Volume 14, Número 1, Jan/Mar - 2010
EDITORIAL
Produção e difusão do conhecimento científico da enfermagem na atualidade: desafios e implicações na formação e qualificação do enfermeiro
Neide Aparecida Titonelli Alvim I
I Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem (Nuclearte). Diretora da EEAN/UFRJ. Brasil. E-mail: titonelli@terra.com.br
Para se discutir a produção e difusão do conhecimento de uma determinada área, tornam-se importantes e indispensáveis a sua articulação à pesquisa e o seu financiamento pelas agências nacionais de fomento encarregadas da política de desenvolvimento da pós-graduação e da ciência e tecnologia, tendo em vista as áreas e estratégias prioritárias. Nessa lógica, a definição das prioridades de investimento em pesquisa se articula com a visão governamental sobre a ciência, a pesquisa e a tecnologia.
Denota-se daí que a produção do conhecimento deve ter como uma de suas premissas atender às demandas da sociedade, considerando seus nexos entre as políticas públicas e o desenvolvimento socioeconômico do país. Isto implica uma estreita relação entre o sistema educacional e as exigências da ciência e da tecnologia, permitindo, sobretudo, alimentar as expectativas de construção de uma sociedade includente e mais justa. No que tange ao desenvolvimento profissional, a construção de conhecimentos sólidos capazes de produzir avanços significativos na prática é condição essencial para garantir a credibilidade de uma profissão.
A implantação dos cursos de mestrado e, posteriormente, de doutorado em Enfermagem trouxe grandes benefícios e se constituiu em uma importante estratégia para o fortalecimento da profissão no campo da ciência. A pesquisa começou a se estruturar, surgiram as subáreas do conhecimento e estabeleceram-se políticas próprias da área. Os movimentos de formação de redes, com a organização dos grupos e linhas de pesquisa, vêm favorecendo o aprofundamento dos conhecimentos de enfermagem, principalmente a partir do desenvolvimento dos grupos de pesquisa (GP). Atualmente, o Diretório de GP do CNPq registra 328 GPs na área. A implantação do comitê próprio da área da Enfermagem, no CNPq, também se apresenta na relação de espaços conquistados pela profissão no âmbito da comunidade científica de modo a conferir-lhe maior visibilidade às especificidades de sua produção.
No que concerne à difusão do conhecimento produzido, a criação dos periódicos específicos de Enfermagem, com destaque para a Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), a primeira a ser criada, e o Centro de Pesquisa em Enfermagem (CEPEn), ambos vinculados à Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), impulsionaram a divulgação científica da área. Outra iniciativa da ABEn neste mesmo pleito é a promoção bienal do Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem.
No bojo dos desafios que se colocam à produção e difusão do conhecimento na Enfermagem está o investimento na formação do jovem cientista, da graduação à formação do doutor. Sobre a validação da pesquisa produzida, há de se ressaltar que, além da importância de sua aplicabilidade na prática, esta se apresenta diretamente ligada à sua difusão na sociedade científica, sendo um dos indicadores que permitem avaliar o crescimento científico e tecnológico de uma determinada área, já que é principalmente pela difusão que se ampliam as discussões e reflexões que retroalimentam a produção.
No âmbito da formação profissional, é preciso trabalhar no entendimento fecundo do compromisso social da profissão com a qualidade de vida e de saúde das pessoas, articulando na formação do enfermeiro a pesquisa com a extensão, esta entendida como laboratório vivo para o desenvolvimento de investigações e de vivência acadêmica nas relações estabelecidas no âmbito do processo de ensino-aprendizagem. É preciso proporcionar possibilidades de experiências de integração social de modo que o estudante e o professor possam se atualizar diante das demandas da realidade e dos problemas sociais, e das repercussões destes na vida acadêmica e no processo ensino-aprendizagem.
Quanto à pós-graduação, é necessário manter ativos o espírito solidário e a cooperação internacional. Hoje, um dos maiores desafios em termos da ciência, da tecnologia e da educação de pós-graduação é o combate às desigualdades regionais. Torna-se imperativo que a Enfermagem, como profissão, desenvolva um corpo relevante de conhecimentos e habilidades para garantir sua existência como ciência e atender às mudanças necessárias no plano social, reconhecendo a complexidade humana no desenvolvimento de sua base teórica e a limitação do pensamento linear e da visão fragmentada para tratar problemas complexos.