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CAPES

Volume 3, Número 3, Set/Dez - 1999

O fac-símile "Conferencias" foi publicado no "Annaes de Enfermagem", Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 29-31, maio de 1932. A autora foi "Instructora da Escola de Enfermeiras Anna Nery" em 1930, e descreve "como podem as Chefes de Enfermarias cooperar para auxiliar a Instructora e como utilizar os casos e a prática para facilitar o Ensino".

O artigo original encontra-se à disposição do leitor na Biblioteca Setorial da Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/ UFRJ).

 

CONFERENCIAS

Por ZAIRA CINTRA VIDAL

Instructora da Escola dc Enfermeiras Anna Nery

Realizada na Escola de Enfermeiras em 1930

Tema : Com o podem as chefes de enfermarias COOPERAR PARA AUXILIAR A instrutora. - Como utilisar os casos e A PRATICA PARA FACILITAR O ENSINO.

Com as teorias modernas de enfermagem, o trabalho mais importante da Enfermeira Chefe, em relação á Escola, é lecionar. É ela uma grande cooperadora da instrutora, servindo de traço de união entre a sala de aula e a enfermaria. Na sala de aula, as alunas recebem a parte teórica do curso e na enfermria aplicam os seus conhecimentos, cabendo assim á Enfermeira Chefe o importante papel de professora ou guia das alunas, durante o tempo de serviço nas enfermarias. Compete, porém, á Enfermeira Chefe saber das necessidades das alunas e também, traçar um bom plano de ensino, pois tem que fazer com as suas estudantes uma revisão do que aprenderam na sala de aula. Esta repetição só traz vantagem á aluna, pois se recordamos um pouco a psicologia, vamos encontrar como uma das leis de aprendizagem a lei do "Exercicio", em que se diz que a "perfeita pratica, torna perfeito o trabalho".

Antes, porém, de vermos os meios de que a enfermeira chefe pode lançar mão para esta educação, vamos passar uma revisão sobre os pontos que ela deve desenvolver na estudante :

1) -Espirito spartano, que podemos traduzir pela aquisição de um espirito de coragem, com o qual a aluna nunca fugira aos seus deveres, enfrentando assim toda sorte de desconfortes e perigos encontrados durante a sua carreira.

2) - Espirito de lealdade para com a profissão e para com a Escola, porque sem lealdade não ha unidade e sem unidade não pode existir um trabalho perfeito.

3) -Espirito de cooperação :

a) o "to get together" do americano, que significa trabalharem todas para o mesmo fim;

b) adaptabilidade ao trabalho.

4) - Moral integra.

5) -Compreensão para aceitar.o "criticismo".

6) -Espirito de justiça.

7) - Aperfeiçoamento do espirito.

Todos estes pontos, no entanto, são dados pela Instructora na sala de aulas, competindo sómente á Enfermeira Chefe desenvolve-los na enfermaria, onde a aluna vai ter maior campo de ação, não tendo ela nada mais a fazer do que dar o seu Eu como exemplo.

Passemos agora ao estudo dos meios do que. a enfermeira chefe póde lançar mão para cooperar com a instrutora na educação das suas estudantes. Diversos são eles, como sejam :

1. - Leitura do relataria pela manhã :

Nesta ocasião a enfermeira chefe, tendo todas suas alunas reunidas, poderá fazer a leitura do relatório, salientando alguns pontos importantes, elucidando outros e dar uma pequena aula sobre os casos apresentados. Será discutida, a condição do doente e alguma irregularidade encontrada no trabalho. Após esta leitura, e comentarios, poderá ser feito um interrogatorio sobre pontos que se correlacionem com o assunto, do momento. As perguntas estimulam a estudante, despertando a atenção.

Vemos, portanto, que o valor do questionário é :

a) estimular a aluna;

b) recordar o que foi dado;

c) desenvolver a atividade mental.

É pelo pensamento que podemos chegar a uma perfeita capacidade mental, e a enfermeira é uma das que mais precisa do "training" do pensamento, devido ás suas múltiplas responsabilidades.

2. - Perfeita distribuição do trabalho ;

Segundo as necessidades das alunas, o serviço deve ser o suficientemente difícil para interessar a aluna; no entanto, a enfermeira chefe não deve acumular as estudantes de trabalho que não lhes desperte o interesse, não devendo perder tempo em analisar o que lhes é familiar. Os problemas a elas apresentados, devem ser accessiveis a seus conhecimentos, e as informações devem ser de acordo com as necessidades. Elas devem estar preparadas para assimilarem tudo aquilo que esperam aprender em serviço, quer dizer, toda vez que a escala mudar a enfermeira chefe, deverá dar uma aula ás suas novas alunas sobre o que elas irão observar durante seu estagio naquele serviço e para que ponto sua atenção deverá se voltar; por exemplo: num caso de cirurgia, sua preocupação será observar se ha sintomas de choque, hemorragia, etc., num caso de obstetrícia, sintomas de hemorragia post-partum, e assim por diante.

3. - Uso do caso de Estudo :

É o estudo teorieo da paciente. Os casos devem ser distribuidos de acôrdo com o adiantamento da aluna. Diversos são os sistemas adotados, mas em todos eles, a aluna é encarregada de observar uma serie de pontos, referentes ao histórico do doente e o curso da doença no hospital, até á sua alta. O "caso de estudo" que apresenta como medeio é o usado em "Memorial Hospital, de Michigan. Os tópicos a responder são os seguintes :

1) - nome do doente, idade, data de entrada no hospital;

2) -diagnostico;

3) -nacionalidade, ocupação;

4) -sintomas apresentados, sua duração e causas possíveis;

5) - fatos importantes na familia ;

6) - histórico do doente, incluindo a vida conjugal, social e a ocupação influenciando no desenvolvimento da doença ;

7) -exame físico e sua significação;

8) -exame de laboratorio e sua significação;

9) -exame patológico e sua significação;

10) - ordens medicas com observação sobre tratamentos, dieta, etc.

Os tipos das casas de estudo, porém, variam conforme o serviço.

4. - "Case study assignment" - que é o estudo pratico do doente :

Do mesmo modo os casos são distribuidos de acôrdo com o adiantamento das alunas. Neste método a aluna é encarregada de cuidar de dois, tres ou quatro doentes, dependendo da gravidade do caso; porém, é ela exclusivamente a responsável pelos seus doentes. Tudo quanto se relacionar com estes doentes, deverá ser executado por ela; apenas deverá ser substituida nas horas de folga, aulas e almoço, e sempre pela mesma eollega. O valor deste método é: dispensar melhor cuidado ao doente e ser mais eficiente sob o ponto de vista educativo.

5. - As clinicas que consistem em aulas dadas pela enfermeira chefe :

Estas podem ser ou não, ao redér do leito do doente, dependendo apenas do paciente, pois nem todos gostam de ser tratados como um "caso de estudo".

O tempo deve ser licitado, nunca mais de 15 a 20 minutos, não só para não cansar a aluna, como para não prejudicar o serviço na enfermaria.

O numero de alunas a assistir deve ser também pequeno. O valor deste método é o seguinte :

1) - a estudante aprende com maior facilidade, devido a ser :

a) mais real a situação;

b) mais vital;

c) mais interessante;

2) - favorecer o desenvolvimento do instinto de observação;

3) - a estudante retém melhor os fatos;

4) -desperta o pensamento concreto;

5) -torna mais fácil a aplicação dos princípios de enfermagem;

6) -estimula melhor o pensamento;

7) -dá margem a boas perguntas.

O material para aula é fornecido pelo proprio doente; podemos usar os resultados de laboratorio, raio X e anamnese do doente,

6. - Ter livros de técnica na enfermaria, para que as alunas possam a des recorrer em qualquer duvida.

7. - Uso de "posters", que são quadros de papelão ou papel cartão onde as alunas representam, quer por desenhos, quer por frases, conhecimentos que tenha recebido na sala de aulas.

Para assunto, pode ser escolhida qualquer materia, pois todas elas se prestam para este método.

8. - "Record" de experiencia - onde as alunas assinalam o numero de doenças cuidadas:

É uma folha quadriculada, onde cada quadrado representa um dia de doença; eles são preenchidos com lapis de côr, representando cada côr uma doença. No fim do estagio no serviço, a aluna terá um "record" das doenças cuidadas e o numero de dias que cuidou de cada caso. Este sistema desperta o interesse da aluna, em querer cuidar do m aior numero possível de casos. Isto tras grandes vantagens para a aluna, porquanto ela ganha bastante experiencia, pois, nem todos os doentes com a mesma doença apresentam os mesmos sintomas e já uma grande cabeça francesa disse que ha doentes e não doenças.

O quadro poderá ser feito da seguinte maneira :

9 - Deixar a aluna fazer o inventaria da enfermaria :

Neste trabalho ela se familiarisa com o material existente na enfermaria, tomasse .apta, em caso de necessidade,' a organizar qualquer serviço e tem uma perfeita noção das despesas hospitalares, as quaes devem ser bem avaliadas pelas alunas que tem por de* ver zelar pela parte económica do hospital.

10. - Kazer com que a estudante siga a visita medica :

É esta a hora escolhida pelo chefe da enfermaria para as aulas praticas a seus estudantes e será bastante proveitoso á aluna, se ela puder estar presente também a estas conferencias. Os conhecimentos adquiridos na sala de aula serão ampliados pelos detalhes medicos e melhor conservados na mente, pela combinação de aulas praticas e teóricas. Além disto, obriga a aluna a estar ao par de todo movimento da enfermaria, para que possa durante a visita, dar informações :-o medico.

11. - Sistema de demonstrações feitas pela chefe do Serviço:

Este método evita que a aluna se engane, adquirindo assim o habito de trabalhar com erros de técnica. Acontece muitas vezes que a aluna se acha afastada de um serviço por algum tempo e que ao voltar novamente tem algumas duvidas sobre as diferentes técnicas; seria o ideal para ela, se antes de fazer um determinado tratamento, a sua chefe pudesse fazer uma demonstração, como deveria ser feito o seu trabalho, avivando assim os seus conhecimentos, evitando, por conseguinte, os erros de técnica e dando aos seus doentes maior conforto.

Estes métodos todos são valiosos sob o ponto de vista educativo; não deixo, porém, de ponderar que para nés é um pouco difícil coloca-los em pratica porquanto não é muito economico; mas também sou de opinião que ante a economia e a educação de nossas enfermeiras, devemos sacrificar um pouco o primeiro em prol de melhores auxiliares.

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