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Ministério da Educação
CAPES

Volume 1, Número 3, Set/Dez - 1997

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo descrever uma estratégia utilizada para melhoria do desempenho escolar dos alunos do curso de Graduação em Enfermagem.

A idéia originou-se de uma política de expansão do ensino superior, a partir da década de 70, quando ocorreu uma ampliação do número de vagas oferecidas, onde um terço destas eram para as Universidades Públicas (federais, estaduais e municipais). A maioria das vagas concentrava-se nas Regiões Sul e Sudeste do país.

Cabe ressaltar que os cursos de nível superior, baseados em uma série de estudos, nos apontam para o ingresso de alunos de variadas classes socioeconómicas; originários de um segundo grau precário que não favorece um conhecimento globalizado, dificultando que esta aluno expresse o raciocínio lógico no tocante ao conhecimento científico.

Em se tratando de Acadêmicos de Enfermagem, notou-se que são oriundos de classe social média e média-baixa, o que vêm repercutir no desempenho deficiente, acarretando, assim, reprovação e evasão dos alunos; e ainda, o afastamento das atividades culturais e científicas. Exemplificando este fato, nota-se a dificuldade de adquirir livros, o não comparecimento a teatros, museus; não ter acesso a computadores e jogos informatizados, entre outros.

Baseados neste fatos, optou-se por implantar uma proposta de um Programa de Orientação Acadêmica I (POA-I) com finalidade de desenvolver no acadêmico de Enfermagem o pensar científico-cutural, como um primeiro passo de um processo mais global no ensino de graduação (FONTANIVE, 1993).

O Programa de Orientação Acadêmica I (POA-I) tem como meta contribuir para condições mais favoráveis do processo ensino/aprendizagem, melhorando o desempenho acadêmico com a criação de um espaço político a partir do desenvolvimento de um processo de informações para diminuir reprovações, trancamentos de matrícula e evasão, conhecimento do curso desejado e do currículo através de catálogo distribuídos aos alunos; ainda estimular a participação do alunado nas bibliotecas, laboratórios científicos e de informática e espaços alternativos para atividades pedagógicas e culturais.

Partindo de uma Orientação Educacional MAC DANIEL & SHA-FTEL (1970) com significado de guiar, aconselhar o acadêmico em suas dificuldades e dúvidas o POA-I aborda conceitos socioculturais, científicos, levando a um processo contínuo para estimular a curiosidade científica e desenvolver as suas potencialidades, através de uma experiência existencial olhando para si mesmo, integrando seu passado ao presente, com vista a um futuro acadêmico mais pleno.

 

METODOLOGIA

Implantaram-se em 1992, primeiro semestre, três programas de orientações acadêmicas: POA-I, POA-II e POA-III.

No primeiro semestre de 1992 iniciou-se o POA-I, como pré-requisito para os demais; como disciplina a ser desenvolvida para os alunos que acabavam de ingressar na Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Ciências da Saúde - Escola de Enfermagem Anna Nery. O POA-I tinha os seguintes objetivos: proporcionar reflexão sobre a nova fase do estudante - a vida universitária, fornecer informações sobre os direitos do aluno e deveres com a Instituição, promover discussão sobre a profissão escolhida no que se refere à atuação profissional e ao currículo de formação; fornecer instrumentalização para o desenvolvimento do trabalho acadêmico, através de orientações para a leitura crítica de textos, treinamento para uso dos recursos da biblioteca que são multimeios e instrução sobre editoração computadorizada de textos.

O POA-I é desenvolvido com a equipe docente da Escola de Enfermagem Anna Nery; docentes, profissionais de nível técnico e analistas de sistema do Núcleo de Tecnologia e Educação para a Saúde (NUTES) e as bibliotecárias da Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde/UFRJ.

Amostra - 288 alunos, em média, com 72 alunos por semestre, oriundos do exame vestibular, inscritos no 1º semestre do Curso de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia.

Local - foi desenvolvido às terças-feiras, com carga horária de 30h, sendo 2h semanais, perfazendo 2,0 créditos. Atividades desenvolvidas em salas de aula, laboratório de informática da biblioteca, a própria biblioteca e instituições de saúde.

Método - O POA-I é desenvolvido da seguinte forma: 1º momento - apresentação do conteúdo programático; exposição de um vídeo sobre a universidade; discussão do Manual de estudante; apresentação do currículo através de um catálogo; mesa redonda onde é discutido o perfil profissional e o mercado de trabalho; visitas a instituições de saúde universitárias ligadas ao mercado de trabalho; ainda, a apresentação do relatório destas visitas; leitura, interpretação e fichamento de textos específicos da profissão. 2º momento - a turma é dividida em dois subgrupos A e B, sendo que o grupo A desenvolve atividades na biblioteca, tais como: conhecimento dos serviços na biblioteca (index, catalogação, manuseio de periódicos, manuseio do sistema SABE -Sistema de Acesso a Bases Externas), elaboração de normas bibliográficas, levantamento bibliográfico no index de um tema específico da profissão utilizado em disciplinas correlatadas do ciclo básico e Programa Curricular Interdepartamental I, utilização dos recursos audiovisuais da biblioteca.

O grupo B desenvolve atividades de introdução à informática, tais como: processamento de textos no computador em, no mínimo, seis encontros. 3º momento - troca de grupos, onde o grupo A desenvolve atividades do B e vice-versa. Os alunos entregam os trabalhos e fazem a avaliação do Programa.

Intrumento - utilizou-se de um questionário para a avaliação do Programa de Orientação Acadêmica I, que foi composto de duas partes, sendo a primeira formulada com questões sobre valores para a vida acadêmica: "contribuição para a identificação com a profissão" e "favorecimento da inserção do acadêmico no curso". A segunda parte proporcionou ao aluno avaliar "a universidade", "o currículo", "a utilização da biblioteca", "a leitura e análise de textos"... Neste questionário o alunado dava uma atribuição de valor numa escala de zero a sete para a primeira parte do instrumento. Utilizou-se a expressão discordo plenamente para o valor zero e concordo plenamente para o sete. Já na segunda parte, atribuiu-se uma nota de zero a dez para avaliar cada unidade desenvolvida. A terceira parte do instrumento era composta de perguntas abertas. (Anexo I)

 

 

Análise dos dados - os dados foram analisados através da frequência simples e percentual das respostas do questionário.

Limitações quanto ao desenvolvimento do método - no que se refere às limitações: deficiência de recursos humanos no tocante aos docentes, períodos de greves prolongadas; no que diz respeito às ações políticas: rejeição quanto a uma idéia renovadora de aprendizagem e interpretação distorcida do que era um POA nestes moldes, confundindo-a com a orientação educacional.

Deve-se ressaltar que não existiram limitações no tocante aos recursos materiais que emanam um alto custo financeiro.

 

RESULTADOS OBTIDOS

Quanto à importância para a "vida acadêmica" dos alunos respondentes, em 1992, 70,3% atribuíam a nota máxima e 80% em 1993. A obtenção destes valores demonstra a aquisição de conhecimentos quanto à carreira escolhida; ao convívio universitário; tomaram conhecimento quanto aos direitos e deveres; ou seja, calendário escolar, prazo de integralização curricular, trancamento de matrículas, tipos de bolsas a que têm direito, preservação do patrimônio universitário.

Quanto à obrigatoriedade do POA-I para os ingressantes, em 1992, 100% deram nota máxima, ou seja, deve ser obrigatório; em 1993, 77% acharam que o POA-I deveria ser uma disciplina obrigatória e 23% opinaram que o POA-I deveria ser uma disciplina eletiva.

Sobre a "aplicação de conhecimentos adquiridos" no Programa, em 1992, 43% deram nota máxima, seguidos de 37,3% para nota cinco e 31% para nota seis; em 1993, 43% deram nota máxima, seguidos de 54% para nota seis e 47% para nota cinco. Nesse item o objetivo foi incentivar os alunos a buscarem conhecimentos fora do contexto de sala de aula - prática residual do segundo grau de um ensino bancário. Numa observação empírica, pode-se afirmar que, no sentido comparativo com os acadêmicos que não fizeram o POA-I, estes primeiros têm maior iniciativa na busca de novos conhecimentos.

Em se tratando da "identificação com a profissão" e "inserção no curso", em 1992, 64,6% avaliaram com nota máxima; 73,3% com nota quatro; em 1993, 99% deram nota máxima; 53% deram nota zero. Os dados são ilustrativos quanto à dificuldade em despertar no aluno a identificação com a profissão escolhida e sua inserção no curso de graduação em enfermagem; a procura pela enfermagem perpassa pela opção "trampolim" - escolha de uma outra carreira correlata.

Ainda analisando os dados, no que se refere à "Universidade e o currículo", em 1992 pode-se considerar a nota dez atribuída como máxima 58%, seguida de 44% para a nota oito; em 1993,49% para nota dez e 45% para nota oito. Nesse item, vale a pena ressaltar o desconhecimento total que este aluno tem do contexto universitário, seu objetivo e finalidade, expressando "recepção" com a realidade encontrada, na apresentação do currículo, assustando-se com a carga horária preenchendo todo o seu tempo -não lhes permitindo tempo livre para o lazer e atividades extracurriculares, entre outras.

Em relação à "exploração da biblioteca", "leitura" e "análise de texto", em 1992 53,3% deram nota oito, seguidos de 49% para nota nove; em 1993,53% deram a nota dez e 41%, nota oito. Houve um reconhecimento da importância dessa experiência, sugerindo que essa parte fosse ministrada no início do POA-I, inclusive servindo de subsídio para aquisição de conhecimentos das demais disciplinas do ciclo básico. Em relação ao laboratório de informática, essa questão não foi incluída no instrumento de coleta de dados, em 1992; contudo, os alunos expressaram ser uma experiência de ensino-aprendizagem de grande relevância, proporcionando maior agilidade na elaboração dos trabalhos para os seminários e relatórios de pesquisas.

Em 1993, 89% deram nota dez para esta experiência.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Programa de Orientação Acadêmica I está em funcionamento há dois anos e meio. Tem sequência com o POA-II, no segundo período do Curso de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia, parte de uma reflexão sobre o papel da ciência em geral e do trabalho científico, em área específica, incluindo atividades de laboratório, elaboração e análise de relatórios de investigações científicas.

É ministrado pelo Departamento de Bioquímica do instituto de Ciências Biomédicas - CCS/UFRJ.

O POA-III tem como objetivo dar continuidade ao desenvolvimento de atitudes e habilidades inerentes ao trabalho científico, através de atividades de investigação e reflexão em temas de interesse da área profissional, ministrado no terceiro período pelo Instituto de Biofísica - CCS/UFRJ.

A percepção dos acadêmicos sobre o POA-I é a seguinte: "Esclarecimento quanto à futura atuação profissional", "permite integração com a carreira", "conhecimentos adquiridos de grande utilidade no curso", "mostra a postura que o aluno deve ter na Universidade", "permite conhecimentos dos setores do hospital universitário no primeiro período", "visitas e depoimentos de profissionais que transmitiram experiências importantes".

Concluindo, observou-se que os alunos que participaram do POA-I reconheceram a relevância dessa experiência destacaram que esse programa tem importância para sua vida acadêmica proporcionando conhecimento de sua profissão, valorizando também o ensino de informática. E mais ainda, diminuindo, o número de trancamentos de matrícula e contribuindo para um menor índice de reprovações; e fornecendo o domínio de novos conhecimentos. O POA-I teve uma alta contribuição para o desenvolvimento do raciocínio científico, ampliando a participação destes acadêmicos nos projetos de iniciação científica dos diversos Departamentos do ciclo básico e junto a pesquisadores de enfermagem.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. RIBEIRO, Sergio Costa, KLEIN, Rubem. A divisão interna da universidade: posição social das carreiras. Educação e seleção. Revista da Fundação Carlos Chagas, n. 5, p. 20 - 43, jan./jun. 1982.

2. FONTANIVE, Nilma Santos. Programa de Orientação Acadêmica. Rio de Janeiro: UFRJ/NUTES, 1993.

3. GONÇALVES, Maria da Conceição, MARTIM, Marlene Alonso. Cronograma de atividades do POA - I. Rio de Janeiro: UFRJ/ ÑUTES, 1994.

4. MAC DANIEL, Henry B, SHAFTEL, G, A. Guidance in the modern school. New York: Dryden Press, 1990.

5. MIRANDA, Cristina Maria Loyola, SAUTHIER, Jussara. Evasão:um estudo preliminar. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 42, n.1/4, p. 134 - 140, jan./dez. 1989

6. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Centro de Ciências da Saúde. Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde. Relatório de atividades 1993. Rio de Janeiro: UFRJ / NUTES 1993. 61 p.

 

1. Trabalho premiado em 2º lugar, com o prêmio Maria Bernadete Bandeira dos Santos. 3º Pesquisando em Enfermagem - Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery -maio de 1996
2. Acrescente quasquer comentários que julgue pertinente à experiência vivenciada.

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