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Volume 12, Número 4, Out/Dez - 2008

RESENHA

 

MAI, Mukhtar. Desonrada - depoimento, Rio de Janeiro: best seller, 2007

 

 

Claudete Ferreira de Souza Monteiro I; Rosilane de Lima Brito MagalhãesII; Sheila Coelho Ramalho Vasconcelos MoraisIII; Maria Tamires Alves FerreiraIV

I Enfermeira, Professora Doutora do Departamento de Enfermagem e Coordenadora do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI. Subcoordenadora do Núcleo de Estudos sobre Mulher e Relações de Gênero-NEPEM e Coordenadora do Grupo de Estudos sobre Saúde, Gênero e Violência. Professora da Novafapi.
II Enfermeira, Professora do Curso Técnico de Enfermagem da UFPI. Aluna do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI e Membro do Núcleo de Estudos sobre Saúde, Gênero e Violência.
III Enfermeira, Professora do Curso Tecnico de Enfermagem da UFPI. Aluna do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI, Membro do Núcleo de Estudos sobre Saúde, Gênero e Violência e Presidente da ABEn-PI.
IV Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da UFPI e Bolsista PIBC/CNPq. Membro do Grupo de Estudos sobre Saúde, Gênero e Violência.

 

 

 

O livro intitulado Desonrada depoimento, de Mukhtar Bibi escrito com a colaboração da jornalista francesa Marie-Thérèse Cuny, foi publicado no Brasil, em 2007, com tradução de Clóvis Marques, pela editora Best Seller Ltda. Trata, em 154 páginas, de uma das mais chocantes histórias de violência contra a mulher já tornada pública pela própria vítima.

O relato tem como um dos seus principais objetivos revelar o estupro coletivo vivenciado pela autora em 2002 e mostrar a realidade do mundo feminino até então pouco conhecido em países ocidentais.

Nascida no Paquistão, de família humilde, analfabeta e divorciada, a autora faz um resgate de sua história, como vivia com sua família, sua infância, e revela ao mundo a condição de submissão das famílias menos favorecidas e especialmente das mulheres de sua região ao sistema de casta superior, na qual a justiça se faz por decisões tomadas pelo conselho tribal.

A história de Mukhtar se passa em uma aldeia do Paquistão quando um suposto envolvimento de seu irmão de 12 anos com uma jovem de 20, de casta superior, torna-se motivo de sentença decretada pelo Conselho local e ela é a escolhida para acompanhar os pais e pedir, de joelhos, perdão para ter seu irmão libertado. No entanto, os homens "da família ofendida" não só não aceitam o pedido de desculpas como entregam Mukhtar a quatro homens de sua casta. Mukhtar é violentamente estuprada pelos quatro homens a poucos metros de sua família e das pessoas de sua aldeia e devolvida semi-nua, humilhada e despedaçada. Segundo a cultura local, mulheres que tiveram destino igual cometem suicídio, deixando impunes seus agressores. Assim esperavam o mandante e os agressores. Mas a história de Mukhtar segue outra direção.

A produção dos sete capítulos que compõem o livro, com prefácio da jornalista Miriam Leitão, ressalta a quebra do silêncio para o fenômeno da violência sexual e a importância da educação para mulheres paquistanesas, a falta de intervenção do governo em situações de violência e a luta dos movimentos de mulheres pelos direitos humanos.

A relevância do livro se faz não somente pela exposição do ato vivido, mas, sobretudo, por revelar a força e os desafios enfrentados pela autora para vencer o próprio medo, os tribunais, os agressores e o analfabetismo, lutar por reconstituir sua honra e de sua família e mostrar ao mundo que é preciso falar sobre o que houve e lutar por justiça. Nas palavras da própria autora "lutei por mim mesma e por todas as mulheres vítimas de violência em meu país. Não tenho a menor intenção de deixar minha aldeia, minha casa, minha família e minha escola. Como também pouco pretendo divulgar no exterior uma imagem negativa do meu país. Muito pelo contrário, ao defender meus direitos de ser humano, lutando contra o princípio da justiça tribal que se opõe a lei oficial da nossa república islâmica, tenho a convicção de estar apoiando as intenções da política de meu país. Nenhum homem paquistanês digno desse nome pode estimular um conselho de aldeia a punir uma mulher para resolver um conflito de honra".

Por seu ato de coragem, passa a ser chamada de Mukhtar Mai e torna-se conhecida mundialmente, recebendo, em 2005, nos Estados Unidos, o título de "mulher do ano". Em março de 2007, o Conselho Europeu lhe premiou com o North-South Prize de 2006, por sua contribuição notável aos direitos humanos.

Ao relatar sua história de violência sexual, por estupro coletivo, Mukhtar Mai acrescenta nova visão do fenômeno da violência em culturas fechadas e contribui com a prática profissional no sentido de valorizar e dar oportunidade para ouvir as mulheres, pois falar sobre o fato, "falar da dor, de um segredo que consideramos vergonhoso, liberta o espírito e o corpo'".

Palavras-chave: Violência contra a Mulher. Violência Sexual. Estupro.

 

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