Volume 15, Número 2, Abr/Jun - 2011
EDITORIAL
O papel estratégico do corpo docente no programa de pós-graduação
Adriana Cristina de OliveiraI; Márcia de Assunção FerreiraII
IDoutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Membro da Comissão de Avaliação da Área de Enfermagem da Capes
IIDoutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro da Comissão de Avaliação da Área de Enfermagem da Capes
A avaliação da pós-graduação no Brasil e no mundo tem se apresentado como uma excelente oportunidade de amadurecimento aos nossos programas, por possibilitar a reflexão interna sobre sua responsabilidade social, política e tecnológica, visando à proposição e alcance de metas audaciosas dentro do que se propõe a formação de recursos humanos nos níveis de mestrado e doutorado com excelência, quando comparados a centros internacionais de referência. Para a área da enfermagem não tem sido diferente. Temos percebido que a experiência acumulada por meio da produção, organização e comunicação do conhecimento da ciência da enfermagem tem se constituído uma ação propulsora que nos coloca em destaque no contexto mundial sem nada deixar a dever às outras áreas.
A enfermagem tem passado por profundas transformações no tocante à pós-graduação; exemplo disso pode ser conferido no processo de avaliação da área pela Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no último triênio (2007-09). À luz dos dados do último relatório, constata-se que a enfermagem vem crescendo, em número de programas que têm sido aprovados, em publicações e na qualidade de seus veículos de divulgação. Outro dado interessante é que na última década houve uma ascensão da procura pela capacitação por enfermeiros da área assistencial, com o intuito de se melhor prepararem do ponto de vista teórico, metodológico e tecnológico.
A pesquisa em enfermagem tem evoluído de forma rápida e dinâmica, acompanhando o movimento da ciência, o rigor e exigência das demais áreas. A contribuição social e política da área, seja em nível do ensino, pesquisa ou assistência, tem sido característica cada vez mais marcante, favorecendo a maior visibilidade dos pesquisadores e, consequentemente, do saber da enfermagem no contexto nacional e internacional da produção do conhecimento científico e de suas aplicações. E é neste espaço que se destaca o papel estratégico do docente de pós-graduação, pois ele é um elemento-chave deste processo e destas conquistas.
O corpo docente de um programa de pós-graduação stricto-sensu pode ser considerado como a sua essência.
É em torno de sua maturidade e experiência que os demais elementos dos programas são gerados e materializados. Por conseguinte, a responsabilidade do docente expande-se sobre a trajetória, a definição de estratégias para o crescimento, avanço e alcance de metas propostas pelo programa.
A despeito de outros indicadores de qualidade e avaliação, não se pode negar a importância crucial que tem a atuação do docente. A proposta do programa agrega as áreas de concentração e linhas de pesquisa, mas a formação de recursos humanos de qualidade depende da capacidade agregadora do docente, de seus investimentos, pois é em torno dele e de sua produção que o programa se organiza, ganha visibilidade e notoriedade.Os compromissos de um docente credenciado em programa de pós-graduação orbitam entre o curso de graduação e de pós-graduação, na liderança de grupos de pesquisa e na condução de projetos integrados de pesquisa em articulação com seus alunos, orientandos de vários níveis - iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado -, lapidando talentos para as futuras gerações de pesquisadores. A experiência e a perseverança do docente-pesquisador, que em seu grupo fomenta os debates e estimula a criatividade na produção do conhecimento, em muito se relaciona à formação de qualidade no campo da ciência.
Nesse sentido, uma comunhão de interesses e investimentos é fundamental, do programa em relação aos docentes e destes em relação ao programa, no intuito da formação de qualidade e produção do conhecimento. Deste debate, não se pode perder de vista o fato de que fazer pesquisa no Brasil, e em qualquer parte do mundo, por vezes é bastante dispendioso. E para que se tenha qualidade de formação de recursos humanos e de pesquisa, recursos materiais e infraestrutura são essenciais. E, mais uma vez, a responsabilidade do docente se ressalta, pois a ele cabe capitanear os projetos para a concorrência aos editais de financiamento de pesquisas, angariando verbas que irão fomentar as produções e equipar os laboratórios para que os grupos possam investir cada vez mais em seus projetos. Este preparo para a concorrência faz toda a diferença em um programa de pós-graduação, devendo fazer parte dos programas de ensino e de formação para a pesquisa.
O avanço, consolidação e excelência da pós-graduação encontram-se em grande parte relacionados ao compromisso e à dedicação dos docentes que compõem os programas. Esses atributos devem ser compartilhados com os alunos sob sua orientação, somados ao apoio institucional para que se tenha uma trajetória de sucesso e conquistas.
Isso posto, os docentes que integram programas de pós-graduação stricto-sensu precisam estar cientes de seu compromisso e responsabilidade social na formação de mestres e doutores. E a difusão de conhecimento e a proposição de tecnologias e inovações advindas das pesquisas configuram-se no cumprimento da obrigação de devolver à sociedade os investimentos feitos em prol de instituições públicas e gratuitas.