ISSN (on-line): 2177-9465
ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
COPE
ABEC
BVS
CNPQ
FAPERJ
SCIELO
REDALYC
MCTI
Ministério da Educação
CAPES

Volume 13, Número 2, Abr/Jun - 2009

REFLEXÃO

 

Comparativo de personagens da história da enfermagem brasileiraa

 

Comparative analysis of people who shaped the history of nursing in Brazil

 

Comparativo de personajes de la historia de la enfermería brasileña

 

 

Patrícia de Oliveira Furukawa

Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela UNIFESP. Membro do Grupo de Estudos e pesquisa s em Administração e Gerenciamento de Enfermagem GEPAG da UNIFESP. Brasil. E-mail: patricia.furukawa@yahoo.com.br


RESUMO

Este artigo trata de uma reflexão sobre a história de profissionais que se destacaram na Enfermagem. Para isso, foi realizada uma pesquisa sobre algumas personagens que muito realizaram pela Enfermagem e pela saúde no país. A análise das histórias dessas enfermeiras revelou fatos em comum, como: o rompimento de paradigmas relacionados ao casamento; a formação em instituições renomadas; a ocupação em cargos de grande importância; a participação expressiva em entidades de classe, assim como uma relação com a formação de qualidade. Através de suas biografias, percebe-se que, apesar de o contexto político da época ter favorecido na formação dessas enfermeiras, muito esforço e dedicação foram necessários para essas trajetórias de sucesso, que colaboraram para a consolidação da Enfermagem brasileira.

Palavras-Chave: Enfermagem. História da Enfermagem. Enfermeiras


ABSTRACT

Este artículo es una reflexión sobre la historia de los profesionales que se destacaron en la enfermería. Para ello, la búsqueda se llevó a cabo en algunos personajes que hicieron mucho para la enfermería y la salud en el país. El análisis de las historias de estas enfermeras puesto de manifiesto en hechos común como: la ruptura de paradigmas relacionado con el matrimonio, la formación en instituciones de renombre, la ocupación en puestos de gran importancia, la participación en asociaciones profesionales expresiva, a si como una relación con la formación de calidad. A través de sus biografías, se puede ver que a pesar del contexto político de la época han favorecido la formación de esas enfermeras, mucho esfuerzo y dedicación fueron necesarios para esas trayectorias de éxito, que cooperaron en la consolidación de la enfermería brasileña.

Keywords: Nursing. History of Nursing. Nurses


RESUMEN

This article presents a reflection about the story of outstanding nursing professionals. For this purpose, a survey was conducted among some people who contributed a lot to nursing and health in Brazil. The analysis of these nurses' stories unveiled facts in common: breaking of paradigms relating to marriage, education at renowned institutions, holding of very important jobs, significant membership in professional associations, and quality education. The bios of these nurses reveal that, while the political scenario then existing contributed to their education, unswerving dedication and diligence, were the key for their successful careers and helped consolidate nursing in Brazil.

Palabras clave: Enfermería. Historia de la Enfermería. Enfermeras


 

 

INTRODUÇÃO

A leitura do depoimento da vida de Clarice Della Torre Ferrarini(1) trouxe recordações do tempo de graduanda e, em especial, de uma gerente de enfermagem e também professora que muito admirava e a quem tinha como referência profissional. Ela havia realizado grandes transformações na instituição hospitalar que gerenciava e possuía serenidade e habilidades especiais para lidar com as pessoas, além de uma ótima apresentação pessoal. Os funcionários tinham um grande respeito por ela e não ousavam enfrentá-la.

Isso não quer dizer que ela não recebia críticas por algumas de suas ações. O texto sobre Clarice revela algumas particularidades, como, por exemplo, um estilo de liderança autoritária que pode ser contestado por algumas pessoas; porém, a sua dedicação e o reconhecimento do seu trabalho, inclusive por outras áreas da saúde e até do meio político, não podem ser negados.

Com tudo isso, estar novamente experimentando essa sensação de admiração por uma enfermeira e perceber que há histórias de sucesso na área da Enfermagem, com consequente valorização profissional, me proporcionou motivação extra com relação a minha profissão, e para pesquisa r outras pessoas que se destacaram na Enfermagem, permitindo analisar, através da história, o que elas tinham em comum que possa servir como referência na constante busca do progresso da profissão.

Entendendo a História de Enfermeiras de Destaque

Ainda que a Enfermagem seja uma profissão antiga, do início da Era Cristã até toda a Idade Média, o seu trabalho era pautado no modelo religioso, que se restringia à caridade e ao conforto da alma dos doentes. Foi a partir do século XIX, com Florence Nightingale, na Inglaterra, que se configurou um outro processo do trabalho para a Enfermagem a partir das suas propostas de reorganização dos hospitais militares, implementadas durante a Guerra da Criméia. Além disso, ela institucionalizou o ensino da Enfermagem, criando, em 1860, a primeira escola de Enfermagem do mundo(2).

A moderna Enfermagem profissional, criada por Florence, foi estabelecida oficialmente no Brasil em 1923, com a fundação da Escola de Enfermagem Anna Nery no Rio de Janeiro. Em São Paulo, em 1894, enfermeiras inglesas haviam implantado, no Hospital Samaritano, um curso de Enfermagem, dentro do denominado sistema "nightingaleano". Mas a implantação oficial do ensino da Enfermagem na cidade de fato ocorreu apenas em 1942, com a criação da Escola de Enfermagem de São Paulo, anexa à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)(3).

Foi a partir deste período que várias enfermeiras diplomadas se destacaram no Brasil e atualmente são consideradas pioneiras da profissão no país. Isso serviu de base na escolha das enfermeiras aqui analisadas.

Rachel Haddock Lobo, Laís Neto dos Reys, Waleska Paixão, Edith de Magalhães Fraenkel, Clarice Della Torre Ferrarini, Haydée Guanais Dourado, Izaura Barbosa Lima, Glete de Alcântara, Olga Verderese e Wanda de Aguiar Horta são exemplos de profissionais que muito realizaram pela Enfermagem e que curiosamente tinham aspectos em comum

O primeiro rompimento de paradigmas realizado pela maioria dessas mulheres foi com relação ao casamento. A maioria das enfermeiras citadas não foi casada, com exceção de Raquel, Laís e Wanda. O que, para a época, era algo mal visto, uma vez que persistia o entendimento de que a felicidade pessoal da mulher estava vinculada ao casamento, através do qual ela consolidava sua posição social e garantia sua prosperidade ou estabilidade econômica(4). O caso de Rachel era ainda mais grave, pois o desquite era algo quase que inaceitável, tanto que, após a sua separação, ela permaneceu num convento de freiras durante oito meses, saindo de lá com o firme propósito de se dedicar à Enfermagem. Possivelmente, essa decisão foi uma forma de satisfazer à sociedade da época e um meio de assegurar sua posição social(5).

A formação dessas profissionais ocorreu em renomadas Escolas de Enfermagem do país e no exterior, na maioria dos casos incentivada pela Fundação Rockeffeler. O modelo introduzido por essa fundação pretendia formar enfermeiras com treinamento e controle exercidos pelas enfermeiras norte-americanas. A perspectiva de uma carreira construída para os profissionais de enfermagem, à qual se tinha acesso por seleção e na qual se ascendia por mérito, ganha destaque a partir de 1922, ano de criação do Serviço de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, e em 1923, com a fundação da Escola Anna Nery(6), onde cursou a maior parte dessas enfermeiras que tiveram formação no Brasil.

Nas décadas de 30 e 40, outras escolas foram sendo criadas em vários pontos do Brasil, tais como a Escola de Enfermagem Raquel Haddoch Lobo, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em Belo Horizonte, a Escola de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, a Escola de Enfermagem em Salvador, a Escola de Enfermagem no Rio Grande do Sul e a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto(7).

Com isso, foram surgindo outros destaques da profissão formados por outras escolas de Enfermagem, como Waleska Paixão, que se formou pela Escola de Enfermagem Carlos Chagas, e Olga Verderese e Wanda de Aguiar Horta, que se formaram pela USP.

Das formadas no exterior, todas cursaram Enfermagem em países em que o modelo anglo-americano de enfermagem estava mais desenvolvido, como Canadá, França e Estados Unidos.

De 1920 a 1960, as enfermeiras que se destacassem no curso ou em suas atividades profissionais também eram enviadas para esses países para se prepararem para a direção de escolas e serviços de enfermagem nos órgãos públicos de saúde(1).

O acesso às escolas de Enfermagem por seleção, a ascensão por mérito com a oportunidade de realizar bons cursos, assim como a preparação para cargos de direção, confirmam o destaque e a dedicação dessas personagens, desde o início de suas trajetórias profissionais.

Essas pioneiras criaram escolas e organizaram importantes serviços de saúde em diversos recantos do Brasil, especialmente nas capitais dos Estados(7). Inclusive, muitas foram sucessoras uma das outras nos cargos de direção de escolas, serviços de saúde e na Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn).

A participação efetiva na criação e desenvolvimento da ABEn foi um ponto em comum entre todas essas mulheres, demonstrando uma preocupação constante por parte delas quanto à necessidade de se unirem para enfrentarem os desafios da profissão, mediante a participação em entidades de classe. Segundo Sanna (8:223), "para transformar a realidade, é preciso atuar sobre o objeto da participação política, que é constituído pela força de trabalho em enfermagem e sua representatividade social, que tem nas entidades de classe sua concretização".

No intuito de valorizar a profissão, algumas delas lançavam mão de outras estratégias, como a prestação de cuidados a pessoas influentes no meio social. As suas destacadas atuações no campo da Enfermagem explicam-se também por suas influências nos meios militar, religioso e político (9).

Essa preocupação com o desenvolvimento da Enfermagem também é refletida através da relação dessas enfermeiras com a formação de profissionais de boa qualidade, tendo contribuído em muito com o ensino da Enfermagem, seja como professoras e diretoras de escolas, seja na criação de revistas com diversas publicações na área.

A criação da Revista Annaes de Enfermagem, atual Revista Brasileira de Enfermagem, tem hoje status de revista internacional, tanto pela qualidade de suas publicações como pelo moderno sistema de base de dados e circulação(7).

Outro fato interessante é que todas se conheceram, se encontraram e se ajudaram, seja pelo espírito agregador de Edith de Magalhães Fraenkel, pela força que tiveram a ABEn e a Revista Brasileira (o único veículo de comunicação impresso da profissão por muitos anos) ou por suas ligações com o ensino(7).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fatos em comuns envolvem essas pioneiras da Enfermagem, como o rompimento de paradigmas relacionados ao casamento, a formação em instituições renomadas, a ocupação em cargos de grande importância, a participação expressiva em entidades de classe, assim como uma relação com a formação de qualidade.

Portanto, exemplos de profissionais que se destacaram na história da profissão e na saúde não nos faltam. Felizmente, muitas outras enfermeiras mereciam ser citadas aqui por seus grandes feitos na Enfermagem. Resumir suas trajetórias ou mesmo selecionar algumas delas não é algo fácil.

Através de suas biografias, percebe-se que, apesar de o contexto político da época ter favorecido na formação dessas enfermeiras, muito esforço e dedicação foram necessários para essas trajetórias de sucesso, que colaboraram na consolidação da Enfermagem brasileira.

 

Quadro 1 - Clique para ampliar

 

REFERÊNCIAS

1. Sanna MC. Clarice Della Torre Ferrarini: o depoimento de uma pioneira da administração em enfermagem no Brasil. Hist Cienc Saude 2003 set/dez;10(3):1053-70.

2. Spagnol CA. (Re) pensando a gerência em enfermagem a partir de conceitos utilizados no campo da saúde coletiva. Cienc Saude Colet 2005 mar;10(1):119-27.

3. Oguisso T, Freitas GF. Ensino e pesquisa sobre história da enfermagem na graduação e pós-graduação da Escola de Enfermagem, da Universidade de São Paulo. Rev Pesq: cuidado é fundamental. 2005;9(1/2):79-91.

4. Saffioti HIB. A mulher na sociedade de classes: mito ou realidade. 2ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 1976.

5. Secaf V, Costa HCBA. Enfermeiras do Brasil: história das pioneiras. São Paulo (SP): Martinari; 2007.

6. Moreira MCN. A Fundação Rockefeller e a construção da identidade profissional de enfermagem no Brasil na Primeira República. Hist Cienc Saude 1999 fev;5(3):621-45

7. Furegato ARF. Enfermeiras do Brasil: história das pioneiras. Rev Latino-am Enfermagem 2008 fev;15(1):70-7.

8. Sanna MC. Os processos de trabalho em enfermagem. Rev Bras Enferm 2007 abr;60 (2):221-24.

9. Rocha LB, Barreira IA. A enfermagem e a condição feminina: figuras-tipo de mulheres no Estado Novo. Esc Anna Nery Rev Enferm 2002 ago;6(2):195-210.

 

Nota

a Artigo de Reflexão apresentado na disciplina de Visões da História, do Ensino e da pesquisa sobre Administração em Enfermagem, nível strictu sensu, da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP.

 

 

Recebido em 13/03/2008
Reapresentado em 28/06/2008
Aprovado em 11/09/2008

 

© Copyright 2024 - Escola Anna Nery Revista de Enfermagem - Todos os Direitos Reservados
GN1