ISSN (on-line): 2177-9465
ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
COPE
ABEC
BVS
CNPQ
FAPERJ
SCIELO
REDALYC
MCTI
Ministério da Educação
CAPES

Volume 3, Número 3, Set/Dez - 1999

INTRODUÇÃO

Na qualidade de docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ), há quatro anos convivo diariamente com alunos ingressantes no 1º período. Em nossos contatos iniciais, sempre busco conhecer melhor o grupo, indagando os motivos que os conduziram ao curso de enfermagem e obtenho respostas variadas e surpreendentes como "ser o passaporte" para as demais profissões da área da saúde ou "ser a última tentativa" de ingresso numa faculdade. Percebo que, com raras exceções, os integrantes dos grupos são desinformados a respeito da profissão escolhida e das competências do enfermeiro. E mesmo conversando com eles a respeito do que é "ser um enfermeiro", seu campo de atuação e competências, numa tentativa de prestar-lhes informações adequadas sobre o assunto e, assim, minimizar suas dúvidas, tenho certeza de que tais informações não são suficientes para mostrar-lhes o delineamento da profissão, que vai ocorrendo gradativamente, na medida em que os períodos se sucedem, e que suas idéias a respeito vão se consolidando. Considerando que a maioria dos alunos é jovem, situando-se na faixa etária dos 17 aos 23 anos aproximadamente, entende-se que ainda estejam buscando sua identidade, apesar das muitas dúvidas a respeito de vários assuntos, dentre eles a opção profissional.

Acreditando que estudos sobre a temática são relevantes para a consolidação da opção profissional, eis que surgiu o interesse pela realização do trabalho. Assim, diante de tais constatações, surgiu a idéia de realizar este estudo para entender e aprofundar melhor a problemática em foco, partindo dos seguintes questionamentos:

- O que leva o aluno a optar pela enfermagem?

- Que conhecimentos detém a respeito da profissão ?

Para o desenvolvimento do estudo, contei com a colaboração de uma colega, docente em outra Instituição, e traçamos os seguintes objetivos :

1- Verificar que motivações conduzem o alunado a optar pela enfermagem.

2- Identificar os conhecimentos que o grupo detém a respeito da profissão.

Afinal, o que é ser enfermeiro?

Em trabalho recente, Spindola e Moreira (1999:107) afirmaram que :

(...) ser enfermeiro abrange definições, sensações, sentimentos, expectativas que ao longo da vida profissional são delineadas, traduzindo / reproduzindo modelos conforme a visão de mundo e historicidade dos atores.

Deste modo, ao longo da história profissional, a enfermagem foi delineando seu perfil, construindo sua história, conquistando e ampliando seus espaços, trilhando novos caminhos e acompanhando as modificações conjunturais da sociedade na qual está inserida, com seus avanços, retrocessos e tecnologias inovadoras. Enfim, seguindo sua trajetória.

Lima (1994) salienta que a enfermagem, nos dias atuais, pode ser definida enquanto ação social como atividade a ser realizada por pessoas que cuidam da vida, da doença, da morte e do meio ambiente. Sendo assim, o trabalho de enfermagem pode ser resumido em quatro funções básicas a serem exercidas pelo profissional, descritas por Minzoni (1980, p.8) como se segue:

#Função Assistencial - inclui atividades que são independentes e outras dependentes de interação com demais elementos da equipe de saúde, visando ao atendimento das necessidades do ser humano, conservação de sua integridade e promoção do seu bem-estar.

# Função Administrativa - inclui atividades de planejamento, organização, coordenação, supervisão e avaliação das ações de enfermagem(...)

# Função Educativa - inclui a orientação ao paciente e de sua família quanto aos cuidados relativos à saúde, à educação contínua e à colaboração na formação de pessoal de enfermagem(...)

# Função Integrativà - inclui atividades que se propõem à inserção do paciente e sua família no contexto geral do sistema de saúde e a reintegração do indivíduo reabilitado na família e comunidade(...)

A acão de cuidar é função precipua do enfermeiro, sendo definida por Nascimento e Souza (1997) como uma dimensão técnica organizada e sistematizada, porém permeada de subjetividade, deixando de ser somente uma ação prática, fria e racional. Assim, em seu cotidiano, o enfermeiro realiza ações voltadas para o atendimento das necessidades dos clientes aos quais assiste, prestando-lhes assistência direta ou indiretamente, nas mais variadas faixas etárias. O ser humano é o centro das suas atenções, dos seus "cuidados".

Atualmente, o campo de atuação dos enfermeiros é bem diversificado. Há profissionais atuando nas áreas docente e assistencial ( nas diversas especialidades); exercendo cargos de confiança em Pró-Reitorias de Extensão, Graduação, Pós-Graduação e outras); ocupando cargos de direção em Centros Biomédicos e Campi Regionais; integrando Comissões diversas (Ética, Infecção Hospitalar, Nutrição Parenteral, Reestruturação de Organizações Hospitalares e outras); atuando como Pesquisadores ou Consultores Técnicos de material médico-hospitalar junto aos Laboratórios; gerenciando áreas de Lavanderia e Limpeza hospitalar; administrando as compras de material médico-hospitalar, dentre outras atividades.

Assim, os espaços ampliaram-se muito últimamente, graças ao empenho e ao desempenho daqueles que não medem esforços na busca de novas conquistas para a profissão.

 

O ALUNO E A ENFERMAGEM

Freqüentemente, a profissão de enfermeiro é buscada por aqueles que, pelos motivos mais variados, se identificam com a área da saúde. Esnidos realizados por Rodrigues, Scatena e Labate (1997) revelaram que os alunos ingressam no curso de enfermagem com sentimentos ambivalentes, tais como: realização, insegurança, vitória, valorização, esperança, medo e solidão, decorrentes dos momentos que estão vivenciando: a superação do concurso vestibular, percebido como um momento difícil, o primeiro contato com a Universidade, o desconhecimento do conteúdo a ser ministrado no curso escolhido e a incerteza do futuro.

Este perfil do alunado de enfermagem é bastante semelhante ao dos "calouros" de qualquer área, que passaram pelo mesmo estresse emocional com a realização do concurso vestibular, sentindo-se vitoriosos com a conquista, embora poucos tenham conhecimento aprofundado sobre a carreira que estão abraçando, uma vez que, de maneira geral, estas informações são pouco difundidas, em especial no caso da enfermagem.

Vale ressaltar, também, que a mídia não tem contribuído de maneira positiva na divulgação da profissão. Geralmente. traça um perfil do enfermeiro que não condiz com a realidade, o que deturpa a sua imagem. Ou então, associa a profissão à devoção religiosa, à "doação" e à figura do "profissional que cumpre ordens médicas", ou ainda a imagens estereotipadas que denigrem o enfermeiro.

De maneira geral, as informações que os estudantes dispõem acerca das profissões da área da saúde e suas competências originam-se daqueles que têm algum parente próximo inserido no contexto, ou dele próprio (mesmo que trabalhando em especialidade diversa ou correlata). Com exceção da medicina, as informações a respeito de algumas profissões da área da saúde são pouco divulgadas, tornando-as distantes da realidade dos alunos que acabam optando pela área sem conhecê-la com profundidade, impulsionados apenas pela necessidade de "ter uma profissão". Neste afã, muitos fazem opções para as quais não estão aptos ou predispostos, surgindo então os "desajustes".

Em estudo realizado sobre a temática, Menezes, Baptista e Barreira (1998) referem que a escolha da profissão pelos alunos que realizam vestibular para Enfermagem baseia-se, principalmente, na inclinação para a área da saúde; como também, pelo fato de o ingresso no curso ser facilitado pela relação candidato / vaga, inferior à dos cursos considerados de maior prestígio social. Assim, segundo as autoras,

(...) os alunos de enfermagem muitas vezes optam por esta carreira porque o sistema de seleção à universidade ainda reproduz as diferenças existentes entre as classes sociais, determinando que nas carreiras de menor "status" social, predominem alunos procedentes das classes de menor poder econômico [e cultural], (p.42)

Por outro lado, as entidades de classe não conseguem veicular a divulgação real e adequada da profissão através da mídia, no intuito de valorizar as ações do profissional; e a Universidade, enquanto agente formador, não divulga o profissional que gradua (o enfermeiro). Isolada em um mundo fechado (acadêmico), apesar do contato com a comunidade, estas informações tendem a ficar restritas resultando em que pouco se conhece sobre a enfermagem e seu campo de atuação.

Em relação à Lei do Exercício Profissional que podería orientá-los quanto às competências dos profissionais de enfermagem ,os alunos só têm acesso após o ingresso na Faculdade; como também dispõem de poucas informações sobre a profissão por ocasião da inscrição no vestibular, tendo mais acesso às profissões de maior prestígio social.

A propósito, Menezes, Luiz e Baptista (1998) constataram que 84,9% dos acadêmicos investigados optaram pela enfermagem porque tinham inclinação para a área da saúde , tendo realizado um ou mais vestibulares para outras carreiras, sendo 66,4% para medicina. Revelaram, também, que a escolha da enfermagem prendia-se ao fato de que: encontraram facilidade para passar no vestibular (35%); houve influência de parentes ou amigos (18,3%); trabalhavam na área (18,3%); tinham facilidade de conseguir emprego (6,7%) e outros motivos.

 

METODOLOGIA

Trata-se de estudo do tipo descritivo em abordagem qualitativa. Esta modalidade de pesquisa , no entender de Deslandes et al. (1994), responde a questões particulares preocupando-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, correspondendo a um espaço mais profundo das relações, dos processos e fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis.

Os acadêmicos de enfermagem que ingressaram no 2º semestre / 98 da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foram os sujeitos da pesquisa. Na qualidade de docente da UERJ e lecionando para o grupo investigado tive acesso aos sujeitos do estudo. Os dados foram obtidos no primeiro contato com os alunos sem que tivessem tido orientação a respeito da temática pesquisada. Foram coletados pelas autoras em agosto de 1998, quando o grupo foi questionado a respeito do interesse em participar do estudo. Os alunos foram informados dos objetivos da pesquisa, autorizando a divulgação dos achados. Havendo anuência, era apresentado aos interessados um impresso contendo três questões abertas para serem respondidas.( O que é ser enfermeiro? Por que optou pela profissão? Que atividades o enfermeiro realiza?) Os depoimentos foram numerados de 1 a 35 e codificados como Dr.. D35, para garantir o anonimato dos depoentes e facilitar a análise do material.

Os dados obtidos foram analisados com base nos estudos de Deslandes et al. (1994) e Minayo (1993). A análise dos discursos possibilitou a elaboração das categorias e melhor aprofundamento na problemática.

 

ANÁLISE DOS RELATOS

O grupo pesquisado era composto por 35 jovens, sendo 31 mulheres e 4 homens com idades entre 17 e 23 anos , tendo realizado vestibular anteriormente para as demais profissões da área de saúde. Esta análise evidenciou que as motivações para a escolha do Curso de Enfermagem são relacionadas a vários aspectos como expectativa de vida, experiências anteriores e outros. Sendo assim, vejamos alguns dos motivos que levaram os alunos a optar pelo curso em questão:

 

APTIDÃO PELA ÁREA DA SAÚDE

Os alunos referem que buscam o Curso de Enfermagem por terem aptidão pela área da saúde. Os depoimentos a seguir evidenciam esta conotação:

"Sempre gostei da área da saúde, e vi na enfermagem uma profissão que pudesse me realizar". (D1)

"Sempre tive um contato muito grande com a área da saúde. Minhas irmãs são fisioterapeutas, tenho amigos enfermeiros, etc. E essa área sempre chamou minha atenção. A princípio eu queria fazer medicina para trabalhar na parte de neurologia, psiquiatria ou traumato-ortopedia; mas percebí que enfermagem me possibilitaria também esse meio ". (D 2)

"Sempre quis trabalhar na área da saúde. Não optei por enfermagem de início, até porque são poucas as informações que obtemos durante o 2ºgrau. Já quis fazer Psicologia, Fisio terapia, Medicina, mas tenho certeza que é a Enfermagem que me proporcionará uma maior realização pessoal e profissional". (D7)

"Para não sair da área da saúde, já que eu não consegui passar no vestibular para Odontologia". (D20)

"Sempre tive uma queda pela área biomédica. Quando criança queria ser médica e com o amadurecimento fui adequando esse desejo, até que per-cebi que me enquadrava na enfermagem". (D25)

"Na verdade, a profissão que eu havia escolhido desde pequena era a de médica. Mas, como eu sonhava em fazer alguma outra coisa dentro da área biomédica, e eu não sabia bem o que, conversando com amigos que já faziam enfermagem e estavam adorando fizeram com que eu repensasse na escolha". (D27)

De acordo com os relatos, o alunado busca na enfermagem a realização profissional. Muitos trazem arraigados os planejamentos de toda uma vida, seus sonhos e ideais... Através dessa realização, almejam outros objetivos ao longo de suas trajetórias de vida. A influência de amigos e familiares na escolha da carreira muitas vezes atua como fator decisivo já que, em muitas situações, não detém informações detalhadas a respeito da profissão. Este fato é registrado no depoimento n.° 7, anteriormente citado.

Nos estudos de Menezes, Baptista e Barreira (1998), as autoras observaram que alunos de diferentes décadas procuraram a enfermagem pela aptidão pela área da saúde. As autoras acreditam que:

(...) o sistema de seleção à universidade ainda reproduz diferenças existentes entre as classes sociais (...), e que a maioria dos alunos da instituição estudada continuam optando pela enfermagem por terem finalmente reconhecido que o ingresso em outras carreiras de maior prestígio social, como a medicina, era inacessível para eles, (p.42)

Ajudar o próximo

Os alunos buscam a enfermagem porque gostam da profissão ou querem ajudar o próximo, segundo os relatos abaixo:

"Sempre quis fazer alguma coisa que me possibilitasse ajudar o maior número possível de pessoas." (D4)

"A vontade de atuar em uma área biomédica, junto à comunidade, podendo ser útil de alguma forma." (D23)

"O que me motivou a escolher a enfermagem foi poder ajudar, cuidar e ter amizade com as pessoas." (D 24)

"A afinidade em ajudar as pessoas a se recuperarem e também a vontade de ter uma profissão e ser independente economicamente." (D26)

"Acho que acima de tudo a vocação de estar sempre ajudando as pessoas, sempre buscando o bem-estar do próximo." (D 30)

A associação da enfermagem às questões humanitárias tem raízes na própria história da profissão que delineou esta imagem, a qual também é ligada à carreira de médico. Menezes, Baptista e Barreira (1998) destacam o ideal humanitário como uma das características das pessoas que se inserem na profissão de enfermagem, desde os seus primórdios.

 

A ENFERMAGEM É PRÓXIMA À MEDICINA E DEMAIS ÁREAS DA SAÚDE

Muitos alunos optam pela enfermagem por ser uma profissão próxima à medicina e demais carreiras da área de saúde. Vejamos este enfoque nos relatos que se seguem:

"Porque cursei o 2º grau técnico e achei a função bem aproximada da que eu queria (Medicina). Apesar de não conhecer por completo a profissão." (D3)

"Bom, a princípio, minha primeira opção foi por medicina. A enfermagem surgiu para mim como opção quando esbarrei com as dificuldades de se passar num vestibular tão concorrido quanto que é o de medicina. Sempre tive uma forte tendência à área de saúde." (D6)

"Porque percebi que através dessa profissão poderia chegar ao objetivo de fazer medicina." (D16)

"Na realidade eu gostaria de cursar medicina veterinária, mas passei para cá e para UNI-RIO em enfermagem e resol-vi ficar; pois enfermagem também está ligada a uma área que eu tenho muita afinidade que é a de saúde" (D 17)

"Para não sair da área da saúde, já que eu não consegui passar no vestibular para Odontologia." (D20)

Os relatos são bem consistentes evidenciando o interesse na realização do curso de medicina. Além da projeção social e do prestígio que a profissão de médico comporta, podemos assinalar também que ser considerado o "salvador de vidas" e ter o poder decisório são aspectos imbuídos na imagem do médico, ainda nos dias atuais. E certo que as profissões têm o seu valor, não sendo este o cerne da discussão, e sim por que os jovens buscam uma ou outra carreira. Ainda hoje, muitos desconhecem o papel do enfermeiro e suas atribuições. Quando fazem esta opção profissional, a grande maioria o faz pela proximidade com as demais profissões da área de saúde, especialmente a medicina. Se houver identificação com a profissão, e conforme a história de vida de cada um, prosseguem o curso e tornam-se enfermeiros; caso contrário desistem, buscando seus verdadeiros interesses. A dificuldade de aprovação no concurso vestibular constitui também um problema que os impulsiona a buscar formas de realização de um curso de nível superior, chegando à Enfermagem, visualizada por muitos como um "passaporte" para a medicina, acreditando que pela proximidade da área o seu ingresso nela (medicina) será "facilitado".

 

FÉRTIL MERCADO DE TRABALHO

O mercado de trabalho também é apontado pelos alunos como um dos fatores que os impulsionaram na opção pela área. As descrições que se seguem clarificam este aspecto:

"Um novo campo da área de saúde, que a cada ano aumenta a possibilidade de ter um bom emprego e uma maior mobilidade de ajudar ao próximo dando assistência, informação (...)." (D12)

"A enfermagem é uma das poucas carreiras onde o campo de trabalho é amplo, e o perigo do desemprego é algo preocupante neste fim de milênio." (D15)

"Minha irmã, que é enfermeira formada pela UERJ, me incentivou na escolha da enfermagem. Ela me falou das vantagens de ser uma enfermeira e também do amplo mercado de trabalho, inclusive na área militar." (D21)

Os alunos acreditam que o mercado de trabalho da enfermagem está em expansão e que, portanto, conseguirão emprego tão logo concluam seus estudos. Cabe salientar que a grande maioria dos estudantes de enfermagem pertence às camadas sociais mais baixas. Sendo assim, necessitam concluir o curso, viabilizando a obtenção dos próprios rendimentos que, muitas vezes, complementam o orçamento familiar. Este fato também deve ser considerado ao se analisar a opção feita, uma vez que aqueles que necessitam ingressar no mercado de trabalho em curto espaço de tempo buscam profissões que lhes proporcionem resultados mais imediatos. E a Enfermagem, nas últimas décadas, tem se caracterizado por absorver prontamente os formandos das universidades (públicas ou não), uma vez que o mercado de trabalho para a referida área está em franco processo de expansão. Em decorrência, freqüentemente encontramos os egressos das faculdades de enfermagem em plena atividade profissional e aparentemente satisfeitos com suas remunerações.

 

RELACIONADO AO CUIDADO E À PREVENÇÃO DE DOENÇAS

No que diz respeito ao conhecimento em relação às atividades realizadas pelo enfermeiro, os motivos da opção profissional são relativos à assistência, prevenção, e educação para a saúde. Os alunos associam as atividades do enfermeiro aos cuidados dispensados ao ser humano doente e à prevenção das doenças, conforme os relatos a seguir:

"No meu entender o enfermeiro não está relacionado somente com o cuidado direto ao paciente internado em alguma unidade de terapia. O enfermeiro tem importante papel como educador, trabalhando na prevenção e não somente na regularização de um estado de doença já existente." (D5)

"Bem, uma das atividades é a de assistência, acompanhamento dentro e fora do hospital de pacientes, auxiliador de campanhas informativas para a população, pesquisador, etc." (D12)

"A de educar, informar, esclarecer e acima de tudo, se inteirar com a população em geral" (D20)

"Cabe à enfermeira o papel de assistir ao paciente atuando no processo de prevenção, cuidados e cura. Há uma equipe responsável por cuidar de uma pessoa enferma e a enfermeira é uma dessas componentes." (D23)

Os depoimentos denotam a associação do profissional de enfermagem aos estados de saúde-doença da população em geral. Esta percepção é coerente com as informações que, em geral, são difundidas pelos profissionais da área da saúde, no desempenho de suas atribuições. Mas, nem todos os alunos tiveram a mesma compreensão do assunto, como podemos verificar a seguir:

"Até o momento de começar a cursar enfermagem achava que o enfermeiro era aquele subordinado ao médico, que não tinha poder de decisão e que não podia sair de uma "simples graduação". Ao entrar aqui percebi que o enfermeiro pode e deve atuar em áreas importantíssimas e vitais, assim como médicos e outros da área de saúde, como pesquisas, saúde pública, meio ambiente, auxílio domiciliar etc., e até fazer mestrados e doutorados." (D10)

"Com exceção da área hospitalar, tenho pouca noção do que compete ao enfermeiro em outras atividades a serem desenvolvidas pelo mesmo." (D15)

A desinformação a respeito da profissão é um dos fatores responsáveis por este resultado. Pouco se sabe acerca do profissional e suas atribuições, e este pouco fica restrito ao grupo de trabalhadores da área e ao meio acadêmico. Assim, toma-se compreensível que os alunos (e a comunidade) tenham uma imagem deturpada do enfermeiro.

 

SER ÚTIL AO PRÓXIMO, SOLIDÁRIO E EDUCADOR

A visão que os alunos têm do enfermeiro e suas atribuições estão diretamente relacionadas ao tipo de informação a que têm acesso ao optarem pela profissão. Deste modo, associam o "ser enfermeiro" a algumas conotações como ser útil ao próximo, solidário e educador. Vejamos os seus relatos:

"E ser útil ao próximo de várias maneiras (direta ou indiretamente), ajudar a salvar vidas, prevenir doenças, Tc" (D1)

"Ter um perfil profissional solidário e paciente. Gostar de cuidar e ajudar diretamente as pessoas num momento sensível de suas vidas que é a doença." (D3)

"Ser enfermeiro é fazer algo por outro, tanto no sentido de evitar que a pessoa adoeça, como reverter ou pelo menos tratar um processo já existente; tendo sempre paciência, compreensão e carinho pela pessoa que necessita da sua ajuda." (D5)

"E ser solidário, educador, visando buscar solução para os problemas da saúde." (D20)

Esta visão que o alunado tem sobre o enfermeiro está coerente com a opção profissional, ou seja, a de uma profissão em que ser solidário e útil ao próximo são os fatores mais relevantes. Como não dispõem de informações completas a respeito da profissão, acreditam que estes são os predicados profissionais de maior importância, além da atuação dos enfermeiros da área de saúde pública, colaborando para a prevenção das doenças e nas ações de educação para a saúde. Também foi considerado o papel do enfermeiro nas relações humanas como uma pessoa atenta, paciente e compreensiva:

"É uma profissão que requer muita paciência, muita disposição, atenção." (D9)

"Ser enfermeira é cuidar dos enfermos, ser compreensiva, educadora, ter um equilíbrio mental, ser eficiente." (D10)

"É ser uma pessoa que gosta muito de ensinar e cuidar dos outros, sempre com muito amor e dedicação." (D32)

Os alunos ressaltam aspectos que acreditam ser relevantes no perfil do enfermeiro como "paciência, amor, dedicação, compreensão" revelando, de certo modo, o estereótipo da enfermeira bondosa, angelical, caridosa, imagem condizente com os primórdios da história profissional, uma mistura de "mãe e santa". Apesar de ser reforçado nas Instituições formadoras a importância do zelo com a aparência e a preocupação no trato com os clientes e demais profissionais, esta imagem pouco se aproxima da realidade revelando, mais uma vez, que a desinformação sobre a profissão e seus profissionais é responsável por estas descrições.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca do alunado pela profissão de enfermeiro tem se consolidado nas últimas décadas. Os cursos das faculdades públicas oferecem, em média, 30-40 vagas por semestre, preenchidas plenamente. O índice de desistência do curso tem sido baixo porque muitos preferem concluir esta graduação, ingressar no mercado de trabalho e depois buscar outra carreira, se for o caso.

O perfil dos alunos que optam pela enfermagem é geralmente semelhante nas Instituições de ensino público: jovens de ambos os sexos (a maioria do sexo feminino), que prestaram concurso vestibular anteriormente para outras áreas, têm aptidão pela área da saúde, muitas vezes acreditando que a Enfermagem pode ser a "ponte" para atingir seu objetivo maior. Valorizam o amor ao próximo nas relações humanas e acreditam que o enfermeiro é uma pessoa capaz de doar-se, dedicar-se e compreender seu semelhante.

Ficou claro nos depoimentos que a busca pela área de enfermagem nem sempre está associada ao conhecimento sobre a profissão e as atribuições do profissional, uma vez que os alunos detém pouca (ou nenhuma) informação sobre o que é ser um enfermeiro.

Diante dos resultados obtidos, faz-se necessário que os profissionais, as Escolas e as Entidades de classe abordem mais profundamente esta temática, traçando estratégias que viabilizem a prévia divulgação da profissão e suas competências, a fim de que o alunado, devidamente orientado, busque a enfermagem e valorize suas ações, constituindo-se de fato num agente multiplicador das informações recebidas. Desta maneira, sem dúvida, estaremos contribuindo para o aumento da procura pela área, minimizando e até mesmo evitando os possíveis desajustes pela "escolha indevida".

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.DESLANDES, S.F., CRUZ NETO, O., GOMES, R., MINAYO, M.C. de S.(Organizadora). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 7. ed., Petrópolis: Vozes, 1994,80p.

2.LIMA, M.J. O que é enfermagem? 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.102p. (Coleção Primeiros Passos).

3.MENEZES, S.S., BAPTISTA, S.S., BARREIRA, LA. O perfil das(os) alunas(os) de enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery: décadas de 20, 30 e 90. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v.2, n. 1/2, p.34-47, abr./set., 1998.

4.MENEZES, S.S., LUIZ, S.F.O., BAPTISTA, S.S. Os alunos e a carreira de enfermagem: a opção possível? Colóquio Panamericano de Investigação em Enfermagem, 6, Ribeirão Preto, 1998. Anais... São Paulo: USP, 1998,273 p.

5.MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.2.ed.,São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco,1993.269 p.

6.MINZONI, M. A A profissão de enfermagem e seu significado. São Paulo: Enfermagem Atual, v. 3, n.13, p.8-9, set./out., 1980.

7.NASCIMENTO, M.A L.; SOUZA, E.E Síndromes da assistência de Enfermagem.Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v.50, n. 1, p.7-16, jan./mar., 1997.

8.RODRIGUES, AR.R., SCATENA, M.C.M., LAB ATE, R.C. O aluno ingressante na enfermagem - abordagem compreensiva. Revista de Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, v.5, n. 1, p.331 -9, mai. 1997.

9.SPINDOLA, T, MOREIRA, A. Afinal, o que é ser enfermeiro? Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. Rio de Janeiro, v.3,n. 1 ,p.98-109,abr. 1999.

© Copyright 2024 - Escola Anna Nery Revista de Enfermagem - Todos os Direitos Reservados
GN1