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CAPES

Volume 9, Número 2, Abr/Jun - 2005

ARTIGOS DE REFLEXÃO

 

Gênero e saúde reprodutiva: breve reflexão

 

Gender and reproductive health: brief reflection

 

Género y salud reproductiva: breve reflexión

 

 

Elenir Pereira de PaivaI; Maria Catarina Salvador da MottaII

IEnfermeira. Especialista em Nefrologia e Mestre em Enfermagem pela EEAN/UFRJ. e-mail: bolpato@ig.com.br
IIProfessora adjunta do Departamento de Saúde Pública da EEAN/ UFRJ. Coordenadora da Disciplina "Informática aplicada à Enfermagem". e-mail: mcsmotta@terra.com.br

 

 


RESUMO

O estudo tem como objetivo mostrar as diferenças e desigualdades que separam mulheres e homens no mundo. Na tentativa de síntese, podemos dizer que gênero refere-se à construção social do sexo. Como sabemos e evidenciamos, vários estudos atestam as discriminações de que são vítimas as mulheres, revelando assim as diferenças e a inferioridade em relação aos homens. Através da comparação entre diversas sociedades, pode-se dizer que homens e mulheres são representados e modelados socialmente e de maneira muito diversa e que estamos todos presos as malhas do gênero.

Palavras-chave: Enfermagem. Gênero. Sociedade. Reprodução.


ABSTRACT

This study shows the differences and inequalities that separe men and women in the world. Tg to summarize it, we can say that gender has to do with the social construction of the sex. As we know and showed in this work, many studies prove the discrimination that women suffer, revealing the differences and inferiority in relation to men. Though comparison among different societies, we can say that men and women are represented and socially modeled in a very different way and that we are stuck in the gender issue.

Keywords: Nursing. Gender. Society. Reproduction.


RESUMEN

El estudio tiene como objetivo mostrar las diferencias y desigualdades que separan mujeres y hombres en el mundo. E el intento de síntesis, podemos decir que género se refiere a la construcción social del sexo. Como sabemos y evidenciamos, varios estudios atestiguan las discriminaciones de que son vítimas las mujeres, revelando así las diferencias y la inferioridad en relación a los hombres. A través de la comparación entre diferentes sociedades, se puede decir que hombres y mujeres son representados y moldados socialmente y de modo muy diverso y que estamos presos al género.

Palabras clave: Enfermería. Género. Sociedad. Reproducción.


 

 

INTRODUÇÃO

Trabalhar com gênero representa para o senso comum abordar questões femininas. Porque falar sobre submissão, desigualdade, falar da discriminação positiva como estratégia para superação do problema ao longo do tempo. Falar sobre a necessidade atual de resgatar o gênero como concepção que nos permita compreender as desigualdades dentro da universalidade de prestação de serviços disponíveis na área da saúde voltados à mulher. A propósito, precisamos entender as diferenças entre homens e mulheres, sem desigualdade ou distinção.

Para explicar a origem da subordinação da mulher, muitos estudos têm sido empreendidos, e o entendimento dessa questão é de suma importância para a adoção de medidas que visem o entendimento da hierarquia de gênero.

Assim sendo, podemos dizer que gênero diz respeito ao estudo das relações sociais, baseado nas diferenças percebidas entre homens e mulheres, e que ao longo dos tempos vêm sofrendo alterações significativas1.

Frente a esses questionamentos, percebemos que se faz necessário um investimento em relação à condição de ser mulher na nossa sociedade, é para isso que devemos buscar novos rumos para que possam subsidiar a formulação e a fundamentação da real dimensão da condição para o gênero feminino em nossa sociedade. Visamos, contudo, neste estudo, abordar uma forma de melhorar as condições gerais da mulher em todos os âmbitos não só em saúde, mas também nela.

A explicação dessas diferenças baseia-se na constituição genética, que dota as pessoas de características físicas distintas de acordo com o sexo2. Considerando tal reflexão, podemos dizer que ao nascer o ser humano é macho ou fêmea e que só com a construção social é que ele se torna homem ou mulher.

Baseando-nos nessas informações podemos dizer que gênero refere-se a um conceito das ciências sociais, que se aplica à construção social do sexo. Significa que a palavra sexo existe para distinguir a dimensão biológica da dimensão social. Esse raciocínio se funda na idéia de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas a qualidade de ser homem e de ser mulher é realizada culturalmente3.

Mediante a problemática presente neste contexto, a abordagem nos faz refletir sobre o que estamos vivendo culturalmente nos dias atuais em termos de saúde da mulher e reprodução.

Considera-se o termo gênero também para designar as relações sociais entre os sexos e, neste sentido, desloca-se o eixo da discussão da opressão, com origem da biologia, para discutir as diferenças como construídas socialmente, assim como assumir o caráter relacional da condição feminina2.

É importante ressaltar que é a cultura que constrói o gênero, simbolizando as atividades como masculinas ou femininas. O conceito de gênero, tal como esboçado anteriormente, tem como origem à noção de cultura; o que aponta para o fato da vida social e os vetores que a organizam3.

Esse fato causa inquietações, devido, na atualidade, a mulher ainda viver na condição de subordinação tanto no meio social quanto profissional, e podemos perceber isso claramente quanto às diferenças salariais. Dentro desse contexto, podemos destacar o crescimento social, pois hoje podemos vê-las ocupando profissões variadas que anteriormente só eram desenvolvidas pelo gênero masculino.

 

GÊNERO E REPRODUÇÃO

No momento atual estamos frente a desafios e dilemas que não devem ser eludidos. O primeiro deles diz respeito a uma melhor distinção entre sexualidade e gênero. A fusão entre gênero e sexualidade torna especialmente problemática as dimensões entre os direitos sexuais.

Também compreende-se que é na questão da reprodução que as diferenças se instalam6. Podemos observar algumas linhas interpretativas sobre a problemática do gênero que explicitam estar, na apropriação feminina pelo sexo masculino, a origem da desigualdade entre os gêneros presentes em diversas sociedades.

Considero importante salientar que são nessas questões que a mulher sofre profundas desigualdades, pois tem uma tripla jornada de trabalho e, geralmente, no mercado de trabalho, seu salário é menor que o dos homens. Vivenciamos muitos avanços em relação à mulher, porém alguns aspectos ainda estão muito arrastados.

Com relação à reprodução, na sua condição de mulher, podemos destacar que apesar de ser considerada frágil, percebe-se que é capaz de ser mãe, educar filhos, trabalhar e por isso tem se empenhado no meio social apesar de tantas diferenças.

Nas últimas décadas, as mulheres buscam conciliar as tarefas domésticas com um trabalho remunerado através de uma qualificação profissional7. Concordando com a autora, podemos dizer que a mulher vem se qualificando e crescendo no mercado de trabalho, porém ainda é vista com desigualdade no que diz respeito a salários e a relações de poder.

Sendo assim, parece natural que o sexo feminino seja responsável por uma série de tarefas associadas ao papel que a mulher ocupa no processo reprodutivo. O cuidado com a prole sempre foi destinado à mulher, caracterizando-se propriamente reprodutivo. As mulheres estariam "representadas" como mais imersas e presas ao plano natural do que o homem.

Em nossa sociedade, deparamos-nos com algumas diferenças entre homens e mulheres, ou seja, já na infância, as meninas utilizam grande parte do seu dia com atividades necessárias para o sustento doméstico. Geralmente, desde pequenas, são responsáveis por uma série de tarefas desde limpar e varrer a casa, lavar e passar a roupa, esquentar a comida, quando não fazê-la e, ainda, cuidar dos irmãos menores. Porém, quanto aos meninos observa-se, que eles dispõem de mais tempo para brincar e desenvolver outras atividades do que as meninas.

Dessa forma, acredito que as identidades podem ser estruturadas construindo percepções diferenciadas entre meninos e meninas, sendo que eles, comparados com elas nos seus primeiros anos de vida, gozam de mais liberdade. As meninas e as adolescentes, via de regra, são objeto de restrições relativas aos locais que podem freqüentar e até mesmo a rua que podem transitar.

A sociologia, a antropologia e outras ciências humanas lançaram mão da categoria gênero para demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens, que repercutem na esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais diferenciados que foram construídos historicamente e criaram pólos de dominação e submissão8.

Na divisão sexual do trabalho, o feminismo liberal organizou a crítica à desigualdade das mulheres em torno de ações individuais e coletivas. No Brasil, as primeiras manifestações feministas têm como base o pensamento liberal, e se fortaleceram principalmente em torno da conquista do direito de votar.

Embora a motivação dos movimentos feministas seja as mulheres, isto não significa que todas compartilhem de suas premissas. O campo feminista compreende a comunidade feminista e a sua gênese pode ser atribuída a ela, mas não se confunde com ela.

Outro fator de aceleração do movimento foi sem dúvida o que chamamos de globalização. A noção de igualdade de gênero já estava incorporada ao esboço da cultura social brasileira e já podia prever sua ampla e rápida disseminação. E é isso que estamos vivenciando no momento.

Em textos oficiais das próprias Nações Unidas, gênero tem sido amplamente utilizado, seja como sinônimo de mulher, seja como indicação de que os dados e indicadores devem ser desagregados por sexo. Observa-se, portanto, que a palavra gênero veio para separar homem/mulher e hoje temos muitos estudiosos na área da mulher, o que não se percebe com o gênero masculino.

É necessário destacar que a promoção da igualdade entre os gêneros e a melhoria da "saúde reprodutiva" podem ter trazido impactos sobre a queda da fecundidade. Porém, os territórios dominados pela perspectiva demográfica tradicional continuam a considerar o crescimento populacional como um fator de crise global e este fator implica diretamente em fatores sócio, econômicos e culturais na vida dessas mulheres tanto quanto relativos à sua saúde.

Também se compreende que o gênero, no entanto, aborda diferenças socio-culturais existentes entre os sexos masculino e feminino, que se traduzem em desigualdades econômicas e políticas, colocando as mulheres em posição inferior à dos homens nas diferentes áreas da vida urbana. O poder contido nos sistemas de gênero opera com mais força nos estágios reprodutivos da vida humana, quando os meios de controlar a sexualidade, a reprodução e o acesso às atividades produtivas estão situados e funcionam de maneira mais insistente8.

A partir de tais buscas e reflexões, direciono-me, então, com maior propriedade aos problemas enfrentados pelo gênero feminino, partindo do pressuposto que para ser mulher é imprescindível que a compreensão de alguns posicionamentos, idéias ou conceitos intrínsecos ao universo feminino sejam vistos com mais abrangência. Sendo assim, considero a possibilidade de um maior crescimento e melhor entendimento das questões no que diz respeito à temática com pertinência.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A perspectiva de emancipação ou transformação social tem sido, de algum modo, um trabalho árduo e delicado. Ela pode ser vista, portanto, como um fio que nos vai guiar para o entendimento das diferenças entre os papéis de gênero na nossa sociedade.

A simplificação e sobretudo a indistinção conceitual marca a nova etapa de legitimação dos termos "gênero" e "saúde reprodutiva".

Com base na problemática evidenciada que aflige tanto homens como mulheres, podemos compreender que estamos em constantes buscas para que possamos nos esbarrar em um futuro mais brilhante, e é nesta questão que a enfermagem pode contribuir para a construção de uma sociedade mais justa entre os gêneros e com mais saúde.

Em meio a essa conturbada questão pode-se dizer que homens e mulheres lutam por um mundo menos desigual e mais justo, e que com a evolução dos tempos certificamos que a mulher progrediu, porém vislumbra-se que a cultura arraigada ao processo de formação do ser humano seja visualizada igualmente.

Sem pretender esgotar esses aspectos, gostaria de finalizar estas colocações reiterando a idéia de que homens e mulheres estão presos nas malhas de gênero, que geralmente são diferenciados pela noção de cultura de cada sociedade. Mas pode e deve ser explorado e aplicado como "alicerce" que possivelmente poderá fazer mover uma nova perspectiva de transformação para homens e mulheres.Observamos que as questões de gênero são resultantes de uma evolução cultural que fazem das mulheres cidadãs desiguais e com menos direitos. Podemos sentir essas diferenças quando falamos em mercado de trabalho, responsabilidade com o lar, com os filhos, e em direitos e deveres sociais.

 

REFERÊNCIAS

1. Paiva EP. A prevenção do HIV/AIDS segundo o olhar das mulheres: o caso do grupo de direitos reprodutivos Duen-Juiz de Fora/MG [dissertação de mestrado] Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2003.

2. Nascimento ER. Gênero e enfermagem. Salvador (BA): OMS; 1996.

3. Heilborn ML. Gênero e condição feminina: uma abordagem antropológica. In: Mulher e políticas públicas. Rio de Janeiro(RJ): IBAM/UNICEF; 1991.

4. Nascimento ER. Assistência de enfermagem na perspectiva de gênero: concepções de mulheres em um centro de saúde [tese de doutorado] Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 2000. 223p.

5. Heilborn ML. Gênero, sexualidade e saúde. Rio de Janeiro(RJ): Zahar; 1997.

6. Barbieri T. Sobre a categoria gênero: uma introdução teórico metodológica. Recife(PE): SOS Corpo-Gênero-Cidadania; 1993

7. Crizóstomo CD, Nery IS, Sobral CSJ. As relações de gênero no planejamento familiar. Esc Anna Nery Enferm 2004 abr;8(1):411-9.

8. Melo M, Teles MAA. O que é violência contra mulher. São Paulo (SP): Brasiliense; 2002.

 

 

Recebido em 22/11/2004
Reapresentado em 13/05/2005
Aprovado em 30/05/2005

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