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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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Ministério da Educação
CAPES

Volume 19, Número 4, Out/Dez - 2015



DOI: 10.5935/1414-8145.20150075

PESQUISA

Relação entre necessidade de adornos com satisfação com imagem corporal e autoconceito profissional da equipe de enfermagem

Ana Cláudia Puggina 1
Ana Carolina Cavalheiro 2
Jéssica Pereira Trentino 2
Paulo Francisco de Castro 1
Maria Júlia Paes da Silva 3


1 Universidade Guarulhos. Guarulhos, SP, Brasil
2 Faculdade de Medicina de Jundiaí. Jundiaí, SP, Brasil
3 Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil

Recebido em 30/04/2015
Aprovado em 06/12/2015

Autor correspondente:
Ana Cláudia Puggina
E-mail: apuggina@prof.ung.br

RESUMO

OBJETIVO: Relacionar a sensação de falta de adornos com a satisfação da imagem corporal e o autoconceito profissional dos membros da equipe de enfermagem.
MÉTODOS: Estudo analítico quantitativo. Profissionais da equipe de enfermagem (n = 46) responderam a Escala de Autoconceito Profissional, a Escala de Avaliação da Satisfação da Imagem Corporal e um questionário de caracterização.
RESULTADOS: O escore médio total da Escala de Autoconceito Profissional foi de 111,6 (± 13,3) e da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal foi de 81,6 (± 14,1). Houve diferenças estatisticamente significativas na comparação da sensação de falta de adornos nas dimensões Realização (valor de p = 0,0074), Autoconfiança (valor de p = 0,0386) e Saúde (valor de p = 0,0109) da Escala Autoconceito Profissional.
CONCLUSÃO: Indivíduos mais realizados, mais autoconfiantes, que mais percebem a influencia do trabalho na própria saúde e mais satisfeitos com a aparência não sentiram falta de adornos no ambiente hospitalar.


Palavras-chave: Imagem Corporal; Enfermagem; Autoimagem.

INTRODUÇÃO

A imagem corporal é multidimensional e suas representações são compostas tanto pelo tamanho e aparência do corpo, como também pelas respostas emocionais, sociais, culturais e satisfação em relação a essas percepções1. A Imagem corporal pode descrever muito sobre uma pessoa, dando sinais de como pode ser o seu comportamento e suas atitudes perante diferentes situações2.

Considerando, por exemplo, o tipo, a cor e o aspecto do cabelo inferências podem ser feitas. Cabelo crespo e grosso dos afrodescendentes é uma proteção contra sol quente, cabelos vermelhos significam mistério, fios brancos são sinais de velhice, cabelos soltos indicam uma personalidade mais aberta, manter os cabelos presos e só soltá-los em casa demostra uma necessidade de privacidade3.

Características físicas mais sutis no rosto do indivíduo também são sinais não verbais que compõem a imagem corporal. Sobrancelhas expressam claramente mudança no humor, sobrancelhas grossas acentuam a expressividade e são um sinal atrativo masculino. Pupilas naturalmente mais dilatadas e olhos mais brilhantes trazem mais aceitação. Existem consideráveis diferenças étnicas na forma do nariz devido ao meio-ambiente, por exemplo nariz pequeno é mais infantil e feminino. Quando envelhecemos, a posição dos nossos lábios tende a refletir a emoção dominante na nossa vida: felicidade, tristeza, raiva, depressão, entusiasmo ou tensão. Indivíduos que têm os lábios naturalmente ou artificialmente mais protuberantes e vermelhos estão automaticamente transmitindo altos sinais sexuais3.

A aparência de partes do corpo ou suas proporções também são componentes importantes da imagem corporal de um indivíduo. O pescoço feminino é mais fino e mais longo, o pescoço masculino é mais curto e mais grosso. A ombreira usada pelas mulheres nas roupas serve para dar uma percepção de força e masculinidade, ombros para baixo e para trás demostram calma e relaxamento, ombros para cima e para frente sugerem ansiedade, alerta ou hostilidade. Os braços largos são sinais de força masculina. Popularmente, quadris largos tornaram-se um símbolo da fertilidade feminina, bem como um forte sinal sexual, quadris estreitos sugerem uma imatura inocência3.

A percepção da imagem corporal está diretamente relacionada com o autoconceito profissional. Indivíduos satisfeitos podem perceber-se mais competentes e realizados, enquanto indivíduos insatisfeitos podem não mostrar tanta efetividade4. O que a pessoa pensa de si, se o mesmo se sente competente e capaz, suas ações serão refletidas em seu comportamento no ambiente de trabalho5.

A percepção do indivíduo sobre si é uma representação do que os outros veem, portanto reflete a imagem que é percebida pelo indivíduo6. A percepção e a valorização que o indivíduo tem acerca de si está diretamente relacionada com o modo como outros o veem e avaliam esses aspectos, influenciando na construção do autoconceito7. A cultura pode ser decisiva como regulação do comportamento humano em relação às crenças, atitudes, comportamentos e valores8.

Autoconceito pode ser definido como o conjunto de atitudes e crenças sobre o conhecimento e conceito sobre si mesmo, as próprias características, sentimentos e inclinações. O autoconceito é formado tanto por percepções específicas como percepções mais globais que abrangem um contexto maior da vida do indivíduo9.

Sendo assim, as pessoas desenvolvem um autoconceito para manter-se em ajuste com o mundo exterior. Por meio da interação social e do relacionamento interpessoal, o indivíduo tenta repelir conceitos de si mesmo que lhe causam dúvidas e sofrimento com relação à sua própria competência e valor, bem como, aceita mais facilmente conceitos positivos e de valorização7.

Portanto, o autoconceito apresenta a forma com que o indivíduo categoriza as informações sobre si em um caráter evolutivo, sendo capaz de reformular esses conceitos no decorrer do tempo, pois o desenvolvimento do indivíduo ocorre ao longo da vida, com base nas situações vividas e assume vários aspectos como um ser social, acadêmico, profissional, pessoal e físico7.

A formação da identidade também sofre influência de estereótipos culturais e regras de ampla aceitação social sobre a comunicação de certas cores, modelos e adornos nas diferentes situações sociais. A escolha de adornos e acessórios é orientada pelo grupo, status e função do indivíduo na sociedade. Assim, adornos também são uma forma de comunicação não verbal das intenções e sentimentos das pessoas nos diferentes contextos10.

Na prática de Enfermagem, é vedado o uso de adornos por profissionais da saúde durante a jornada de trabalho, principalmente aqueles que mantêm contato com agentes biológicos. A Norma Reguladora (NR) 32 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) considera adornos: alianças, anéis, pulseiras, relógios de uso pessoal, colares, brincos, broches, piercings expostos, gravatas e crachás pendurados com cordão. A NR 32 tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral11.

Este estudo teve como objetivo relacionar a satisfação da imagem corporal, o autoconceito profissional e a sensação de falta de adornos em membros da equipe de enfermagem.

MÉTODOS

Estudo analítico quantitativo, tendo como variáveis dependentes a satisfação da imagem corporal e o autoconceito profissional e como variáveis independentes idade, sexo, titulação, unidade de atuação, tempo de atuação, cargo, período de trabalho e a sensação de falta de adornos.

O estudo foi realizado em todas as unidades do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Jundiaí (HU-FMJ). A amostra constituiu-se de 46 profissionais: enfermeiros, técnicos e auxiliares que atenderam aos critérios de inclusão: (1) adultos de 18 a 60 anos e (2) atuar como enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem nas clínicas selecionadas para o estudo. O critério de exclusão foi ser enfermeiro com função administrativa, tais como, supervisor ou coordenador, pois a atuação em cargos superiores e gerenciais pode interferir na percepção de autoconceito e na satisfação da autoimagem do indivíduo, tornando-se um viés no estudo.

O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob o número CAAE 16977513.7.0000.5412. A equipe de enfermagem foi convidada a participar da pesquisa, os participantes foram esclarecidos quanto ao objetivo do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Foram utilizados na coleta de dados três instrumentos autoaplicáveis: instrumento de caracterização da amostra, Escala de Autoconceito Profissional e Escala de Avaliação da Satisfação da Imagem Corporal.

A Escala de Autoconceito Profissional é composta por 28 itens distribuídos em quatro fatores (Realização, Competência, Autoconfiança e Saúde). O fator Realização é definido como a percepção do indivíduo sobre o seu sucesso profissional, aspirações e ideais alcançados por meio de trabalho; o fator Competência define-se pela percepção do indivíduo sobre suas capacidades, habilidades e aptidões para realizar o seu trabalho; o fator Autoconfiança refere-se à percepção do indivíduo sobre confiança em si mesmo para realizar o seu trabalho; e o fator Saúde é relacionado à percepção do indivíduo se o trabalho ou fatos que o envolvem podem afetar sua saúde9.

Os itens da Escala de Autoconceito Profissional são mensurados por meio de uma escala tipo Likert de cinco pontos que varia de "nunca" a "sempre". Os itens da escala na dimensão Saúde possuem código reverso, ou seja, para a realização do escore total, estes itens terão que ter a pontuação invertida anteriormente9.

A Escala de Avaliação da Satisfação da Imagem Corporal é composta por 25 itens distribuídos em dois fatores (Satisfação com a aparência e Preocupação com o peso). O fator Satisfação com a aparência define o grau de satisfação com a própria aparência, tanto no que diz respeito às características intrínsecas à própria imagem corporal quanto no que se refere à repercussão desta imagem no ambiente externo, seja por meio de fotografias ou no outro e, o fator Preocupação com o peso concentra itens referentes à necessidade de regulação e controle do peso como forma de se manter ou se obter uma autoimagem ideal1.

Esta escala também possui itens negativos. Deste modo, estes itens com cargas fatoriais negativas devem ter seus escores invertidos, antes do cálculo total em cada subescala. O escore total é obtido pela soma das pontuações obtidas nas duas subescalas e, quanto maior o escore, mais positiva e maior será a satisfação com a própria imagem corporal1.

A Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal apresenta a seguinte pontuação categórica referente ao escore total: de 25 a 37 pontos (totalmente insatisfeito com a imagem corporal); de 38 a 63 pontos (insatisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal); de 64 a 88 pontos (satisfeito às vezes sim, às vezes não com a imagem corporal); de 89 a 113 pontos (satisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal) e de 114 a 125 pontos (totalmente satisfeito com a imagem corporal)1.

Os instrumentos foram entregues aos participantes e recolhidos posteriormente. Foi realizada análise descritiva (média, desvio-padrão e mediana) e análise comparativa por meio de testes estatísticos. A probabilidade de erro adotada nos testes foi de p < 0,05 e o software utilizado para análise foi o SAS versão 9.2.

A avaliação da consistência interna do questionário foi mensurada por meio do coeficiente Alpha de Cronbach. A avaliação dos domínios do questionário segundo as variáveis independentes foi realizada por meio dos testes de t de Student (quando avaliada em duas categorias) e ANOVA (para avaliação em três ou mais categorias).

Adotou-se uma técnica de input no banco de dados em que dados faltantes (missing data) foram substituídos pela moda de cada afirmativa (item) das escalas. Participantes com mais de 20% de dados não respondidos em uma única escala foram excluídos da pesquisa. Foram substituídos pela moda, 16 dados na Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal e 26 na Escala de Autoconceito Profissional na amostra estudada.

RESULTADOS

Para a amostra selecionada neste estudo, o coeficiente de consistência e validade interna da Escala de Autoconceito Profissional apresentou confiabilidade moderada (0,728), ou seja, quando o Alfa de Cronbach está entre 0,60 a 0,7512. O Alfa de Cronbach foi de 0,849 na dimensão Realização, 0,625 na dimensão Competência, 0,784 na dimensão Autoconfiança e 0,518 na dimensão Saúde.

O coeficiente de consistência e validade interna da Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal também apresentou confiabilidade moderada (0,702). O Alfa de Cronbach foi de 0,852 na dimensão Satisfação com a Aparência e 0,718 na dimensão Preocupação com o peso.

A amostra total foi de 46 profissionais da equipe de enfermagem com média de idade de 33 anos (± 8,1), tempo médio no cargo de 3 anos e 7 meses e composta apenas por mulheres (n = 46; 100%) (Tabela 1).

Tabela 1. Descrição das características estudadas
Característica N %
Sexo    
Feminino 46 100,0%
Titulação    
Técnico 32 69,6%
Graduação 8 17,4%
Especialização 6 13,0%
Cargo na instituição    
Enfermeiro 11 23,9%
Técnico de Enfermagem 9 19,6%
Auxiliar de Enfermagem 26 56,5%
Unidade de atuação    
Maternidade 14 30,4%
Centro Cirúrgico 1 2,2%
Clínica Médica/Cirúrgica 6 13,0%
Pronto Socorro 2 4,3%
Semi Intensiva Neonatal 6 13,0%
UTI Infantil 4 8,7%
UTI Neonatal 6 13,0%
Pronto Socorro Infantil 5 10,9%
UTI Adulto 2 4,3%
Período de trabalho    
Matutino 8 17,4%
Vespertino 14 30,4%
Noturno 24 52,2%
Sente falta de adornos    
Sim 31 67,4%
Não 15 32,6%
Adornos mencionados    
Aliança 11 23,9%
Pulseiras 1 2,2%
Relógio de pulso 16 34,8%
Colares 3 6,5%
Brincos 19 41,3%
Outro 1 2,2%
Tabela 1. Descrição das características estudadas

Em relação a maior titulação de cada participante, 69,6% (n = 32) possuía curso técnico, 17,4% (n = 8) graduação e 13% (n = 6) especialização. Quanto ao cargo ocupado na instituição, 56,5% (n = 26) ocupavam o cargo de auxiliar de enfermagem, 19,6% (n = 9) de técnico de enfermagem e 23,9% (n = 11) de enfermeiro (Tabela 1).

As unidades com maior frequência de atuação foram a maternidade (n = 14; 30,4%), Clínica Médica/Cirúrgica (n = 6; 13%), Semi Intensiva Neonatal (n = 6; 13%) e UTI Neonatal (n = 6; 13%). A maioria dos respondentes trabalhavam no período noturno (n = 24; 52,2%) e declararam sentir falta de adornos no período de trabalho (n = 31; 67,4%). Os adornos mais citados foram brincos (n = 19; 41,3%), relógio de pulso (n = 16; 34,8%) e aliança (n = 11; 23,9%) (Tabela 1).

O escore médio total das respostas dos participantes em relação à Escala de Autoconceito Profissional foi de 111,6 (± 13,3), acima da média aritmética do instrumento (28 + 140/2 = 84), evidenciando um bom autoconceito profissional destes indivíduos em relação à realização, competência, autoconfiança e saúde (Tabela 2).

Tabela 2. Escore total e por dimensão da Escala de Autoconceito Profissional e da Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal
Itens avaliados Nº de itens Variação do escore Média Desvio-padrão Mediana
Escala de Autoconceito Profissional          
Realização 8 8-40 32,0 5,9 33,5
Competência 6 6-30 21,2 4,2 21,0
Autoconfiança 9 9-45 40,3 4,1 41,0
Saúde 5 5-25 18,1 3,3 18,0
Total 28 28-140 111,6 13,3 113,5
Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal          
Satisfação com a aparência 18 18-90 60,1 10,1 58,0
Preocupação com o peso 7 7-35 21,5 5,7 21,5
Total 25 25-125 81,6 14,1 82,0
Tabela 2. Escore total e por dimensão da Escala de Autoconceito Profissional e da Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal

O escore médio total das respostas dos participantes em relação à Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal foi de 81,6 (± 14,1), acima da média aritmética do instrumento (25 + 125/2 = 75), demonstrando uma boa satisfação dos participantes com a imagem corporal, no entanto houve grande variabilidade de respostas expressas pelo ao alto desvio-padrão (Tabela 2).

Considerando a avaliação categórica do escore total da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal, nenhum participante estava "totalmente insatisfeito" com a imagem corporal, 8,7% (n = 4) estavam "insatisfeitos a maioria das vezes", 28,3% (n = 13) estavam "satisfeitos a maioria das vezes" e a maioria apontou estar "satisfeito às vezes sim, às vezes não" (n = 29; 63%).

Comparando-se as variáveis numéricas das características da amostra com as respostas dos participantes em cada uma das dimensões da Escala Autoconceito Profissional e da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal, não houve associações estatisticamente significativas.

No que tange à comparação das variáveis categóricas das características da amostra com as respostas dos participantes em cada uma das dimensões da Escala Autoconceito Profissional e da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal (Tabelas 3 e 4) encontrou-se diferença estatisticamente significativa na comparação dos escores na dimensão Competência com o cargo exercido na instituição (valor de p = 0,0123), mostrando que o autoconceito de competência é maior nos técnicos de enfermagem do que nos auxiliares de enfermagem e nos enfermeiros da instituição.

Tabela 3. Estudo dos domínios da Escala de Autoconceito Profissional segundo variáveis categóricas
ANOVA/*teste t de Student Realização Competência Autoconfiança Saúde
Média DP Mediana Valor de p Média DP Mediana Valor de p Média DP Mediana Valor de p Média DP Mediana Valor de p
Sexo       -       -       -       -
Feminino 31,98 5,86 33,5   21,15 4,24 21   40,3 4,08 41   10,54 2,23 11  
Maior Titulação       0,6187       0,0799       0,8034       0,6541
Técnico 31,56 5,78 33,5   20,25 4,07 20   39,94 4,51 40   10,44 2,29 10  
Graduação 32 7,11 32,5   22,75 4,56 24   41,25 3,45 42,5   10,38 2,72 10  
Especialização 34,17 4,92 33   23,83 3,43 24,5   41 2 41   11,33 1,03 11  
Cargo na instituição       0,2314       0,0123       0,889       0,838
Enfermeiro 33,27 6,63 34   23 4,17 24   41,18 2,56 41   10,82 2,36 11  
Técnico de Enfermagem 33,67 4,12 34   23,44 3,64 23   40,56 3,64 40   10,11 2,32 11  
Auxiliar de Enfermagem 30,85 5,96 30,5   19,58 3,89 19   39,85 4,74 40,5   10,58 2,21 10  
Unidade de atuação       0,5858       0,2249       0,9486       0,9763
Maternidade 31,14 6,04 31   18,36 4,27 18   39,71 4,39 40   11,36 1,86 11,5  
Centro Cirúrgico 32 - 32   25 - 25   41 - 41   11 - 11  
Clínica Médica/Cirúrgica 32,67 5,32 32   23 3,58 23,5   41,5 3,21 41   10 1,79 10,5  
Pronto Socorro 32 2,83 32   19,5 3,54 19,5   42 0 42   10,5 2,12 10,5  
Semi Intensiva Neonatal 30,83 5,71 29   22,33 2,8 21,5   41,5 3,15 41,5   10,67 2,73 9,5  
UTI Infantil 31,25 12,84 37,5   22 5,48 22,5   38,75 7,27 41,5   11 4,32 12  
UTI Neonatal 34,83 2,99 34   22,17 4,07 21,5   39,33 3,33 40   9,67 1,75 10,5  
Pronto Socorro Infantil 34,2 3,77 35   23,2 4,49 25   41 5,24 43   10 2,55 10  
UTI Adulto 26,5 2,12 26,5   21,5 3,54 21,5   39,5 4,95 39,5   9 0 9  
Período de trabalho       0,9646       0,5959       0,4637       0,8404
Matutino (Manhã) 32,63 3,74 33   22,38 2,83 23,5   40,38 4,5 41,5   10,63 2,33 10  
Vespertino (Tarde) 31,29 8,11 34   21,36 4,62 19,5   41 4,57 43   10,79 2,12 11,5  
Noite (Noturno) 32,17 5,02 32   20,63 4,45 21   39,88 3,75 40   10,38 2,34 10,5  
Sente falta de adornos       0,0074       0,2477       0,0386       0,0109
Sim 30,42 6,01 31   20,65 3,95 20   39,39 4,39 40   10,19 2,39 10  
Não 35,2 4,04 36   22,2 4,75 23   42,2 2,51 42   11,27 1,71 11  
Tabela 3. Estudo dos domínios da Escala de Autoconceito Profissional segundo variáveis categóricas
Tabela 4. Estudo dos domínios da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal segundo variáveis categóricas
ANOVA/*teste t de Student Satisfação com a aparência   Preocupação com o peso  
   
Média DP Mediana Valor de p Média DP Mediana Valor de p
Sexo       -        
Feminino 60,11 10,11 58   21,5 5,71 21,5  
Maior Titulação       0,8158       0,7551
Técnico 59,59 10,18 57,5   21,09 5,53 21  
Graduação 60,38 10,17 61   22,13 4,67 21,5  
Especialização 62,5 11,15 60,5   22,83 8,38 23  
Cargo na instituição       0,4037       0,9817
Enfermeiro 62,82 9,59 63   21,27 6,42 21  
Técnico de Enfermagem 61,89 11,82 61   21,78 6,28 22  
Auxiliar de Enfermagem 58,35 9,74 56   21,5 5,44 21,5  
Unidade de atuação       0,3369       0,72
Maternidade 58,57 7,09 55   21,71 4,95 22  
Centro Cirúrgico 49 - 49   12 - 12  
Clínica Médica/Cirúrgica 66,33 10,6 64,5   22,5 5,58 22  
Pronto Socorro 56 1,41 56   18 4,24 18  
Semi Intensiva Neonatal 54,83 13,11 54,5   19,5 6,75 17  
UTI Infantil 60,25 9,32 62,5   21,75 5,62 21  
UTI Neonatal 62,5 13,16 61   23,33 6,47 22,5  
Pronto Socorro Infantil 66,8 7,05 67   21,8 7,09 22  
UTI Adulto 53,5 16,26 53,5   24,5 7,78 24,5  
Período de trabalho       0,9581       0,7197
Matutino 60,25 11,96 61   20,75 6,94 20  
Vespertino 60,71 7,87 58   20,79 4,44 21  
Noturno 59,71 11 58,5   22,17 6,09 22  
Sente falta de adornos       0,0512       0,6451
Sim 58,1 10,36 56   21,23 6,02 21  
Não 64,27 8,43 65   22,07 5,18 22  
Tabela 4. Estudo dos domínios da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal segundo variáveis categóricas

Houve também diferenças estatisticamente significativas na comparação da sensação de falta de adornos nas dimensões Realização (valor de p = 0,0074), Autoconfiança (valor de p = 0,0386) e Saúde (valor de p = 0,0109) da Escala Autoconceito Profissional, mostrando que indivíduos mais realizados, mais autoconfiantes e que mais percebem a influencia do trabalho na própria saúde não sentiram falta de adornos.

A falta de adornos também apresentou tendência à significância na dimensão Satisfação com a aparência da Escala Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal (valor de p = 0,0512), demonstrando que indivíduos mais satisfeitos com a aparência não sentem falta de adornos no ambiente hospitalar.

DISCUSSÃO

O autoconceito profissional é um atributo individual que pode influenciar a satisfação dos membros com suas equipes e, consequentemente, influenciar sua efetividade. O autoconceito tem exercido influência sobre o comportamento humano no trabalho e sido alvo de interesse de estudiosos nas mais diversas áreas de atuação. A imagem que o trabalhador tem de si como profissional pode oferecer contribuições significativas nas relações interpessoais no ambiente de trabalho, principalmente em relação à afetividade e satisfação com a equipe4.

Um estudo foi realizado com 373 empregados de empresas de tecnologia e demonstra que a maioria (63,7%) era do sexo masculino com média de idade de 30,2 anos (± 7,4). Foram analisados os quatro fatores da Escala de autoconceito profissional: realização, competência, autoconfiança e saúde. Os resultados mostraram que os homens se percebem como mais satisfeitos, realizados, competentes e autoconfiantes que as mulheres. Além disso, os homens percebem que seu trabalho afeta sua saúde de maneira mais expressiva que as mulheres. Houve maior correlação entre realização e satisfação (r = 0,37) e menor correlação entre saúde e satisfação (r = 0,15)4.

Uma pesquisa investigou o relacionamento entre autoconceito profissional, suporte à transferência e impacto do treinamento no trabalho em participantes de duas organizações do Distrito Federal. Participaram da pesquisa 117 funcionários dos Correios e da Infraero que estavam em treinamento durante o período de coleta de dados. A coleta de dados se deu em dois momentos distintos: no primeiro dia de treinamento, quando era aplicada a Escala de Autoconceito Profissional (28 itens) e três meses após o término do curso, quando eram aplicados os instrumentos de Impacto em Amplitude do Treinamento no Trabalho (12 itens) e Suporte à Transferência (22 itens). O Autoconceito Profissional não foi preditor de Impacto de Treinamento, porém, essa variável não deve ser descartada dos modelos de avaliação, pois poderá explicar o impacto de programas de educação e encarreiramento. O autoconceito profissional pode ser uma variável promissora para o estudo do planejamento individual de carreira6.

O desenvolvimento e o envolvimento dos indivíduos em grupos de trabalho dependem de inúmeros fatores, o quanto a pessoa se sente competente na função pode ser um deles. Uma revisão integrativa constatou-se a predominância do conceito de competência profissional a partir de seus elementos constitutivos, ou seja, de conhecimentos, habilidades e atitudes; estratégias educacionais e programas de treinamento para a formação de competências como ações da gerência; e na enfermagem, o desafio de formar profissionais competentes e compromissados13. O conceito de competência vinculado à habilidade é muito comum, talvez por isso neste estudo os técnicos de enfermagem se auto avaliaram mais competentes do que auxiliares e o enfermeiro, pois são os membros que mais realizam procedimentos de Enfermagem.

Outro fator estudado nesta pesquisa que interfere na dinâmica das relações no trabalho foi a importância da satisfação ou insatisfação com imagem corporal influenciando diretamente nas relações interpessoais. A Norma Regulamentadora nº 32 (NR 32) trouxe em discussão essa questão quando proibiu o uso de adornos.

Vestimentas e adornos transmitem sinais não verbais e podem ter diferentes funções para as pessoas: decoração, proteção (tanto física quanto psicológica), instrumento de atração sexual, autoafirmação, autonegação, ocultamento, identificação grupal e exibição de status10.

Adornos e vestimentas podem interferir positivamente ou não nas relações interpessoais. Um estudo qualitativo entrevistou auxiliares de enfermagem, investigando se o uso de piercings e tatuagens afeta o cuidado prestado a adolescentes internados, bem como, identificou os significados atribuídos às essas marcas. Foram levantadas categorias em relação ao significado das marcas: comportamentos de desvio; apelo erótico e consumismo; gesto de coragem; riscos de adoecimento e doença mental. Religião e valores familiares predominaram em relação aos saberes acadêmicos na gênese das concepções acerca dos significados atribuídos às marcas corporais. Reações de reprovação dos familiares foram relatadas pela maioria dos entrevistados, neste caso, indivíduos tatuados foram caracterizados como problemáticos, inconsequentes ou desrespeitosos. Sendo assim, a visão negativa em relação às marcas parece influenciar diretamente o cuidado. No entanto, outros fatores foram determinantes na interpretação dos profissionais: quantidade de marcas, localização, tipo, idade do adolescente e caráter definitivo/transitório14.

O indivíduo constrói e desconstrói continuamente suas próprias imagens corpóreas, uma vez que cada imagem construída influencia quem está ao redor e vice-versa, ou seja, percepção, eventos diários e experiências também contribuem para sua construção. O comportamento de uma pessoa é comandado por percepções individuais construídas e sobre as quais exerce-se certo controle, e que também afetam as relações interpessoais, na medida em que se acolhe uma imagem corporal, tendo em vista a sua mobilidade e transformação constante, estabelecendo uma interface de relacionamentos que se moldam pela própria imagem e a do outro, mesclando-se numa troca de informações subjetivas que irá criar novas imagens de corpo e de mundo15.

"O fazer da Enfermagem não é unicamente técnico, não se resume a rotinas executadas em série, mas focaliza aspectos comportamentais (de adaptações e independências) e das relações humanas (interações enfermeiro/paciente, orientações, diálogos, famílias...)"16. As relações humanas são processos complexos e bidirecionais (dependem tanto do emissor quanto do receptor) e considerando essa complexidade que envolve o cuidar, torna-se importante investigações como esta, com a finalidade de levantar a satisfação corporal e autoconceito profissional da equipe de enfermagem no ambiente hospitalar.

CONCLUSÃO

A equipe de enfermagem estudada apresentou bom autoconceito profissional e está, em geral, satisfeita com a imagem corporal.

Os técnicos de enfermagem apresentaram um autoconceito de competência mais elevado do que os auxiliares de enfermagem e os enfermeiros.

Indivíduos mais realizados, mais autoconfiantes, que mais percebem a influencia do trabalho na própria saúde e mais satisfeitos com a aparência não sentiram falta de adornos no ambiente hospitalar.

AGRADECIMENTO

Financiamento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).

 

REFERÊNCIAS

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