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CAPES

Volume 16, Número 2, Abr/Jun - 2012

PESQUISA

Avaliação da qualidade da atenção à saúde de adolescentes no pré-natal e puerpério

Lílian Machado Vilarinho1
Lidya Tolstenko Nogueira2
Elizabeth Eriko Ishida Nagahama3

Lílian Machado Vilarinho1; Lidya Tolstenko Nogueira2; Elizabeth Eriko Ishida Nagahama31 Mestre em Ciências e Saúde. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Professora Assistente I da Associação de Ensino Superior do Piauí - AESPI. Teresina-PI. Brasil. E-mail: lilianvilarinho@hotmail.com
2 Doutora em Enfermagem. Professora Associada da UFPI. Departamento de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí-UFPI. Teresina - PI. Brasil. E-mail: lidyatn@gmail.com
3 Doutora em Saúde Coletiva. Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Enfermeira do Hospital Universitário Regional de Maringá. Universidade Estadual de Maringá. Maringá-PR. Brasil. E-mail: eeinagahama@uem.br

Recebido em 03/05/2011
Reapresentado em 03/10/2011
Aprovado em 26/01/2012

RESUMO

Pesquisa avaliativa que objetivou avaliar a qualidade da atenção pré-natal e puerperal a adolescentes com filhos nascidos vivos em instituição pública de saúde de Teresina, Piauí. Foram utilizados dois parâmetros para avaliar o cuidado pré-natal: um índice internacional (Adequacy of Prenatal Care Utilization) e outro nacional, baseado em recomendações do Ministério da Saúde. A qualidade da atenção foi categorizada em adequada superior, adequada, intermediária e inadequada. Identificou-se que mais da metade das mulheres iniciou o pré-natal precocemente e o número de consultas de pré-natal foi inadequada. A maioria realizou exames de pré-natal de rotina, 75% tiveram as mamas examinadas e 88,6% foram orientadas sobre aleitamento materno. A atenção puerperal foi intermediária para 38,6% das mulheres, 52,3% não retornaram à unidade de saúde e tampouco receberam visita domiciliar, 70,5% foram orientadas sobre os métodos contraceptivos e 93,2%, sobre aleitamento materno. Esforços devem ser empreendidos para garantir a qualidade da atenção no ciclo gravídico-puerperal.

Palavras-chave: Avaliação em saúde. Gravidez na adolescência. Enfermagem. Cuidado pré-natal. Puerpério

INTRODUÇÃO

Cerca de 14 milhões de adolescentes tornam-se mães a cada ano, o que equivale a mais de 10% dos nascimentos no mundo. Nos países em desenvolvimento, este percentual representa 90% dos nascimentos, sendo os países da África os que exibem as taxas mais altas, seguidos da Índia, países da América-Latina e Caribe.1

No Brasil, sete em cada cem adolescentes entre 15 e 19 anos tornaram-se mães em 20042. Dados recentes do Ministério da Saúde3 apontaram que, apesar da redução de 30% dos partos em adolescentes nos últimos dez anos, em 2009 foram realizados mais de quatrocentos mil partos na rede pública de saúde em todo o território nacional. No Piauí, a redução de partos em adolescentes foi ainda mais significativa (43,51%) embora, em 2009, mais de nove mil adolescentes tenham se tornado mães.

A crescente vulnerabilidade desse grupo tem gerado a preocupação crescente de diversos setores da sociedade com o fenômeno da gravidez na adolescência e a implementação de políticas e programas voltados para esta faixa etária.

Apesar da melhoria ao acesso às políticas de prevenção e orientação sobre saúde sexual e reprodutiva, disponibilização gratuita de métodos contraceptivos e aumento da cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF), a qualidade da atenção no ciclo gravídico puerperal necessita ser aprimorada, sendo objeto de estudo em diversas regiões do país.4-5

Alguns estudos destacam a importância da atenção pré-natal de qualidade para a redução da morbimortalidade materna e perinatal, especialmente o componente neonatal, visto que este reflete as condições da gravidez, do parto e da assistência perinatal.4-5

A avaliação é uma estratégia que contribui para direcionar ou redirecionar a execução de ações e atividades, colaborando para a tomada de novas decisões e melhoria da qualidade do processo assistencial.6

Quando se aborda a avaliação da qualidade no setor saúde, é impor tante destacar os estudos de Avedis Donabedian, o primeiro a propor um referencial teórico sistêmico - a tríade estrutura, processo e resultado, para analisar os serviços de saúde e as práticas assistenciais, sendo a avaliação do processo o reflexo da qualidade da atenção à saúde.7 Neste contexto, o presente estudo objetiva avaliar a qualidade da atenção pré-natal e puerperal a adolescentes com filhos nascidos vivos em instituição pública de saúde de Teresina, Piauí.

 

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa avaliativa, com delineamento transversal, com enfoque na avaliação de processo e da qualidade da atenção pré-natal e puerperal. Foi conduzida mediante pesquisa em prontuários e entrevistas com adolescentes que deram a luz em uma unidade integrada de saúde per tencente à rede pública municipal de Teresina-PI, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2008.

Teresina tem uma área territorial de 1.176 km², situa-se na região centro-norte do estado e meio-norte do nordeste brasileiro, com população residente de 814.439 habitantes, sendo o município mais populoso do Piauí, com a maior parte da infra-estrutura administrativa do Estado.8 A capital é considerada polo de saúde, pela quantidade de serviços que oferece tanto na rede pública como na rede privada, e por receber grandes demandas do interior do estado. Abrange três Regionais de Saúde: Centro-Norte, Sul e Leste-Sudeste, com aproximadamente 223 equipes da ESF, 69 Centros de Saúde, uma maternidade estadual de referência, quatro hospitais-maternidades e duas Unidades Mistas de Saúde no setor público municipal que oferecem assistência pré-natal vinculadas à ESF e que atendem pelo SUS.9

Para o cálculo do tamanho amostral, considerou-se o número de partos SUS ocorridos na referida instituição no ano de 2008, de acordo com o Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC). Obteve-se o total de 1.047 casos, o que correspondeu a 7,5% dos nascimentos do município de Teresina em 2008. A consulta ao sistema de informação da unidade de estudo permitiu o levantamento de 239 nascidos vivos de adolescentes.

Foram incluídas no estudo as gestantes adolescentes, residentes em Teresina, que realizaram pré-natal nas unidades de saúde deste município e cujo parto foi realizado na maternidade da instituição de saúde em estudo no ano de 2008. Foram excluídas aquelas procedentes de outros municípios (26) e cujo prontuário não tinha registro de realização do pré-natal ou não haviam realizado pré-natal (38).

Os dados foram obtidos por meio da análise de 174 prontuários e entrevista com 44 adolescentes (30% desses prontuários), durante visita domiciliar. Utilizou-se a fórmula para o cálculo amostral de populações finitas (n e" N. Za² .p.q/ (N-1)d² + Za² . p.q), no qual o grau de confiabilidade adotado foi 95% e o erro amostral foi de 5%. Vale destacar que as entrevistas foram realizadas apenas com o intuito de complementar os dados não registrados nos prontuários, e com as adolescentes localizadas no período da coleta de dados.

Dois instrumentos com perguntas fechadas foram aplicadas entre os meses de março a julho de 2010. O primeiro foi utilizado para a coleta de dados referente à atenção prénatal em prontuário, e o segundo, utilizado na entrevista, englobava informações complementares sobre a atenção prénatal e puerperal. A elaboração destes instrumentos foi baseada nas recomendações do Ministério da Saúde para atenção prénatal e puerperal qualificada e humanizada nos serviços de saúde.10

Avaliação do processo do cuidado pré-natal

As variáveis de estudo foram: número de consultas de pré-natal, idade gestacional do início do pré-natal em semanas, número de exames laboratoriais de rotina realizados, procedimentos clínicos obstétricos em todas as consultas de pré-natal, número de exames de ultrassonografias realizadas e orientação sobre aleitamento materno.

Os parâmetros utilizados para avaliar o pré-natal foram o índice Adequacy of Prenatal Care Utilization (APNCU)11 e índice baseado nas recomendações do Ministério da Saúde (índice MS).12

O índice APNCU caracteriza a adequação da utilização do cuidado pré-natal em duas dimensões independentes e distintas:

a) Adequação do início do cuidado pré-natal ou mês em que o cuidado pré-natal foi iniciado: considera que quanto mais precoce, mais adequado o cuidado pré-natal. Estabelece a distribuição da gestação em quatro grupos: meses 1 e 2; 3 e 4; 5 e 6; e 7 a 9. A adequação do início do cuidado pré-natal corresponde a: ótimo: 1º ou 2º mês; adequado: 3º ou 4º mês; intermediário: 5º ou 6º mês; inadequado: 7º mês ou mais tarde, ou sem assistência prénatal.

b) Adequação dos cuidados recebidos ou porcentagem de visitas recebidas ajustadas para o mês de início da assistência pré-natal e para a idade gestacional da ocorrência do par to. A medida da adequação dos cuidados recebidos corresponde à razão entre o número de visitas recebidas do número esperado de visitas. O número esperado de visitas é baseado no padrão de visitas pré-natais para gestações não complicadas recomendado pelo American College of Obstetricians and Gynecologistis (ACOG): uma visita por mês até 28 semanas, duas visitas por mês até 36 semanas e uma visita por semana até o nascimento. O cuidado recebido foi classificado de acordo com sua adequação (proporção do número de visitas recomendado pelo ACOG recebidas desde o início do cuidado pré-natal até o término da assistência prénatal ou nascimento), como se segue: ótimo, maior ou igual 110%; adequado, 80-109%; intermediário, 50- 79%; inadequado, menos que 50%.

Dessa for ma, o APNCU combina a adequação do início da assistência pré-natal (mês de início da assistência) e a adequação da utilização do cuidado pré-natal (número de consultas realizadas) como: ótimo, cuidado pré-natal iniciado até o 4º mês e realização de 110% ou mais das visitas recomendadas; adequado, cuidado pré-natal iniciado até o 4º mês e realização de 80-109% das visitas recomendadas; intermediário, cuidado pré-natal iniciado até o 4º mês e realização de 50-79% das visitas recomendadas; inadequado, cuidado pré-natal iniciado após o 4º mês ou realização de menos que 50% das visitas recomendadas.

O índice MS12 combina: 1. idade gestacional de início do pré-natal; 2. número de consultas de pré-natal; 3. realização de procedimentos clínicos obstétricos. Os autores recomendam seis parâmetros:

1. Início do atendimento pré-natal: antes de 14 semanas de gestação.

2. Número de consultas de pré-natal: realização de seis ou mais consultas para uma gestação de 37 semanas ou mais; cinco consultas para a gestação com 32 a 36 semanas; e quatro consultas para gestação com 22 a 32 semanas.

3. Realização de todos os exames de rotina propostos (ABO-Rh, Hb/Ht, Glicemia de Jejum, Urina, VDRL, Anti-HIV e HBsAg).

4. Realização de pelo menos cinco procedimentos clínico-obstétricos em todas as consultas (verificação de peso, PA, BCF, AU e edema).

5. Orientação sobre amamentação.

6. Realização de pelo menos um exame de ultrassonografia.

O índice MS12 combina a adequação do início da assistência pré-natal, adequação do número de consultas realizadas e realização dos procedimentos clínicoobstétricos, como: adequada superior, quando todas as seis recomendações forem satisfeitas; adequada, com o cumprimento de cinco recomendações; intermediária, na presença de quatro; e inadequada, quando três ou menos recomendações forem satisfeitas.

Cabe ressaltar que a checagem dos procedimentos clínico-obstétricos foi obtida conforme a possibilidade técnica de sua realização, que depende da idade gestacional na época da consulta. Considerou-se que a ausculta dos batimentos cárdio-fetais, mensuração da altura uterina e avaliação da apresentação fetal foram passíveis de realização a par tir da segunda metade da gravidez. Por outro lado, cálculo da idade gestacional, aferição da pressão arterial, peso e edema maternos constituíram procedimentos que deveriam ser realizados em qualquer período gestacional e, portanto, em todas as consultas de pré-natal.

Avaliação de processo no puerpério

As variáveis de estudo foram: realização de consulta de revisão puerperal, visita domiciliar na primeira semana após o parto, avaliação clínico-ginecológica, orientação sobre planejamento familiar e orientação sobre aleitamento materno.

Para estabelecer os critérios de qualidade da atenção puerperal utilizou-se escala de escores que variaram de 0 a 3 pontos, segundo a adequação na realização de cada indicador (Quadro 1).

Com a finalidade de analisar a qualidade da atenção ao puerpério foram considerados todos os escores e calculado o somatório obtido individualmente em cada item, que variou de um escore mínimo de zero até escore máximo de oito. Desta forma, determinaram-se quatro níveis de qualidade conforme as escalas somadas de classificação: inadequada: de 0 a 2 pontos; intermediária: de 3 a 4 pontos; adequada: 5 a 6 pontos; adequada superior: 7 a 8 pontos.

Os dados foram digitados e analisados no programa SPSS versão 18.0. Foram calculadas as distribuições de frequência das variáveis relacionadasaopré-natal, epuerpério. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), CAAE nº 0228.0.045.000-09.

 

RESULTADOS

Quanto à idade gestacional de início da assistência, em relação ao critério APNCU, a assistência foi considerada adequada superior para 18,2% das gestantes; adequada para 59,1%; intermediária para 20,4% e inadequada para 2,3% das mulheres. Em comparação com o índice MS12, 63,6% das gestantes tiveram classificação adequada e 36,4%, inadequada (Tabela 1).

Considerando-se o número de consultas de pré-natal, observouse que, de acordo com o critério APNCU, o cuidado pré-natal foi intermediário para 52,3%, inadequado para 43,2% e adequado para 4,5%. Por outro lado, conforme critérios do índice MS12, o cuidado recebido foi classificado como adequado para 75% das adolescentes e inadequado para 25%. Considerando-se o sumário do índice de adequação (APNCU e MS), o cuidado pré-natal foi inadequado para 22,7% das gestantes (Tabela 1).

Em relação aos exames de rotina, todas as gestantes realizaram tipagem sanguínea (ABO/Rh), glicemia de jejum, urina tipo I, hemoglobina e hematócrito. O exame de VDRL foi realizado por 74,7% das adolescentes e o teste Anti-HIV, por 69,0% (Tabela 2).

Considerando-se a aplicação das doses da vacina antitetânica, 6,3% das gestantes receberam apenas uma dose; 19,5%, duas; 35,6%, três; 16,7% receberam o reforço; e 8,6% já estavam imunizadas.

Acerca dos demais exames, 68,2% realizaram a citologia oncótica; 50,0% fizeram duas ultrassonografias; e 31,8% conseguiram pelo menos uma. Quanto ao exame das mamas, observou-se que 75,0% das adolescentes tiveram as mamas examinadas e 88,6% afirmaram ter recebido orientações sobre aleitamento materno durante as consultas. Entretanto, 81,8% não receberam informação sobre o tipo de parto durante o pré-natal.

Em relação à realização dos procedimentos clínicos obstétricos nas consultas de pré-natal, verificou-se que 56,8% foram realizados de três a quatro procedimentos. No tocante ao profissional de saúde que realizou o pré-natal, registrou-se que 61,4% das adolescentes efetuaram o acompanhamento prénatal com o mesmo profissional.

No puerpério, 52,3% das adolescentes não retornaram à UBS até o 42º dia de pós-parto para consulta de revisão e não receberam visita domiciliar na primeira semana pós-parto. O percentual de 70,5% recebeu orientações sobre os métodos de anticoncepção e 93,2% receberam orientações, ainda na maternidade, sobre aleitamento materno (Tabela 3). A atenção puerperal foi qualificada como adequada superior para 36,4% das mulheres, intermediária para 38,6% das adolescentes, inadequada para 18,2% e adequada para 6,8% (Gráfico 1).

 

 

DISCUSSÃO

Em relação à idade gestacional de início do pré-natal, verificou-se que, de acordo com os dois índices, a atenção prénatal foi considerada adequada para mais da metade das mulheres, ou seja, mais da metade das mulheres iniciou o atendimento pré-natal precocemente. Em relação ao número de consultas, o índice APNCU aponta uma porcentagem pequena de mulheres que obteve assistência adequada em contraste com o obtido pelo índice MS.12

Esta divergência na adequação do número de consulta de pré-natal é atribuída ao fato de que, pelo índice APNCU, o número esperado de consultas é ajustado para a idade gestacional de início e do término da assistência (momento do parto), o que não acontece ao se utilizar o índice MS, que considera apenas a idade gestacional da ocorrência do parto.12

Chama atenção neste estudo a divergência de classificação da adequação da utilização do cuidado pré-natal ao se comparar os dois índices. Este resultado também foi encontrado em estudo realizado em Maringá, no Paraná, que avaliou o processo de atenção pré-natal utilizando o índice APNCU e critérios recomendados pelo PHPN.13

Contudo, a aplicação de dois critérios de avaliação da utilização do cuidado torna-se útil, pois permite mensurar se a inadequação na atenção foi atribuída ao número inadequado de consultas ou ao início tardio da assistência. Neste estudo, a inadequação no cuidado foi atribuída ao número insuficiente de consultas de pré-natal e não à IG no início do pré-natal, pois o índice de inadequação desta variável (idade gestacional de início do pré-natal) foi pequeno segundo o APNCU.

A frequência adequada ao pré-natal previne a ocorrência de complicações da gravidez, especialmente na adolescência, o que reafirma a relevância da atenção às adolescentes como questão de saúde pública. A frequência inadequada ao pré-natal entre adolescentes constitui objeto de investigação de outros autores. Um estudo realizado em Montes Claro, Minas Gerais, apontou os motivos relatados pelas gestantes para o número insuficiente de consultas: medo de procedimentos obstétricos, vergonha dos pais, abordagens sobre práticas sexuais.

É importante ressaltar que o índice MS12, além da IG Gráfico 1. Distribuição percentual da atenção puerperal de acordo com as escalas somadas de classificação, Teresina (PI), Brasil, 2008 no início do pré-natal e número de consultas, considera outros critérios de qualidade baseado em recomendação do MS para estabelecer a adequação do pré-natal. Sendo assim, não foi possível estabelecer comparação entre os dois índices para avaliar o sumário de adequação do pré-natal.

Uma parcela das adolescentes iniciou o pré-natal tardiamente. Estes resultados também foram encontrados em outros estudos que abordam a gravidez na adolescência. Tem-se como razões para o início tardio da assistência: conhecimento tardio da gravidez, receio em comunicar aos familiares, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, constrangimento e medo dos procedimentos durante as consultas, dificuldades para assumir a gestação, conflitos familiares e desconhecimento da impor tância dessa assistência.15-16

Estes dados apontam a necessidade de as equipes da ESF investirem na sensibilização e motivação das gestantes adolescentes para ingresso precoce nos serviços de saúde, e utilização de estratégias para sua captação, como a busca ativa, e, principalmente, estabelecerem o acolhimento e criação do vínculo entre gestante-profissional de saúde.

Além de avaliar a utilização do cuidado pré-natal, que se refere à idade gestacional de início da atenção e ao número de consultas de pré-natal, considerou-se importante verificar as ações desenvolvidas no processo do cuidado como a solicitação e realização de exames laboratoriais de rotina, principalmente VDRL e o anti-HIV. Assim, o cumprimento de todos os exames representa um indicador de qualidade da atenção pré-natal.12

O Pacto pela Saúde, aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde em 2006, ressalta como uma de suas prioridades a redução das taxas de transmissão vertical do HIV e da sífilis. No Brasil, foram detectados, de 2000 a 2010, mais de 54 mil casos de sífilis congênita e de infecções pelo HIV em gestantes, sendo que, em indivíduos menores de 13 anos de idade, a transmissão vertical é a categoria de exposição predominante, com percentuais acima de 85% desde 2006, e a faixa etária de 13 a 24 anos é relevante, visto que em 2009 foram identificados mais de três mil casos de AIDS entre esses adolescentes e jovens.17

Supõe-se que o início da vida sexual precoce e a inconsistência no uso de preservativos indicam a vulnerabilidade de adolescentes a estas infecções e como estas podem ser prevenidas; é importante a disponibilidade destes exames antes do parto.

A realização de todos os exames de rotina solicitados no pré-natal pela maioria das adolescentes evidencia a ampliação do acesso aos serviços de saúde, e oferece oportunidade de efetivação de exames antes não realizados.

A vacinação antitetânica da gestante deve ser realizada com a vacina dupla tipo adulto (dT) o mais precocemente possível, independente da idade gestacional (IG).10 Sua realização constitui indicador que também reflete atenção pré-natal de qualidade e, particularmente, da equipe de enfermagem, pois constitui prática sob responsabilidade dessa categoria profissional. Quanto ao esquema vacinal, a maioria das gestantes foi avaliada, o que indica que a equipe de enfermagem esteve atenta a este cuidado no pré-natal. O percentual de adolescentes que recebeu as três doses da vacina dT pode ser atribuído ao fato de serem primigestas e de não buscarem habitualmente a imunização nos serviços de saúde, somente o fazendo quando engravidam ou têm algum problema de saúde.

Além da imunização antitetânica, constatou-se que mais da metade das adolescentes realizaram a citologia oncótica, e todas realizaram ultrassonografia, o que mostra a disponibilidade dos serviços de saúde para realização desses exames. Embora o PHPN não inclua a citologia oncótica como procedimento básico, deve-se levar em consideração que muitas mulheres frequentam os serviços de saúde apenas para o prénatal; portanto, esse momento pode ser ideal, e às vezes único, para programar ou consolidar as orientações e as práticas preventivas para a saúde feminina.5

A realização da ultrassonografia durante a gestação constitui uma tecnologia que proporciona determinação da IG, detecção precoce de gestações múltiplas e malformações fetais clinicamente não suspeitas, entre outros.10 De acordo com Ministério da Saúde,10 a não realização de ultrassonografia durante a gestação não constitui omissão, nem diminui a qualidade do pré-natal. Contudo, qualifica a atenção.

No estudo, registrou-se que os profissionais de saúde estão atentos a esta prática da amamentação, pois a maioria das adolescentes foi submetida ao exame de mamas e recebeu orientação sobre o aleitamento materno.

A adolescência constitui etapa evolutiva de grandes modificações corporais, e, acrescidas das referentes à gravidez, a aceitação da prática da amamentação pode ser um processo mais lento.10 Tal afirmação é reforçada em estudo sobre a qualidade da atenção à saúde do adolescente no qual foram obtidos índices elevados de desmame precoce. Portanto, o preparo para a amamentação deve ser iniciado durante a gestação e, particularmente para a adolescente, ser sistemático e diferenciado.15

Com relação à informação sobre o tipo de parto, a maioria das adolescentes não foi orientada sobre as vantagens e desvantagens dos tipos de parto. O pré-natal é o momento mais apropriado para a preparação e orientação para o parto. Além disso, no contexto da saúde sexual e reprodutiva, a escolha do tipo de parto constitui um dos principais direitos reprodutivos das mulheres.

Em relação ao profissional que realizou o atendimento pré-natal, observou-se que, em algumas UBS, a consulta médica foi intercalada com a de enfermagem; em outras, a consulta médica foi referenciada pela enfermeira. Para algumas, a gestação foi considerada de risco, e os médicos foram os responsáveis pelo atendimento desse grupo etário. Contudo, verificou-se que a maioria das adolescentes efetuou o acompanhamento pré-natal com o mesmo profissional, o que propicia a formação do vínculo entre médico-adolescente e confere qualidade na atenção.

Além da competência e habilidade dos profissionais de saúde, para a atenção pré-natal qualificada, é necessário que a equipe de saúde realize correta e uniformemente os procedimentos clínicos e obstétricos.10 Nesse estudo, observouse que os procedimentos desenvolvidos pelos auxiliares ou técnicos de enfermagem, como a medida do peso e aferição da PA, foram executados com maior frequência quando comparados aos realizados pelo médico e/ou enfermeira na consulta de pré-natal, a exemplo da verificação de edema

 

CONCLUSÕES

Diante dos resultados alcançados, conclui-se que é indispensável garantir a qualidade das ações de saúde e de enfermagem durante o processo assistencial, principalmente quando se trata de gestantes e puérperas adolescentes, pois estas vivenciam uma fase de transformações físicas, emocionais, ou mesmo de caráter psicossocial, que envolvem crenças e valores, e ainda vivenciam a chegada de um filho na adolescência.

Considerando a importância desse tema, recomendase captar precocemente as gestantes adolescentes, sensibilizálas sobre a relevância do retorno ao serviço para revisão puerperal, educar permanentemente os profissionais de saúde que assistem estas adolescentes e criar estratégias e campanhas educativas que facilitem o acesso das adolescentes aos serviços de saúde, com objetivo de informá-las, garantir acesso aos métodos contraceptivos, prevenir agravos à saúde e evitar a reincidência da gravidez na adolescência.

Os resultados do estudo apontam a necessidade de melhorar a organização dos serviços de saúde para o acolhimento e acompanhamento das adolescentes desde o prénatal até o puerpério por uma equipe multidisciplinar. Implica o estabelecimento de esforço integrado de todos os níveis gestores para a oferta de serviços que garantam acolhimento, informação, aconselhamento, competência profissional, tecnologia apropriada disponível e relacionamento pessoal pautado no respeito à dignidade e aos direitos sexuais e reprodutivos.18

Recomenda-se, ainda, a realização de estudos sobre a qualidade da atenção à saúde das adolescentes durante o ciclo gravídico-puerperal, e sugere-se a utilização de métodos quantitativos com maior número amostral, que elaborem uma matriz de avaliação voltada a este grupo etário.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 03/05/2011
Reapresentado em 03/10/2011
Aprovado em 26/01/2012

 

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