INTRODUÇÃO
A enfermagem é uma prática científica e social, portanto, dotada de um corpo de conhecimento teórico-prático que lhe confere relevo e destaque. Enquanto prática científica, exerce sua ação na área da saúde, tendo o seu objeto de interesse radicado no cuidado de enfermagem1. Irá valer-se dele para prover no encontro dialógico com o seu cliente/ comunidade as condições de promoção, prevenção e reparação à saúde. Como prática social, é dotada de um conjunto de valores que lhe conferem sentido e significado. Estes valores formam um axiograma (escala hierarquizada) da profissão, que é a sua autodeclaração valorativa da qual se pauta para nor tear e justificar as suas ações, expressando o que ela é e como age. Os valores que fundam este axiograma foram identificados pelos pesquisadores nos escritos de Notas sobre a Enfermagem de Florence , formando uma amálgama, a saber:
o valor social, o valor ético, o valor útil e o valor verdade.
Inserido na sociedade o educando traz para o cenário de seu aprendizado os valores que foram ali adquiridos e que passam a fazer parte de sua personalidade. Estes valores formam o axiograma assumido por ele e revelam o que ele é e como age, e expressam a sua cosmovisão. Desta maneira, ao buscar a qualificação profissional na enfermagem, o educando, pela intermediação docente no ato pedagógicoassistencial, indubitavelmente confrontará o seu axiograma com o axiograma da enfermagem, discutindo-o e rehierarquizando- o, consoante o exercício de sua volição, e, neste confronto, poderá retificar ou ratificar a sua atitude2.
Devido ao desgaste obtido pela palavra valor ao longo do tempo, faz-se necessário, a fim de dirimir qualquer dúvida, conceituá-lo. Neste estudo, assume-se o conceito do valor como aquilo que vale para o homem, sendo capaz de suprir uma carência e promover o seu crescimento e desenvolvimento enquanto pessoa3. O objeto da pesquisa foi a valoração dada pelo enfermeiro-docente no ato de educar, e que ele transmitiu ao acadêmico de enfermagem.
A justificativa foi centrada na reflexão dos pesquisadores enquanto docentes sobre a prática pedagógica-assistencial com os discentes, momento em que passamos a nos indagar sobre quais valores estávamos apresentando aos discentes e se estes faziam parte do campo axiológico que fundava a profissão. Assumimos neste estudo a perspectiva sheleriana para a busca da compreensão valorativa, pois compartilhamos da visão de que os valores são apreendidos pelo sentimento, e não pela razão4. O presente estudo teve por objetivo compreender no ato de educar do enfermeiro-docente o valor social e discuti-lo à luz dos pressupostos de Max Scheler4.
REFERENCIAL TEÓRICO
A fenomenologia de Max Scheler, tendo sua inspiração em Husserl, é, antes de tudo, uma filosofia dos valores. Sua pretensão é construir uma ética em base de dados objetivos e rigorosos de onde surja uma axiologia de fundamentos absolutos, opondo-se, de forma radical, ao racionalismo axiológico5. Para Scheler4 os valores são revelados através da intuição emocional. Agindo assim, está rejeitando a distinção entre o conhecimento sensitivo e o racional, elevando o emocional ao nível do racional, admitindo um mundo de experiências cujos objetos são inacessíveis ao entendimento, e que só o emocional coloca o homem autenticamente diante desse mundo4,6, característica que sustenta a axiologia scheleriana5.
O valor social no ato de educar do enfermeiro-docente
O valor social é o que favorece a vida humana inserida na sociedade. Sua aparição dá-se a partir da instauração da solidariedade. Analisando a sociedade a partir da relação eutu, Scheler constrói a tese de que somente na compreensão do ser humano enquanto pessoa é que se poderá desenvolver a sociedade ideal4.
Para ele, a análise da realidade social tem como fundamento a noção fenomenológica da intencionalidade e a concepção da pessoa como centro de atos intencionais. É a partir desse elemento que procura entender e captar a essência do que constitui as diversas modalidades básicas de agrupamentos humanos, a saber: a massa; a comunidade vital; a sociedade; a sociedade ideal4.
A massa se caracteriza pela ausência total de qualquer sentido ou intencionalidade, sendo elemento instável no relacionamento entre os indivíduos. Viver inserido nela é estar fadado a perceber o outro enquanto objeto e manter - se em estado de alienação. Na comunidade vital - típica dos grupos tribais - não existe a distinção entre o meu e o teu, pois a vivência é idêntica para todos. Enquanto na massa não existe qualquer forma de solidariedade, na comunidade vital existe apenas a que denomina de solidariedade de substituição - um indivíduo é substituído por outro. Portanto, não se trata da verdadeira solidariedade, pois não existe o reconhecimento da singularidade pessoal do outro4.
Prosseguindo, na modalidade de agrupamento social, denominada por ele como sociedade, a associação é consciente e voluntária, na qual a compreensão e o relacionamento mútuo entre os membros se dão através da inferência analógica (consiste em atribuir ao outro uma realidade individual que não é vivida), isto é, simplesmente deduzida. Disso resulta uma separação total entre os indivíduos, sem uma verdadeira corresponsabilidade originária e essencial. O que existe é uma autor responsabilidade individual sem verdadeira comunicação entre os membros, uma vez que seu relacionamento não atinge o nível pessoal4.
Contrapondo-se aos agrupamentos sociais analisados, Scheler propõe um novo, o qual denomina sociedade ideal. Ela é o ponto desejado de crescimento e desenvolvimento do ser humano no valor social. Ali, a sociedade é a unidade de pessoas singulares, autônomas, espirituais e individuais convivendo em igualdade7. Assim, a pessoa é autorresponsável por si e corresponsável pelo outro, instaurando a solidariedade enquanto dever-ser para o relacionamento entre as pessoas4.
Desta maneira, a instauração do valor social, a partir da solidariedade no ato de educar, é fundamental para a construção do Ser-enfermeiro, pois o docente passa a apresentar ao educando o compromisso que este deve ter perante o mundo, a vida e a pessoa,8 buscando reconhecer o seu posto no cosmos e seu respectivo papel em transformar a realidade opressora de saúde que aflige a população brasileira9. Trata-se de um encaminhamento iniludível. Rompe o linde do silêncio, do desconhecido, do ignorado10. Sai do campo da retórica e envereda-se para o campo da prática, entendida como necessária para a transformação das ações de saúde perante as pessoas com as quais se relaciona, quer seja na promoção, na restauração ou em seu tratamento, sendo capaz de assumir uma atitude pró-ativa diante das desigualdades e injustiças que os cercam11. Entendendo que é por meio da solidariedade diante do outro, expressa no reconhecimento de sua cidadania, é que se constrói a condição necessária para a mudança da prática de saúde12
METODOLOGIA
A pesquisa é de natureza qualitativa com enfoque fenomenológico13. Esta metodologia busca a compreensão do mundo da vida cotidiana, intentando elucidar o significado a partir dos relatos descritivos da vida social, e permitindo aos pesquisadores a compreensão do viver, e não de definições de conceitos, sendo uma compreensão voltada para os significados de se perceber. Seu objeto de investigação é o fenômeno que se mostra a si e em si mesmo13.
Os cenários foram três instituições de ensino superior de enfermagem localizadas na cidade do Rio de Janeiro. Participaram do estudo sete enfermeiros-docentes. A seleção dos sujeitos obedeceu ao critério aleatório. O coordenador de curso/direção no dia em que comparecíamos a instituição apresentava-nos aos docentes ali presentes. Após este primeiro contato, e certificado de que estavam atuando em disciplinas na graduação, agendava-se a entrevista. Os entrevistados foram identificados no texto pela letra E, acrescida de números arábicos dispostos de 1 a 7. Tinham idade média de 42 anos; seis eram do sexo feminino e um, do sexo masculino. O tempo médio de atividade docente foi de sessenta meses. O estudo foi realizado no período de agosto de 2007 a junho de 2008.
A técnica empregada foi a entrevista fenomenológica, que possui peculiaridades que precisaram ser consideradas, para que se alcançasse o rigor necessário para a sua utilização14. Assim, exigiu-se dos pesquisadores a percepção, no sentido de: ver e observar, desprovido dos
preconceitos, mantendo-se em uma relação empática, caracterizada por um estado de aproximação, valorizando e respeitando cada um; interpretar compreensivamente a linguagem do entrevistado e sua significação, apoiando-se em uma escuta ativa, mantendo-se receptivo; evitar julgamentos que pudessem interferir na narrativa dos entrevistados. A questão norteadora elaborada foi: 'como você realiza o ato de educar diante do acadêmico de enfermagem?' As entrevistas foram gravadas em fitas magnéticas.
Os dados sofreram a análise compreensiva e, para tanto, inicialmente, realizamos a transcrição integral das entrevistas gravadas, a fim de construir o texto. Esta leitura foi repetida inúmeras vezes até que fossem identificadas as unidades de significação, revelando o caráter definitivo das falas dos entrevistados15. As entrevistas apresentaram quatro unidades de significação. Neste artigo, destacou-se a unidade de significação: o valor social. A discussão seguiu-se com os pressupostos da Teoria de Valor, segundo Max Scheler4.
O estudo foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, registrado com o número 026/07, sendo aprovado em 24/07/2007. Os depoimentos foram obtidos e utilizados com o consentimento dos envolvidos, em observância ao disposto na Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O valor social foi manifestado no ato de educar do enfermeiro-docente perante o educando, sendo assumido por ele como um imperativo categórico4. Revestiu-se da característica de dever-ser, reforçando a proposição axiológica da pessoa enquanto ser autorresponsável e corresponsável pelo outro4. Esta ação não se restringiu ao campo teorético, mas foi, sobretudo, uma atitude prática. Trouxemos o recorte do discurso do depoente para ilustrar este imperativo:
[...] eu disse para ele que, antes de suspender o atendimento, nós deveríamos discutir a razão de não termos roupas. Eu me vi dando uma aula de cidadania [...] (E1).
Percebemos que a fala do docente mostrou-se comprometida com as questões sociais reais vividas por ele e o discente ao interagirem com a clientela. Na busca por esta compreensão, o enfermeiro revelou a sua cosmovisão e descobriu a importância do valor social para a pragmática da enfermagem, a partir do exercício da cidadania, levando o educando a confrontar-se com a sua escala valorativa, a partir da percepção do outro enquanto pessoa4. Neste exato momento, criou-se a condição de rompimento com a perspectiva da organização social fundada na massa, construindo-se a oportunidade de superação do estado de alienação4.
Desta maneira, a prática de saúde passou a ser reconhecida como fruto de um processo político-social, cuja condição material que permeou a assistência de enfermagem foi reconhecida pelo docente como solo fértil para a discussão sobre a promoção, prevenção e restauração da saúde.
A ingenuidade produzida por um discurso alienante e apolítico sobre a pragmática da enfermagem deu lugar à reflexão e à ação, e estas deram lugar ao compromisso, e, assim, demonstrou-se ao educando o valor social. Esta possibilidade teve em si a perspectiva de construir uma alternativa consciente para a transposição da sociedade atual - massificada e excludente - para uma sociedade ideal4. Desta maneira, a enfermagem passou a revestir-se de um papel relevante para a transformação da prática de saúde. Assim, o enfermeirodocente passou a reconhecer o elemento político que fundava o contexto social, apresentando-o ao educando, favorecendo o desenvolvimento de seu pensamento crítico. Não se tratou de uma imposição ao educando, pois através da reflexão era possível a ele retificar ou ratificar o seu agir, re-hierarquizando a sua escala de valor, permitindo-o valorar o social como instituinte da enfermagem. Assim, foi um ato de exercício de sua volição, permitindo-lhe desenvolver a consciência de si7, movendo-o ao crescimento e desenvolvimento no campo pessoal4 a partir dos valores da enfermagem.
Neste sentido, o docente e o discente passaram a assumir os papéis de sujeitos, empenhando-se para reverter às condições materiais que estorvavam a ação pedagógicoassistencial provocadas pelo descaso, pela ineficiência e pela omissão dos dirigentes nas diversas esferas do poder. Assim, o enfermeiro apresentou ao educando o quanto era indissociável para a assistência de enfermagem a atitude de comprometerse com as questões sociais, fazendo com que o cuidado não viesse a encerrar-se no cumprimento de uma técnica, mas o transcendesse, ao encaminhar os envolvidos para ação-reflexão16. Dando prosseguimento, trouxemos o recorte da fala do depoente para suscitar a discussão que se segue:
[...] eu considero que a enfermagem tem potencial de estar produzindo um cuidado mais solidário [...] reconhecendo a cidadania [...] (E2).
Desta maneira, o depoente reconheceu o amálgama entre a cidadania e a solidariedade, reforçando a sua indivisibilidade, e manifestou o desejo de ver nascer no cuidado de enfermagem esta característica. Esta trouxe em si a ideia de assumir na pragmática assistencial uma atitude empática, dando à ação de enfermagem uma significação humanística a partir do valor social4.
Logo, não se tratou de um ativismo político, ou de uma luta em defesa dos ideais de uma legenda partidária, mas do reconhecimento de que a competência técnica e científica aliouse à competência social, entendida como a capacidade do indivíduo de solidarizar-se, a partir de sua participação e compromisso com a vida. Assim, reforçou-se a solidariedade como pressuposto scheleriano para o desenvolvimento da sociedade ideal4. Esta atitude permitiu ao enfermeiro-docente e ao educando proverem um cuidado em que o cliente passou a ser reconhecido como pessoa4, pois assumiu uma posição diante das questões da vida. Este foi o entendimento dos depoentes, ao afirmarem que:
[...] eu acredito que o profissional de enfermagem poderá engajar-se de maneira consciente e tomar decisões que auxiliem a transformação da realidade [...] (E3).
[...] eu vejo a enfermagem como possuidora de um significado maior, cujo foco está na pessoa, atuando no momento de suas vidas em que estas mais necessitam [...] (E4).
O enfermeiro-docente sensibilizado com as questões sociais do contexto em que se inseriu a ação da enfermagem passou a reconhecer a saúde como fruto do enlace de múltiplas forças, pois se portou de maneira crítica e construiu as alternativas para a transformação da sua ação profissional e, consequentemente, da sociedade em que vive4.
Prosseguindo na análise, para eles o compromisso manifestado através da ação pedagógico-assistencial foi fundamental para que o acadêmico visualizasse o valor social presente na profissão. Desta maneira, o enfermeirodocente ratificou o pressuposto scheleriano de que o valor seria percebido pela pessoa, na medida em que esta, em sua vida social, o visualizasse no suporte4 (objeto que encarna a aparição do valor). Assim, o discente passou a confrontar a sua escala de valores com aquela apresentada pelo docente e, ao mesmo tempo, estabeleceu um confronto com as escalas expressas pelos demais professores, passando a criticá-las a partir dos valores da enfermagem. Portanto, o enfermeiro-docente demonstrou, pelo ato de educar, a relevância do valor social para a formação do acadêmico e possibilitou-lhe construir a imagem profissional que se coadunasse com o significado atribuído à carreira. Logo, o cuidado de enfermagem executado na prática pedagógicoassistencial pelo docente perante o educando e o cliente não se restringiu à realização de um ato, mas constituiu-se em uma atitude cuidadora. Ao realizá-la foi-lhe dada à oportunidade de assumir uma postura empática, solidária e cidadã diante do cliente e do educando16. Nesta relação dialógica, o enfermeiro-docente e o educando desenvolveram a consciência sobre a implicação de sua ação no mundo. Trouxemos para a compreensão desta afirmativa a fala do depoente, ao dizer que:
[...] ela disse que não era atribuição dela [...] iniciamos uma discussão e procurei mostrá-la que deveria não apenas saber, mas solidarizar-se [...] (E5).
O enfermeiro-docente teve consciência que a sua ação revestiu-se de uma maior significação diante dos desafios que emanaram do seu contexto social. Ele percebeu que sua ação favoreceu ao processo de despertar de consciência do discente. Desta maneira, ratificou o pressuposto de que pessoas singulares, autônomas, espirituais e individuais eram capazes de instaurarem o valor social4. Assim, a atitude cuidadora expressada no ato de educar do docente perante o educando revelou-nos com uma intencionalidade: produzir sujeitos para um projeto de promoção, prevenção e restauração da saúde. Apreciemos para o esclarecimento desta afirmação a fala do depoente, ao dizer que:
[...] eu acredito que o profissional de enfermagem necessita ter uma atitude pró-ativa diante das grandes questões. Ele necessita estar sintonizado com todas as modificações que surgem em nosso meio [...] (E6).
Para o depoente, revestida desta característica, a ação da enfermagem mostrou-se detentora de uma maior significação, pois requereu do educando a consciência crítica sobre o mundo4, 17. Logo, o preparo técnico e a consciência sobre o social necessitaram estar em perfeita harmonia no ato de educar do enfermeiro-docente perante o acadêmico, a fim de despertá-lo à reflexão. Trouxemos para ilustrar esta afirmativa o discurso do depoente, ao dizer que:
[...] pensamos juntos em como seria para estas mulheres estarem aguardando pela realização do exame e terem que receber a notícia de que seria suspenso [...] eu me vi dando uma aula de cidadania (E7).
O enfermeiro-docente, ao refletir sobre as questões sociais, possibilitou-lhe desenvolver a sua sensibilidade4, 17 diante do cuidado de enfermagem com o cliente e a comunidade, fazendo perceber as lutas, dores, sofrimento, alegria que marcavam a vida e demonstrou ao educando o valor social.
CONCLUSÃO
À guisa de conclusão, podemos afirmar que o enfermeirodocente em sua prática pedagógico-assistencial apresentou por meio do ato de educar o valor social ao educando, ratificandolhe como instituinte do campo axiológico que funda a profissão.
Este processo é fruto da perspectiva crítico-reflexiva diante do ato pedagógico, no qual educador e educando transpõem o fosso existente e passam a conviver, elaborando e reescrevendo a própria história. Por conseguinte, a relação dialógica passa a ser fundante no ato de educar do enfermeiro e constitui-se em fator de mudança, permitindo ao docente substituir as bases pedagógicas provenientes da educação tradicional e encaminhar o educando ao campo axiológico que permeia a enfermagem. Ali, o educando poderá retificar ou ratificar o seu agir.
Igualmente, a aparição na pragmática assistencial do valor social permitiu desenvolver no educando a consciência crítica sobre o binômio saúde-doença, favorecendo a construção de sua cidadania. Sua consciência ingênua foi despertada, permitindo-lhe reordenar a sua escala valorativa a partir do valor social presente na enfermagem.
A possibilidade desta reordenação só foi possível a partir da reflexão por parte do discente sobre a vivência obtida na prática pedagógico-assistencial. Inserido na pragmática da enfermagem, ele pôde perceber-se enquanto sujeito e contemplou o 'outro'(aquele para quem se dirige o cuidado de enfermagem), dotado também desta característica. Assim, nesta interação junto ao 'outro', o 'eu'(excludente e opressor), presente no educando, foi substituído por uma nova forma de conviver, centrado na relação 'eu-tu'. Esta perspectiva relacional tem em si o cerne transformador, permitindo àqueles que dela se valem a promoção de uma mudança paradigmática no contexto em que se inserem.
Desta maneira, impactado pela experiência valorativa do social, o educando passou a reconhecer a solidariedade como instituinte da prática da enfermagem. Assim, ele venceu a apatia, a indiferença e o egoísmo e encaminhou-se para a elaboração da sociedade ideal scheleriana. Nela, a pessoa/ sujeito passa a ser reconhecida como fim em si mesmo. Logo, os seus membros passam a crescer e a desenvolverem-se em atitudes centradas na empatia, permitindo a construção de uma nova forma de conviver entre as pessoas.
Assim, torna-se iniludível o papel de moderador desenvolvido pelo enfermeiro-docente diante do ato de educar. Ele, de maneira lúcida e reflexiva, encaminha o educando ao campo axiológico que funda a profissão, possibilitando-lhe a oportunidade de crescer e a desenvolver-se no Ser-enfermeiro.
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