ISSN (on-line): 2177-9465
ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
COPE
ABEC
BVS
CNPQ
FAPERJ
SCIELO
REDALYC
MCTI
Ministério da Educação
CAPES

Volume 9, Número 2, Abr/Jun - 2005

ARTIGOS DE REFLEXÃO

 

O perfil do enfermeiro-educador para o ensino de graduação

 

The profile of the nurse-educator for the graduation learning

 

El perfil del enfermero-educador para la enseñanza de graduación

 

 

Gilberto de Lima Guimarães

Enfermeiro, Docente. Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis. Coordenador do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Caratinga-MG. Membro do Núcleo de Pesquisa de Educação, Gerência e Exercício Profissional em Enfermagem da Escola de Enfermagem Ana Nery/UFRJ

 

 


RESUMO

O presente estudo tem por objetivo apresentar o perfil do Enfermeiro-educador, a partir da conceituação de Educação balizada na teoria de valores. A criação de novos cursos de Graduação em Enfermagem em todo o Brasil, em especial no Estado de Minas Gerais, traz questionamentos sobre a respectiva qualidade do ensino oferecido nestas instituições. Entende-se que a qualidade da ação educativa está fundamentada sobre um tripé envolvendo: infra-estrutura, corpo docente e corpo discente, e que repousa exclusivamente sobre a Instituição de ensino dois desses ingredientes. Reconhecendo que o corpo docente é o ingrediente mais difícil a ser construído, dado as dificuldades regionais, o estudo apresenta cinco características consideradas pelo autor como fundamentais para a formação desse perfil. Conclui-se que as características são importantes para a formulação de uma práxis pedagógica lúcida e reflexiva.

Palavras-chave: Enfermeiro-Educador. Perfil do Educador. Educação e Valores.


ABSTRACT

The present study has as objective to present the profile of the Nurse-educator, from the conceptualization of Education marked out in the theory of values. The creation of new courses of Graduation in Nursing in all Brazil, in special in the State of Minas Gerais, brings questionings on the respective quality of the education offered in these institutions. It is understanding that the quality of the educative action is based on a tripod involving: infrastructure, faculty and student staff, and that rests exclusively on the Institution of education two of these ingredients. Recognizing that the faculty is the ingredient most difficult to be constructed, given the regional difficulties, the study presents five characteristics considered for the author as basic for the formation of this profile. It is conclude that the characteristics are important for the formularization of a pedagogical praxis discerning and reflexive.

Keywords: Nurse-Educator. Educator Profile. Education and Values.


RESUMEN

El presente estudio tiene por objetivo presentar el perfil del Enfermero-educador, empezando por la conceptuación de Educación marcada por la teoría de valores. La creación de nuevas carreras de graduación en Enfermería en todo Brasil, en especial en el Estado de Minas Gerais, trae cuestionamientos sobre la respectiva calidad de la enseñanza ofrecida en estas instituciones. Es entendido que la calidad de la acción educativa está fundamentada sobre un trípode envolviendo: infraestructura, cuerpo docente y alumnos, y que reposa exclusivamente sobre la institución de enseñanza dos de esos ingredientes. Reconociendo que el cuerpo docente es el ingrediente más difícil a ser construido, dado las dificultades regionales, el estudio presenta cinco características consideradas fundamentales para la formación de ese perfil. Se concluye que las características son important para la formación de una praxis lúcida y reflexiva.

Palabras clave: Enfermero-Educador. Perfil del Educador. Educación y Valores.


 

 

INTRODUÇÃO

A partir do ano de 2000, diversos cursos de Graduação em Enfermagem foram sendo organizados no Estado de Minas Gerais, totalizando aproximadamente 56 escolas, espalhadas em núcleos populacionais com 60 mil habitantes. Dados do COREN-MG1, apontam um número de profissionais inscritos na ordem de 7 mil, o que demonstra a carência numérica do profissional. Alarmante ainda é quando se compara o número de profissionais inscritos em outros Conselhos Regionais de Enfermagem, como, por exemplo, o de São Paulo, que possui aproximadamente 40 mil profissionais inscritos. Constata-se uma deficiência que expõe a população a riscos provocados pela ausência do profissional responsável pela assistência de Enfermagem.

A criação de novos cursos de Graduação em Enfermagem deve produzir questionamentos. Estes precisam ser elaborados com o objetivo de trazer à consciência o risco da expansão quantitativa desvinculada da qualidade do ensino a ser oferecido, o que também exporia a saúde da população, já tão abalada pela conjuntura nacional e pelas crises do sistema único de saúde.

O presente estudo tem por objetivo apresentar o perfil de Educador que o Enfermeiro precisa desenvolver, a fim de realizar a sua ação pedagógica na Graduação e possa participar ativamente do processo de formação de novos profissionais de Enfermagem de forma lúcida e reflexiva.

Parte do principio fundamental que o enfermeiro-educador e o enfermeiro-professor são posições diametralmente opostas. Nesse sentido, Alves2 traz uma contribuição significativa ao afirmar que educador é aquele que se move pelo amor e está disposto a superar as dificuldades, pois tem em si a clareza de seu compromisso e de sua responsabilidade social, diferindo do professor que seria aquele indivíduo que e desvincula do componente afetivo e perde o encanto com o produto de sua ação.

A justificativa repousa sobre o fato de que o autor, ao refletir sobre a atividade docente, percebeu a existência em graus variáveis de dois elementos: o enfermeiro-educador e o enfermeiro-professor convivendo no mesmo "nicho ecológico".

Demo3 afirma que a qualidade do ensino repousa sobre um tripé formado por: a) Infra-estrutura (laboratórios, campos de estágio, biblioteca, pessoal técnico administrativo, extensão e pesquisa, política institucional voltada para o compromisso e para a responsabilidade social); b) corpo docente; c) corpo discente. O somatório desses ingredientes possibilita a construção de um profissional que atenda às expectativas e às necessidades da população.

Das variáveis apresentadas, duas repousam diretamente sobre a responsabilidade exclusiva da Instituição de ensino: a infra-estrutura e o corpo docente. Cabendo à instituição desenvolver a responsabilidade social a partir de seu comprometimento com a qualidade do ensino a ser ofertado.

A dimensão do Estado de Minas Gerais e as distâncias dos centros urbanos mais desenvolvidos notadamente criam dificuldades para a montagem do Corpo Docente. Tem-se observado que a titulação de docentes com Mestrado e Doutorado tende a diminuir à medida que se caminha para as disciplinas específicas de Enfermagem, onde se vê a predominância de profissionais com títulos de especialistas. Outro fator agravante é a transposição abrupta da atividade assistencial para a docência porque muitos enfermeiros passam. Subitamente, o profissional, ao ingressar nesse novo mercado de trabalho, reveste-se de um papel para o qual possui sérias dificuldades nas esferas pedagógicas e didáticas , o que poderá comprometer a formação do profissional de Enfermagem.

Movido por essa preocupação, coloca-se a seguinte pergunta: "Quem educa os educadores?" Esta indagação a priori, não necessita de uma resposta. Sua relevância incide na inquietação que ela deverá despertar nos personagens a quem se dirige.

Partindo deste princípio inquietador, torna-se de suma importância a definição do conceito de educação com o qual se deseja trabalhar, entendendo que ele determinará o perfil de Educador para a execução da ação pedagógica.

Neste estudo, assume-se arbitrariamente o conceito de educação elaborado por Werneck4 como sendo um processo de hierarquização de valores.

Ao utilizar esse conceito de educação, o enfermeiro-educador é levado a encarar o processo educativo, não apenas através de uma visão que privilegia a razão, mas que também reconhece a existência de outro elemento capaz também de contribuir para a formação do homem. A educação reveste-se de um novo ingrediente capaz de promover o desenvolvimento do homem através da apreensão do valor. Essa apreensão se dá através do sentir.

Refletindo o perfil do enfermeiro-educador

Este estudo apresentará cinco características consideradas pelo autor como fundamentais para a formação do perfil do enfermeiro-educador.

A primeira característica a ser desenvolvida é o reconhecimento da sensibilidade como fator de desenvolvimento para sua ação pedagógica.

Para Demo5, a emoção (o sentir) é parte integrante do processo de aprendizagem, os achados científicos indicam que as emoções desempenham papel essencial na tomada de decisão, influenciando os próprios mecanismos do pensamento racional.

O sentir reveste-se de importância, pois ele permitirá a apreensão do valor. O educando, através da reflexão, deverá rever sua escala hierárquica de valores e re-hierarquizá-la. Não se trata de uma transferência, mas sim de propiciar ao educando um momento dialógico. Esta é para Demo5 a finalidade do processo educativo: levar o homem a refletir sobre si, sobre o seu meio, entendê-lo e interagir.

Ao desenvolver essa característica, o enfermeiro-educador estará contribuindo para o reconhecimento da integralidade do homem. Morin6 afirma que é necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano, para que este homem seja capaz de situar-se, compreender e perceber o contexto em que vive, desenvolvendo-se como pessoa.

A segunda característica será a que se compartilha com Perrenoud7: o educador deverá possuir a capacidade de enfrentar os dilemas éticos. É de suma importância que o enfermeiro-educador tenha claro em sua mente a compreensão do homem como sendo um ser incompleto, que se complementa através do valor. Nesse sentido, valor é sempre algo capaz de promover o desenvolvimento humano como pessoa. Em uma sociedade que propõe a cada instante a demolição ou a assimilação de contravalores, esta é uma tarefa árdua e espinhosa, ao mesmo tempo geradora de conflitos e de tensões.

Não se advoga uma defesa de lição de moral, mas que, através do exemplo da práxis, possa despertar no educando o senso de crítica e a escolha por atitudes que contribuam para o seu desenvolvimento.

Boff8 afirma que a dimensão ética é um dos diferenciais entre os homens e os animais. Sendo, portanto, cultivada, trabalhada, discutida, a fim de ajustar o homem a um existir com significado, não como mero objeto no Cosmos, mas como pessoa.

Nesse sentido, Morin9 traz uma contribuição interessante ao afirmar que a fragmentação do conhecimento cria espíritos cegos, constituindo não mais seres humanos, mas máquinas artificiais. A dimensão ética resgata o homem, unindo a razão e o sentir, elevando-o ao status de pessoa.

A terceira característica a ser desenvolvida pelo enfermeiro-educador é a habilidade de reconstrução do conhecimento. Em uma sociedade que está em constante movimento, é de suma importância que o educador esteja em sintonia com as mudanças que se desenvolvem. Para Morin9, essa atitude é fundamental como forma de prevenir a atrofia produzida pelo espirito humano parcelado ,fruto de um ensino parcelado.

O enfermeiro-educador precisará, a todo instante, refletir sobre o conhecimento a ser trabalhado junto a seus educandos, atentando para a sua contextualização. O saber precisa ser relevante para o grupo em que se insere.

Para Morin8, essa habilidade é fundamental para que o educador, a partir da crítica do conhecimento que se apresenta, seja capaz de construir o novo. Reconhecendo dessa maneira a dinâmica que cerca a ação educativa. Isso combate a idéia errônea de aulas "cristalizadas", onde o educador situa-se como um mero reprodutor.

Demo3, ao estabelecer sua crítica sobre esta característica reprodutivista do educador, salienta que, como profissão estratégica para o mundo moderno, essa inabilidade é geradora de atrasos e arcaísmos. A ação do educador não se justifica apenas no desempenho da ação de alguém que seja "explicador de matéria", mas sim, como o de alguém capaz de levar o educando aos caminhos de como se desenvolver e expandir com autonomia.

A pesquisa torna-se vital para esse desenvolvimento, mesmo que em um primeiro momento seja elaborada com graus variados de dificuldades, com erros e acertos, ela possibilita a reconstrução do conhecimento e a autonomia do educador. Esse conhecimento passará a ter sua contribuição, dotando-o de um significado.

Nesse sentido, Demo3 afirma que a vida acadêmica se faz onde todos pesquisam, experimentam, criam, ou pelo menos buscam criar, ainda que se comece pela recriação. Tal afirmação produz a clara compreensão de que educador que não pesquisa, a rigor, não pode ser educador de uma universidade, falta-lhe competência técnica. Esta é situação sine qua non de quem deseja participar da construção de um profissional.

Salienta-se, ainda, que nem todos os educandos serão pesquisadores profissionais ao concluírem suas graduações, mas serão todos profissionais-pesquisadores, isto é, serão capazes de pesquisar sempre que necessário para renovar a profissão. Essa habilidade só será desenvolvida no educando se o enfermeiro-educador a assumir como sua responsabilidade fomentadora. Essa atitude propiciará desenvover neste ser em formação o "espírito" de aprendizagem permanente pela prática da pesquisa.

O educador é necessariamente um profissional de reconstrução do conhecimento. A intencionalidade de sua ação pedagógica centrada na prática da pesquisa possibilitará ao educando a construção de um novo paradigma profissional.

A quarta característica do enfermeiro-educador é a habilidade de interagir com os diversos recursos tecnológicos disponíveis. Essa é uma necessidade real. A tecnologia não é aqui encarada como sinônimo de equipamento eletrônico. Usa-se tecnologia na práxis pedagógica quando o educador utiliza uma gama de recursos didático-pedagógicos (eletrônicos ou não) para a facilitação do aprendizado do educando.

Entretanto, reconhece-se que o acesso a equipamentos de multimídia e de informática faz hoje parte essencial da habilidade requerida ao enfermeiro-educador. Ele precisará conhecer e operacionalizar esses recursos.

Tal medida possibilita a criação de estratégias pedagógicas para o aprendizado, permitindo ao educando uma oportunidade rara de se confrontar com um mundo virtual rico em detalhes que podem favorecer o seu aprendizado.

Não se quer dizer com isso que a forma de atividade tradicional não é válida, mas que ela poderá ser modificada, a fim de otimizar o aprendizado. Não é salutar, que em pleno século XXI, se permaneça em um estado de "enclausuramento fóbico": o enfermeiro-educador no exercício de suas atividades pedagógicas negligencia os benefícios da interação que a inovação poderia proporcionar a sua ação educativa, fechando-se e movendo-se pelo medo.

Demo10 é categórico em afirmar que o educador necessita instrumentalizar-se dos meios eletrônicos como forma de estratégia para o desempenho de sua ação pedagógica .

Essa ação pedagógica desenvolvida pela instrumentação eletrônica constitui-se em uma via de mão dupla: enfermeiro-educador e o educando compartilham deste momento de interação. Nesse encontro, constroem-se alternativas para a práxis pedagógica. Esse compartilhamento favorecerá o aperfeiçoamento das habilidades requeridas para o exercício na prática assistencial dos futuros enfermeiros.

A quinta característica fundamental para a formação do perfil do enfermeiro-educador é a capacidade de sonhar. Entende-se por capacidade de sonhar a ação do educador em acreditar no que faz, percebendo seu impacto na vida do outro e no mundo em que vive.

Para Alencar11, quando se exerce essa habilidade, o ato de educar reveste-se continuamente de um poder criativo, é como poder amanhecer com energias renovadas, é saber que nada se repete pela simples razão de que se lida com gente. Nesse sentido, o enfermeiro-educador é alguém que não restringe a sua ação ao ato de ensinar, mas que a transcende, levando o educando a aprender. Tal atitude só é possível de ocorrer quando existe preservado nesse educador a sua capacidade de sonhar. Precisa haver a compreensão de que esta se vincula diretamente a ação de amar. Educadores são militantes de um projeto rebelde e amoroso de regeneração do mundo.

Quando age assim, o enfermeiro-educador estará realizando a difícil tarefa de investigar a "mina" que é cada pessoa e suas preciosidades escondidas, permitindo ao educando desenvolver-se como pessoa, a partir do reconhecimento de si e do outro.

 

DISCUSSÃO

É de extrema importância para o exercício da ação pedagógica que o enfermeiro-educador reflita e voluntariamente construa o seu conceito de educação. Este lhe dará os subsídios para construir o seu modelo pedagógico e o seu perfil de educador.

Este estudo, ao assumir o conceito de educação como sendo um "processo de hierarquização de valores", advoga a premissa de que o ato de educar não é restrito à transmissão exclusiva do conhecimento. Reside nessa premissa a diferenciação entre enfermeiro-educador e enfermeiro-professor, quando participante ativo do processo educativo compreendido em toda a dimensão afetiva e ética que compõe a vida humana. O papel de educador é sem dúvida mais relevante e abrangente do que o de professor.

A transferência de enfermeiros assistenciais de forma abrupta para a docência poderá acarretar sérias dificuldades no processo de formação dos novos profissionais de Enfermagem. No entanto, não se pode perder de vista que o educador está em estado de latência no interior de cada professor, bastando simplesmente ser despertado. O que traz uma enorme esperança frente a esse quadro.

A pergunta que somos levados a fazer é: como despertaremos esse educador? A priori não se tem uma resposta definitiva, mas quando se reflete sobre a complexidade do ato educativo, acaba-se por construir alguns caminhos.

Ao propor as características do enfermeiro-educador, tem-se a oportunidade de levar a própria práxis pedagógica a um estado de questionamento, favorecendo a sua reflexão.

O reconhecimento da sensibilidade

A primeira característica apresentada neste estudo combate a idéia de que o processo educativo possa ser encarado como sendo uma "mera transmissão de conhecimento". Ao propor essa nova compreensão, o enfermeiro-educador confere a sua ação pedagógica uma nova dimensão, permitindo-lhe encarar o educando não como objeto, mas sim como pessoa humana, e como tal possuidora de carência. Ao reconhecê-lo como pessoa sua abordagem, sua fala, sua interação caminhará para um momento dialógico. Esta nova dimensão permite ao educador e ao educando desenvolverem-se mutuamente.

A capacidade de enfrentar dilemas éticos

A segunda característica levará o enfermeiro-educador e o educando a estabelecerem um confronto de idéias que norteiam a própria forma de ver a vida. Não se enseja com isso ditar regras ou normas, mas sim poder discutir, à luz da razão e do sentir, os diversos aspectos que a permeiam e lhe dão significado. O homem, ao ser compreendido como pessoa, terá a grata oportunidade de pôr a sua escala hierárquica de valores em questionamento e, uma vez sob questionamento, permitir-lhe-a reordená-la para que possa desenvolver-se e alcançar a felicidade. É fundamental que o enfermeiro-educador reflita sobre a sua própria escala e com isso auxilie o educando a pôr a sua própria em discussão.

O reconhecimento do conhecimento

A terceira característica a se desenvolver é a capacidade de realizar a pesquisa, entendendo ser esta a natureza de sua própria ação pedagógica. Não é salutar que o enfermeiro-educador restrinja-se a "dar aulas", é vital que ele busque a autonomia de sua ação, favorecendo a incorporação do conhecimento a partir do reconhecimento deste como sendo algo elaborado por um compartilhamento. Essa forma de agir dará consistência ao seu ato, e possibilitará ao educando a construção progressiva em seu ser da prática da pesquisa como sendo sua forma de aprender. Essa postura favorecerá para que a prática de Enfermagem possa ser re-elaborada, permitindo o desenvolvimento de um pensamento crítico por parte do profissional de Enfermagem, alterando todo um paradigma. Vê-se dessa maneira o papel do enfermeiro-educador como um agente de mudança.

A interação com os diversos recursos tecnológicos

A quarta característica levará o enfermeiro-educador a utilizar e a comprometer-se com as estratégias otimizadoras de sua ação pedagógica. O sentido de "dar aula" é posto em questionamento, sendo substituído por "como dar aula", talvez este seja um dos grandes "nós" da atividade docente. A cristalização das práticas pedagógicas acarreta fortes embaraços e propiciam a reprodução.

Mudança e assimilação do novo trazem consigo sempre uma possibilidade de conflitos, mas não se pode perder de vista que o ato educativo reveste-se a cada instante de um "novo refazer", se assim não for, pode-se produzir modelos arcaicos, e consequentemente profissionais obsoletos. O enfermeiro-educador deverá, a todo instante, buscar as alternativas para aprimorar as formas e as estratégias para o desempenho de sua atividade pedagógica. A instrumentalização de tecnologia, seja ela eletrônica ou não, assume forte importância.

Sabe-se que no mundo moderno, a habilidade na operacionalização do recurso eletrônico é de importância capital. O desenvolvimento e a assimilação por parte do futuro profissional de Enfermagem na sua práxis assistencial desse importante ingrediente produzirão maior eficiência e agilidade.

A capacidade de sonhar

A quinta característica a se desenvolver é a sua capacidade de sonhar. Manter o sonho vivo tem o mesmo significado, o que para o mundo físico representa o oxigênio para os seres com metabolismo aeróbio. É situação relevante para a própria manutenção do estado de estar vivo.

A vida moderna traz consigo alguns fatores que propiciam o embrutecimento do homem. Este é levado pela própria necessidade de sobrevivência a buscar todos os recursos necessários e meios para construção de seu hábitat. No entanto, nesse embate, progressivamente expõe-se a um dos grandes males deste século: a perda da esperança de transformação. Perdida essa capacidade de acreditar na transformação, que a sua ação pedagógica é capaz de proporcionar ao educando, o educador deixa de ser um agente estratégico de mudança. Seu conformismo acarretará sobre o educando o desenvolvimento de um potencial reprodutivista.

A capacidade de uma perspectiva para a vida e de mudança reside em manter aceso no interior de cada educador a sua esperança de "ver o amanhã", a partir da transformação que a sua ação pedagógica será capaz de produzir junto ao educando.

Quando o enfermeiro-educador ignora essa característica, sua ação pedagógica transformadora morre com ele. Sua ação torna-se vazia, sem brilho e sem razão de ser. Deve-se estar atento a todo instante para que as diversas nuanças da vida moderna não cerceiem e façam extinguir a capacidade de sonhar. Para tanto, faz-se necessário transferir para aquilo que se faz - o amor.

 

CONCLUSÃO

Tendo chegado ao término das considerações sobre o perfil do educador, pode-se afirmar que o processo de formação de novos profissionais de Enfermagem possui diversas complexidades características do ato educativo.

A ação pedagógica deverá sempre ser balizada por um conceito de Educação. Ao se trabalhar com o conceito de educação, constrói-se o perfil de educador que se deseja ter para o exercício dessa ação.

O enfermeiro-educador deverá a cada instante estar refletindo sobre a sua práxis, permitindo-se criticar e re-elaborar o conceito de educação em que acredita, e até mesmo o seu conceito de mundo. Não é salutar que esse profissional prive-se dessa oportunidade, aceitando passivamente um modelo, obliterando e mantendo-se à margem do processo de formação consciente de novos profissionais de Enfermagem.

Ser enfermeiro-educador ou enfermeiro-professor é fruto de uma tomada de decisão livre e consciente de cada um que deseja envolver-se com a formação profissional. Essa capacidade de escolha é movida por duas razões fundamentais: o amor e o questionamento da própria ação.

O amor permite-nos descobrirmos os caminhos para obtenção das três perguntas básicas que fazemos a nós mesmos: Quem somos? O que fazemos? Por que fazemos? Quando nos valemos desse sentimento, o outro passa a ser visto não como objeto, mas sim, como pessoa, e como tal possuidora de carências que necessitam ser supridas a partir de um encontro humano. Nesse sentido, o enfermeiro-educador terá em suas mãos uma bússola muito útil para a condução de seus passos.

O questionar a própria ação é refletir. No sentido etimológico, traz-nos a idéia de dobrar-se sobre si mesmo. Nesse ato, cria-se a oportunidade de ver-se no íntimo. Reconhecendo as limitações e os desafios que se tem diante de si, do outro e do mundo.

Neste estudo, foram apresentadas cinco características que deverão construir o perfil do enfermeiro-educador, ressaltando a sua importância para a formulação de uma práxis pedagógica lúcida e reflexiva. Não são as únicas, mas propõem-se em ser uma base para que se possa agregar novas características, que sem dúvida alguma existem e são forjadas a partir da prática.

 

REFERÊNCIAS

1. Conselho Regional de Enfermagem. Seção Minas Gerais. Jornal Informativo 2004 set/out; 5-6.

2. Alves R. O preparo do educador. In: Brandão CR. Educador: vida e morte. São Paulo (SP): Graal; 1982.

3. Demo P. Desafios modernos da educação. 3ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 1995.

4. Werneck V. Educação e sensibilidade. Rio de Janeiro (RJ): Forense Universitária; 1996.

5. Demo P. Educação e conhecimento. Petrópolis (RJ): Vozes; 2001.

6. Morin E. Os setes saberes necessários à educação do futuro. 6ª ed. São Paulo (SP): Cortez; 2002.

7. Perrenoud P. Dez competências para ensinar. Porto Alegre (RS): Artes Médicas do Sul; 2000.

8. Boff L. O despertar da águia. 17ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2002.

9. Morin E. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo (SP): Cortez; 2002.

10. Demo P. Professor do futuro e reconstrução do conhecimento. Petrópolis (RJ): Vozes; 2004.

11. Gentilli P, Alencar C. Educar na esperança em tempos de desencantos. 3ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2003.

 

 

Recebido em 11/11/2004
Reapresentado em 20/06/2005
Aprovado em 27/06/2005

© Copyright 2024 - Escola Anna Nery Revista de Enfermagem - Todos os Direitos Reservados
GN1