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ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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CAPES

Volume 19, Número 3, Jul/Set - 2015



DOI: 10.5935/1414-8145.20150060

PESQUISA

Conhecimento de homens sobre o trabalho de parto e nascimento

Raimunda Maria de Melo 1
Bárbara Helena de Brito Angelo 2
Cleide Maria Pontes 2
Rosineide Santana de Brito 1


1 Universidade do Federal do Rio Grande do Norte. Natal - RN, Brasil
2 Universidade Federal de Pernambuco. Recife - PE, Brasil

Recebido em 12/06/2014
Aprovado em 17/06/2015

Autor correspondente:
Bárbara Helena de Brito Angelo
E-mail: enfabarbarabrito@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Analisar a percepção do homem/companheiro quanto à sua presença na sala de parto durante o nascimento de seu filho.
MÉTODOS: Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, de natureza qualitativa desenvolvida em um Hospital Universitário do Município de Santa Cruz/RN, Brasil. A população constou de 12 homens que estiveram presentes em sala de parto, quantitativo esse estabelecido pelo critério de saturação. Os dados emergidos foram submetidos aos preceitos da análise de conteúdo segundo Bardin, originando três categorias temáticas. Neste estudo contempla-se a categoria "conhecimento do homem sobre trabalho de parto e nascimento". A análise dos dados ocorreu à luz do Interacionismo Simbólico proposto por Blumer.
RESULTADOS: Os homens demonstraram reconhecer os sinais do trabalho de parto e declararam o choro do recém-nascido como sinal de vida.
CONCLUSÃO: A presença do homem na sala de parto favorece as relações interpessoais no momento do nascimento do filho.


Palavras-chave: Enfermagem Obstétrica; Pai; Paternidade; Parto Humanizado.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos a paternidade seguiu o caminho oposto ao da maternidade. Embora se observem mudanças culturais no âmbito do comportamento feminino e masculino, a mãe é a pessoa que cuida, oferece carinho e alimenta o filho. Enquanto isto cabe ao pai garantir o alimento e dá lições para a vida dos seus descendentes. Essas atitudes, frutos de estereótipos de gênero, desvalorizam a participação do homem no período gestacional1.

Porém, o envolvimento paterno durante a gestação vai além da provisão material, podendo ser compreendido pela sua participação em atividades direcionadas às gestantes, aos preparativos para a chegada da criança, ao apoio emocional à mulher e a sua interação com o filho. Essas ações revelam indícios de mudanças quanto à participação do homem no período gravídico da companheira, levando ao entendimento que esta fase não é restrita ao universo feminino2.

Embora gestar e parir sejam específicos à mulher, o homem na posição de companheiro e pai é receptor das alterações gravídicas puerperais vivenciadas pela mãe de seu filho. Ao estudar as modificações advindas com o nascimento do filho, considera-se o relacionamento entre homem e mulher como ponto crucial para a análise dos sentimentos suscitados ao assumir o papel de pai. Ao decidir por um filho o casal assume a gravidez consciente das alterações biológicas, contudo, desconhece as transformações psíquicas oriundas do estado gravídico, sobretudo nas relações sociais e na rotina decorrente deste fato3.

As modificações psíquicas estão relacionadas à emoção própria do momento, assim, como as responsabilidades implícitas na geração de um novo ser. O nascimento de um filho representa o auge de um processo que se inicia com a gravidez e termina quando o bebê sai do imaginário masculino e passa a ter vida concreta3.

Nesse contexto, para que o homem tenha condições de entender estas modificações e aumentar o vínculo da mãe com o filho, se faz necessário orientá-lo quanto ao seu direito de participar das consultas de pré-natal, de estar presente durante o trabalho de parto, nascimento e pós-parto4. Direito este assegurado pela Lei nº 11.108 em 07 de abril de 2005 do Ministério da Saúde, a qual garante as parturientes a presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, se assim desejar, no âmbito do Sistema Único de Saúde5.

Apesar da existência desta Lei, por vezes as rotinas institucionais são valorizadas em detrimento das necessidades da clientela, dificultando o acesso do homem à sala de parto. Em função disso, a parturiente deixa de usufruir de apoio afetivo e de cuidados capazes de proporcionar segurança emocional, além do atendimento das necessidades de hidratação, ajuda e encorajamento pelo companheiro6,7. Ademais, o homem que antecipadamente opta pela permanência na sala de parto, mobiliza-se para adquirir informações em fontes diversas a respeito da gestação e parto8.

O conhecimento quando adquirido corretamente possibilita uma tomada de decisão consciente e, sobretudo, com responsabilidade. Dessa forma, presumindo-se que as informações adquiridas pelos pais nortearão suas ações de apoio à parturiente, o estudo em questão teve como propósito investigar o conhecimento de homens sobre o trabalho de parto. Os resultados desta pesquisa oportunizarão aos profissionais de saúde melhor entendimento dos benefícios da presença do pai durante o processo parturitivo. E, consequentemente, poderão subsidiar reflexões sobre a humanização da assistência à mulher em todos os estágios do trabalho de parto.

METODOLOGIA

O estudo é exploratório, descritivo, qualitativo e foi desenvolvido em um Hospital Universitário do Município de Santa Cruz, localizado no Rio Grande do Norte, Brasil. Participaram da pesquisa 12 homens, com idade superior a 18 anos, que estiveram presentes em sala de parto, acompanharam o nascimento dos filhos e apresentaram condições psíquicas de compreender a questão norteadora. O número de entrevistados foi delimitado pelo princípio da saturação dos dados, assegurado quando os depoimentos não apresentaram nenhuma nova informação.

A coleta de informações se deu por meio de entrevista semiestruturada no período de junho a agosto de 2011. Para isto, utilizou-se um roteiro contendo questões sociodemográficas, com a finalidade de caracterizar a população estudada, e uma questão norteadora que buscou elucidar o conhecimento do homem sobre o trabalho de parto. As entrevistas tiveram duração média de 30 minutos e para sua gravação foi utilizado aparelho MP3, concomitante a coleta de dados. Ressalta-se que o instrumento de pesquisa foi pré-testado em uma população com características semelhantes relativas às condições socioeconômicas e a situação vivenciada pelos atores sociais do estudo em pauta, com o objetivo de averiguar o entendimento da questão norteadora.

Os depoimentos gravados foram transcritos na íntegra no mesmo dia da entrevista, e submetidos ao método de análise de conteúdo de Bardin, conforme a técnica de análise temática. Assim sendo, identificaram-se as unidades de significação, as quais uma vez codificadas passaram por um processo de recorte e agregação, constituindo as categorias temáticas9. De posse destas, a análise dos dados teve como base os princípios do Interacionismo Simbólico proposto por Blumer10. Optou-se por este referencial por entender que a participação do homem na sala de parto é estabelecida mediante um processo de interação social. Assim, neste setor, ele interage consigo, com a parturiente e com tudo que diz respeito ao fenômeno do nascimento.

Convém salientar que este artigo é parte de um projeto maior intitulado "Percepção de homens companheiros acerca da sua presença no nascimento do filho", o qual compreendeu a construção de três categorias temáticas. Porém, neste estudo contempla-se a categoria temática "conhecimento do homem sobre trabalho de parto e nascimento" e as subcategorias: sinais de trabalho de parto e o choro do recém-nascido como sinal de vida.

A investigação respeitou os princípios defendidos pela bioética registrados na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e do Ministério da Saúde sobre a pesquisa envolvendo seres humanos11. A sua realização ocorreu após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, (protocolo nº 041/11-P) e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) pelos entrevistados, bem como autorização para gravação das falas.

Os entrevistados foram esclarecidos sobre os objetivos e finalidades da investigação, seu caráter voluntário, a isenção de custos e de remuneração em participar da pesquisa. Também foi salientado que a pesquisa oferecia risco mínimo, pois algum constrangimento poderia surgir ao falar do parto quando diferentes emoções são afloradas. Assegurou-se ainda o anonimato e a garantia de que as falas destinavam-se a fins científicos. Para efeito de publicação, os pais foram referenciados por nomes fictícios.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Relativo às características sociodemográficas dos entrevistados, a idade variou de 22 a 45 anos, predominando a faixa etária entre 22 e 29 anos. Na renda familiar houve uma variação entre meio salário mínimo a um e meio salário mínimo entre aqueles que referiram trabalhar com carteira assinada. Os demais afirmaram renda de até três salários mínimos. A maioria possuía ensino fundamental completo e residiam com a companheira.

De modo geral, os participantes do estudo caracterizaram-se como adultos jovens, de baixo poder aquisitivo e reduzido nível de escolaridade, porém referiram conviver com suas parceiras possibilitando a identificação dos sinais do trabalho de parto e, consequentemente, o momento de ir à unidade hospitalar.

Quanto aos resultados específicos do conhecimento do homem sobre os sinais de trabalho de parto, pode-se observar que estes demonstraram reconhecer o tempo certo de conduzirem a companheira à maternidade diante dos sinais do trabalho de parto.

[...] eu sempre dizia: a gente vai ter que esperar o momento adequado, a hora certa porque a gente já conhece mais ou menos, né? As dores, no período de 10 minutos, as dores frequentes de três dores, aí é quando começa a agravar mais, aí a gente se desloca para o hospital. [...] para gente chegar realmente no momento certo, para gente não ter problema em relação a tá indo e voltando do hospital (LUIS).

[...] Ela sangrou, ficou saindo uma secreção dela, aí eu levei ela para o hospital de Serra Caiada [...] eles não fazem parto, eles encaminham para Santa Cruz ou para Natal. Aí, chegando lá a médica examinou e disse que já estava no tempo dela dá a luz ou já tinha passado (MANOEL).

[...] ela começou a ter as dores por volta de 4h30' da manhã aí a gente foi para o hospital lá de São Bento [...] chegando lá o médico examinou, fez o toque, aí disse que estava com 5cm [...] aí encaminhou para cá (ANTONIO).

Alguns entrevistados mencionaram o momento no qual a mulher começou a apresentar os prenúncios do parto. Nesse cenário, esses acontecimentos corroboram com a literatura sobre os sinais de trabalho parto: contrações uterinas dolorosas e rítmicas, no mínimo duas em cada 10 minutos, as quais se estendem em todo o útero com duração de 50 a 60 segundos; colo uterino apagado e dilatação de dois centímetros em primíparas, e nas multíparas, o colo fica semiapagado com três centímetros de dilatação. Além disto, há formação da bolsa das águas e perda do tampão mucoso12.

Os homens, atores sociais deste estudo, ao perceberem a aproximação do nascimento do filho passaram a envolver-se e a interagir com a mulher no contexto da parturição. Assim, as ações desenvolvidas por eles foram norteadas por atitudes interativas diante do sentido que a chegada do filho teve para eles. Dessa forma, a fim de compreender a ação do homem na sala de parto, se faz necessário o entendimento das relações dele consigo mesmo, com sua companheira e com tudo que diz respeito à sala de parto.

Ainda na análise dos depoimentos apresentados, observou-se que é frequente a gestante morar em uma cidade e ser referenciada a outra durante o processo parturitivo. Este fato as coloca em situação de vulnerabilidade a um desfecho insatisfatório da gravidez, haja vista a possiblidade do parto ocorrer durante o transporte com risco para mãe e bebê. Isto tende a desencadear no companheiro momentos de tensão e medo, em um contexto que deveria ser caracterizado por alegria, segurança e realização.

Embora a maioria dos participantes tenha procurado a maternidade em momento oportuno, alguns demonstraram desconhecimento dos sinais precisos desse processo, gerando idas e vindas do domicílio ao hospital:

Chegando aqui, ainda não era um momento certo de ir para o hospital, aí voltamos pra casa, continuaram as dores o dia todo, a noite toda a gente passou em claro. Foi um trabalho de parto para mim também. [...] as dores aumentaram. Sim, a gente não percebeu que a bolsa tinha estourado, a gente meio sem experiência não sabia, mas a bolsa estourou. A gente imaginou que tivesse sido a bolsa, aí a gente veio para o hospital logo cedo de manhã (TIAGO).

O conhecimento do homem acerca dos sinais e sintomas do trabalho de parto atenua a vulnerabilidade a qual a parturiente e concepto estão expostos no período antecedente ao nascimento. As falas deixaram transparecer a preocupação e cuidado dos entrevistados para com a sua mulher na ocasião em que anseiam pela chegada do filho e conjuntamente compartilham cada momento. Nesse sentido, o companheiro pode deixar-se envolver com o processo parturitivo, chegando a colocar-se na posição do outro e experienciar o trabalho de parto. Isto é compreensível quando na vivência de uma situação estabelece-se a interação do eu com o outro e com a ambiência na qual o fenômeno ocorre.

De acordo com os depoimentos os homens confortaram a companheira em trabalho de parto, com diálogo e palavras encorajadoras.

[...] As dores sempre era um pouco compassada, aí eu sempre conversando com ela, dizendo que ela era uma mulher forte, vamos botar esse menino para fora que daqui a três dias nós vamos para casa (TADEU).

O companheiro deve ser o primeiro a apoiar à mulher, pois embora em posições diferentes, ambos vivenciam o mesmo fenômeno. O homem/pai está ligado afetiva e emocionalmente à parturiente e ao filho que está por chegar. Além disso, o fato de morar no mesmo domicílio lhe conduziu a responsabilizar-se e a acompanhar a mulher até o hospital. Nesta instituição ele deve ser incentivado a permanecer ao lado de sua companheira do pré ao pós-parto, haja vista os benefícios advindos da sua presença na sala de parto.

Conforme o Ministério da Saúde o parto natural e a presença de um acompanhante são direitos constitucionais de toda mulher5. Entretanto, mesmo diante do esforço dos órgãos federados em viabilizar a garantia de tais direitos à parturiente, ao companheiro e à família, muitas vezes, o homem ou a pessoa escolhida por ela, é impedida de permanecer ao lado da mulher. Isto porque algumas instituições hospitalares ainda adotam o modelo de saúde centrado na medicina e não nas necessidades do usuário.

Esta realidade leva a considerar ser imperativo que instituições e profissionais de saúde façam valer a Lei 11.108 de 7 de abril de 2005, que trata do direito da mulher de ter um acompanhante quando em trabalho de parto, parto e pós-parto imediato nos hospitais públicos e conveniados com o SUS5. Baseada em evidência científica, a presença de acompanhante durante esse momento fornece suporte emocional e segurança à mulher e fortalece o vínculo entre os familiares, além de transmitir tranquilidade ao casal para vivenciar o fim da gestação e o anúncio da vida13.

Em suas falas, alguns participantes consideraram o choro do recém-nascido como desfecho do trabalho de parto e anúncio de vida. O choro do neonato ganhou destaque no contexto dos depoimentos, desenvolvendo nos entrevistados a concepção de que o processo parturitivo representa a vida. Ao presenciar o nascimento do filho, ao escutar o seu choro, os pais se emocionaram e ressaltaram vivenciar sentimentos de felicidade, alegria e sensação de bem estar.

Foi uma emoção muito grande, um momento inesquecível, principalmente na hora que a criança chora. Quando nasce ela está sem respirar aí tem que esperar. Quando chora é um sinal que está respirando. Demorou três a cinco segundos, foi rápido (MANOEL).

O momento do nascimento foi bom demais [...] ver ele nascendo é uma felicidade grande, ansiedade também porque eu estava muito ansioso para ver ele chorar. Daí quando eu vi ele ali na caminha, vi ele chorar, o médico segurando ele, aí pronto, foi uma emoção e junto com a felicidade imediata. [...] eu já vi em outras situações o pessoal contar que a criancinha não chorou ou a criancinha quando nasce o médico bate ou o médico bota de ponta cabeça para ele chorar, para daí limpar o pulmão (FELIPE).

O choro constitui resposta a uma determinada situação. O primeiro choro é considerado fisiológico e favorece a melhor oxigenação do sangue, a reorganização dos sistemas cardiovascular e respiratório do recém-nascido, como também ajuda na conservação da homeostase, representando para a equipe um sinal de vitalidade14. Após o nascimento, a atenção dos profissionais se volta para o estabelecimento da respiração do neonato. Pois, em situações normais o recém-nascido respira e chora anunciando a sua condição nos primeiros instantes de vida extrauterina, respondendo as expectativas e diminuindo tensões dos envolvidos nesse processo.

Estudo mostra que a mãe fica ansiosa para ouvir o choro da criança e mesmo informada quanto ao bem-estar do neonato, a sua expressão facial ainda condiz com uma interrogação. Fato este minimizado quando ela escuta o filho chorar. Tal achado corrobora com investigação cujos resultados comprovaram ser o choro uma manifestação de vida, representação de que a criança se faz viva e está saudável15.

Os entrevistados ao expressarem o seu conhecimento sobre a importância do choro do neonato deixaram claro o desejo de escutá-lo chorar. O choro do bebê se destaca entre os comportamentos iniciais por seu papel central na sobrevivência e na saúde da criança, representando o início da vida16.

O nascimento e o choro do recém-nascido possuem um valor simbólico para o pai. O choro considerado no âmbito deste trabalho pode ser a comparação de aspectos velados na vida do homem cuja efetivação ocorreu com a chegada do filho. Segundo os pais entrevistados, o choro é algo inesquecível, levando a crer que esse fenômeno ficará marcado na memória deles, conforme afirmação de um dos participantes. Isto poderá repercutir na corresponsabilidade do homem para com a criança, pois ao presenciar o nascimento do filho e ao vê-lo chorar os homens estarão mais presentes nas relações familiares. Em meio a estas relações são levados a querer cuidar igualmente da criança. Assim, a responsabilidade da mãe, que outrora cuidava sozinha do filho e ao homem cabia apenas à tarefa de provedor, seria compartilhada com o pai companheiro1.

Sobre este assunto há constatação de que os homens, mesmo sendo provedores da família, têm desempenhado ações de cuidado junto a mulher e aos filhos. Sob a ótica interacionista, tal comportamento guarda relação com o significado da companheira como também do neonato enquanto partes do seu contexto familiar17. Desse modo, o interesse e a preocupação com a integridade do núcleo familiar adquirem maior evidência, quando o filho passa a fazer parte do seu mundo real anunciado pelo choro.

A ansiedade de averiguar se o filho nasceu saudável foi conferida mediante o choro expresso pelo neonato. Além disso, trouxe a afirmação que de simples acompanhante passou para a condição de companheiro e pai, trazendo-lhe contentamento, haja vista sentirem-se felizes e emocionados por presenciarem o nascimento do filho pela primeira vez.

[...] é uma sensação ímpar, uma sensação muito boa de você pegar a sua criancinha no colo e ver que ele está ali até chorando mesmo, está sadio, tudo isso é uma sensação muito boa, boa demais até (FELIPE).

Eu cheguei normal na sala de parto, só mudou a sensação quando eu vi a criança chorar, me deu uma sensação de alegria, né? Porque a gente está vendo o filho da gente nascer pela primeira vez, eu fiquei assim, eu me emocionei, mas não chorei.

Foi uma sensação de alegria, mas não cheguei a chorar não (MATEUS).

O fato do participante não ter chorado leva a refletir sobre o quanto as pessoas do sexo masculino são sensíveis, no entanto, são obrigados a privar-se de expressar seus sentimentos. Isto é resultado de uma cultura existente ainda nos dias atuais, na qual os homens para terem sua masculinidade reconhecida tendem a reproduzir certos aspectos das marcas identitárias da masculinidade hegemônica18. Assim são modelados comportamentos, atitudes e emoções a serem apreendidos por estes. Seguir tais modelos serve para atestar a sua qualidade de homem e diminuir a possibilidade de ser questionado por outro que compartilhe desses símbolos.

No âmbito da presença do homem na sala de parto, considera-se necessário que profissionais de saúde lidem com o fenômeno do nascimento como um evento repleto de sensações. Assim sendo, os envolvidos, companheiro e parturiente, podem expressar a sua sensibilidade e dar espaço as suas emoções, pois como seres humanos são dotados de subjetividade e sentimentos que uma vez expressados, carecem de respeito e cuidado.

CONCLUSÃO

O conhecimento dos companheiros acerca do trabalho de parto e nascimento impulsionou a determinação dos participantes do presente estudo em se fazerem presentes na sala de parto e adotarem atitudes empáticas diante da sua companheira de modo a favorecer um parto tranquilo para ambos.

Contudo, o apoio e o estímulo à permanência do pai na sala de parto advindos dos profissionais de saúde não é uma realidade vivenciada pela maioria dos casais. Visando maior participação dos companheiros no cenário do nascimento do filho, se faz necessário que os profissionais atuantes na assistência obstétrica, sobretudo o enfermeiro, estejam atentos e dispostos a estimular a participação ativa dos homens no contexto da parturição.

Os resultados do estudo favorecem contribuição para o conhecimento científico sobre a presença do companheiro na sala de parto. Porém, ressalta-se a necessidade da realização de novas pesquisas sobre a temática de modo que outros aspectos do homem no cenário do nascimento sejam revelados, possibilitando o planejamento de ações voltadas para o casal na vivência do nascimento do filho.

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