Volume 21, Número 1, Jan/Mar - 2017
EDITORIAL
Pesquisa Quantitativa na Ciência da Enfermagem
Julia Maricela Torres Esperón 1
1 Doutora em Ciências da Saúde. Professora e Pesquisadora Titular. Escuela Nacional
de Salud Pública. La Habana, Cuba. Pós-doutoranda pela Escola de Enfermagem Anna Nery.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2016-2017. Brasil
Atualmente, escrever sobre pesquisa constitui um desafio tanto pela recorrência do tema na literatura científica, quanto pela ideia certa de que "só se aprende a pesquisar, pesquisando". Neste sentido, este editorial visa refletir um pouco sobre a utilidade da pesquisa quantitativa para a Enfermagem e também sobre a possibilidade de que esta seja mais uma opção no desenvolvimento científico de uma profissão que vem ganhando espaço no mundo científico com grande esforço através da sua evolução histórica e cultural.
Sabe-se que, na atualidade, as correntes científicas são debatidas em dois paradigmas, o quantitativo e o qualitativo, que em muitas áreas do saber estão integradas e cuja tendência para conseguir evidências cada vez mais próximas da realidade dos seres humanos passa por integrá-las, a fim de se chegar a chamada pesquisa mista, de que quem escreve é defensor, como diria Hernández Sampieri,1 "a pesquisa científica é dinâmica, variável e evolutiva".
No caso da enfermagem, a tendência da pesquisa transita desde uma perspectiva centrada na interação entre a pessoa e seu ambiente, na educação em enfermagem e nas enfermeiras, e também nas experiências das enfermeiras na atenção de pacientes com determinados problemas de saúde, que se concentram na criação e confirmação de teorias e modelos até a mais atual, de encontrar provas que podem ser usadas na prática, o que resultou na prática baseada em evidências.2,3
Nessa luta científica da profissão, os principais estudos têm sido voltados principalmente na pesquisa quantitativa, em correspondência, como é lógico, com o paradigma positivista que tem dominado a ciência por muito tempo. No entanto, nos últimos tempos, aumentaram os estudos qualitativos e talvez, ainda que em menor medida, também os estudos mistos.
A pesquisa quantitativa é aquela em que se coletam e analisam dados quantitativos sobre variáveis. Dessa forma, este tipo de pesquisa é capaz de identificar a natureza profunda das realidades, seu sistema de relações, sua estrutura dinâmica. Ela também pode determinar a força de associação ou correlação entre variáveis, a generalização e objetivação dos resultados através de uma mostra que faz inferência a uma população. Além do estudo da associação ou correlação, a pesquisa quantitativa também pode, ao seu tempo, fazer inferências causais que explicam por que as coisas acontecem ou não de uma forma determinada.4
Neste tipo de projeto, é interessante incluir os estudos de prática baseados em evidências, o que ajuda a comprovar a eficiência e a eficácia das intervenções seguras da Enfermagem.
Outra área em que estes tipos de estudos são necessários são as investigações epidemiológicas, em que a Enfermagem participa, mas ainda pode explorar muito mais, tanto na diversidade de projetos de epidemiologia, permitindo a identificação dos grupos mais vulneráveis da população, dos fatores de risco, etc., bem como na possibilidade de avaliar os efeitos de uma intervenção, como é o caso das intervenções de Enfermagem.
E há também um campo de pesquisa para a Enfermagem menos explorado, onde a tendência inicial são os estudos quantitativos e, nos últimos tempos, os estudos mistos aumentaram. Estamos falando da Investigação em Políticas e Sistemas de Saúde (IPSS), conhecida até o ano 2000 como Investigação em Sistemas e Serviços de Saúde (ISSS).
Isto se define como um campo investigativo que trata de compreender e melhorar a forma como as sociedades se organizam para atingir seus objetivos de saúde, e como diferentes atores interagem no processo de definição e implementação de políticas para conseguir que estes tenham bons resultados. É por natureza interdisciplinar, uma mistura de economia, sociologia, antropologia, ciências políticas, saúde pública e epidemiologia que, no total, se forma um olhar abrangente de como os sistemas de saúde respondem e se adaptam às mudanças introduzidas com as políticas de saúde, e como essas políticas podem influenciar - e serem gravadas por - sistemas de saúde e os determinantes da saúde.5
Estes estudos abordam áreas de conhecimento como a organização dos sistemas e serviços, a gestão dos recursos humanos e financeiros, a participação da comunidade, a acessibilidade, equidade, eficácia e eficiência e o efeito da execução das políticas de saúde. Todas estas áreas são, portanto, em consonância com a necessidade de estudos em Enfermagem que priorizem a atenção não só nos cuidados em si, mas também nas contribuições dos cuidados com a saúde das populações.
Para muitos destes estudos, é necessário utilizar as ferramentas da pesquisa quantitativa, tal como para a avaliação da qualidade do cuidado, da satisfação dos serviços, dos programas de saúde, entre outros. Daí a importância de conhecer essa área de pesquisa, complementá-la com a pesquisa qualitativa e alcançar estudos mistos centrados no cuidado com os seres humanos e seu entorno.
Reconhecer a natureza dinâmica da ciência nos leva a valorizar a necessidade de continuar empregando, sempre que necessário, a pesquisa quantitativa, como é o caso da Enfermagem, para a realização do seu desenvolvimento como ciência. Especialmente se levarmos em conta que um dos propósitos da abordagem quantitativa é estabelecer padrões de comportamento e provar teorias.
REFERÊNCIAS