EDITORIAL

A prática da ciência e da arte de cuidar e as exigências à produção e difusão do conhecimento

Márcia de Assunção Ferreira

Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora Geral de Pós- Graduação e Pesquisa. Membro da Diretoria Colegiada do Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (NUCLEARTE)

A enfermagem, ciência e arte de cuidar de seres humanos, se expressa em uma prática social que se objetiva no atendimento das coletividades, das famílias e do sujeito individual. A abordagem humanística se destaca tanto na ação (cuidar) como no objeto de trabalho mesmo da enfermagem (cuidado).

Compreender as respostas humanas, e, portanto emocionais, às experiências singulares que os clientes manifestam aos cuidados de enfermagem dos quais participam exige das enfermeiras conhecimento técnico, científico e sensibilidade que, ar ticulados, buscam captar as respostas verbais e não verbais comunicadas através de comportamentos, gestos e atitudes dos clientes, no dia a dia do atendimento. A captação de toda esta gama de respostas, significativas, depende da subjetividade de quem cuida, além de exigir leituras objetivas por parte da enfermeira.

O cuidado de enfermagem é a expressão da atividade profissional da enfermeira, ou seja, fruto de decisões balizadas pelo conhecimento formal, técnico e científico, oriundo de uma formação acadêmica. Portanto, trata-se de uma ação ética.

No cuidado, há sempre implicados dois sujeitos na ação, enfermeira e cliente, que interagem, dialogam, constroem e (re)constroem conhecimentos, atribuem sentido às ações e reagem às experiências que compartilham. Isto nos leva a pensar nas muitas dimensões envolvidas no cuidado e no processo de cuidar, que vão desde às questões diretamente relacionadas à área clínica à técnica/tecnológica, à interativa necessárias ao encontro do cuidado com o cliente. Quanto às dimensões sócio-cultural e histórica que balizam o entendimento dos contextos nos quais estão imersos clientes e enfermeiras.

Neste número da EAN Revista de Enfermagem, temos estas questões tratadas nos 24 manuscritos publicados, o que mostra preocupação das enfermeiras com a produção do conhecimento sobre a ciência da enfermagem, e o cuidado, seu objeto.

Em linhas gerais, os manuscritos trazem à nossa reflexão, questões afeitas à ciência da enfermagem e a produção do conhecimento, retratadas em ar tigos sobre a epistemologia e os grupos de pesquisa de enfermagem. A discussão sobre a formação do enfermeiro e do pesquisador trazem à tona questões sobre importância do incremento que se deva dar aos intercâmbios interinstitucionais e as práticas pedagógicas que constituem a formação profissional da enfermeira. O contexto do trabalho e da saúde do trabalhador traz à tona que o enfermeiro é um dos sujeitos implicados na ação de cuidar e, como tal, também merece atenção no cuidado de enfermagem.

As técnicas e tecnologias, o cuidado e estilo de vida de clientes, e a preocupação que as enfer meiras sempre manifestam com as famílias e acompanhantes de clientes hospitalizados permanecem na pauta de discussão neste número, acompanhados de outras questões-foco de interesse da enfermagem atual como: o diagnóstico de enfermagem, os saberes que circulam sobre questões específicas que implicam no cuidado à saúde, de um modo geral, e da enfermagem, em particular.

Ainda mais, não se pode deixar de destacar que os estudos de historia da enfermagem sempre nos trazem à reflexão sobre a impor tância de se conhecer as circunstâncias implicadas na criação e trajetória evolutiva da nossa profissão, contribuindo, sobremaneira, para se pensar a enfermagem e seu cuidado, razão mesma do conhecimento que há mais de 150 anos investimos em construir.

Neste sentido, a prática da ciência e da arte de cuidar de seres humanos coloca as enfermeiras diante de inúmeros desafios, e o enfrentamento das transformações que se colocam no cotidiano desta prática, cada vez mais, exige empenho e dedicação em prol da conquista de espaços políticos, e incremento da produção e difusão do conhecimento da enfermagem.