Volume 18, Número 2, Abr/Jun - 2014
PESQUISA
A contribuição do acompanhante para a humanização do parto
e nascimento: percepções de puérperas
Hilana Dayana Dodou
1
Dafne Paiva Rodrigues
1
Eryjosy Marculino Guerreiro
1
Maria Vilani Cavalcante Guedes
1
Pamela Nery do Lago
1
Nayara Sousa de Mesquita
1
1 Universidade Federal do Ceará. Fortaleza - CE, Brasil
Recebido em 28/05/2013
Reapresentado em 05/11/2013
Aprovado em 27/11/2013
Autor Correspondente:
Hilana Dayana Dodou
E-mail:
loly_421@hotmail.com
RESUMO
O objetivo deste estudo foi investigar a contribuição do acompanhante durante o parto
e o nascimento, na perspectiva de puérperas.
MÉTODOS:
Estudo descritivo, qualitativo, realizado em hospital público de nível secundário
em Fortaleza-Ceará, com 20 puérperas. A coleta de dados ocorreu entre maio e junho
de 2012, por meio de entrevista semiestruturada gravada. As falas foram
organizadas e analisadas com base na análise de conteúdo de Bardin.
RESULTADOS:
A presença do acompanhante promove confiança e segurança no momento do parto,
além de ser uma fonte de apoio e força, capaz de amenizar a dor e a sensação de
solidão e gerar bem-estar emocional e físico.
CONCLUSÃO:
O cuidado proporcionado pelos acompanhantes contribuiu para a humanização do
parto e nascimento, como também trouxe conforto, calma e segurança, aliviando a
tensão das parturientes.
Palavras-chave: Parto humanizado; Parto normal; Assistência ao parto; Acompanhantes de pacientes.
INTRODUÇÃO
O nascimento é um processo marcante na vida da mulher e de todos que nele estão envolvidos (criança, pai e família), sendo influenciado pelo contexto sociocultural em que ocorre. Esse acontecimento pode ser compreendido desde a concepção do novo ser, a sua vinda ao mundo até o puerpério. Por tratar-se de um processo de transição maturacional e social, os seres humanos que o vivenciam podem necessitar de assistência profissional. Os profissionais de saúde, neste contexto, atuam no sentido de facilitar a transição, buscando promover o desenvolvimento humano e a vida em sua plenitude. A consolidação deste acontecimento ocorre por meio do parto, que, por sua vez, é um processo abrupto que causa rapidamente mudanças fisiológicas e psicológicas intensas na mulher, possibilitando a saída da criança do corpo materno para vir ao mundo.
Nesta concepção, o parto e o nascimento são momentos marcados por sentimentos profundos, com um grande potencial para estimular a formação de vínculos e provocar transformações pessoais. Assim, a presença de um acompanhante é uma prática que foi incorporada no movimento em direção à humanização do processo de nascimento, fornecendo aspectos positivos, tanto para os profissionais de saúde como para os pais e as crianças1.
Em relação ao cuidado prestado à mulher na assistência ao parto e nascimento, este vem sofrendo muitas modificações ao longo dos tempos, decorrentes da institucionalização desses acontecimentos e dos avanços tecnológicos e científicos na área da obstetrícia. Com isso, esses eventos deixaram de acontecer no âmbito familiar, em que as pessoas estavam ligadas por fortes vínculos familiares e suportes sociais e passaram a ocorrer em instituições hospitalares, com o controle do parto e do comportamento da parturiente. Esse novo modelo de atenção ao parto causou o esquecimento e abandono de algumas práticas que possibilitavam que o nascimento do bebê tivesse para a mulher e sua família um significado além do biológico, configurando na desumanização da assistência ao parto e nascimento.
A partir desta visível necessidade de mudança na atenção ao parto, em 1980, iniciou-se um movimento organizado para priorizar as tecnologias apropriadas na assistência à parturiente e a sua qualidade. No Brasil, esse movimento recebeu a denominação de humanização do parto. Dentre as práticas que foram preconizadas, há a possibilidade da parturiente escolher a pessoa que a acompanhará na maternidade, conforme recomendam o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde2.
Essa atenção humanizada à parturiente envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que objetivam promover um parto e nascimento saudáveis, com garantia de que a equipe de saúde realize procedimentos comprovadamente benéficos para mãe-filho, evitando, dessa forma, intervenções desnecessárias e preservando a privacidade, autonomia e direitos das mulheres3.
A participação do acompanhante no processo de parturição da mulher antes se detinha àquelas instituições que permitiam e tinham condições para tal. Porém, há algum tempo esse direito vem sendo assegurado pela lei 11.108, de 2005. Essa lei regulamenta que os serviços do Sistema Único de Saúde, da rede própria ou conveniada, devem permitir a presença, junto à mulher, de um acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Além disso, garante que tal acompanhante deve ser escolhido pela parturiente4.
O surgimento dessa lei e o incentivo à participação do acompanhante ocorreram devido ao reconhecimento de que essa prática contribui para a humanização do parto e nascimento. Acredita-se que a vivência de mulheres que tiveram a oportunidade de ter alguém que escolheram ao seu lado durante esses eventos é diferente das que vivenciaram essa experiência sozinha, mesmo que os profissionais envolvidos no processo tenham oferecido o cuidado e conforto necessário. O respeito da escolha da mulher sobre seu acompanhante foi classificado como uma prática comprovadamente útil e que deve ser estimulada, pois possui base em evidências científicas2.
Nesse contexto, diversos estudos demonstram que a parturiente necessita de um suporte contínuo durante todo o parto, e que, quando este suporte era proporcionado por um membro da família, as mulheres eram mais propensas a relatarem avaliações positivas da experiência do nascimento, sentindo-se mais satisfeitas e felizes. A presença do acompanhante nestes momentos configurou-se como uma forma de levar apoio e segurança às mulheres que os vivenciam e de humanizar a assistência oferecida a essas usuárias1,5,6.
As pesquisas recentes evidenciam que o acompanhamento da parturiente por um familiar durante o parto contribui para o bem-estar físico e emocional dessa mulher. A presença do acompanhante fornece o apoio emocional que a mulher necessita para vivenciar este momento, oferecendo conforto e encorajamento, o que permite reduzir os sentimentos de solidão, a ansiedade e os níveis de estresse causados pela vulnerabilidade da mulher e outros fatores, como desconforto durante o trabalho de parto, medo diante do que está por vir, ambiente não familiar e contato com pessoas desconhecidas. O apoio contínuo durante o parto e o nascimento também contribui para elevar a autoestima da mulher1,5,6.
Além disso, os resultados dos estudos comprovam a importância do acompanhamento do parto e nascimento para o bem-estar físico da mulher, pois tal assistência contribui para o alívio da dor e da tensão, índices de Apgar aos 5 minutos maior que 7, diminuição do tempo do trabalho de parto, redução de complicações, do número de cesarianas, e do uso de analgesia e ocitocina, oferecendo, assim, tranquilidade e segurança à parturiente e concorrendo para a redução do risco de depressão pós-parto1,6,7.
Na tentativa de refletir acerca da humanização da atenção ao parto, surge a seguinte questão norteadora: qual a contribuição do acompanhante durante o parto e o nascimento na perspectiva de puérperas? O estudo é relevante por buscar ratificar, a partir da realidade de um grupo de usuárias, os benefícios ocasionados por tal prática, já recomendada pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde. Além disso, espera-se que os resultados desta pesquisa sirvam como base para o incentivo à presença do acompanhante durante o parto nas instituições de saúde que ainda não exercem essa prática.
Nessa perspectiva, este estudo teve por objetivo investigar a contribuição do acompanhante durante o parto e o nascimento, a partir do relato de puérperas internadas no alojamento conjunto de uma maternidade.
MÉTODO
O estudo é descritivo, com abordagem qualitativa, pois pretendeu descrever as características de uma determinada população, conhecendo suas percepções acerca do tema abordado. A escolha deste tipo de estudo se deu pela possibilidade de explorar uma situação ainda não conhecida, na qual se tem necessidade de maiores informações. Foi realizado em um hospital público de nível secundário, do município de Fortaleza/CE. A escolha deste local deu-se ao fato de ser referência na humanização da assistência materna e infantil. Um dos principais programas desenvolvidos pela instituição com esse intuito é o Projeto "Parto que te quero perto", estimulando a participação do pai do recém-nascido ao longo de todo o processo gestacional.
A pesquisa ocorreu na unidade de alojamento conjunto, que é um local destinado a atender mulheres no pós-parto imediato, por um período mínimo de 24 horas em caso de parto normal e 48 horas em parto cesariano. Participaram desse estudo vinte puérperas internadas na unidade de alojamento conjunto da referida instituição, levando em consideração a recorrência das informações obtidas por saturação teórica8. Os critérios de inclusão das participantes do estudo foram: idade igual ou maior que 18 anos, ter realizado parto normal no centro obstétrico da referida instituição, e em internação na unidade de alojamento conjunto. Os critérios de exclusão foram: puérperas com transtornos mentais ou déficits cognitivos, puérperas cujos bebês foram a óbito, ou que tiveram Apgar baixo, ou ainda, que precisaram de transferência para a UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal).
A obtenção das informações ocorreu no período de maio a junho de 2012, mediante o uso da técnica de entrevista semiestruturada, gravada e guiada por um roteiro, tendo sido efetuadas após explicação da pesquisa à puérpera e sua concordância em participar da mesma. A realização destas entrevistas ocorreu em um ambiente reservado, localizado no pátio da unidade, distante do posto de enfermagem, dos profissionais e demais puérperas, para que a mulher se sentisse mais confortável em responder às perguntas. O instrumento para a realização da pesquisa foi desenvolvido especialmente para esse estudo, e abrangeu além de informações socioeconômicas e obstétricas das participantes (idade, estado civil, ocupação, procedência, renda familiar, número de gestações, partos e abortos), perguntas relacionadas à importância e à contribuição do acompanhante no parto. As perguntas constantes no roteiro da entrevista foram: Você quis que alguém lhe acompanhasse no momento do parto? Qual a importância disso para você? Qual foi a contribuição do seu acompanhante para o parto e o nascimento do seu filho?
A busca das fontes científicas para a contextualização do objeto e para a discussão dos resultados deste estudo foi realizada nas bases de dados LILACS e MedLine, disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e nas Bibliotecas SciELO e Cochrane, utilizando os descritores parto humanizado e acompanhantes de pacientes, nos últimos cinco anos.
A pesquisa foi iniciada após a autorização da instituição e do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará (UECE) com Parecer nº 26941 de 14 de maio de 2012. Foram respeitados os aspectos éticos e legais preconizados pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e as puérperas foram convidadas a participar da pesquisa, aquelas que aceitaram o convite assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido9. As entrevistadas foram identificadas nas falas pela letra E, seguida do número arábico correspondente à ordem em que as entrevistas foram realizadas.
Os achados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin10, elegendo-se a análise categorial, que a partir de um título genérico, reúne grupos de elementos, cujo agrupamento é efetuado em razão dos caracteres comuns de seus elementos. A pré-análise consistiu na leitura das entrevistas que foram analisadas, retomando o objetivo do estudo. Para a exploração dos depoimentos foi realizada a codificação, que consistiu no recorte das unidades de registro e de contexto das falas das participantes e agregação dos conteúdos emergidos em categorias. O tratamento dos resultados foi realizado mediante a organização desses nas categorias emergidas. A interpretação e discussão das categorias encontradas foram feitas com o suporte da literatura científica existente sobre o assunto.
A análise das falas oriundas das entrevistas convergiu para o estabelecimento de três categorias: O acompanhante como amenizador do sentimento de solidão e do sofrimento; A atuação do acompanhante no trabalho de parto e parto; Sentimentos de confiança e segurança ao ter um acompanhante.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil das participantes do estudo e de seus acompanhantes
A faixa etária das participantes do estudo foi de 18 a 35 anos, com média de 26,6 anos de idade. Quanto à situação conjugal, cinco se disseram solteiras, e 15 eram casadas. Com isso, observa-se que a maior parte das mulheres eram adultas jovens e casadas, o que é um fator bastante positivo, pois indica que essas mulheres tinham um companheiro, aumentando as chances de ter tido o apoio e o suporte necessário durante a gestação e o parto.
Em relação à ocupação das puérperas, 11 relataram serem donas de casa, não exercendo nenhuma atividade fora do lar. As outras nove mulheres relataram trabalhar exercendo diversas funções, entre elas doméstica, vendedora, costureira, auxiliar de produção e auxiliar de salão. Quanto à renda familiar, observou-se a seguinte distribuição: duas puérperas tinham uma renda inferior a um salário mínimo; nove tinham uma renda correspondente a um salário mínimo; oito tinham renda maior que um salário mínimo e inferior ou igual a dois salários, e somente uma participante relatou ter renda superior a dois salários mínimos.
Ao serem questionadas quanto à paridade, percebeu-se uma diferença pouca significativa, sendo onze mulheres multíparas e nove primíparas. O tempo de trabalho de parto após entrada no serviço de saúde variou entre cinco minutos e oito horas, sendo a média de 3,6 horas.
Todas as participantes do estudo tiveram o direito a um acompanhante respeitado pela instituição. Das vinte puérperas entrevistadas, dezesseis informaram terem tido uma pessoa da sua escolha em todos os momentos dentro do hospital. Quanto aos motivos que levaram quatro participantes a não terem um acompanhante, o principal foi que não tinham ninguém que pudesse lhes acompanhar.
Além disso, a escolha deste acompanhante pela mulher não é algo simples, pois envolve diversos fatores; apesar de que o vínculo e a capacidade de apoiá-la nesses momentos deveriam ser os únicos fatores condicionantes dessa escolha, na prática não é isso que ocorre. Evidenciou-se que nem sempre as mulheres foram acompanhadas por quem gostariam, pois o trabalho impossibilitava os pais de seus filhos de participarem destes eventos. Em outros casos, os possíveis acompanhantes tinham que assumir funções novas, como o cuidado do lar e dos filhos da parturiente, enquanto esta estaria internada.
Pôde-se constatar também que todos os acompanhantes eram pessoas que tinham algum vínculo familiar com a mulher. Dentre eles, duas eram mães das parturientes, duas irmãs, três tinham outro grau de parentesco (tia, sogra, concunhada) e nove eram os pais do bebê, o que representa um total de 56,3% de participação paterna e 43,7% de participação feminina no acompanhamento dos partos na realidade desse estudo.
Observa-se, assim, que a participação paterna foi significativa, o que é um fato importante, pois o pai, além de participar, também pode contribuir para este momento, uma vez que é a oportunidade de desenvolver o vínculo com a criança desde o nascimento, compartilhar as responsabilidades com a companheira e vivenciar o momento do parto, já que esse é um acontecimento único na vida do casal, e não só da mulher. Esse aumento na participação dos homens como acompanhantes pode se dever ao incentivo que o hospital realiza.
O acompanhante como amenizador do sentimento de solidão e do sofrimento
Quanto à importância atribuída pelas entrevistadas à presença do acompanhante durante o trabalho de parto e o parto, identificou-se como núcleo de sentido "não se sentir sozinha", apresentado na fala de várias puérperas:
Se eu tivesse só, não tinha acontecido nunca assim, ia demorar muito mais (E1).
Meu esposo ficou comigo. [...] A gente se sente mais segura e bem melhor. [...] Imagine você sozinha sentindo aquelas dores, sozinha numa mesa de parto, é horrível (E2).
Você tá passando a dor e saber que tem uma pessoa segurando a tua mão é uma coisa, né, você passar sozinha é outra (E3).
A minha cocunhada tava comigo na hora do parto. [...] Foi ótimo, Ave Maria, porque pelo menos a gente dividia as dor. Ter alguém conhecido perto ajudou muito (E4).
O fato de ter alguém para compartilhar o momento de dificuldade vivenciado é considerado importante pelas mulheres no puerpério imediato, uma vez que mencionam em suas falas a necessidade de dividir a experiência que descrevem como dor e sofrimento, como se o fato de ter alguém ao lado contribuísse pelo menos para amenizar a sensação de solidão11.
Um estudo realizado em Curitiba-PR demonstrou que as mulheres que não têm a presença de um familiar de forma contínua durante o processo de nascimento referiram sentimentos de solidão e se sentiram mais vulneráveis, mesmo na presença de profissionais de saúde. Em relação às mulheres acompanhadas, a presença de um pessoa de confiança durante o processo de nascimento propiciou o sentimento de segurança e, somado a isso, o estabelecimento de uma comunicação efetiva com os outros, fazendo com que a mulher se sentisse menos vulnerável a sentimentos de solidão e dando-lhe a oportunidade de se expressar livremente1.
Diversos outros estudos realizados em âmbito nacional e internacional também tem mostrado que a participação do acompanhante durante o processo de parturição envolve principalmente a questão do apoio emocional, que a equipe de saúde nem sempre tem condições e tempo para oferecer à parturiente1,3,5,6,7. Nessa perspectiva, compartilhar este momento do parto e nascimento, contando com a parceria do acompanhante, pode ser um facilitador do trabalho de parto para a parturiente.
A puérpera E1 foi mais além ao definir a importância do acompanhante, pois relatou que, sem a presença do seu companheiro, o sofrimento teria sido maior, o nascimento da criança poderia ter demorado mais, e talvez ela nem tivesse conseguido parir:
Eu acho que se ele não estivesse estado comigo eu não teria conseguido. Porque tava muito difícil, eu tava achando realmente que não ia conseguir. Se ele não estivesse lá o tempo todo, eu acho que teria sofrido muito mais. [...] Se eu tivesse só, não tinha acontecido nunca assim, ia demorar muito mais (E1).
De acordo com outros autores a presença de um acompanhante, de escolha da parturiente, durante toda a sua internação em uma maternidade, e principalmente durante o trabalho de parto, contribui para a humanização do parto e do nascimento, pois além de facilitar e tornar mais agradável esse momento para a mulher, oferece o suporte emocional que ela precisa1,12. É uma das maneiras de a mulher encontrar forças para levar o parto de forma mais tranquila e calma, diminuindo a ansiedade, e, assim, tornar o nascimento o mais "natural" possível1,12,13.
O nascimento de um filho possui diversos significados tanto para o homem quanto para a mulher. Compartilhar essa experiência certamente trará ao casal o fortalecimento de sua relação, uma vez que o apoio do homem dado à mulher durante todo esse processo será fundamental14. Esse apoio torna-se mais significativo ainda, porque ela teve direito à escolha de uma pessoa de sua confiança e vínculo para permanecer ao seu lado ao longo de todo o processo fisiológico de trabalho de parto até o momento de parir. A presença familiar durante este momento contribui para a segurança, conforto e tranquilidade da mulher14,15.
Outras pesquisas desenvolvidas recentemente também demonstraram que o acompanhante proporciona à mulher maior segurança e conforto durante o parto e nascimento e, além disso, também tem contribuído para a redução de complicações, de taxas de cesariana, do uso de analgesia, da duração do trabalho de parto, redução do tempo de internação, incentivo ao aleitamento materno, menor risco de depressão pós-parto, além de desenvolver na parturiente uma percepção positiva desse processo1,6,7,13. A partir disto, percebe-se a presença do acompanhante como benéfica no parto e nascimento, sendo vista como um diferencial no modelo de parto humanizado, capaz de proporcionar à parturiente inúmeros benefícios durante todo o processo, permitindo que a mulher visualize a parturição de forma mais segura e protegida.
A atuação do acompanhante no trabalho de parto e parto
Os depoimentos seguintes detalham a forma de participação dos acompanhantes durante o trabalho de parto e parto. Dentre as atividades desenvolvidas pelos acompanhantes, citadas por elas, destacam-se: segurar a mão, oferecer apoio, ajuda durante a realização dos exercícios e a realização de massagens para o alívio das dores.
[...] Ter alguém conhecido perto, ajudou muito, que a dor dá e ela dava massagem nas suas costas (E4).
[...] Quem ficou foi minha tia. Mas ela me deu bastante apoio e tudo, depois que ela chegou foi que eu fiquei mais calma (E5).
Meu esposo, foi bom né, me senti um pouco aliviada do que estar só, né, ele ajudou bastante, eu segurava muito a mão dele, né [...] Ele me dizia que eu tivesse paciência e força que ia sair bem (E6).
Minha sogra ficou comigo, ela assistiu, tirou foto e tudo, porque meu esposo não conseguiria assistir, é muito nervoso [...] Ela já gosta de acompanhar mulheres quando vai ter bebê [...] É muito bom o acompanhante na hora dos exercícios, porque você precisa de ajuda, né, pra caminhar [...] Você tem um apoio, não se sente sozinha (E7).
Essas falas demonstram que a participação do acompanhante torna o processo do nascimento mais tranquilo, pois o apoio proporcionado permite que a mulher se sinta mais segura, pela presença de outra pessoa que contribui para o seu cuidado e que atende a suas necessidades. A presença do acompanhante também contribui para tornar o parto e o nascimento mais humanizados, uma vez que essas pessoas adotam atitudes que se perderam ao longo do tempo no cuidado à parturiente, como o respeito às suas demandas, interesse pelos sentimentos vivenciados pela mulher, e o tratamento carinhoso e humano através do toque, que é representado nessas falas pelo ato de segurar a mão e de massagear as costas.
Esse suporte físico proporcionado pelo acompanhante também foi relatado em outros estudos, a literatura aponta para este tipo de apoio como sendo um benefício para o bom desenvolvimento do parto. O suporte físico que o companheiro proporciona é por meio de ações que envolvem o toque, a massagem, o segurar a mão, proporcionando motivação para a parturiente, a deambulação, mudanças de posição, procurando assim oferecer conforto físico para a mulher vivenciar de forma mais tranquila e gratificante o processo de nascimento1,7.
Nesta categoria evidencia-se também que o acompanhante pode constituir mais do que simples presença se for permitida a sua participação ativa durante o processo parturitivo. Nesta condição ele deixa de ser considerado mero representante fiscalizador da assistência obstétrica, para assumir o status na rede social de provedor do suporte à parturiente3. Pode-se constatar, assim, que o valor do acompanhante é percebido na prática, não apenas quanto ao estar próximo, mas quando ele é incluído nos cuidados à mulher, como ser integrante daquele momento15.
Desta maneira, é possível um acompanhamento mais amplo e significativo para a mulher e para o momento vivido, de forma que o acompanhante não esteja somente fisicamente presente, mas que possa interagir e ser ativo na sua atuação.
As puérperas expressaram a importância de serem acompanhadas por pessoas mais experientes, ou que já vivenciaram o acontecimento do parto e nascimento. Essa importância foi atribuída aos conselhos que receberam e ao fato de terem sido orientadas a como proceder durante o trabalho de parto por suas acompanhantes.
A minha tia que tava me acompanhando. É fundamental, sabia? [...] A minha tia pelo fato dela ser calma, ter mais experiência, ela me passou mais segurança mesmo. Tudo que ela mandava eu fazer, eu fazia. Foi assim que a minha filha nasceu mais rápido também (E5).
[...] Me agarrei na minha mãe, é bom porque ela me acalmava me aconselhava, e como era o primeiro filho eu tava muito nervosa, eu tava com muito calor e ela ficava me abanando (E8).
A família como coparticipante durante o ciclo gravídico-puerperal, sobretudo no trabalho de parto, favorece a autonomia da mulher e direciona o cuidado a ser prestado, centrado nas necessidades de cuidado e nas experiências das mulheres16.
Sobre isso, algumas pesquisas mostram que as puérperas valorizam mais a participação de mulheres no acompanhamento do seu parto, principalmente a presença das suas mães. De acordo com esses estudos, as puérperas relataram terem recebido mais apoio e informações de como deveriam se comportar e conduzir o seu parto quando foram acompanhadas por suas mães, ou pessoas mais experientes, que também já vivenciaram a maternidade. Isso ocorre porque essas mulheres fazem uso das suas experiências e conhecimentos socialmente aceitos para ajudar as filhas a vivenciar este momento. Assim, o parto e o nascimento podem ser favorecidos quando a parturiente leva em consideração os conselhos e orientações de pessoas com mais experiência1,11.
As situações que proporcionam à mulher relaxamento, informações e contato com uma pessoa de sua confiança fazem-na sentir-se mais confortável para vivenciar o nascimento do filho. A possibilidade de desfrutar de situações de cuidado e conforto, principalmente aquelas oferecidas por pessoas com as quais ela possui vínculo, gera elevação da autoestima e sensação de apoio, que resultam em satisfação e segurança. O alcance do bem-estar acontece quando a parturiente se sente amada e respeitada11.
Sentimentos de confiança e segurança ao ter um acompanhante
As puérperas relataram que a presença de uma pessoa conhecida e querida lhe acompanhando despertou em si sentimentos de confiança e segurança.
[...] Você se sente mais confiante de ter uma pessoa conhecida por perto, fiquei com meu esposo, isso ajudou muito, porque a gente se sente mais segura, né, você sabe que tem uma pessoa ali contigo ali, isso é essencial (E3).
Meu esposo, mas ele não aguentou não, assim que a nenê começou a sair ele saiu fora [...] Ele viu, né, tudo que a gente passa e sofre pra ter um filho [...] É importante, porque a gente se sente mais segura, né, se acontecer alguma coisa o pessoal já tá sabendo que aconteceu alguma coisa (E9).
[...] Minha irmã. A gente fica segura, sente melhor. E realmente foi diferente do meu primeiro neném, a gente fica mais confiante (E10).
[...] Minha irmã. A gente sente mais segura, ter uma pessoa da nossa família, assim do nosso lado (E11).
Era minha mãe que ficou comigo. Me senti mais segura [...] E eu "chama minha mãe", aí elas deram o telefone pra eu ligar pra minha mãe pra saber onde ela tava (E12).
Percebe-se que escolher o acompanhante para vivenciar o nascimento do filho ultrapassa o significado de companhia, pois o que se verifica é a importância que as participantes desse estudo atribuíram ao vínculo com a pessoa escolhida. A confiança se apresenta como um dos requisitos que influenciam a escolha, pois, para as parturientes, o nascimento deve ser compartilhado com alguém que perceba a importância desse momento tão especial, e que tenha algum laço familiar que o ligue a esse momento.
Outros estudos também evidenciaram que a presença de um acompanhante junto à parturiente durante o parto transmitiu a sensação de segurança e confiança a essas mulheres, proporcionando benefícios físicos e emocionais na percepção destas1,5,6,7,11.
O respeito à escolha da mulher sobre seu acompanhante é classificado como uma prática comprovadamente útil e que deve ser estimulada. Segundo diversos autores, a viabilização desse direito da mulher reduz a necessidade de analgesia, a incidência de cesarianas e a depressão do recém-nascido no quinto minuto de vida. Além disso, essa experiência de apoio constitui um elemento importante na parturição, pois remete à mulher a sensação de tranquilidade, confiança e segurança1,6,17.
Os próprios acompanhantes entendem que a presença de um familiar neste momento é indispensável para diminuir a ansiedade da parturiente e para que esta se sinta mais segura18.
Neste sentido, quando o profissional de saúde integra um membro da família escolhido pela mulher, principalmente o pai do bebê, durante o trabalho de parto, está contribuindo para a parturiente se sentir mais confiante. Essa prática favorece uma vivência positiva da parturição e nascimento pela mulher, contribuindo, assim, para a humanização da assistência, além de ser uma prática baseada em evidências científicas1,13.
A sensação de conforto e a capacidade de ficarem mais calmas foram atribuídas à presença do acompanhante no momento do parto, conforme relatam as puérperas:
Meu esposo ficou comigo. Foi ótimo, porque ele me acalmava nas horas que as contrações vinham muito fortes. Ele tentava mudar de assunto pra passar logo (E13).
[...] Meu marido. Conforta mais e eu fiquei mais calma (E14).
Através de outros estudos, os autores perceberam que o acompanhante é o principal responsável por gerar tranquilidade na parturiente, pois apesar de o parto ser um período bastante intenso, em que a mulher se sente estressada por estar enfrentando uma situação diferente, este estresse é reduzido quando a mulher está em constante contato com uma pessoa próxima, principalmente um familiar1,6,7.
Outro sentimento evidenciado por uma puérpera foi o medo diante de tudo que era desconhecido, o parto, por ser a primeira gravidez, e os profissionais de saúde, por nunca ter tido contato com eles. A presença do companheiro foi importante para a mulher pelo fato de finalmente ter algo conhecido nesse momento, com que tivesse aproximação, em quem pudesse confiar. Com isso ela pôde se sentir mais segura e menos apreensiva em relação ao parto.
Ficou a pessoa que mora comigo, meu companheiro, eu achei legal porque é um momento assim desconhecido, principalmente a primeira gravidez, você não sabe como que vai acontecer, eu tava muita receosa, apesar de todas as informações que a gente tem no decorrer de fazer o pré-natal [...] É tanto que eu tava morrendo de medo dessa hora [...] Eu achei importante, porque você não fica numa sala cheia de desconhecido, embora você seja bem atendida, mas é diferente você ter uma pessoa que lhe conhece, que convive com você, o importante mesmo [...] Você pode tá ali conversando [...] Ele assistiu o parto até o final, tirou foto, cortou o cordão. Foi bem legal (E15).
Permanecer ao lado de pessoas desconhecidas durante o parto e nascimento pode despertar, em algumas mulheres, sentimentos negativos. Por isso, a presença de alguém conhecido nesse momento se mostra como uma alternativa segura para o estabelecimento de comunicação e vínculo com as demais pessoas. A presença de pessoas conhecidas proporciona, às parturientes, oportunidade de se expressarem sem se sentirem ameaçadas, pois a solidão as torna vulneráveis, enquanto a presença do outro lhes dá suporte para a liberdade de expressão11.
As pesquisas demonstram que a satisfação da mulher no parto está fortemente associada ao ambiente acolhedor e à presença de uma companhia, pois a presença de estranhos e o isolamento das pessoas queridas no trabalho de parto estão diretamente relacionados com o aumento do medo, do estresse e da ansiedade, retardando o progresso do parto1,5,6,7.
Uma estratégia para aproximar a parturiente daqueles que lhe assistirão no momento do parto seria, no decorrer do pré-natal promover encontros dessas mulheres com os profissionais que trabalham na sala de parto. Isso poderia ser alcançado por meio de visitas a essa unidade.
O acompanhante de E15, além de ter contribuído para tornar o parto uma experiência mais agradável para a parturiente, ainda participou ativamente desse momento, registrando o acontecimento com fotos e cortando o cordão umbilical que liga o recém-nascido à sua mãe.
Assim, percebe-se que é importante não só incentivar a presença de um acompanhante para todas as mulheres, mas também que esses sejam preparados e orientados para ajudar a mulher durante o parto e nascimento, assumindo uma participação ativa nesse período que envolve tantas emoções.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância da participação do acompanhante no parto e nascimento está relacionada à minimização do sentimento de solidão e da dor nestes momentos. A presença de alguém conhecido e as atitudes adotadas por essas pessoas proporcionaram às mulheres o conforto e a calma que precisavam, sentindo-se mais confiantes e seguras.
Os resultados deste estudo contribuem para o conhecimento na área da enfermagem, permitindo compreender que a presença do acompanhante e o seu cuidado à parturiente são imprescindíveis para oferecer suporte emocional e físico, acarretar sentimentos positivos para a mulher e, por fim, contribuir para a humanização do parto e nascimento. Desta forma, o estudo permite a atualização da equipe de enfermagem e dos demais profissionais da equipe de saúde atuantes nas maternidades, acerca dos benefícios proporcionados às parturientes pela presença do acompanhante, para que os profissionais acolham estas pessoas e favoreçam a sua participação no parto.
A partir deste estudo, foi possível compreender e refletir sobre as percepções das puérperas acerca de assuntos relevantes para a sua saúde. O enfermeiro deve então valorizar as falas, demandas e sentimentos dessas mulheres, pois somente assim conseguirá elaborar um plano de cuidados centrado nas necessidades individuais de cada parturiente, almejando uma assistência integral.
Propõe-se, então, que, para viabilizar um suporte contínuo e efetivo à parturiente, é essencial que os acompanhantes sejam inseridos no contexto da gestação desde o início, e que tenham acesso a atividades educativas para que possam, de fato, contribuir com a parturiente. O profissional ou acompanhante que presta o suporte contínuo à mulher deve estar apto a informar, aliviar a tensão, atender às necessidades da parturiente e facilitar a interação entre esta, sua família e a equipe de saúde.
Como limitação deste estudo evidencia-se a restrição a uma única maternidade pública de Fortaleza, Ceará, devendo ser ampliado para outras maternidades da capital e municípios do interior do estado, de forma a possibilitar uma compreensão mais abrangente de como está ocorrendo a inserção do acompanhante nos serviços de saúde da rede pública do estado do Ceará.
REFERÊNCIAS