Volume 13, Número 4, Out/Dez - 2009
EDITORIAL
Desafios e perspectivas do cuidar de enfermagem na saúde da criança
Ivone Evangelista Cabral I
I Professora Associada do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. Pesquisadora CNPq e do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Criança. Brasil. E-mail: icabral44@hotmail.com
O avanço científico e tecnológico registrado na segunda metade do século XX, associado à definição de políticas públicas de saúde infantil, contribuiu decisivamente para a queda na mortalidade registrada no Brasil, de 85,6 por 1.000 nascidos vivos (NV), em 1980, para 22,4 por 1.000 NV, em 2004 (Secretaria de Vigilância em Saúde, 2004).
O último Censo Demográfico (IBGE, 2000) registrou pequenos avanços na melhoria de infraestrutura de saneamento básico, habitação, acesso a serviço de saúde, oferta de emprego etc; entretanto, as desigualdades sociais somam-se ao conjunto de desafios, os quais requerem vontade política para serem superadas. Na distribuição das taxas de mortalidade infantil no País, entre 2000 e 2004, observa-se que nas regiões menos industrializadas e mais pobres ainda são registrados índices mais elevados (Nordeste, 33,9; Norte, 25,6; Centro-oeste, 18,7), quando comparadas com as mais industrializadas (Sudeste, 14.9; Sul, 15,0).
O Brasil é o país com o terceiro maior índice de mortalidade infantil na América do Sul. De acordo com o Relatório sobre a Situação da População Mundial 2007, divulgado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), estima-se que em cada grupo de mil crianças nascidas vivas no país, 23 morram antes de completar 1 ano de idade. O índice brasileiro só não é maior do que o da Bolívia, com 45 óbitos, e o do Paraguai, com 32 por 1.000 NV. Na América do Sul, a menor taxa é registrada no Chile, com uma média de sete óbitos para 1000 NV. Em seguida, aparecem Argentina e Uruguai, ambos com 13 óbitos, e Venezuela, com 17.
As principais causas de adoecimento e morte na infância, na década de 1980, mudaram das doenças diarreicas para as afecções perinatais. Na atualidade, o País convive com morbidades infantis associadas a anomalias congênitas e septicemia, ao lado das doenças comuns na infância, como a pneumonia e diarreia.
Nesse sentido, a enfermagem que atua na área da criança e adolescente precisa continuar desenvolvendo tecnologias de cuidar que deem conta dos desafios impostos pelas condições de morbimortalidade por causas evitáveis, além das novas demandas que vêm se configurando no campo dos cuidados de saúde. O incremento das terapias intensivas, a cura de muitos cânceres infantis, as cirurgias teleguiadas, os transplantes de órgãos, o avanço no diagnóstico de doenças mediado por imagem, a internação domiciliar, entre outros, colocam a enfermagem diante de novas perspectivas e de novos campos de inserção. A produção de conhecimento orientada por esses múltiplos objetos de estudo constitui-se em uma necessidade social para fundamentar a prática profissional cientificamente estruturada.
É preciso que, diante destas atualidades no campo da saúde, não se perca de vista o centro do cuidado, onde está a CRIANÇA e sua FAMÍLIA, enquanto seres CUIDADOS com todas as suas condições de vulnerabilidade. Ao se pensar nesta díade indissociável, assumi-se uma atitude ética diante da condição humana, no planejamento, organização, execução e avaliação do processo de cuidar e assistir em saúde.
A nova ordem mundial que se instaura neste início do século XXI é promover o cuidar com qualidade de vida, levando-se em consideração as dimensões humanas do cuidar e da especificidade do ser criança que sente dor, ri, chora, brinca, adoece, se recupera e continua o seu processo de viver, se possível, com o menor número de necessidade especial de saúde.
Palavras-chave: Saúde da Criança. Cuidado. Enfermagem Pediátrica