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CAPES

Volume 16, Número 2, Abr/Jun - 2012

PESQUISA

Uso do filme como estratégia de ensino-aprendizagem sobre pessoas com deficiência: percepção de alunos de enfermagem

Paula Marciana Pinheiro de Oliveira1
Monaliza Ribeiro Mariano2
Cristiana Brasil de Almeida Rebouças3
Lorita Marlena Freitag Pagliuca4

1 Enfermeira. Doutoranda do Departamento de Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Bolsista do CNPq. Fortaleza-CE. Brasil. E-mail: paulamarciana@yahoo.com.br
2 Enfermeira. Doutoranda do Departamento de Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFC. Bolsista da Funcap. Fortaleza-CE. Brasil. E-mail: monalizamariano@yahoo.com
3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Bolsista de Pós-Doutorado do CNPq no Departamento de Enfermagem da UFC. Fortaleza-CE. Brasil. E-mail: cristianareboucas@yahoo.com.br
4 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem da UFC. Pesquisadora do CNPq. Fortaleza-CE. Brasil. E-mail: pagliuca@ufc.br

Recebido em 03/05/2011
Reapresentado em 19/01/2012
Aprovado em 26/03/2012

RESUMO

O objetivo deste estudo foi elaborar uma estratégia de ensino-aprendizagem sobre pessoas com deficiência sensorial e registrar a percepção dos alunos de graduação em enfermagem acerca da utilização de filmes como parte da estratégia do processo ensino-aprendizagem sobre pessoas com deficiência sensorial visual, auditiva e de fala. Estudo descritivo, exploratório, qualitativo, desenvolvido no Laboratório de Comunicação em Saúde, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, no período de 2010.1. O primeiro tema tratado foi a deficiência visual, seguida da auditiva e da fala. A associação do uso de filmes a conteúdos teóricos e leitura de textos sobre determinado tema foi considerada experiência prazerosa pelos alunos, motivando o aprendizado. A introdução de filmes representa uma oportunidade para rever e sofisticar a abordagem pedagógica e os conteúdos ministrados pelo professor.

Palavras-chave: Educação em Enfermagem. Pessoas com deficiência. Enfermagem.

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, o ensino, de modo geral, tem passado por profundas mudanças. No contexto atual, o curso de graduação deve possibilitar ao futuro enfermeiro sua instrumentalização para a intervenção na realidade, ao favorecer a organização e reorganização do trabalho. Dessa forma, a articulação entre o ensino e a prática mostra a necessidade de transformar os modelos gerenciais vigentes centrados na visão normativa e prescritiva do trabalho em enfermagem. A intencionalidade de contextualizar para inovar o ensino de enfermagem surge pelas características do mundo do trabalho da enfermagem por seu papel no cuidado ao ser humano.1

Nessa perspectiva de inovação do ensino, surgiu a Formação Baseada em Competências (FBC), metodologia diferente dos processos educacionais tradicionais. Tal método centra-se no desempenho do participante associando comportamentos, conhecimentos e competências, e não apenas informações adquiridas. Requer, ainda, que o formador facilite e encoraje a aprendizagem em detrimento da sua atuação como professor tradicional.2

Entre os vários recursos de abordagem na educação, inclui-se o cinema, o qual pode ser considerado uma linguagem centenária "nova", pois, apesar de existir há mais de cem anos, a educação o descobriu tardiamente.
Não significa, porém, que o cinema foi pensado apenas atualmente; desde seus primórdios é visto como elemento educativo. Empregar filmes como uma estratégia educativa é ajudar o aluno a reencontrar a cultura, porquanto o cinema é o campo onde a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados em uma mesma obra de arte. Dos mais sofisticados aos mais simples, dos mais difíceis aos mais fáceis, os filmes apresentam sempre possibilidades para o trabalho na educação.3

Hoje, a utilização das novas tecnologias em sala de aula, como suporte para se transmitir conhecimento aos alunos, está em voga nas discussões pedagógicas. A capacidade de um indivíduo em relembrar os conhecimentos adquiridos em sala de aula aumenta quando o material é aprendido por meio de métodos participativos, como, por exemplo, as palestras com apresentações visuais e verbais, dramatizações, casos práticos e filmes, e, ainda, por meio da prática em laboratório.2

Ao escolher um filme para dinamizar o conhecimento dos alunos com as atividades em sala de aula, o professor deve levar em conta o problema da adequação do conteúdo e da abordagem por meio de reflexão prévia sobre os objetivos. Alguns fatores, contudo, interferem na conformação e desenvolvimento deste tipo de abordagem. São eles: as possibilidades técnicas e de organização na exibição de um filme; a ar ticulação com o conteúdo discutido; os conceitos que deverão ser trabalhados e ajustados conforme a faixa etária da turma.3

Adotar filmes como recurso para facilitar o processo ensino-aprendizagem exige a presença de um moderador para fomentar as discussões acerca daquele conhecimento exposto. Neste caso, as imagens tornam-se um poderoso instrumento de aproximação do real, por sua sutileza de discurso e sedução de linguagem, sendo possível associar o estímulo verbal à reflexão com fins pedagógicos.4

Na saúde, é pouco comum a utilização destas estratégias. Algumas produções conseguem trabalhar determinados temas, como: a questão das drogas e do álcool; a saúde mental e neurológica; a saúde pública e a saúde profissional3; a ética em pesquisa; o paciente terminal; a ética profissional, entre outros. No projeto pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Ceará há a disciplina Enfermagem em Situações Especiais, com carga horária de 32 horas. Em sua ementa constam: Indicadores de saúde das pessoas com deficiência; Políticas públicas e legislação para as pessoas com deficiência; Acessibilidade física e sensorial da pessoa com deficiência aos serviços de saúde; e Avaliação em saúde da pessoa com deficiência.

O conteúdo aborda a participação do enfermeiro no processo de inclusão e no cuidado à pessoa com deficiência, particularmente na comunicação com as pessoas com deficiência sensorial. Conforme identificado, existem filmes ficcionais e biográficos sobre a questão da deficiência sensorial. Optou-se, então, por incluir esta estratégia na disciplina e selecionaramse os seguintes temas no enfoque da comunicação: deficiência visual, deficiência auditiva e deficiência de fala.

Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi elaborar estratégia de ensino-aprendizagem sobre pessoas com deficiência sensorial e registrar a percepção dos alunos de graduação em enfermagem acerca da utilização de filmes como parte da estratégia do processo ensino-aprendizagem sobre pessoas com deficiência sensorial visual, auditiva e de fala

 

METODOLOGIA

Estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa que desvenda as várias maneiras pelas quais um fenômeno se manifesta, assim como os processos a ele associados, e, ainda, tenciona descrever, elucidar fenômenos relacionados com a profissão de enfermagem (POLIT; BECK e HUNGLER, 2004). Desenvolvido no Laboratório de Comunicação em Saúde, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, pela disponibilidade de equipamentos para projeção dos filmes, a oferta da disciplina ocorreu no primeiro semestre letivo de 2010 e participaram alunos dos 2º, 5º e 8° semestres.

Previamente ao início da disciplina, foi elaborado o Plano de Aula contendo tema, data e duração da aula; objetivos a serem alcançados ao término da aula; metodologia, dividida em etapas, de acordo com as atividades a serem desenvolvidas na aula; ficha técnica do filme selecionado para a aula; sinopse do filme; roteiro do filme; roteiro de discussão contendo questões relacionadas ao tema da aula e aspectos observados no filme; critérios de avaliação do desempenho do aluno durante a aula e referências para leitura. A ficha técnica do filme baseou-se em modelo segundo o qual para cada aula que utilize filme, faz-se necessário um cuidadoso planejamento.4

Posterior à elaboração, no dia da disciplina, o plano de aula era entregue e apresentado aos alunos para que estes fossem informados acerca das atividades propostas para aquele encontro. As etapas do plano de aula eram coordenadas pela docente e acompanhadas pelos alunos.

Durante as aulas, na aplicação dos planos de aula, os alunos foram indagados e esclarecidos sobre a disponibilidade e importância de participação na pesquisa e preenchimento do instrumento para aprimoramento dos semestres posteriores. Com o aceite de participação, ao término da disciplina e após assinatura do Termo de Consentimento, aplicou-se questionário de avaliação, contendo seis perguntas subjetivas, as quais abordavam: opinião acerca da disciplina, utilização do filme como estratégia ensino-aprendizagem, se o plano de aula esclarece sobre as atividades que serão desenvolvidas durante a aula, se os textos complementares e a aula contemplaram o assunto proposto e sugestões relativas à disciplina e ao plano de aula. Os alunos descreveram individualmente sua percepção sobre a utilização do filme como estratégia de ensinoaprendizagem integrada às demais abordagens. Para facilitar a
exploração do material e análise dos dados, os relatos foram agrupados em categorias e, para preservar o anonimato dos alunos, os depoimentos foram identificados por letras do alfabeto (A a Z). A análise dos planos de aula e dos registros dos alunos foi discutida com base na literatura científica pertinente à temática abordada.

Como exigido, foram respeitados os aspectos éticos de acordo com as normas que regulam as pesquisas com seres humanos conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Ressalta-se, ainda, que este trabalho está inserido no Projeto Laboratório de Comunicação em Saúde e recebeu aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará com nº 124/02.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados são apresentados na sequência de planos de aula comentados com literatura pertinente e, em um segundo momento, pela avaliação dos estudantes. A elaboração do plano de aula teve como princípio que os alunos têm diferentes estilos de aprendizagem e a utilização de meios audiovisuais variados lhes permite receber as informações de diversas maneiras, reforçando, assim, o processo de aprendizagem.2 O primeiro tema tratado foi a deficiência visual, seguida da auditiva, e, por fim, a da fala. No Quadro 1, aborda-se a deficiência visual.

 

 

No Plano de Aula 1 apresentam-se informações sobre o filme Perfume de Mulher acompanhadas de indagações a respeito de situações que envolvem as pessoas com deficiência visual. Incluem-se, também, textos a respeito deste tema. Com estas estratégias buscou-se refletir e discutir a respeito da capacidade da pessoa cega desenvolver atividades de vida diária, executar as mais diversas funções no mundo, a inclusão social, e observar as relações interpessoais. Abordou-se, ainda, a comunicação dos profissionais de saúde com estas pessoas.

Diferentemente do suposto, a falta ou redução de visão não é o principal obstáculo à inclusão das pessoas com deficiência visual como cidadãos possuidores de direitos e deveres. Quando são oferecidas as condições de aprendizado e os meios para desenvolver e aplicar suas habilidades, estas pessoas têm condições de desempenhar tarefas como caminharsozinhas, estudar, trabalhareparticipardavidasocial, econômica, cultural e política da sociedade.5

Para abordar o tema deficiência auditiva preparou-se o Plano de Aula 2, conforme consta no Quadro 2.

 

 

Nesta segunda aula, o intuito foi instigar o pensamento crítico sobre as atividades desempenhadas pelos deficientes auditivos, visto que esta parcela da população também possui vida social ativa. As estratégias possibilitam a sensibilização acerca da importância da comunicação com esta clientela por meio da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) bem como o estimulo à observação da comunicação não verbal entre surdos e ouvintes.

A pessoa com deficiência auditiva tem dificuldades de atendimento nos serviços de saúde por impossibilidade de estabelecer comunicação com o profissional. É fundamental que a comunicação não verbal e a LIBRAS sejam abordadas nos processos de formação do enfermeiro. Sendo assim, é necessário investir na formação de profissionais para abordar esta clientela, com vistas a aprimorar a assistência ao tratá-la com igualdade social para galgar espaços no exercício da cidadania.6

O Plano de Aula 3, acerca da deficiência da fala, utilizou o filme O Escafandro e a Borboleta, apresentado no Quadro 3.

 

 

Nesta aula o enfoque foi a comunicação com a pessoa com múltiplas deficiências. O filme usado para a reflexão e discussão do tema retrata um homem que fica afásico após derrame cerebral; em consequência deste derrame fica impossibilitado de comunicar-se com os profissionais que o assistem, seus familiares e amigos.

De modo geral, as afasias se instalam abruptamente, ocasionando dificuldades totais ou parciais de linguagem, tais como falar, ler, escrever. No entanto, preserva a compreensão verbal. O paciente afásico apresenta, além do estado psicológico comprometido pelo impacto da situação, a inaptidão em transmitir seus pensamentos e aflições por meio da linguagem. Isto gera sentimento de frustração e agressividade.7

Em virtude desta alteração patológica há uma mudança na maneira pela qual o afásico entende e se expressa ao mundo. Na afasia severa, o paciente decodifica apenas palavras mais importantes de uma sentença. Dessa forma, ocasiona desentendimentos, pois a combinação de palavras com o conhecimento geral de mundo não é suficiente para a compreensão correta da mensagem dada.8

Mesmo ante a impossibilidade de se expressar de modo verbal, o paciente pode preservar outros canais de comunicação, como a audição, o tato e os movimentos corporais. No filme selecionado para esta aula, além da afasia, a pessoa mantinha apenas o movimento das pálpebras de um olho. É por meio da melhor utilização das habilidades comunicativas remanescentes do afásico que ainda é possível se comunicar com ele.8

Incumbe à instituição formadora de profissionais de saúde priorizar o desenvolvimento de competências para estabelecer a mediação entre a realidade e o sujeito em formação. Dessa maneira, cabe aos profissionais de saúde trabalhar para que este indivíduo seja capaz de entender essa realidade, os modos de atuar sobre ela e intervir como agente de transformação das práticas sociais e de si mesmo.9

Defende-se que o primeiro passo para essas mudanças seja a conscientização dos profissionais no tocante ao cuidado do paciente em todos os seus aspectos. Com profissionais conscientizados, serão viáveis as mudanças comportamentais. Pesquisadores apontam para a aquisição da competência em comunicação verbal e não verbal no intuito de serem entendidos e se fazerem entender pelos pacientes para a promoção de um cuidado efetivo. O conhecimento e a utilização da comunicação pela enfermagem podem ser melhorados e aprofundados através de cursos de aperfeiçoamentos e/ou treinamentos.10-11

Para a formação dos profissionais brasileiros editou-se a Lei n° 9.394/96 que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)12. Estas expressam o compromisso por transformações na formação dos profissionais de saúde. A mudança precisa estar direcionada e comprometida com a concretização dos princípios da reforma sanitária brasileira e do Sistema Único de Saúde. Um estudo também destaca a prática da interdisciplinaridade, a aquisição de competências e habilidades, a autonomia institucional e a flexibilidade, bem como a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.13

Diante destas considerações, a inovação e a elaboração de estratégias na sala de aula são relevantes, pois têm o objetivo de despertar no discente sensibilização e reflexão perante as especificidades das pessoas com deficiência, mostrando-lhe a realidade vivenciada por esta clientela. Para melhor apreensão, é indispensável a relação entre o tema, conteúdos expostos pelo professor, os filmes e os textos, com vistas a se fornecer elementos para enriquecer a discussão em sala de aula.

Ao final do semestre, durante a avaliação da disciplina por meio do questionário, os alunos apresentaram sugestões para melhorar os planos de aula bem como a disciplina de modo geral, além de abordarem pontos positivos e negativos observados ao longo desta.

Organizaram-se, então, categorias para melhor compreensão dos depoimentos dos acadêmicos, como expostos: (1) Utilização de filmes e correlação com conteúdos e habilidades no processo ensino-aprendizagem; e (2) O filme e a aproximação com a realidade.

Categoria 1: Utilização de filmes e correlação com conteúdos e habilidades no processo ensino-aprendizagem

Nesta categoria, especificamente, a indagação se referiu à utilização do filme e dos artigos científicos no processo de ensino-aprendizagem. O Plano de Aula foi construído para situar o aluno sobre a atividade a ser realizada com o filme, mediante informações importantes para entender o contexto e discuti-lo em sala. As falas que correspondem a esta categoria são as seguintes:

"... sensibiliza ainda mais os alunos a refletirem sobre o problema gerando argumentos para debate, além de ser possível associar com os artigos" (A, G, I).

"...O Plano de Aula ajuda a direcionar quais pontos são importantes para serem observados no filme" (J).

"Os artigos e as aulas ministradas esclarecem bastante o conteúdo teórico, acho que as aulas ministradas desta maneira proporcionam um melhor entendimento do assunto" (K).

É perceptível pelas falas dos alunos que a utilização de aulas expositivas, dos filmes e da leitura de artigos subsidiou as discussões dos conteúdos em sala e a estratégia foi positiva, favorecendo o alcance dos objetivos estabelecidos em cada plano de aula, e estas estratégias ajudaram no aprendizado.

Em um estudo realizado com professores do ensino fundamental e médio de escolas públicas, foi visível a importância da utilização do filme na sala de aula. Como se observou, o filme pode auxiliar a elucidar fatos que o professor muitas vezes deixa de comentar e também levar o aluno a fazer uma reflexão através da fonte cinematográfica. Na opinião dos autores deste mesmo estudo, os educadores precisam estabelecer uma relação positiva da mídia com o espaço educativo, buscando formar pessoas que saibam filtrar as informações na mídia e, ao mesmo tempo, analisar a produção cinematográfica.14

Em outro estudo, com professores do ensino superior, constatou-se que eles não têm domínio de teorias cinematográficas, porém essa limitação não inibe o recurso à exibição de filmes em aula. Assim, mais significante que conhecer as teorias da área é ter uma articulação clara entre a disciplina e os filmes a serem exibidos, de modo que não sejam apenas ilustrativos. Mesmo assim, o cinema na sala de aula é recurso didático e, por vezes, estratégia pedagógica. Enfim, o cinema auxilia na educação. É dispositivo pedagógico a ser viço de bons percursos educativos e de inspirados condutores.14

O uso do filme como recurso didático deve proporcionar a aprendizagem, ajudando o aluno a encontrar nova maneira de refletir e entender o conteúdo. Uma opção interessante e motivadora, que não seja meramente ilustrativa e nem substitua o professor, mas que seja um momento crítico de aprofundamento.

Qualquer filme, independente da sua temática, pode ser documento para o estudo. Afinal, as imagens em movimento, embora nem sempre traduzam a realidade, podem ser um elemento criativo para perceber e aprender as formas de apresentação da realidade, sob aspectos socioculturais de pessoas inseridas em contextos que podem colaborar na construção do conhecimento histórico. A tarefa de mostrar filmes, modificando a prática pedagógica, é uma estratégia a ser colocada em prática mediante um processo coletivo de educadores de todas as áreas do conhecimento.14

Como se percebe, a utilização de filmes envolve todos os sentidos do aluno, além de ser uma maneira prazerosa de se aprender. Trabalhar com o cinema em sala de aula é reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois é o campo no qual estão inseridos a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos em uma mesma obra de arte.15

Genericamente, o cinema é adotado por professores nos mais diversos níveis de ensino. Na educação infantil, a utilização pode ser meramente recreativa, mas em patamares mais avançados da instrução formal, o cinema, usado como recurso pedagógico, amplia o potencial de aplicabilidade. No ensino superior, essa estratégia educativa possivelmente poderia cumprir funções mais auxiliares, sendo mais significativa na formação dos futuros profissionais.14

Outro pesquisador apontou que é inegável a praticidade desses métodos na redução do trabalho do professor por ser um artifício bastante simples o de projetar o filme e deixar sua análise a cargo dos próprios alunos. Isso elimina completamente a qualidade dialética da imagem em sala de aula. A função do educador reside justamente na orientação da discussão. Ao professor cabe a tarefa de esclarecer o que está obscuro no roteiro, preenchendo os espaços deixados intencionalmente ou não pelos realizadores do filme. É dessa forma que os educandos vão estabelecendo relações entre o que está sendo visto e o que vivem.16

Categoria 2: O filme e a aproximação com a realidade

Pelas respostas, identifica-se que o filme consegue relacionar o assunto proposto a partir dos depoimentos dos alunos, observados a seguir:

"Os filmes conseguem atingir o objetivo da disciplina, que é mostrar a realidade da vida que os deficientes vivem e, com isso, fazer com que percebamos o quanto é importante para nós profissionais da saúde sabermos lidar com tais clientes, para, só assim, prestarmos uma assistência efetiva" (C).

"O filme complementa o assunto proposto mostrando como é a vida do deficiente na realidade" (K).

Nestas descrições, os alunos apresentaram opiniões favoráveis em relação aos filmes assistidos e a importância destes para conhecer a realidade das pessoas com deficiência. Diante disso, a literatura aponta a possibilidade, através da arte, de desenvolver a percepção e a imaginação para apreender a realidade do meio ambiente, neste caso, das pessoas com deficiência. A arte instiga a capacidade crítica, permite analisar a realidade percebida e ampliar a capacidade criadora de maneira a mudar a realidade analisada.17

Utilizar o cinema na educação é fundamental, pois contribui para que a escola e a universidade participem ativamente da cultura não apenas como repetidora e divulgadora de conhecimentos massificados e muitas vezes ultrapassados. O cinema propicia uma diversificada e variada atuação pedagógica.3

É perceptível também nas descrições como os alunos consideram o filme próximo à realidade, e a importância disto na vivência como futuro profissional. Na ótica de autores, o espectador está sempre fazendo associações com seu espaçotempo. Os acontecimentos da sua rotina diária interferem na sua percepção da obra e, assim, se estabelece um diálogo entre quem assiste e a realidade da tela. É possível estabelecer relação dialógica quando o estudante se sente participante no processo de construção dos seus valores e do seu aprendizado. Isso acontece na medida em que o próprio aluno consegue perceber as relações entre o que está assistindo e sua própria vivência. Além disso, não se pode esquecer o caráter de ludicidade na experiência cinematográfica, pois o cinema é e sempre será um meio atrativo na transmissão de conhecimento, capaz de seduzir a atenção do espectador/aprendiz.16

O cinema transmite a sensação de que a pessoa está bem informada e, assim, pode avaliar criticamente os acontecimentos históricos, porquanto a imagem tem capacidade de convencimento aparente, como se estivesse vendo a própria realidade, tem o poder nem sempre disponível pela palavra. Em vir tude de lidar diariamente com a intervenção de diversos meios de comunicação de massa como jornais, revistas, televisão, cinema, além de outros, cabe às instituições de ensino estimular o aluno a ler a imagem em movimento. É fundamental, portanto, que a sala de aula seja também um espaço de pedagogia crítica dos meios de comunicação de massa, construindo uma visão transformadora da consciência e geradora de novas formas de conhecimento.18

Educação, segundo a concepção da pedagogia da imagem, vai além da tela branca: negocia os diversos significados que constituem o espetáculo, desenvolvendo uma visão crítica sobre ele. Assim, as escolas e as universidades detêm importante papel por conter um espaço designado ao saber científico sistematizado, onde as discussões poderão ser
potencializadas com a participação de docentes de diversas áreas de conhecimento, de modo a enriquecer os debates de forma interdisciplinar. É interessante que estas instituições tenham o objetivo de educar os jovens para dialogarem com o filme, sem perderem o prazer proporcionado pela arte.18

Portanto, enfatiza-se: as instituições de ensino precisam ensinar o alunado a ler imagens, pois com o desenvolvimento das tecnologias de informações e comunicação a imagem é cada vez mais apreendida pela educação. Educar com a utilização do cinema é ensinar diferente. É educar o olhar. Aprender a ver cinema é realizar mudança do espectador passivo para o espectador crítico.18

Formar pessoas com a capacidade de pensar o mundo de uma nova forma constitui um desafio. É sempre positivo se ter contato com estratégias diferentes, pois essa diversidade é essencial para despertar a consciência do valor de se estabelecer e manter contato com todos os tipos de manifestações do pensamento humano, sem que nenhuma delas seja superior a outra.16

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção do Plano de Aula contendo as atividades a serem desenvolvidas no decorrer da aula com seus respectivos objetivos permite ao aluno direcionar seu foco de aprendizagem para os pontos relevantes. Além disso, o Plano também direciona o docente e alunos a questionamentos per tinentes, possibilitando diálogo entre eles. Indicar referências no plano de aula para contemplar o assunto proposto amplia e complementa o aprendizado do aluno.

Associar o uso de filmes a conteúdos teóricos e leitura de textos sobre determinado tema foi considerado uma experiência prazerosa pelos alunos e contribuiu para motivar e fixar o aprendizado. Um ganho adicional foi a aproximação com tema pouco explorado no ensino de graduação em enfermagem no qual muitos acadêmicos não têm um referencial de vivência.

O uso de filmes oferece vantagens ao professor pelo fato de ser um meio confortável, familiar e estimulante para os estudantes; por mobilizar o interesse dos estudantes; e, ainda, porque filmes são fontes de experiências emocionais e cognitivas que permitem ampliar a visão de mundo e aperfeiçoar as competências, habilidades e atitudes dos acadêmicos.

Acrescenta-se: a utilização de filmes é importante ferramenta de motivação para despertar o interesse sobre determinado tema ou assunto e, ainda, para fomentar debates em sala de aula. Finalmente, observa-se que a introdução de filmes representa mais uma oportunidade para rever e sofisticar a abordagem pedagógica e os conteúdos. No entanto, por constituírem produtos complexos, com dimensões culturais, artísticas e comerciais, os filmes não são um recurso de manipulação simples. Para ultrapassar estas barreiras, elaboraram-se as fichas técnicas dos filmes, selecionaram-se artigos científicos relacionados ao tema, mantiveram-se aulas expositivas e estimularam-se os debates em sala de aula para abordar o conteúdo proposto. Houve, ainda, em outros momentos, contato com pessoas com deficiência que deram depoimentos de suas experiências.

Uma limitação para o uso do filme em sala de aula é a sua duração, em torno de duas horas, sobretudo porque, na maioria das vezes, não permite corte. Logo, os alunos devem dispor deste tempo corrido para assistir ao filme, mas é pertinente experimentar ver o filme extraclasse, e debatê-lo em conjunto. Vislumbra-se, assim, a possibilidade de uso de documentários ou clipes com curta duração como estratégia didática pedagógica em disciplinas nas quais a carga horária não permita a adoção de filmes comerciais longos.

 

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