Volume 6, Número 3, Dez/Dez - 2002
EDITORIAL
Homenagem à OPAS nos cem anos de sua existência
Maria Antonieta Rubio TyrrellI; Vilma de CarvalhoII
IDoutora em Enfermagem, Professora Titular de Enfermagem Materno-Infantil. Diretora da EEAN/UFRJ. Presidente da ABENFO de 1996-1999 e de 1999-2002. Pesquisadora 1 B do CNPq. Membro Efetivo da ABEn e da ABENFO - Seções RJ. Membro do Comitê Nacional de Mortalidade Materna do Ministério da Saúde
IIDoutora em Enfermagem e Professora Titular de Enfermagem de Saúde Pública. Professora Emérita da UFRJ. Diretora da EEAN (1986-1989). Pesquisadora 1 A do CNPq. Membro Efetivo da ABEn-Seção RJ. Membro da Sigma Theta Tau International Honor Society of Nursing - Capítulo Rho Upsilon BRASIL - EERP/USP
Na segunda metade do século XIX, a eclosão de forças sociais emergiram de uma sociedade em mudanças, forças tendentes a transformar o mundo e, em particular, os países das Américas. Outras forças surgiram em decorrência do aumento do comércio entre as nações e da expansão do desenvolvimento científico e tecnológico. O aumento das populações nas várias nações e a movimentação dos grupos humanos da periferia para os centros urbanos manifestaram-se como uma terceira onda de forças sociais. E com isso propagaram-se grandes transformações no perfil da saúde dos povos, das famílias e dos indivíduos, com grandes epidemias e pandemias. É nesse contexto que surge a necessidade de se discutir a criação da Oficina Panamericana da Saúde (OPAS), ainda em 1890.
Inicialmente, as metas de trabalho da Oficina propunham-se como orientações para ajudar no desenvolvimento do intercâmbio comercial e de cooperação entre os países das Américas, centralizando-se sobretudo no controle dos portos e dos aspectos sanitários, as quais se ampliaram, posteriormente, com concepções sobre saúde e qualidade de vida, propostas e modelos de trabalho em saúde numa perspectiva político-social e legal.
A Enfermagem começa a demarcar seu espaço, na estrutura organizacional a partir de 1947, quando cria-se uma Seção de Enfermagem à época, na intitulada Oficina Internacional das Repúblicas Americanas, posteriormente denominada de Oficina Sanitária Panamericana. A Seção de Enfermagem da OPAS surge, assim, com o propósito fundamental de prestar cooperação técnico-científica no desenvolvimento de programas de Educação e da Prática Assistencial em vista da necessidade de atender a sua inserção nas Políticas de Saúde dos países membros da Organização.
Ao longo dos anos de evolução da OPAS, os programas de cooperação na área de enfermagem deram-se, principalmente, através de consultoria e assessoria, favorecendo outros aspectos fundamentais: estudos e diagnósticos da prática e da educação em enfermagem, contribuição ao desenvolvimento de programas de formação de recursos humanos em enfermagem e de treinamento e educação continuada. Essa contribuição foi marcante quanto aos esquemas de trabalho, aos padrões e normas para o fortalecimento de serviços de saúde, incluída a enfermagem, e, também, para desenvolvimento de processos de ampliação de cobertura das ações de saúde e de atenção primária à comunidade. Também foram visados os objetivos de fortalecimento de intercâmbios interinstitucionais na perspectiva nacional e internacional, tanto quanto o desenvolvimento de eventos técnico-científicos da área profissional. Particularmente, no Brasil, não se pode deixar de mencionar a outorga pela OPAS de bolsas de estudo para enfermeiros de ensino e de serviço em programas de viagens e de pós-graduação de curta duração. O Projeto de Livros Textos da Organização foi de valor inestimável para o desenvolvimento de Cursos e Escolas de Enfermagem.
No que concerne à Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ), com particular atenção registramos a atuação marcante da OPAS em quatro situações de interesse para a evolutiva institucional:
· Colaboração no desenvolvimento de programas para a formação de recursos humanos em enfermagem em geral e, principalmente, para a formação de enfermeiros na área de enfermagem pediátrica e obstétrica em particular.
Para exemplificar, enfatizamos três empreendimentos relevantes: a proposta de capacitação de enfermeiras obstetras e obstetrizes através da criação do Centro Interamericano de Treinamento de Enfermeiros Obstetras - CITEO, que funcionou na década de 60 até inicio da década de 70. E, na década de 90, a concessão de cooperação técnico-científica de três seminários para debater a situação da enfermagem obstétrica nos Estados do Piauí, do Pará e de Goiás.
Com efeito, no marco desses três seminários, foram implantadas três Seções da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras (ABENFO).
Ao final da década de 90, foram realizados alguns seminários para capacitação de enfermeiros pediatras na atenção básica da criança em processo de crescimento e desenvolvimento.
· Consultoria e assessoria nas discussões e elaboração de propostas de cursos de especialização, mestrado e doutorado em enfermagem.
· Patrocínio de bolsas de estudos de curta duração e de viagens ou para intercâmbio ou para aperfeiçoamento e desenvolvimento de professores em áreas prioritárias da enfermagem, principalmente de saúde pública e materno-infantil.
· Indicação de docentes da EEAN para representação institucional em eventos internacionais nas discussões das demandas de áreas temáticas para inclusão de metodologias inovadoras nos planos e programas de estudos, e no interesse da categoria profissional.
Por uma questão de justiça e de direito, é mister registrar a participação especial de Enfermeiras Assessoras da OPAS que deram sua contribuição ao Brasil e a EEAN, dentre outras personalidades, destacamos: Hilda Lozier, Nelly Rodó, Maricel Manfredi, Susana Espino, Martha Lígia Fajardo e Isabel Santos.
Nesse sentido, sem desmerecer a homenagem inequívoca que prestamos à Organização Panamericana de Saúde nos cem anos de sua existência, urge registrar nosso pesar pela redução do número expressivo de Enfermeiras Consultoras e com as quais se podia contar nos momentos decisivos do progresso da Enfermagem, nas trajetórias institucionais e nos avanços da saúde dos países em desenvolvimento. Mesmo em tempo de lutas em favor do equilíbrio sustentável, das demandas por justiça social e de ajuda aos direitos de todos, o ideal (parece-nos) seria poder dispor do potencial qualitativo e de maior número de recursos humanos de Enfermagem na Organização Panamericana da Saúde - OPAS.