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CAPES

Volume 15, Número 1, Jan/Mar - 2011

PESQUISA

 

Andragogia na saúde: estudo bibliométrico

 

Andragogy in health: bibliometrical study

 

Andragogía en la salud: enseñanza bibliométrica

 

 

Patrícia Bover DraganovI; Maria Romana FriedländerII; Maria Cristina SannaIII

IEnfermeira, Especialista em Gerenciamento e Administração de Serviços de Enfermagem pela UNIFESP, membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração e Gerenciamento (GEPAG) da UNIFESP. São Paulo-SP. Brasil. E-mail: patrícia.bover@ig.com.br
IIEnfermeira. Professora Associada da USP, Professora Associada da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Ex-Prof Titular da UNIFESP. São Paulo-SP. Brasil. E-mail: mrfriedlander@yahoo.com.br
IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Orientadora Credenciada para a pós-graduação da Universidade Federal de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa de Administração e Gerenciamento de Serviços de Enfermagem (GEPAG), São Paulo-SP. Brasil. E-mail: mcsanna@uol.com.br

 

 


RESUMO

O sucesso da aprendizagem envolve o uso de estratégias adequadas. Como a clientela de formação profissional e de educação permanente e a população assistida, para quem se dirigem as ações de educação em saúde, são majoritariamente adultas, metodologias como a Andragogia, que é a arte e ciência de conduzir adultos ao aprendizado, são uma alternativa interessante. Com o objetivo de quantificar e descrever a produção científica sobre Andragogia nas Ciências da Saúde no período de 1999 a 2009, realizou-se um estudo descritivo, empregando-se a palavra-chave "Andragogia" em seis bases de dados eletrônicas. As informações das 98 publicações encontradas foram classificadas, quantificadas e descritas. A maioria das publicações se constituiu de artigos de periódicos, que se concentraram nos EUA, com o tema formação profissional liderando as publicações. No Brasil, foi mais frequente a educação de pacientes. A frequência se manteve regular nos anos estudados, concluindo-se que o tema é relevante para a saúde.

Palavras-chave: Aprendizagem. Educação. Ensino. Adulto. Enfermagem.


ABSTRACT

The success of learning consists in using proper strategies. As the professional graduated, come from permanent education and also from assisted population, to whom the actions of education in health are directed to, consists mainly in adults, methodologies such as andragogy, understood as been the art of science of conducting adults through learning, are a very interesting alternative. With the aim of quantifying and describe the scientific study about andragogy in science of health from 1999 to 2009, was developed a descriptive study, using the key word "andragogy" in six bases of electronic data. The information coming from 98 publications found were categorized, quantified and described. Most of the publication came from journal articles, concentrated in the USA, having the title "professional graduation" leading the publication. In Brazil, it was more used to the patients' education. The frequency was kept on a regular base during the years of study; therefore the conclusion is that the theme is relevant to Health.,

Keywords: Learning. Education. Teaching. Adult. Nursing.


RESUMEN

El éxito del aprendizaje implica el uso de estrategias adecuadas. Cómo la clientela de formación profesional, de educación permanente y la población asistida, para quien se dirigen las acciones de educación en salud, son mayoritariamente adultas, metodología como la andragogía, entendida como el arte y la ciencia de conducir adultos al aprendizaje es una de las alternativas interesantes. Con el objetivo de cuantificar y describir la producción científica sobre Andragogía en las Ciencia de la Salud en el período de 1999 a 2009, se realizó un estudio descriptivo, se empleando la palabra-clave "Andragogía" en seis bases de datos electrónicos. La información de las 98 publicaciones encontradas fueron calificadas, cuantificadas y descritas. La mayoría de las publicaciones si constituyó  de artículos de periódicos que se concentraron en EUA, con el tema de la formación profesional liderando las publicaciones. En Brasil fue más frecuente la educación de los pacientes. En los años estudiados, la frecuencia se mantuvo regular, concluyéndose que el tema es relevante para la salud.

Palabras clave: Aprendizaje. Educación. Enseñanza. Adulto. Enfermería


 

 

INTRODUÇÃO

Há três áreas da educação de grande interesse para a saúde, na qual os profissionais exercem inúmeras funções, lidando diariamente com várias questões e solucionando problemas a elas relacionados: a formação dos profissionais, a educação permanente dos trabalhadores e a educação dos clientes ou pacientes. Para efetivar as ações educativas nessas três áreas mencionadas, as teorias, métodos e recursos de ensino-aprendizagem são empregados como instrumentos para atender à finalidade de formar, treinar e aperfeiçoar recursos humanos, ou seja, alunos, profissionais e pacientes, razão pela qual merecem atenção especial.1

O sucesso da aprendizagem nas Ciências da Saúde2 está relacionado aos meios adequados para apresentação e discussão de conteúdos com informações que produzam adaptações ou modificações voluntárias do comportamento,3 ou seja, o uso de estratégias adequadas pode favorecer a assimilação do conhecimento, desenvolvimento de habilidades e incorporação de valores, de forma a permitir a mudança de hábitos de saúde 4 ou favorecer a aprendizagem dos profissionais nessas áreas, seja na formação profissional ou na educação permanente.

O adulto é o foco mais constante das atividades educativas no que se refere à formação profissional e à educação permanente, visto que essas áreas atendem especificamente adultos. A utilização de estratégias de aprendizagem voltadas para o adulto é relevante e complexa, por dirigir-se a pessoas dotadas de consciência formada e hábitos de saúde anteriores.5

Para o enfermeiro, um dos profissionais envolvidos na educação em saúde, a atividade educativa está tão relacionada ao cuidar em enfermagem que está prevista na legislação do exercício profissional como afirma Barbieri.4 É também responsabilidade desse profissional investir em formas que aperfeiçoem suas intervenções educativas, com o uso de estratégias de aprendizagem que melhorem a quantidade e qualidade dos resultados.6

Nesse cenário, que se refere à educação de adultos e às ciências da saúde, a Andragogia, que é a arte e a ciência de conduzir adultos ao aprendizado,7 é uma alternativa para o embasamento de estratégias de aprendizagem.

A Andragogia foi testada e aplicada em grande variedade de situações na Enfermagem, nas três áreas da educação anteriormente referidas, e os autores6 são unânimes em dizer que, apesar de demandar adaptações, ela é facilmente aplicável, bem aceita e útil na produção de ações bem-sucedidas.

Uma das vantagens do modelo andragógico é estimular o enfermeiro a mudar sua atitude na relação de ensino, ou seja, invertendo o comando da situação, que passa para o aprendiz, que menciona o que quer e deseja aprender.6 Outra vantagem expressiva está no fato de a educação de adultos ocorrer a todo o momento e em todos os lugares3. Assim, o conhecimento dos princípios da Andragogia, pelos responsáveis pelo ensino na educação de pacientes, formação profissional e educação permanente, parece ser uma ferramenta bastante útil para aquisição de melhores resultados na aprendizagem.

O termo "Andragogia" deriva das palavras gregas "andrós", que significa homem, e "gogia" que quer dizer liderar, guiar, conduzir ou levar, ou seja, a Andragogia, em sentido lato, seria a "condução ou direção de adultos".8 Enquanto alguns autores apontam o alemão Alexandre Kapp como o primeiro a usar essa palavra, em 1833, outros apontam Linderman ou Knowles, educadores da segunda metade do Século XX, como pioneiros no uso do termo, que se contrapõe ao sentido de pedagogia e carrega um significado que pode ser muito importante para a área da educação em enfermagem.9-12

A ideia de que o adulto tem características relacionadas à aprendizagem que o torna diferente da criança não é moderna; aparece nos trabalhos de pedagogos humanistas, tais como os de Carl Rogers e Paulo Freire, bem como de filósofos existencialistas como Sartre e pensadores como Rousseau, que já apontavam para essas diferenças.13 A partir da década de 1970, nos Estados Unidos, foram publicados diversos estudos sobre a Andragogia, e, por volta de 1980, ela passou a ser usada com mais frequência no Canadá e na Venezuela. O dicionário Webster, em 1981, incluiu a palavra Andragogia pela primeira vez.9,13

Para Knowles et al7; a Andragogia é estruturada a partir de seis proposições que definem claramente as diferenças entre a criança e o adulto na qualidade de aprendizes. Os autores partem da premissa que, à medida que amadurecem, as pessoas sofrem transformações bastante radicais, isto é, tornam-se independentes e são responsáveis por suas decisões; direcionam sua própria vida e seus interesses de aprendizado; acumulam experiências que vão subsidiar e fundamentar a sua aprendizagem; seus interesses se direcionam para o desenvolvimento das habilidades que utilizam no desempenho do seu papel social e na sua profissão; passam a esperar uma imediata aplicação prática do que aprendem, reduzem seu interesse por conhecimentos a serem úteis num futuro distante, e as motivações que os impulsionam são as internas, as quais passam a ser mais intensas que as externas. Torna-se fundamental, para a efetivação do aprendizado, considerar essas proposições.

Embora seja um conceito formulado no final do século XIX, a Andragogia ganhou adeptos e despertou o interesse dos estudiosos na segunda metade do século XX, atingindo os interessados no ensino de enfermagem bem mais tarde. Algumas publicações nesse campo, no entanto, tiveram repercussão favorável, que chamou a atenção sobre o tema.

Assim, com a finalidade de mensurar a produção científica em saúde que aborda a Andragogia no desempenho do papel educativo, adotou-se a proposição de investigar as variáveis: vinculação às diferentes Ciências da Saúde; veículo e tipo de publicação; idioma; país de publicação; temática abordada e ano.

O interesse em mensurar se os profissionais das ciências da saúde utilizam a Andragogia se justifica porque grande parte destes desempenha atividades que envolvem a educação do adulto. A importância em apontar o veículo e tipo de publicação, que são meios utilizados pelos autores para a divulgação de suas pesquisas, por sua vez, está vinculada à necessidade de conhecer a acessibilidade do leitor à pesquisa. Nesse tópico também está o tipo de veículo de divulgação, como periódico, que se caracteriza pela possibilidade de fornecer, pela facilidade de produção e de divulgação, uma síntese de conteúdo, identificar necessidades e atender os problemas da realidade da sociedade.14

Também é importante conhecer se há países que concentram publicações, o que poderia indicar proximidade ou diversidade cultural na área de abrangência do tema, visto que o referencial teórico sobre a Andragogia teve sua origem nos Estados Unidos.

Além disso, conhecer e relacionar o tema das publicações com as três áreas de educação, ou seja, educação do paciente, formação profissional e educação permanente, permite verificar se há prevalência em uma dessas modalidades e, por fim, identificar, por meio do número de publicações, como os estudos sobre o tema evoluíram ao longo dos anos.

O fato é que a educação em saúde é uma atividade tão importante quanto a assistência, o gerenciamento, a participação política e a pesquisa, e esse estudo pretende colaborar, por meio da medição quantitativa, objetiva e global das publicações sobre Andragogia na área da saúde, para agregar conhecimentos, indicar o impacto dos trabalhos que utilizam a Andragogia como recurso de aprendizagem de adultos na saúde, na formação profissional e da educação permanente, além de subsidiar outras pesquisas com esse enfoque e que tenham com finalidade contribuir para a melhoria da educação em saúde.

O objetivo do artigo é quantificar e descrever as características da produção científica sobre Andragogia, nas Ciências da Saúde, no período de 1999 a 2009.

 

MÉTODO

Estudo descritivo, tipo bibliométrico, definido por Saes15 como medidas quantitativas e qualitativas das publicações científicas, incluindo estudos comparativos de publicações e de citações. Bibliometria é o estudo dos aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso da informação registrada, que desenvolve padrões e modelos matemáticos para medir processos, usando seus resultados para elaborar previsões e apoiar a tomada de decisão.

O levantamento foi realizado nas bases de dados: MEDLINE (National Library of Medicine), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Bases de Dados de Enfermagem), EMBASE (Excerpta Medica Database) e ERIC (Education Resources Information Center), e no banco de teses da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), por meio das bibliotecas virtuais: BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), PUBMED (United States National Library of Medicine), SIBi USP (Sistema integrado de bibliotecas da USP) e SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), nos sites http://www.bireme.br/php/index.php, http://www.usp.br/sibi/, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/, http://www.scielo.org/php/index.php e http://servicos.capes.gov.br/capesdw/.

A coleta dos dados deu-se no mês de julho de 2009 e, para tanto, utilizou-se o descritor "Andragogia" e suas derivações na língua inglesa: "andragogy" ou "andragogical" ou "andragogic". Além dos termos acima citados, empregaram-se "Knowles", que é o sobrenome do principal estudioso do assunto, e "adult learning teory" que é o nome da teoria estudada. O critério para escolha das bases de dados citadas refere-se ao fato de elas concentrarem maior número de publicações na saúde, e da base ERIC, maior número de publicações na educação.

Definiu-se como recorte temporal o período entre janeiro de 1999 e julho de 2009. Essa escolha se deu devido à publicação de importante revisão bibliográfica sobre Andragogia que trata de forma crítica o conceito andragógico e seus limites na educação em saúde, no início do recorte temporal.

Foram excluídos os estudos que não continham resumo, visto que dificultariam a identificação do tema. Localizaram-se, então, 98 publicações. A partir dessa estratégia, o banco de dados foi construído com ferramenta Excel®, nela distribuindo-se as variáveis, a partir do que foram calculadas a frequência simples e a frequência relativa de cada uma, para descrição dos achados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Quadro 1, que se refere às Ciências da Saúde e publicações sobre a Andragogia de 1999 a 2009, mostra que a Enfermagem lidera as publicações sobre o tema com 54 (55,10%) títulos, seguida da Medicina, com 27 (27,56%) estudos. As demais áreas, administração em saúde, Nutrição, Fisioterapia, Odontologia, Farmácia, Psicologia e Veterinária, representam 17 (17,34%) publicações, embora com quantidade menos significativa. A observação desses dados indicou que a maior parte das áreas das Ciências da Saúde estudou o tema, o que permite sugerir que o assunto é relevante para as profissões envolvidas.

 

 

A Veterinária, que é considerada uma ciência agrária, e a Administração em Saúde merecem destaque por evidenciarem preocupação na formação do profissional e na educação permanente. No item outros, está o Serviço Social, que é uma subárea das Ciências Sociais aplicadas e que aparece com publicações relacionadas à formação dos profissionais das Ciências da Saúde. A Enfermagem demonstra grande interesse pelo uso da Andragogia na educação, o que pode estar relacionado ao fato de que tradicionalmente aborda o educar como uma das ferramentas para o exercício da profissão.

Além disso, esse dado também sugere a necessidade de superação do uso da metodologia de ensino tradicional, em função das mudanças observadas no mercado de trabalho, que exige um profissional mais crítico, reflexivo e proativo, o que é possível com o uso de estratégias que instiguem a busca pelo saber, como afirmam Lima; Cassiani16; sendo a Andragogia uma dessas alternativas.

Também se pode relacionar a concentração de estudos sobre Andragogia na Enfermagem e Medicina ao projeto UNI, desenvolvido em países da América Latina desde a década de 1990, que apoiou pesquisas nessas áreas e foi um dos responsáveis por trazer conceitos da Andragogia para a reflexão de estudiosos brasileiros responsáveis por conceber desenhos pedagógicos nesse projeto. O Projeto UNI foi uma iniciativa da fundação W. K. Kellogg que decidiu dar início a um programa denominado "Uma Nova Iniciativa na Formação dos Profissionais de Saúde: União com a Comunidade". O Programa UNI articulou a implantação de prática pedagógica inovadora na formação de profissionais de saúde, pela universidade, mudança da prática de atenção à saúde no âmbito dos Serviços Locais de Saúde (SILOS) e novo tipo de participação social, com vistas à promoção da saúde e melhoria da qualidade de vida.17

Com relação ao veículo de publicação, a maior parte dos estudos foi localizada em periódicos, ou seja, 90 (91,84%) publicações. Uma parte menor, ou seja, sete (7,14%), eram teses, sendo seis de mestrado e uma de doutorado; havia um (1,02%) editorial. Com grande número de publicações em periódicos, entende-se que o assunto foi bastante divulgado. O acesso fácil, que é característico do periódico, permite que os interessados no assunto possam consultar as publicações rapidamente, aplicando seus resultados na educação de pacientes, formação profissional e educação permanente.

Com relação às teses, esse dado demonstra que é relativamente recente o interesse de investigação complexa e aprofundada sobre tema e, também, que o assunto é pouco conhecido em relação a outros temas de saúde. Porém, comparando-se esse dado com o total de publicações, verifica-se que apresenta impacto considerável, visto que representa 8% do total, o que é relevante e não pode ser desconsiderado. Por fim, há apenas um editorial, o que demonstra que o assunto ainda não fez por merecer posicionamento político relevante, talvez por ser ainda um assunto novo e que promete provocar muitos estudiosos em educação com o passar do tempo.

O Quadro 2 trata do tipo de publicação sobre a Andragogia de 1999 a 2009. A maior parte dos estudos são: revisões críticas, com 37 (37,76%) títulos, seguidos de 35 (35,71%) pesquisas originais, 14 (14,29%) relatos de experiência, 11 (11,22%) reflexões e 1 (1,02%) editorial. Geralmente, o momento inicial de pesquisa sobre um determinado tema envolve maior número de revisões críticas, e, à medida que o assunto é pesquisado, os estudos originais crescem gradativamente.

 

 

Pode-se observar que as revisões surgem quase na mesma proporção que as pesquisas originais, demonstrando que, no período estudado, houve interesse dos autores em testar e confirmar a eficácia da teoria e utilizá-la para melhorar a qualidade do ensino. O número de relatos de experiência demonstra o interesse dos estudiosos em divulgar vivências com o uso da Andragogia e indica o entusiasmo crescente dos pesquisadores, visto que o número apresentado desse tipo de publicação é considerável, em relação ao total. As reflexões, que emergem da inquietação do pesquisador, também foram frequentes, evidenciando a dedicação em expor ideias e confrontar outros leitores interessados no assunto.

O Quadro 3 apresenta os países e idioma das publicações sobre Andragogia, de 1999 a 2009, e permite afirmar que os EUA foram o país que mais publicou sobre Andragogia, com 36 (36,74%) estudos, seguido pelo Reino Unido, com 22 (22,45%), e Brasil, com nove (9,18%) estudos.

 

 

Os EUA divulgam mais pesquisas porque possuem mais meios e recursos de incentivo à pesquisa do que outros países e, ainda, porque vários pesquisadores publicam seus estudos no referido país. Além disso, o autor de referência do assunto era de origem norte-americana e certamente possui seguidores no país que têm dado continuidade às pesquisas nessa temática. Com relação ao Reino Unido, foram considerados os países Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales, e várias publicações se referiram ao coletivo destes, como local de origem dos estudos relacionados, optando-se por manter essa taxonomia. Com relação aos outros países que publicaram sobre o tema em estudo, ou seja, 27 (27,55%) publicações, vale dizer que estão dispersos por todos os continentes, levando à dedução de que o assunto tem sido estudado em vários cantos do planeta, o que indica sua abrangência.

Quanto ao idioma, a maior parte dos estudos foram escritos principalmente em inglês, com 73 (74,50%) trabalhos, seguido do espanhol, com 10 (10,20%), e do português, com nove (9,18%). O fato de os estudos serem, em grande parte, escritos na língua inglesa, está relacionado ao meio de divulgação mais utilizado para comunicação. É fácil compreender também que, sendo a maioria dos estudos realizados em países que têm como língua oficial o inglês, no caso EUA, Reino Unido e Canadá, é esperado que haja maior parte de publicações nessa língua. Já os estudos em português foram produzidos no Brasil, permitindo inferir que existe interesse significativo em estudar Andragogia nesse país.

Acrescente-se ainda que, no Brasil, é fato que grande parte dos enfermeiros não domina a língua inglesa. Pode-se citar como indicativo dessa situação os índices de reprovação nas provas de proficiência nessa língua para acesso a programas de Mestrado e Doutorado.18 Essa dificuldade torna restrito o consumo de relatórios de pesquisas que não sejam escritos em português, a língua oficial do país.

No Quadro 4, que se refere à temática abordada nas publicações sobre Andragogia de 1999 a 2009, pode-se notar que a formação profissional é a temática preponderante nos estudos, com 50 (50%) publicações, seguida por 24 títulos (25%) sobre educação de clientes/pacientes e 21 (22%) sobre educação permanente. Vale ressaltar que três (3%) estudos não se classificaram na escala utilizada, um deles por se tratar de editorial e os outros dois por se tratarem de reflexão.

 

 

A classificação também revelou que a maior parte dos estudos de formação profissional foi realizada nos EUA, o que demonstrou intenção em investir em pesquisas na formação do profissional das ciências da saúde, principalmente na Enfermagem, ou a preocupação em estabelecer metodologias de aprendizagem compatíveis com o perfil do aluno adulto. A temática relacionada à formação profissional também pode estar relacionada à crise na educação, visto que os estudiosos, nos EUA, relatam perda de interesse na busca de escolas de formação de enfermeiros.19

No Brasil, o destaque da temática está relacionado aos estudos direcionados a clientes e pacientes, ou seja, há maior interesse de investir em estudos na educação de clientes e pacientes, o que leva a inferir que há maiores investimentos nessa área, provavelmente porque as instituições de saúde devem apoiar esse tipo de estudo.

A Figura 1 apresenta o número de publicações por ano sobre a Andragogia, de 1999 a 2009. Ao comparar as publicações dos primeiros e dos últimos cinco anos, nota-se que o número de estudos é praticamente igual, sendo que aos do ano de 2009 foram incluídos artigos publicados até julho.

Houve variabilidade de 10% a partir da linha média, permitindo determinar que as publicações se mantivessem praticamente constantes e regulares ao longo dos anos estudados, ou seja, houve interesse legítimo e duradouro sobre o assunto entre os pesquisadores da área das Ciências da Saúde. A exceção à regularidade ocorreu nos anos 2003, 2007 e 2008, quando houve aumento no número de estudos, que pode ser decorrente de fatores tais como números temáticos das revistas direcionados à educação e eventos de educação, circunstâncias que alteram o ritmo das publicações. Não se sabe exatamente quais os movimentos da Educação, no Brasil e no mundo, ocorridos nesse período, que explicariam tais variações, o que desperta para a realização de futuros estudos, com foco não mais na quantidade e sim no conteúdo das publicações e sua aproximação das mudanças ocorridas na Educação.

 

CONCLUSÕES

A Andragogia como estratégia de aprendizagem nas Ciências da Saúde foi pesquisada de forma relevante e significativa, no período estudado - 1999 a 2009, constatando-se que é um tema impactante, que deverá se manter em evidência no futuro.

A Enfermagem destacou-se na quantidade de publicações sobre Andragogia, demonstrando grande interesse em rever, aplicar, relatar e discutir o assunto.

A maior parte dos estudos foi publicada em periódicos, caracterizando escolha que valoriza a rapidez e facilidade de acesso às publicações. Houve também número não desprezível de teses, mas aquém do esperado para atender à necessidade de aprofundamento no assunto.

Os tipos de pesquisa encontrados nesse estudo indicaram que os pesquisadores em Educação demonstraram entusiasmo e necessidade de opinar sobre Andragogia e sua aplicabilidade nas Ciências da Saúde.

Os estudos publicados se concentraram nos EUA, foram escritos na língua inglesa porque grande parte dos outros países de origem das publicações também utiliza o referido idioma como oficial. Porém, uma parte significante desses estudos foi publicada no Brasil, sugerindo que há grande interesse em estudar esse tema nesse país.

A formação profissional lidera o tema das publicações nos EUA, sugerindo maior interesse em aplicar a Andragogia nessa área. No Brasil, essa liderança está relacionada à educação de pacientes, provavelmente por incentivo das instituições onde os profissionais exercem atividades assistenciais.

Sua aplicação na Educação Permanente não foi objeto de muitas publicações, ficando restrita a três títulos, o que faz indagar sobre a pouca valorização dessa estratégia nesse campo do ensino.

As publicações se distribuíram de forma regular ao longo dos anos, porém há picos de publicações, provavelmente relacionados a intervenções educativas. A relativa regularidade nos dez anos pesquisados demonstrou interesse legítimo e duradouro.

Com esse estudo, espera-se ter contribuído para atestar o impacto desse tema na aprendizagem nas áreas de educação do paciente, formação profissional e educação permanente, e subsidiar o embasamento de novas pesquisas sobre o assunto.

 

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Recebido em 09/09/2009
Reapresentado em 25/05/2010
Aprovado em 22/10/2010

 

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