Volume 21, Número 2, Abr/Jun - 2017
EDITORIAL
Pesquisa Convergente Assistencial Enfermagem -
Possibilidades para inovações tecnológicas
Neide Aparecida Titonelli Alvim 1
1 Professora Associada. Departamento de Enfermagem Fundamental. Escola de Enfermagem
Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do CNPq
A Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) foi desenvolvida por Mercedes Trentini e Lygia Paim no final da década de 1980, a partir de reflexões com mestrandos, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre os fenômenos da prática assistencial e as potencialidades de produção de novos conhecimentos.1
A obra que trata os princípios que norteiam o método e suas principais características foi publicada em sua primeira versão em 1999.1 Desde então, vem ganhando cada vez mais a adesão de profissionais de saúde, principalmente, de enfermeiros, interessados na construção teorizante sobre os problemas que se apresentam à prática, com vistas à sua resolução, aguçando a atitude crítica do pesquisador que assume o compromisso de provocar mudanças que contribuam para qualificar a assistência e introduzir inovações para o cuidado de enfermagem e em saúde.2
A PCA envolve uma variedade de métodos e técnicas qualitativas de investigação, individuais e grupais, no intento de não somente coletar informações, mas de integrar os envolvidos ao processo de construção da pesquisa concomitantemente às atividades profissionais do pesquisador, permanentes ou temporárias, de forma ativa e participante. O campo assistencial é, portanto, o mesmo espaço em que emergem os problemas e as questões da pesquisa, sendo o diálogo o mediador das relações que se estabelecem entre os atores sociais neste campo.2
Este método se aproxima da postura epistemológica do paradigma complexo e do construtivismo social, vez que se sustenta no entendimento do sujeito como ser de ações e interações, e da incompletude e inacabamento do conhecimento que dele se deriva.2,3 Nessa visão teórica e filosófica, o conhecimento é construído a partir da experiência dos sujeitos, na sua relação com o mundo e outros sujeitos. É esta condição dos profissionais envolvidos que protagonizam simultaneamente as ações da assistência e do processo investigativo que os conduz à consciência crítica e às mudanças e inovações necessárias na prática.
Apesar de não se restringir aos fenômenos da pesquisa em enfermagem, seus profissionais são os que mais têm investido na aplicação e difusão do método da PCA, em diferentes espaços de sua atuação assistencial, áreas e grupos humanos, sobre os quais os resultados da pesquisa possam indicar novas possibilidades de transformação e inovações tecnológicas à prática.4
Embora a PCA não siga o método clássico de investigação, sua proposta de construção de conhecimentos e inovação das práticas de saúde preserva os princípios e o rigor do método científico, a partir das evidências presentes nas práticas cotidianas dos profissionais. O envolvimento da equipe da assistência como parte interessada na produção, desenvolvimento, difusão e aplicação dos resultados da investigação no campo prático se dá tanto na negociação para a realização da pesquisa quanto na definição do seu objeto e discussão das estratégias de produção de dados que implicam na dinâmica do processo da prática assistencial.
Assim, apesar de cada qual manter sua identidade própria, pesquisa e assistência coexistem durante todo o processo de aplicação do método. Há necessidade, pois, de identificar o que corresponde à prática assistencial e os caminhos que conduzem a pesquisa, ao tempo em que se indica a convergência entre ambas. Das etapas próprias de cada uma delas que se movem ora se distanciando, ora se aproximando, expressando suas diferenças e similaridades, vão surgindo as potencialidades que contribuem com a proposição de soluções aos problemas que se apresentam à assistência.5
Na interface de saberes e experiências dos envolvidos, vão se instaurando inovações na prática e as mudanças requeridas no cuidado de enfermagem e de saúde. A natureza dinâmica, justaposta e integrada à assistência, no interesse de qualificá-la, por um lado, torna a PCA um método investigativo inovador, permitindo a exploração, reflexão e aprofundamento de diferentes temas que vão sendo descodificados no mesmo espaço físico e temporal em que simultaneamente ocorrem a pesquisa e a prática assistencial; por outro, se apresenta como um desafio, na medida em que imprimir mudanças e inovações tecnológicas no espaço instituído da saúde, requer a contínua revisão de postura e de atitude dos profissionais diante aos obstáculos e necessidades de transformação que dele emergem.
REFERÊNCIAS