EDITORIAL
As implicações de ser um doutorando em enfermagem no contexto da internacionalização do conhecimento
Rafael Celestino da Silva1
Maria Corina Amaral Viana2
1. Doutor em Enfermagem. Professor Assistente do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ. Membro do Grupo de pesquisa Representações e práticas de cuidado em saúde e de enfermagem, rafaenfer@yahoo.com.br
2. Doutoranda da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ, Professora Assistente da Universidade Regional do Cariri, Assessora da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará; coriviana@yahoo.com.br
A educação superior tem como marco, identificado pela sociedade do conhecimento, a expansão das instituições, com forte influência da globalização. Esta globalização da educação superior tem conceito complexo em termos de mundialização, internacionalização e cooperação internacional, sendo, pois, fato atual o aumento desta cooperação na produção de conhecimento, especialmente em Enfermagem.
Neste contexto, considera-se que o ingresso de um estudante em um programa de pós-graduação
stricto sensu em nível de doutorado requer um envolvimento que vá além da execução de uma pesquisa-tese dentro do tempo de integralização do curso e que dê conta da compreensão/intervenção de uma problemática relacionada aos diversos campos de atuação da Enfermagem. Significa, neste caso, implicar-se. Tal implicação perpassa pela construção de um conhecimento alinhado aos princípios da ciência e culmina na publicação deste em periódicos de alta qualificação e, mais recentemente, na sua internacionalização. Desta forma, ser doutorando é, pouco a pouco, ir incorporando as características que integram o perfil esperado de formação, principalmente o domínio da área de atuação com capacidade de diálogo internacional1, por meio de um conjunto de oportunidades que se apresentam ao longo do curso.
Seguindo esta lógica, ser doutorando representa estar em consonância com a política de ciência, tecnologia e inovação posta para a profissão. Este entendimento por aqueles que já estão em fase de formação, pelos ingressantes e os pretensos traz inúmeras repercussões, mormente quanto ao atendimento dos indicadores de internacionalização do conhecimento. Observa-se, em alguns casos, uma dispersão dos alunos de doutorado durante o período de elaboração da tese, facilitada em muitos deles pela falta de estrutura física e de recursos humanos para o funcionamento adequado dos laboratórios de pesquisa, e pela agenda irregular de encontros entre pesquisadores e estudantes no âmbito dos grupos de pesquisa. Esta dispersão dificulta a vivência de experiências que contribuem para a internacionalização, a exemplo da inserção dos estudantes em programas de mobilidade interinstitucional e intergrupos de pesquisa por meio da cooperação acadêmica e de bolsas de estudos em nível internacional.
A experiência de participar de um programa de mobilidade acadêmica internacional na modalidade doutorado-sanduíche revela ganhos de diversas ordens, quais sejam, os articulados à produção científica, sobretudo quanto ao avanço do conhecimento no que se refere aos métodos de pesquisa e referenciais teóricos; os relativos à formação mesma do doutor, pelo debate das ideias e contato com perspectivas teóricas e metodológicas de domínio dos centros de excelência; além dos ganhos culturais simbólicos. No caso institucional, contribui para estreitar relações com instituições no exterior de reconhecido mérito acadêmico, favorecendo o avanço e consolidação do conhecimento científico, tecnológico e inovação da área de interesse.
Portanto, implicar-se, no contexto da internacionalização do conhecimento, configura-se na superação dos desafios da proficiência de outra língua, da compreensão da situação política, econômica, cultural e de saúde do país de destino, do desenho da pesquisa e da limitação de tempo2, na busca por uma formação de excelência que atenda às demandas da prática da profissão, colaborando na incorporação do saber-fazer aos cuidados e impactando na qualidade de vida das pessoas. Ser doutorando no cenário atual é, então, ser um sujeito ativo, inovador, desbravador e de abertura científica diante dos requisitos da produção internacional do conhecimento em Enfermagem.