedade que a entrevistada detectava nos estabelecimentos psiquiátricos e na própria formação que recebera para trabalhar na área, o interesse pelo trabalho com doentes mentais fora despertado durante o curso de enfermagem, de modo semelhante ao que fora apontado por outras entrevistadas que optaram por esse campo de atuação.

Por outro lado, verifica-se que, ao contrário da posição da entrevistada, a grande maioria de seus colegas de escola e dos enfermeiros, que com ela conviviam, não compartilhavam do mesmo interesse pela psiquiatria. Pensa-se que as razões desse desinteresse estavam associadas aos preconceitos em relação aos doentes mentais e aos estabelecimentos de saúde a eles destinados e às condições de trabalho neles existentes, cuja deterioração é mencionada acima. É de se supor que tais questões tenham contribuído para reduzir o número de enfermeiras que procuravam um emprego no campo da assistência psiquiátrica, mas certamente não se pode atribuir-lhes exclusivamente a explicação pela carência dessas profissionais nos estabelecimentos psiquiátricos nos anos 50. Tal como ocorria em Porto Alegre, nos demais 141 estabelecimentos psiquiátricos existentes em todo país, em 1957, as enfermeiras constituíam apenas 2,4% do pessoal de enfermagem, de acordo com os dados apresentados no Relatório Final do Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem no Brasil-1956/1958 (Associação Brasileira de Enfermagem, 1980, p.91). É preciso considerar também que, apesar da expressiva expansão numérica de escolas de enfermagem no país, a partir dos anos 50 (o que, em parte, permite compreender porque o ingresso das enfermeiras nos hospitais psiquiátricos deu-se a partir deste período), a formação de um maior número desses profissionais não teve maior repercussão para a assistência psiquiátrica, pois tais instituições dificilmente contratavam um número expressivo desse tipo de profissional devido ao custo de seu trabalho.

Cabe, ainda, comentar que as formas de ingresso para enfermeiras nas instituições psiquiátricas de Barbacena, São Paulo, Porto Alegre e Salvador praticamente não se diferenciavam das já identificadas para os demais segmentos do pessoal de enfermagem. Como se pode verificar nos relatos acima, não há qualquer menção à realização de concursos ou a outros mecanismos sistemáticos de seleção. A entrada dessas profissionais nos estabelecimentos psiquiátricos foi permeada ou por indicações (e aqui aparecem novamente as alusões ao clientelismo político e às peculiaridades da política regional, que na época atingiam não só os hospitais como também a universidade), ou por convites que, no entanto, indicam uma forma de tratamento bem diferente da recebida pelos demais trabalhadores de enfermagem.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão dos depoimentos possibilitou não só identificar os motivos que levaram o pessoal de enfermagem a ingressar nos estabelecimentos psiquiátricos governamentais de São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Barbacena, como também a existência de uma relação entre os motivos apontados e o contexto histórico que os levou a procurar um trabalho em psiquiatria. Neste sentido, verificou-se que, para cada profissional de enfermagem, a busca por este tipo de atividade assumiu diferentes significados, muitos dos quais estiveram relacionados, por sua vez, com as condições materiais de existência. O grupo composto pelas enfermeiras, cuja origem social possibilitou-lhes maiores oportunidades educacionais e condições de proceder a uma escolha profissional, a procura pelo trabalho em psiquiatria esteve relacionada predominantemente à identificação com a especialidade, à influência de familiares e professores, dentre outras de ordem subjetiva como, por exemplo, o desejo de entender melhor seus semelhantes.

 

Notas

1. Este artigo recebeu o 1º lugar do Prêmio Colóquio Latinoamericano de História da Enfermagem - Rio (ano 2000), como o melhor trabalho nacional.
2. Dentre os quais consultou-se: os livros de registros de funcionários de instituições psiquiátricas, as atas de reuniões das Escolas de Enfermagem, regimentos e regulamentos internos das instituições, artigos publicados em periódicos da época.
3. São eles o Centro Psiquiátrico Pedro II (antiga Colônia de Psicópatas do Engenho de Dentro, 1923), Colônia Juliano Moreira (antiga Colônia de Psicópatas de Jacarepaguá, 1924), Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, UNIRIO (1890); Escola de Enfermagem Anna Nery, UFRJ (1923); no Rio de Janeiro-RJ. Hospital do Juqueri (1895), em Franco da Rocha; Instituto de Psiquiatria da LISP (1945), Escola de Enfermagem da USP (1942), em São Paulo-SP. Hospital Psiquiátrico São Pedro (1884), Escola de Enfermagem da UFRS (1950), em Porto Alegre-RS. Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira (1874), Escola de Enfermagem da IIFBA (1946), em Salvador - BA. Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (1903).
4. É difícil saber se a escolha por outras áreas de atuação na enfermagem ocorre de forma semelhante ao que foi discutido em relação à opção pela enfermagem psiquiátrica, dado que não se achou na literatura pesquisada informações sobre isso. No entanto, segundo mostra Mello (1982), um processo semelhante ocorre entre as profissionais de magistério.
5. Nessa época, o curso normal ainda não era equiparado aos cursos secundários, como, por exemplo, o clássico e o científico, conforme Safiottí (1976).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MACHADO, Roberto et al. Da(n)ação da norma, medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978. 559 p.

MELLO, Guiomar N. de. Magistério de 1o grau: da competência técnica ao compromisso político. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1982. 151 p.

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THOMPSON, Paul.A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. 385 p.

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