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CAPES

Volume 7, Número 2, Mai/Ago - 2003

ARTIGOS DE PESQUISA

 

A interdisciplinaridade na produção do conhecimento de enfermagem

 

Interdisciplinarity in the knowledge production in nursing

 

La interdisciplinaridad en la produccíon del conocimiento de enfermería

 

 

Maria Madalena de Andrade SantiagoI; Ângela ArrudaII

IProfessora Adjunta do DFEN/FE/UERJ, Doutora em Enfermagem pela EEAN/UFRJ e Mestre em Filosofia
IIProfessora Adunta do Instituto de Psicologia Social e da Pós-Graduação em Saúde Coletiva do NESC/UFRJ, Mestre em Psicologia Social pela École dês Hautes Études en Sciences Sociales. Doutora em Psicologia pela USP

 

 


RESUMO

Estudo sobre as referências contidas em teses de Doutorado dos Programas das Escolas de Enfermagem UFRJ e USP, no período de 1992 - 1997, com o objetivo de identificar as áreas de conhecimento das fontes citadas. No estudo do tipo descritivo com abordagem quantitativa, aplicou-se análise estatística simples em 39 teses, cerca de 50% do total produzido, privilegiando-se as mais recentes. Embora o resultado revele interesse por referências na área de saúde, principalmente textos de enfermagem e medicina, e até de ciências exatas, constata-se uma nítida tendência para publicações com característica interdisciplinar diversa, oriunda das ciências humanas e sociais, que marcam as diferenças entre os Programas.

Palavras chave: Enfermagem. Referências. Áreas de Conhecimento. Pós-Graduação.


ABSTRACT

We studied the references contained in Ph.D. theses from the Programs of the Nursing Schools of UFRJ and USP, in the period from 1992 to 1997, with the objective of identifying the areas of knowledge from the given sources. In the study of the descriptive type with quantitative approach, simple statistic analysis was applied to 39 theses, about 50% of the total produced, privileging the most recent ones. Although the result reveals interest for references in the health area, primordially, nursing and medicine texts, and even of exact science, we verified a clear tendency for publications with diverse interdisciplinary characteristics, originating from the social and human sciences, that mark the differences between the Programs.

Keywords: Nursing. References. Knowledge Areas. Pos-Graduation.


RESUMEN

Estudiaran-se las referencias contenidas en las tesis de dotorado de los Programas de las Escuelas de Enfermería UFRJ e USP, en lo periodo de 1992-1997, con el objetivo de identificar las áreas del conocimiento de las fuentes citadas. En el estudio del tipo descriptivo con abordaje cuantitativo aplicó-se análisis estadística simples en 39 tesis, cerca de 50% del total producido, privilegiándose las más recientes. Todavía el resultado revelo él interese por referencias en el área de la salud, principalmente, textos de enfermería y medicina, asta mismo ciencias exactas. Constatamos, una nítida tendencia para las publicaciones con características interdisciplinaridad diversas, originaria de las ciencias humanas e sociales, que marcan las diferencias entre los Programas.

Palabras clave: Enfermería. Referencias. Áreas de conocimiento. Pos-Graduación.


 

 

INTRODUÇÃO

Hoje, em todas as áreas do conhecimento humano, para ajustar-se às exigências da sociedade moderna, precisa-se não só produzir, mas absorver novas informações e tecnologias, verdadeiro capital do mundo atual.

Na enfermagem, pode-se dizer que a trajetória rumo à cientificidade iniciou-se com Florence Nightingale, que, ao enunciar os primeiros conceitos da profissão e apontar o caminho, da investigação científica, indicando a observação sistemática, como instrumento para a realização do cuidado, criou, em 1859, na Inglaterra, a enfermagem moderna (NIGHTINGALE, 1989, p.119). Essa recomendação de Florence nos certifica que a preocupação com o caráter científico da enfermagem é antiga.

Embora se persiga essa meta, a observação empírica evidenciou que os textos de autores enfermeiros eram citados em menor freqüência que autores de outras áreas de conhecimento, o que suscitou a questão: quais as áreas de conhecimento privilegiadas pelos enfermeiros pesquisadores ao elaborarem suas teses de doutorado? Assim, objetivou-se identificar, a partir da análise do material existente, as áreas de conhecimento incorporadas às teses defendidas em três Programas de Doutoramento, na EEAN/UFRJ e na EE/USP, no período de 1992 a 1997.

Na enfermagem brasileira, a referência que marca concretamente a primeira produção científica foi a realização, nos anos 50, do "Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem no Brasil", presidido por Izaura Barbosa Lima e desenvolvido em cooperação com outros órgãos, com o objetivo de investigar a situação do pessoal de enfermagem (CARVALHO, 1976, p.299; MENDES, 1991, p.33).

Outro marco histórico vincula-se à defesa da tese "A enfermagem moderna como categoria profissional: obstáculos a sua expansão na sociedade brasileira", de Glete de Alcântara, em 1963, preparada para o concurso de Professor Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (MENDES, 1991, p. 33). Contudo, o maior impulso à realização de pesquisas em enfermagem no Brasil foi dado no final da década de 60, após a Reforma Universitária de 1968, com a criação dos Cursos de Pós-Graduação "stricto sensu" que resultou na implantação dos cursos de mestrado e doutorado em enfermagem, no Rio de Janeiro, em 1972, e em São Paulo, em 1981. Porém, em virtude do reduzido número de professores com essas qualificações, porque apenas essas instituições os ofereciam, os cursos voltaram-se primeiramente para a qualificação de docentes, conseqüentemente, a maioria dos pesquisadores enfermeiros concentra-se entre os profissionais do ensino superior.

Com o intuito de incentivar a pesquisa em enfermagem, em novembro de 1979, o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem (CEPEn), órgão criado pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), com esta atribuição promoveu a realização do 1º Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem (SENPE), em Ribeirão Preto - SP. O seminário realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve entre outros objetivos discutir aspectos teórico - metodológicos, as dificuldades da pesquisa em enfermagem, bem como iniciar o debate sobre a propriedade da aplicação de diferentes abordagens metodológicas aos problemas de enfermagem, sem abrir mão da cientificidade.

Na enfermagem, desenvolveram-se algumas teorias como: Teoria Ambientalista de Florence Nightingale, Teoria Holística de Myra Estrin Levine, Teoria do Auto Cuidado de Elizabeth D. Orem, Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta e outras (ALMEIDA e ROCHA, 1989). Concordando ou não com sua aplicabilidade em responder às exigências presentes na prática do cuidado profissional humano, pode-se dizer que elas são pouco utilizadas nas pesquisas de enfermagem (MENDES, 1991; SANTIAGO, 2000).

Contudo, comparada a outras disciplinas1 da área de saúde, a enfermagem ainda pode ser considerada uma profissão jovem (BAPTISTA,1983, p.1), que gradativamente constrói seu campo de conhecimento científico e tecnológico, fundamentado em resultados de pesquisas oriundas de outras culturas ou de outras áreas de conhecimento (op.cit., p. 87).

Santos e Clos (1997, p 74) afirmam que o interesse por saberes de outras disciplinas pode constituir-se na preocupação dos autores em contribuírem "na aplicação ou na compreensão" do saber da profissão. Assim, a busca de referencial teórico em disciplinas de outras áreas de conhecimento significaria a necessidade de o pesquisador enfermeiro compreender as múltiplas facetas do cuidado.

É provável que os enfermeiros inicialmente se apropriassem de conhecimento das ciências que lhes eram mais próximas, distanciando-se gradualmente da perspectiva que limita o cuidado ao aspecto biomédico, como evidenciou Mendes (1991, p. 113) ao analisar a produção do 1º Curso de Doutorado em Enfermagem da USP. Hoje, talvez se possa dizer que essa expansão para outros campos do saber, mais que um afastamento do modelo biomédico, signifique a busca de um saber cuidar próprio e interdisciplinar. Essa tendência revela uma concepção de indivíduo integrado no mundo e na sociedade, possibilitando uma assistência integral e provavelmente de melhor qualidade (ALMEIDA et al., 1995, p.21). É preciso, então, que os enfermeiros aceitem a perspectiva que contempla a pluralidade metodológica, contrária à posição racionalista tradicional.

O modelo racional de ciência utilizado tradicionalmente pela física, astronomia ou outra é insuficiente para tratar de um objeto tão complexo como os fenômenos humanos vivenciados na prática do cuidar, como ocorre nos estudos de enfermagem, razão pela qual requerem a coexistência de diferentes abordagens para suas investigações, tal como se dá em outras áreas de conhecimento (LEOPARDI, 1999, p.13).

O cientista constitui seu conhecimento por um processo investigativo e pela aplicação de uma série de métodos práticos, que tanto podem ajudar na tentativa de aprofundar o processo, como também desviá-lo. Os critérios que direcionam sua ação muitas vezes são aqueles que se adaptam à situação ou são constituídos pelos acontecimentos próprios do desenrolar da pesquisa (FEYERABEND, 1991, p. 330). Desse modo, a ciência é percebida pelo sujeito de acordo com o grupo a que pertence, com a informação que possui e com sua atitude a respeito desta ciência, onde cada um sensibiliza-se e apropria-se dos elementos que lhe convêm (MOSCOVICI,1978, p. 96).

 

METODOLOGIA

Julgando que a análise da distribuição das áreas de conhecimento das referências, nas produções de doutorado, contribuiria para uma apreciação da evolução do saber de enfermagem no período subseqüente à implantação dos cursos, fez-se um estudo do tipo descritivo com aplicação de análise estatística simples, com recorte temporal de cinco anos, de agosto de 1992 a julho de 1997.

Os campos para o desenvolvimento do estudo foram a Escola de Enfermagem Anna Nery, pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ), e a Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE/USP), escolhidas em função das características históricas, geográficas e de representatividade do pensamento da enfermagem brasileira. No sentido de preservar o direito dos autores, solicitou-se a consulta às teses, a qual foi autorizada após aprovação da Comissão de Ética da EE/USP.

O material analisado constitui-se de 39 teses defendidas no período, correspondendo à cerca de 50% do total, priorizaram-se as mais recentes, em razão da atualidade e do volume da produção. O instrumento inclui a identificação das teses: autor, título, objeto, referencial teórico-metodológico, orientador, co-orientador, número de páginas, data de defesa, recebimento de bolsa e o levantamento das referências bibliográficas, porém, para fins deste recorte, usou-se apenas o último item. Para a verificação dos autores/obras referidos e consultados, por área de conhecimento, confrontaram-se as citações às respectivas referências.

Na classificação das produções, mesmo havendo o risco de exclusão de algum título importante, preferiu-se uma terminologia mais restrita à enfermagem; assim considerou-se as que contivessem: no título, nome do evento ou da publicação as seguintes palavras-chave: enfermeira/o, enfermagem, cuidar, cuidado, conforto e assistência de enfermagem. Como muitos temas se inserem em mais de um campo de saber, sempre que o título da produção, nome do evento ou da publicação sugeria dubiedade, a produção foi classificada como interdisciplinar.

 

RESULTADOS

O material compôs-se de 39 teses dos três Programas, das quais 13 (54%) do Programa da EEAN / UFRJ, 13 teses (52%) do Programa da EE/USP e 13 teses (37%) do Programa Interunidades/USP. As teses examinadas possuem em média 175 páginas e 96 referências cada uma. Nas teses da EEAN, foram analisadas 1092 referências correspondendo a 28,9 % do total; na EE/USP 1346 (35,6%) e no Programa Interunidades 1345 (35,5%), totalizando 3783 referências.

Na fase de coleta, ocorreram alguns contratempos em decorrência da diversificação das formas de apresentação do sistema de referências: localização da fonte de consulta em nota de rodapé ou no fim do texto; as chamadas por sistema numérico ou autor-data, e relação de autores, localizada no final de cada capítulo ou no final da tese (ABNT, 1989). Outro contratempo diz respeito a eventuais omissões, duplicidade de autoria, títulos ou falhas de digitação.

No intuito de facilitar a análise, as referências foram divididas por áreas de conhecimento em fontes: internas às ciências, externas às ciências e não identificadas. Entre as fontes internas às ciências, foram incluídas as publicações relacionadas a Ciências da Saúde, Humanas e Sociais e Exatas. Na área das Ciências da Saúde, encontram-se: Enfermagem; Medicina; Educação Física; Fisioterapia; Farmácia; Nutrição. Nas Ciências Humanas e Sociais: Filosofia; Sociologia; Antropologia; Psicologia; Serviço Social; História; Educação; Direito; Administração; Economia, Metodologia Científica e o conteúdo denominado Interdisciplinar (aqueles que podem pertencer a mais de uma disciplina como Antropologia, Sociologia, História, Economia e outros). Nas Ciências Exatas: Física, Estatística e Química. Em fontes externas à ciência, foram incluídos: Dicionários; Imprensa e Literatura; Religião e/ou Auto Ajuda. Entre as Não Identificadas estão as referências citadas no corpo da tese, mas não incluídas nas referências bibliográficas ou outros casos em que o nome do autor não correspondia à autoria da obra.

A Tabela a seguir mostra a distribuição das referências por área de conhecimento, com predominância de títulos nas Ciências da Saúde, porém existe um percentual significativo de títulos relativo às Humanidades e em menor número às Exatas.

Na Tabela 1, verifica-se no total que maior número de títulos referidos corresponde à Área de Saúde com 1973 (58,0%) títulos, em seguida com 1385 (41,0%) a Área das Ciências Humanas e Sociais, e por último as Ciências Exatas com 47 (2,0%) obras. Nota-se que os Programas apresentam características distintas; no Programa da EEAN foram registradas 512 (55,0%) referências na Área das Ciências Humanas e Sociais. Entretanto, na Área das Ciências da Saúde, registrou-se 843 (69,0%) títulos no Programa Interunidades e 717 (57,0%) no Programa da EE/USP.


Tabela 1 - Clique para ampliar

 

Observa-se na Tabela 2 que o conteúdo de Enfermagem, com mil duzentos e noventa e seis (1296 - 65,7%) publicações, possui o maior registro de referências bibliográficas nos três (3) programas de doutoramento. A Medicina vem em seguida, com seiscentos e cinqüenta e nove (659 - 33,4%).


Tabela 2 - Clique para ampliar

 

 


Tabela 3 - Clique para ampliar

 

Na classificação das referências, incluiu-se o conteúdo de metodologia científica nas Ciências Humanas e Sociais, porque grande parte das publicações citada pertencia a esta área.

Observou-se nos três (03) programas que o conteúdo de metodologia científica (MET) obteve cento e cinqüenta e seis (156 - 11,3%) registros; destes, quarenta e um (41 - 8,0%) foram no Programa da EEAN; na EE / USP sessenta e dois (62 - 11,8%) e no Interunidades cinqüenta e três (53 - 15,2%). Do total das referências do conteúdo de Filosofia (FIL), cento e quarenta e três (143 - 10,3%) títulos, a maior concentração foi encontrada no Programa da EE / USP com setenta e quatro (74 - 14,1%); na EEAN foram cinqüenta e um (51 - 10,0%) títulos e no Interunidades foram dezoito (18 - 5,2%). A Sociologia (SOC) obteve no total sessenta e cinco (65) registros, correspondendo a 4,7%; no Programa da EEAN, com trinta e oito (38 - 7,4%) títulos, foi observada a maior incidência, enquanto que nos dois (02) Programas da USP, respectivamente, dezesseis (16 - 3,0%) e onze (11 - (3,2%) referências bibliográficas. Destaca-se o volume de títulos referidos em Psicologia nos três (3) programas: cento e setenta e dois (172 - 12,4%); destes, setenta e três (73 - 13,9%) foram referidos na EE / USP, sessenta e três (63 - 12,3%) na EEAN e, finalmente, trinta e seis (36 - 10,3%) no Interunidades. Sobressaem no Programa da EEAN as referências bibliográficas dos conteúdos de História (HIS) com setenta (70 - 13,7%), e de Direito (DIR) com sessenta e oito (68 - 13,3%) indicações, enquanto que no Interunidades o conteúdo de Educação (EDU) se apresenta com quarenta e três (43 - 12,4%) indicações.

Em relação ao total de referências bibliográficas, nas Ciências Humanas e Sociais, o conteúdo Interdisciplinar (INT), com quinhentos e dois (502 - 36,2%) títulos referidos, destacou-se nos três (03) Programas. Na EEAN, foram registrados cento e vinte e nove (129 - 25,2%) títulos, na EE / USP duzentos e vinte e dois (222 - 42,3%) e no Interunidades cento e cinqüenta e um (151 - 43,4%). Os conteúdos de Serviço Social e Economia, com dezoito (18 - 3,5%) e onze (11 - 2,1%) referências bibliográficas, em sua maioria concentraram-se, respectivamente, nos Programas da EEAN e da EE / USP.

Nas Ciências Exatas, o maior percentual correspondeu ao conteúdo de Estatística com (26) ou (55,3%) títulos distribuídos nos três (03) Programas (Tabela 04). Entretanto, se verificada isoladamente, a maior concentração ocorreu na EE / USP. E a menor freqüência no Interunidades com treze (13) (39,4%) referências, ressaltando-se ainda nesse programa o percentual do conteúdo de Química, com vinte (20) (60,6%) títulos.


Tabela 4 - Clique para ampliar

 

Desse modo, percebe-se no conjunto das áreas que os enfermeiros, ao construírem o conhecimento da profissão, privilegiam na Área da Saúde (Tabela 2) as publicações de Enfermagem, com o maior registro de referências nas teses do Programa da EE/USP. Nas Ciências Humanas e Sociais, observa-se o maior registro de títulos classificados como Interdisciplinar nos Programas da EE / USP e Interunidades, e finalmente, na Área das Exatas, a Estatística apresenta o maior percentual de referências no Programa da EE/USP.

A seguir apresentam-se as referências externas às ciências e não identificadas.

 


Tabela 5 - Clique para ampliar

 

Entre as publicações externas às ciências, a maior freqüência ocorreu entre as relacionadas como Imprensa/Literatura com 23 (16,1%) na EEAN, em seguida Dicionário com 11 (16,7%) na EE/USP. Entre as Não Identificadas, constata-se o maior registro 99 (83,2) no Programa Interunidades.

Os elementos que concorrem para a construção do saber são de ordem objetiva e subjetiva, mas a seleção das referências que compõem o corpo de uma tese é, em última análise, feita por suas autoras. Então, é possível que essas escolhas estejam associadas, além do tema, às suas experiências profissionais, visões de mundo ou outras. Desse modo, pode-se dizer que a distinção entre os Programas indica que as instituições formadoras direcionam de certa maneira a produção do saber segundo as representações que possuem da ciência e da profissão (SANTIAGO, 2000, p.111).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao estudar as referências bibliográficas das teses defendidas nos programas da EEAN/UFRJ e EE/USP, pretendeu-se identificar as áreas de conhecimento das referências incorporadas no período determinado. Observou-se pelas teses que os enfermeiros, ao constituirem o saber da profissão, o fundamentam em diferentes áreas do conhecimento, e percebe-se também diferenças marcantes entre os programas.

Vista individualmente, a enfermagem parece possuir na área da Saúde uma freqüência elevada; as citações de enfermagem superam as de medicina. Entretanto, ao comparar com outras áreas, constata-se que ela é suplantada pela maior concentração de referências que ocorre no conjunto da área das Ciências Humanas e Sociais, destacando-se em maior grau os conteúdos com característica Interdisciplinar (já explicado anteriormente), e de metodologia da pesquisa científica. Em seguida, sobressaem as disciplinas: Psicologia, Filosofia e História. A Estatística, nas Ciências Exatas, é o único conteúdo que merece destaque.

O Programa da EEAN inclina-se a constituir o saber fundamentado mais na área das Ciências Humanas e Sociais que em outras áreas, inclusive a Enfermagem. No Programa da EE / USP e no Interunidades/USP, constata-se que, embora os enfermeiros se interessem pelas Ciências Humanas e Sociais, o conhecimento científico de enfermagem é bastante denso e mais presente que na EEAN. E apenas no Programa Interunidades o conteúdo de Educação mereceu destaque.

 

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Informação e documentação - Referências Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT/Fórum Nacional de Normalização. 2000. 24 P. (NBR 6023).

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ALMEIDA, Maria Cecília Puntel de; ROCHA, Juan Stuardo Yazlle. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1989. 128p.

BAPTISTA, Suely de Souza. Tendências da produção científica do curso de mestrado em enfermagem da EEAN / UFRJ - Estudo das teses aprovadas no período 1975 - 1981. 1983. 143 p. Dissertação (Mestrado em Enfermagem). Escola de Enfemagem Anna Nery. Universidade Federal do Rio de Janeiro. EEAN/UFRJ, Rio de Janeiro, 1983.

CARVALHO, Anayde Corrêa de. Associação Brasileira de Enfermagem 1926-1976: documentário. Brasília: ABEn, 1976, 514 p.

FEYERABEND, Paul. Adeus à razão. Lisboa: Edições 70, 1991.

LEOPARDI, Maria Teresa. Teorias em Enfermagem: instrumentos para a prática. Florianópolis: NFR/UFSC; 1999. 228p.

MENDES, Isabel Amélia Costa. Pesquisa em Enfermagem: o impacto na prática. São Paulo: Edusp, 1991. 153 p.

MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, J. Zahar, 1978. 296p.

NIGHTINGALE, Florence. Notas sobre a enfermagem: o que é e o que não é. São Paulo: Cortez, 1989.

SANTIAGO, Maria Madalena de Andrade. O saber acadêmico de enfermagem: constituição e representações em três programas de Pós-Graduação. Tese (Doutorado em Enfermagem). Escola de Enfermagem Anna Nery. Rio de Janeiro, 2000. 127 p.

SANTOS, Iraci dos. ; CLOS, Araci C. Nascentes do conhecimento em enfermagem. In SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM ENFERMAGEM, 9., 1997, Vitória. Anais. Espírito Santo: ABen 1997. p. 68-89.

 

NOTAS

1Neste texto, entende-se por disciplina o conjunto de conhecimentos em que um saber se organiza.

 

 

Recebido em 23/05/2002
Reapresentado em 21/03/2003
Aprovado em 26/06/2003

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