Volume 16, Número 2, Abr/Jun - 2012
EDITORIAL
A Pós-graduação em enfermagem Brasileira faz quarenta anos: avanços, desafios e necessidades de novos empreendimentos
Carmen Gracinda Silvan Scochi1
Denize Bouttelet Munari2
1 Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo/USP - Coordenadora Área Enfermagem/CAPES 2011/2013, Ribeirão Preto, SP, Brasil. cscochi@eerp.usp.br.
2 Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Coordenadora Adjunta Área Enfermagem/CAPES 2011/2013, Goiânia, GO, Brasil. denize@fen.ufg.br.
Há quarenta anos era criado, no Brasil, o primeiro programa de pós-graduação stricto sensu na área da Enfermagem, com o primeiro mestrado iniciado em 1972, na Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Exatamente dez anos depois (1982), iniciava-se o primeiro doutorado em Enfermagem com o Programa Interunidades de Doutoramento, por meio da parceria entre duas unidades da Universidade de São Paulo (USP), a Escola de Enfermagem da capital e a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. E em 2002, há dez anos, o primeiro mestrado profissional em Enfermagem Assistencial teve início, sob a responsabilidade da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Nesse momento histórico, temos muito a comemorar e a refletir sobre os caminhos já trilhados pela Enfermagem brasileira, para construirmos novas metas de crescimento e expansão.
Ao longo dessas quatro décadas, pesquisadores brasileiros trabalharam incansavelmente para contabilizarmos hoje 83 cursos de pós-graduação aprovados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES (45 mestrados acadêmicos, 27 doutorados e 11 mestrados profissionais), vinculados a 58 programas (20 apenas com mestrado acadêmico, 25 com mestrado e doutorado, 2 só com doutorado e 11 com mestrado profissional). Os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) têm formado novos pesquisadores para todo o Brasil, América-Latina, México, Angola, entre outros países, sendo esse movimento o que garantiu a expansão da pós-graduação brasileira.
A visibilidade da pós-graduação em Enfermagem também vem sendo construída para além da ampliação do número de cursos e PPGEnf, mas, principalmente, pela consolidação na formação de recursos humanos qualificados, na pesquisa e na produção intelectual. Essa consolidação se traduz nos 523 Grupos de Pesquisa cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, nas 165 bolsas de Pesquisador do CNPq, nos 5.194 artigos publicados no triênio 2007-2009 com visível melhora na qualificação dos periódicos, com a indexação de quatro periódicos brasileiros de Enfermagem na Web of Science em 2010 e, finalmente, com a conquista de quatro programas com nove notas 5 e notas 6, respectivamente, com patamares de excelência nacional e internacional.
Destacamos nesse processo, sobretudo, o grande investimento da comunidade acadêmica representada pelos coordenadores, docentes e alunos dos programas, além do relevante trabalho prestado pelos Coordenadores da Área Enfermagem com a CAPES, que dedicaram anos de trabalho na gestão do crescimento, expansão e qualidade dos PPGEnf.
Esse movimento possibilitou que, em todos os estados da federação, tivéssemos implantado o ensino de enfermagem em nível stricto sensu, porém são grandes os desafios e necessidades para a consolidação da ciência da Enfermagem em nosso país.
O primeiro deles refere-se à necessidade da quebra de endogenia e redução das assimetrias, haja vista os esforços que devem ser envidados para o desenvolvimento das regiões centro oeste e norte, assegurando-se a qualidade e a sustentabilidade dos PPGEnf, em consonância com o Plano Nacional de Pós-Graduação - PNPG 2011-2020 e com a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde1-2.
O segundo desafio é dado pela necessidade de criação de centros de excelência em ensino e pesquisa de padrão internacional1, que sejam capazes de romper as fronteiras do ensino superior, para contribuir efetivamente com o movimento de inovação em saúde, atentando tanto para as necessidades de recursos humanos para o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas empresas como para o desafio de articular de maneira sólida a pós-graduação com as prioridades do Sistema Único de Saúde1.
Outro se constitui no desafio de incrementar a produção científica em sintonia com as diretrizes traçadas pelos organismos/agências nacionais e internacionais e as políticas de ciência, tecnologia e inovação, e a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde1-2. Esse processo exige também dos pesquisadores ações mais arrojadas e desenvolvimento do empreendedorismo como ferramenta para tornar mais visíveis as investigações científicas da Enfermagem, com produtos que possam ser mais eficientes para fazer avançar a prática de enfermagem e produzir novas formas de cuidar e de gerenciar em saúde. Nessa direção urge, também, alavancarmos projetos de pesquisa que promovam a inovação e tenham como foco a transferência dos resultados de pesquisa para os serviços de saúde, em consonância com as políticas públicas de saúde rumo à consolidação do Sistema Único de Saúde - SUS, com promoção da qualidade de vida por meio da excelência do cuidado de enfermagem.
Atenta ao cenário atual e com a intenção de consolidar o trabalho da Coordenação da Área de Enfermagem com a CAPES, a atual gestão (2011-2013) tem como proposta, para a condução e orientação dos PPGEnf, implementar e fortalecer a cultura da autoavaliação nos PPGEnf como forma de fortalecê-los em sua autonomia e autogestão.