Volume 19, Número 2, Abr/Jun - 2015
PESQUISA
Fatores e motivação para o consumo de bebidas alcoólicas na
adolescência
Keila do Carmo Neves
1
Maria Luiza de Oliveira Teixeira
1
Márcia de Assunção Ferreira
1
1 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro - RJ, Brasil
Recebido em 16/01/2013
Aprovado em 01/09/2014
Autor correspondente:
Keila do Carmo Neves
E-mail:
keila_arcanjo@hotmail.com
RESUMO
OBJETIVO:
Objetivou-se identificar os fatores que influenciam os adolescentes ao consumo de
bebidas alcoólicas, suas motivações e seus saberes sobre esta prática.
MÉTODOS:
Pesquisa quali-quantitativa, convergente-assistencial realizada com 21
adolescentes da cidade do Rio de Janeiro, com idade entre 12 e 18 anos.
Realizou-se entrevista semiestruturada e aplicação de um formulário com perguntas
fechadas.
RESULTADOS:
Os resultados mostraram que 18 deles consumiam bebidas alcoólicas, a cerveja é a
principal bebida consumida e a diversão, a companhia de amigos e a fuga da
realidade são as principais finalidades para o consumo. Conheciam os riscos para
si e para os outros, com deterioração do convívio social.
CONCLUSÃO:
A facilidade de acesso incentiva o consumo do álcool e, apesar de conhecerem
alguns dos riscos, consomem as bebidas, geralmente, em grupos.
Palavras-chave: Comportamento do Adolescente; Educação em Saúde; Consumo de Bebidas Alcoólicas; Cuidados de Enfermagem.
INTRODUÇÃO
A adolescência compreende uma fase de intensas transformações e descobertas que afetam os aspectos físicos, hormonais, cognitivos, sociais, culturais e emocionais. Uma fase turbulenta, conflituosa e conturbada, que corresponde ao período de construção da identidade, que sofre influência da cultura e sociedade em que o mesmo está inserido1.
O período da adolescência é marcado por diversos fatores, mas, sem dúvida, o mais importante é a tomada de consciência de um novo espaço no mundo, a entrada em uma nova realidade que produz confusão de conceitos e perda de certas referências.
O grande conflito a ser solucionado na adolescência é a chamada crise de identidade1. É exatamente essa crise e consequente confusão de identidade que fará com que o adolescente parta em busca de identificações, buscando encontrar outros iguais no mundo dos diferentes e formando seus grupos. A necessidade de dividir suas angústias e padronizar suas atitudes e ideias faz do grupo um lugar privilegiado, pois nele há uma uniformidade de comportamentos, pensamentos e hábitos.
É comum, na adolescência, uma busca por novas experiências, curiosidade por novas sensações. É nesse contexto que se inserem grandes preocupações associadas a essa fase da vida, que são os riscos relacionados ao consumo de álcool e outras drogas. Dentre todas as drogas, estudos apontam o álcool como a mais utilizada no mundo inteiro1,2. No Brasil, esse hábito está inserido na cultura e, como fato social, não é só aceito, mas, frequentemente, reforçado2.
Estudos realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), da Universidade Federal de São Paulo, mostram um quadro preocupante, com uma tendência mundial à iniciação cada vez mais precoce e de forma mais pesada, no uso abusivo de substâncias psicoativas1,2. Sendo assim, os adolescentes estão cada vez mais cedo experimentando e usando, regularmente, bebidas alcoólicas.
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu art. 813, proíba a venda de qualquer tipo de bebida alcoólica para menores de 18 anos, o número de adolescentes que já experimentaram e que consomem, com frequência, bebida alcoólica, chama a atenção até mesmo do Ministério da Saúde.
O consumo de bebidas alcoólicas, por adolescentes, tem sido alvo de diversas produções científicas, entretanto, ainda são escassas as produções que buscam identificar as influências para tal ação. Uma busca nas bases de dados LILACS, MedLine e BDENF, a partir dos descritores: [Adolescente], [Consumo de Bebidas Alcoólicas] e [Enfermagem], utilizando os operadores boleanos and e or entre os descritores resultaram em 131 artigos. Todos disponíveis em texto completo. Grande parte dos artigos encontrados está relacionada com os riscos e padrão do consumo de bebidas alcoólicas na adolescência e outros propõem estratégias de cuidado. Quanto aos fatores que influenciam os adolescentes ao consumo de álcool, não havia artigos que abordavam diretamente essa temática. Uma pesquisa realizada com estudantes de medicina do México indicou que os fatores que os influenciaram ao uso de bebidas alcoólicas e outras drogas foram: tempo livre; sentimentos como tédio; ter amigos ou haver cometido atos antissociais4.
Este estudo aborda o consumo de álcool na adolescência, com o objetivo de identificar os fatores que influenciam os adolescentes ao consumo de bebidas alcoólicas, suas motivações e seus saberes com relação a esta prática. A contribuição será no sentido de, a partir dos resultados, indicar possíveis estratégias para o desenvolvimento de intervenções eficazes para este grupo etário.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo empírico, de natureza qualitativa, apoiado em dados quantitativos. O método utilizado é a pesquisa convergente-assistencial, que une a produção de dados para pesquisa articulada ao cuidado junto à clientela, na medida em que são encontradas situações que necessitem de intervenção. A implementação deste método sempre requer a participação ativa dos sujeitos, estando orientada para a resolução ou minimização de problemas na prática ou para a realização de mudança e/ou introdução de inovação nas práticas de saúde, o que poderá levar a construções teóricas5. Dessa forma, tem-se a finalidade, especialmente, de incentivar mudanças ou melhoras nos hábitos de vida do indivíduo, de modo a promover a saúde do mesmo.
A captação dos participantes foi feita a partir de um contato inicial com três adolescentes da rede de relações interpessoais dos pesquisadores. A partir destes, outros adolescentes foram convidados pelos próprios participantes da pesquisa e, assim foi se constituindo o grupo de sujeitos. Esse método chama-se método bola de neve, em que um sujeito culturalmente recomenda outro de competência similar, repetindo-se este processo e alcançando ampla rede social a partir de novos incluídos6.
A cada um dos adolescentes foram explicados os objetivos da pesquisa, no sentido de sensibilizá-los à participação. Os critérios de inclusão foram: adolescente de ambos os sexos, idade entre 12 e 18 anos, com comunicação verbal e capacidade cognitiva preservadas. Foram convidados 26 adolescentes que atendiam critérios, no entanto, cinco deles não tiveram consentimento dos pais para participar. Nesse sentido, participaram 21 adolescentes, na faixa etária de 12 a 18 anos, que viviam em áreas urbanas da cidade do Rio de Janeiro, sendo 13 do sexo feminino e oito do sexo masculino. A predominância ficou entre 15 e 18 anos com 14 participantes.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista com a aplicação de um instrumento com questões semiestruturadas e um formulário com questões fechadas sobre o sexo, idade e hábitos relacionados à ingestão de bebidas alcoólicas. Os dados da entrevista foram submetidos à análise de conteúdo temática e os do formulário foram contabilizados por frequência simples.
Este trabalho se vincula a um projeto integrado de pesquisa, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) e Hospital Escola São Francisco de Assis (HESFA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o número de protocolo 077/07.
O anonimato dos participantes foi mantido com o uso de códigos alfa-numéricos, nos quais as letras de A a V indicam a ordem em que foram feitas as entrevistas, as letras F e M indicam o sexo (Feminino e Masculino), e os números indicam a idade dos adolescentes.
RESULTADOS
Caracterização dos participantes e do consumo de álcool
Dos 21 entrevistados, 13 eram do sexo feminino e oito do masculino. A idade variou entre 12 e 18 anos, sendo que a média foi de 15 anos, com cinco adolescentes. As idades de 12 e 13 anos tiveram dois participantes de cada idade, e as idades de 14, 16, 17 e 18 com três em cada uma delas.
Referente ao consumo de bebidas alcoólicas, 18 participantes referiram já ter consumido. Os motivos alegados para o não consumo se resumiram à falta de vontade (dois), achar errado consumi-las (dois) e não ter curiosidade em experimentar.
Em relação à idade em que ocorreu o primeiro contato com bebidas alcoólicas, constatou-se que a mesma variou entre nove e 17 anos. As idades de 10, 11 e 15 anos foram representadas por dois adolescentes cada. Três adolescentes tinham 13 anos de idade e seis outros tinham 14 anos quando experimentaram bebida alcoólica.
Dentre os lugares onde os adolescentes consumiram bebidas alcoólicas pela primeira vez, houve predominância do consumo em festa de amigos (seis), bem como na casa dos parentes durante festas familiares (seis), em festas de rua como carnaval ou baile (três) e na casa de amigos (dois). Um dos adolescentes entrevistados não se lembrou do local onde fez uso de tais bebidas pela primeira vez.
Dentre as bebidas consumidas no primeiro contato com o álcool, a cerveja apareceu como a primeira bebida consumida por oito dos adolescentes entrevistados, em seguida, o espumante consumido por quatro deles, e, também, o Ice e o vinho que foram as primeiras bebidas alcoólicas ingeridas por três dos adolescentes cada uma.
Na investigação de fatores que motivaram o consumo de bebidas alcoólicas a influência dos amigos aparece como o motivo apontado por oito dos adolescentes entrevistados. Outros motivos citados por eles foram: a curiosidade (cinco); influência familiar (dois); um brinde (dois); e ingestão, por engano, mediante a troca de copos (um).
Em relação à frequência de consumo de bebidas alcoólicas, oito adolescentes relataram ter usado apenas uma vez, sete relataram usar, às vezes, e três informaram fazer uso nos finais de semana.
No que tange a finalidade do consumo de bebidas alcoólicas seis adolescentes relataram beber para se divertir, cinco para acompanhar os amigos, dois dos entrevistados afirmaram ingerir álcool por curiosidade, um porque gosta e um referiu o uso apenas uma vez e sem finalidade.
Quando questionados se já realizaram compra de bebidas alcoólicas 14 adolescentes afirmaram que já compraram. Quanto à forma de aquisição das bebidas alcoólicas 12 adolescentes compram em bares, 11 compram em festas, seis compram em supermercados, três compram com vendedores ambulantes e dois em minimercados.
Facilidades para a aquisição
Fica evidenciada a facilidade encontrada pelos adolescentes em comprar bebidas alcoólicas, pois quando questionados acerca da existência de dificuldades de acesso para aquisição de tais bebidas, apenas quatro adolescentes informaram que tiveram dificuldades, uma vez que a lei proíbe a venda para menores de idade:
Agora, digamos que tem dificuldade sim, porque é proibido e dependendo do lugar eles pedem identidade. (UF12).
Acho que quando veem que a pessoa é menor eles não deixam comprar ou pedem documento. (MF13).
Em alguns lugares eles pedem documento. (GM17).
Uma vez eu tive problemas, o vendedor num bar pediu minha identidade e no shopping isso também aconteceu. Eu não pude comprar a cerveja. (IF18).
Saberes dos adolescentes: Riscos do uso/abuso de bebida alcoólica
As perguntas abertas geraram textos que, ao terem seus conteúdos analisados, indicaram o conhecimento dos adolescentes a respeito dos riscos trazidos do consumo da bebida alcoólica. Estes se organizaram em torno de dois núcleos de sentidos: os riscos para si e os riscos para o outro. O primeiro, muito focado na saúde física e o segundo, na deterioração do convívio social e no comprometimento da saúde/integridade física de outrem.
Os Riscos do uso/abuso de bebidas alcoólicas eram conhecidos pela maioria dos adolescentes, porém seis dos entrevistados não souberam discorrer acerca disso. Dentre os riscos citados, identificou-se que os mesmos pertenciam a dois grupos: os que se preocupavam com a saúde física e os que se dedicavam mais à vida social.
Os riscos para si: deterioração da saúde
Os principais riscos citados integravam o rol de danos ligados aos órgãos do corpo mais agredidos pelo álcool, como estômago e fígado, e aos sintomas frequentemente relatados por quem exagerava no uso das bebidas, como das dores de cabeça e náuseas, que são amplamente difundidas na mídia e experienciadas no cotidiano, por pessoas que fazem uso nocivo. Além disso, observa-se que a questão da dependência química, também, apareceu na citação dos adolescentes, mostrando que os mesmos não ignoravam o fato de a bebida ter este potencial, por ser uma droga.
Sei só de alguns riscos: cirrose, problemas no fígado e no estômago. (AF15).
Se a pessoa beber demais ela pode passar mal, pode ter doença e tem risco até de morrer, porque isso faz mal. (HF18).
Pode ter problemas no fígado e até causar cirrose. (PF15).
Sei que têm várias coisas, tipo: doenças causadas pela bebida que são problemas no fígado, no estômago e até no coração. (JM15).
Ah! pode ter danos à saúde, ao fígado ou coisa assim. (TM17).
Eu sei de cirrose, overdose, no dia seguinte da dor de cabeça, náuseas e tem danos à saúde de um modo geral. (LF15).
Além da pessoa poder se tornar um dependente químico também. (DF14).
Só sei que ele pode ficar bêbado e com o tempo se tornar dependente. (OF17).
Pode dar câncer, pode trazer vários problemas de saúde e até acabar com a vida da pessoa. (MF13).
Todos eu não sei, mas sei que tem ressaca no dia seguinte. Se usar muito pode ter cirrose e que eu saiba só. (QM16).
Problemas no fígado, o vício pode levar a esse tipo de coisa assim. (SF17).
Os riscos para o outro: Deterioração do convívio social
O consumo abusivo de álcool tem sido tema de grandes discussões, pois além de danos pessoais, esta ação apresenta riscos às pessoas que convivem com aqueles que a praticam, bem como à sociedade. Isso é confirmado pelas falas de vários adolescentes entrevistados:
De vício, entre outras coisas como misturar bebida e direção, causar acidentes e por ai vai. (GM17).
Tem também danos ao comportamento que a bebida causa. (NF16).
Danos à própria família que ele prejudica com isso. (SF17).
O cara bêbado fica maluco, muitos não se controlam e tem risco de confusão, briga, morte e outras coisas mais. (EM15).
Eu acho assim: que se a pessoa beber muito pode rolar uma briga que envolve pessoas que não tem nada a ver. (GM17).
Quando a pessoa convive com alguém que bebe a pessoa corre o risco de sofrer agressões, pode influenciar outras pessoas a beberem, causa acidentes na rua ou no trânsito, e isso coloca a família e outras pessoas em risco até porque esses acidentes podem causar mortes. (OF17).
Há problemas e riscos de convivência, agressões físicas dentro do lar, acidentes de carro e coisas do gênero. (TM17).
As pessoas que convivem com alcoólatras podem ter problemas psicológicos pelas coisas que eles passam. As preocupações e as perturbações que quem convive com pessoas que bebem têm. (JM15).
Observa-se, ainda, o relato de uma adolescente que já vivenciou situação de violência motivada pelo uso da bebida:
Eu já tive experiência com meu ex-namorado que bebeu e queria me bater. (IF18).
DISCUSSÃO
A adolescência, de fato, constitui uma fase da vida que inspira grandes preocupações, principalmente, no que se refere ao consumo de substâncias psicoativas e tem sido alvo de grandes esforços e mobilizações na produção de conhecimento a respeito desse fenômeno.
Embora seja considerada como substância lícita para consumo de pessoas adultas, o uso intenso de álcool tem estreita relação com o uso múltiplo de substâncias psicoativas. Este é um fato a ser acrescentado ao rol de preocupações geradas pelo consumo abusivo de álcool7. Estes riscos são pouco estudados no Brasil, por isso grande parte das informações obtidas acerca da temática origina-se de estudos realizados em outros países7.
A partir dos resultados obtidos, observou-se que a grande maioria dos participantes da pesquisa já teve contato com bebidas alcoólicas. Estudos revelam que o álcool é a droga mais consumida por adolescentes. Considerando-se o uso pelo menos uma vez na vida, pode-se dizer que o álcool é a droga mais consumida em todas as faixas etárias8 e, por isso essa prevalência transforma este fenômeno em um grande problema de Saúde Pública.
O primeiro contato com bebidas alcoólicas ocorrem em diversas faixas etárias. O início do consumo dessa substância ocorre em adolescentes de 14 a 17 anos. Com relação ao consumo regular os adolescentes (14-17 anos) adquiriram este comportamento em média aos 14,6 anos. Já os jovens (18-25 anos) começaram por volta de 17,3 anos9. Desse modo, observa-se, que a maioria dos participantes teve sua primeira experiência com bebidas alcoólicas aos 14 anos de idade, corroborando os dados desta pesquisa. Destaca-se, ainda, que há maior risco de consumo excessivo episódico de bebida alcoólica, internacionalmente, conhecido como binge drinking, em relação a menor idade de inicio de consumo, comprometendo a saúde dos adolescentes10,11.
A cerveja aparece como a principal bebida consumida pelos adolescentes, corroborada em estudos realizados na América Latina11,12. A responsabilidade pelo aumento do consumo de cerveja se deve ao apelo da mídia, à ampla divulgação comercial desse produto, que se torna crescente a cada dia, bem como à facilidade de acesso a mesma13.
Fica evidenciada a influência de amigos no que tange à motivação para o consumo do álcool, isso se deve à necessidade do adolescente em se enquadrar em grupos, em que existem padrões pré-determinados para fazer parte do mesmo. Isso se dá pelo fato da correlação ao uso de bebidas alcoólicas entre os jovens, nas festas e comemorações, evidenciando o apelo social ao consumo de álcool13.
A busca por amigos e a identificação com um grupo de pessoas é uma grande preocupação dos jovens, sendo notável o conceito de interação grupal entre eles. A bebida alcoólica é entendida como um meio facilitador dessa interação, atuando como um passaporte para a socialização14. A curiosidade, também, é citada como um importante fator motivacional ao consumo de álcool, uma vez que o interesse em conhecer as sensações e descobrir quais são os efeitos do álcool tem levado muitos adolescentes ao primeiro uso precocemente.
De acordo com grande parte dos adolescentes entrevistados, o consumo de bebidas alcoólicas tem a diversão, a companhia dos amigos e a fuga da realidade como as principais finalidades. As expectativas em relação aos efeitos do álcool exercem influências importantes no início e manutenção do uso de álcool e na emissão de comportamentos relacionados a este uso15,16. Essas expectativas se desenvolvem por meio de experiências diretas e indiretas com bebidas alcoólicas e exposição às propagandas, afinal antes mesmo de uma experiência direta, de fato, vão se formando expectativas a respeito do consumo de álcool.
Neste estudo, os adolescentes relataram a facilidade encontrada para aquisição das bebidas alcoólicas como um fator incentivador a esta prática. Mesmo sendo proibida a venda para menores de idade, os participantes desta pesquisa, em sua maioria, não encontram dificuldades para comprá-la.
Há uma grande preocupação em relação aos riscos causados pelo uso/abuso de bebidas alcoólicas. De um modo geral, os próprios adolescentes demonstram conhecimentos acerca dos danos causados à saúde, porém, eles também referem atenção voltada ao desenvolvimento de dependência alcoólica, bem como danos sociais decorrentes, como: riscos de violência em casa e na rua, além de riscos de agressão, colocando a pessoa que consome bebidas alcoólicas em excesso, ora como vítima e ora como agressora.
Quando se fala em uso/abuso de álcool na fase da adolescência há uma grande preocupação com o rendimento escolar8, uma vez que o consumo excessivo leva à queda acentuada no desempenho no processo ensino-aprendizagem. Adolescentes que fazem uso abusivo se ausentam com maior frequência das aulas, perdendo a totalidade do processo pedagógico. Aqueles que conseguem frequentar as aulas apresentam sonolência, lentidão e dificuldade para entender o que o professor diz. Pesquisas apontam para danos cerebrais (no hipocampo) causados pelo uso abusivo de álcool, envolvendo o aprendizado e a memória, uma vez que o hipocampo é o local do cérebro no qual a memória é formada e depois distribuída para outras áreas cerebrais8. Além disso, danos no hipocampo podem prejudicar a formação de novas memórias, o que influencia no processo de aprendizagem7.
Com isso torna-se indispensável a produção científica no que tange aos riscos do consumo de álcool em excesso, bem como a implementação de educação em saúde por meio de grupos de debates, propondo aos adolescentes experimentarem ir à festas e não consumirem bebidas alcoólicas para avaliarem a possibilidade de diversão sem a ingestão de tais bebidas, entre outras estratégias visando a promoção da saúde do adolescente, com objetivo de gerar mudança de hábitos e estilo de vida saudável.
Acerca do método da pesquisa convergente-assistencial, acrescenta-se que durante a entrevista, enquanto eram prestadas orientações surgiram diversos questionamentos de interesse dos adolescentes e discussões a respeito do tema. Com isso as intervenções realizadas trouxeram contribuições satisfatórias para os participantes da pesquisa, porém, para abordar este tema junto aos adolescentes, faz-se necessário atentar para o público alvo, de modo a conhecer as particularidades da adolescência e da dependência química nessa faixa etária.
CONCLUSÃO
À luz dos resultados obtidos se pode afirmar que a pesquisa alcançou os objetivos propostos, uma vez que identificou-se os fatores que influenciam o consumo de bebidas alcoólicas, suas motivações, bem como seus saberes e práticas relacionadas ao consumo de álcool.
Evidenciou-se que a cerveja é a principal bebida consumida e, a diversão, companhia de amigos e a fuga da realidade são as principais finalidades para o consumo. A facilidade de acesso incentiva a prática da ingestão do álcool. Nesse sentido, reforça-se a necessidade de investimento em educação em saúde junto aos adolescentes, especialmente, sobre os riscos do uso/abuso de bebidas alcoólicas, visto que eles estão em uma fase de grandes mudanças físicas, psicológicas e sociais. Portanto, investir em estratégias de educação em saúde, nessa faixa etária pode minimizar, consideravelmente, os danos causados pelo uso de álcool.
Educação em Saúde direcionada ao adolescente tem como objetivo estimular o desenvolvimento de hábitos saudáveis de vida. Desse modo, a partir da conversação e discussão do tema é possível que eles exponham suas dúvidas e saberes para que o diálogo se faça e encaminhe-se para comportamentos e práticas que visem à redução de danos a saúde dos adolescentes.
Em relação à metodologia aplicada, pode-se afirmar que teve importante representatividade nesta investigação, de modo que favoreceu a interação entre os participantes e a pesquisadora. Desse modo, possibilitou o estabelecimento de uma comunicação eficaz, na qual a educação em saúde dialógica favoreceu a melhor compreensão dos propósitos da realização de uma pesquisa convergente-assistencial, que, ao tempo em que gerou dados de pesquisa, promoveu a saúde por meio do esclarecimento sobre os riscos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Educação em saúde voltada aos adolescentes é elaborada com o objetivo de estimular o desenvolvimento de estilo de vida saudável. No caso, a prevenção do uso e abuso do álcool estaria nesse rol, sendo um desafio para as atividades de enfermagem, principalmente, pelo fato de que a adolescência ser uma fase de vida marcada por intensas transformações. Ainda mais, destaca-se que a convergência com a assistência, nesta pesquisa, vem ao encontro do que se preconiza nas atuais políticas públicas que tratam do álcool e outras drogas, as quais se voltam para a prevenção e a promoção da saúde, tendo em vista a necessidade de se fortalecer os fatores de proteção, diminuindo os riscos para o uso de tais substâncias.
Apesar de muitos dos adolescentes conhecerem alguns riscos, precisa-se de maiores investimentos para educação em saúde, uma vez que o estilo de vida adotado na adolescência pode ter impacto significativo em sua saúde na fase adulta. Isso se justifica pelo fato de que os adolescentes, em muitas das vezes, demonstram não entender que estes problemas são desencadeados em longo prazo e, que de modo geral não o acometem na fase da adolescência.
Sendo assim, a abordagem desta temática com foco na adolescência é oportuna e traz contribuições importantes. Os resultados chamam a atenção para a importância do estabelecimento de programas educacionais destinados aos adolescentes, visando à conscientização e fornecimento de esclarecimentos necessários sobre os efeitos nocivos que o consumo exagerado de bebidas alcoólicas pode causar.
As limitações da pesquisa se encontram no número de participantes, que necessitam de serem ampliados para que se tenha maior possibilidade de exploração e, ainda, que se faça uma amostragem mais significativa por idade e sexo, no sentido de se fazer afirmações mais seguras acerca do objeto de estudo e se possa estabelecer as diferenças, principalmente, no que tange aos dados entre adolescentes do sexo feminino e masculino.
REFERÊNCIAS