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CAPES

Volume 12, Número 4, Out/Dez - 2008

EDITORIAL

 

Necessidade de publicação e produção científica por áreas temáticas na EEAN: razões e reflexões básicas

 

 

Maria Antonieta Rubio TyrrellI

I Profa. Dra Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil DEMI e Diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery; Pesquisadora do CNPq e Presidenta da ALADEFE/UDUAL.

 

 

A idéia de que a Revista de Enfermagem Escola Anna Nery atendesse a demanda de produção de artigos por temática surgiu em 2006 considerando três fatos básicos: o primeiro se relacionava à necessidade de oferta de um quarto exemplar para atender um critério de avaliação da qualidade da revista na corrida de sua indexação pelo SciELo, considerando-se que os três volumes que oferecia a Escola contavam desde 1997 com uma estrutura consolidada com avaliação pela CAPES de "Qualis C Internacional"; o segundo atendia, de forma urgente, a grande demanda de produção de artigos, tanto do âmbito interno quanto externo, sobre áreas do saber da Enfermagem consideradas "consagradas" e outras "emergentes" na profissão e na área de saúde; e o terceiro fato direcionava-se a tratar uma tendência ligada a compromissos assumidos pelos núcleos temáticos de investigação, de um lado, e, de outro lado, aos resultados de pesquisas multicêntricas nacionais e internacionais. A convergência de todos estes fatores determinantes convergiam, na minha opinião, no respeito à tradição sem desrespeitar a inovação.

Nesse sentido, o Conselho Consultivo da Revista pautou para discussão em 2006 a oferta em 2007 do seu quarto volume e suas características, marcando com esta iniciativa um passo ao desenvolvimento e consolidação de sua periodicidade e qualidade, definindo que, até 2009, os conteúdos temáticos abrangeriam: álcool e drogas, saúde da mulher e saúde da criança e do adolescente, todos estes assuntos considerados de necessidade societária e declaradas pelos Governos Federal, Estatal e Municipal de prioridade do Estado na prevenção das doenças e problemas sociais relativas à discriminação de equidade de gênero e de atendimento às pressões advindas dos movimentos sociais, em geral, e feminista, em especial. Este fato se tornou um acontecimento concreto no aniversário dos 10 anos da criação da Revista de Enfermagem Escola Anna Nery, em 2007, quando fizemos lançamento, em sessão solene, do primeiro volume que atendia esta proposta a qual foi aprovada por unanimidade pela douta Congregação da EEAN/UFRJ.

A necessidade de publicar a produção científica por áreas temáticas acompanha também o desenvolvimento da Enfermagem como uma "Disciplina Científica", num contexto de franco e acelerado desenvolvimento e consolidação da área no campo da saúde e das ciências sociais, a partir, principalmente, da ampliação dos quantitativos e qualitativos, inicialmente da inserção da Iniciação Científica (IC) nos Cursos de Graduação em Enfermagem como é o caso da EEAN e, posteriormente, dos Programas de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado na perspectiva mundial, advindos da internacionalização da educação superior (em todos os níveis) e como conseqüência também da investigação articulada ao ensino e à extensão, num contexto neoliberal de mercado da ciência e tecnologia das nações tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento.

É mister enfatizar que a Saúde da Mulher desde o início do século XX tem sido alvo de propostas governamentais, embora umas consideradas "restritas" e outras "ampliadas", mas sempre declaradas como prioridade do Governo Nacional no "combate às altas taxas de morbimortalidade materna e perinatal". Denominamos, tal como o Ministério da Saúde (MS, 2007) aponta: propostas restritas aquelas que contemplam questões biologistas e medicalizadas do corpo humano e ampliadas aquelas que atendem as dimensões dos direitos humanos e de cidadania.

Nessas duas vertentes de caracterização da natureza das propostas governamentais em saúde da mulher no país, perpetuaram/inovaram também a caracterização da natureza da condição de ser mulher (âmbito privado) sexualmente identificada e da condição de ser mulher (âmbito público) socialmente entendida na sua condição feminina. Esta reflexão implica o reconhecimento (como consta em muitos estudos) de que a mulher, numa caracterização restrita, limitava-se a ser objeto da reprodução e da maternidade, ou a ausência das doenças; e, na caracterização ampliada, a mulher conquista sua contemplação como sujeito social, com direitos humanos, sexuais e reprodutivos; por tanto, a conotação de ser mulher avança de uma concepção de coisificação para a de cidadania.

É importante afirmar que estas reflexões teóricas perpassam por uma argumentação de equidade de gênero e de uma política de assistência integral e humanizada dos problemas de saúde da mulher, bem como da compreensão do perfil real da saúde e da doença num contexto ou não de crise, que atravesse o sistema de saúde ou da nação, consideradas as variações, que segundo Laurell (1982), advêm do espaço e do tempo baseados no grau de desenvolvimento econômico, social e humano de cada região.

Para terminar, deixando claro que estas reflexões são básicas e que têm unicamente a pretensão de avançar na clarificação da problemática sobre recuos/avanços da Política de Saúde Integral à Mulher no Brasil e suas influências na promoção de sua saúde - no sentido mais amplo de sua compreensão de oferta de cuidados cidadãos -, pode-se inferir que as influências na formação e qualificação dos enfermeiros na área também podem se caracterizar e se entender considerando as dimensões de propostas de mudanças curriculares de caráter restrito ou ampliado. Avançar neste processo significaria estudar e inserir aspectos conceituais e metodológicos (reflexivos e críticos) no processo de ensinar a cuidar em Enfermagem, contemplados as questões fundamentais de gênero, humanização, direitos humanos, sexuais e reprodutivos, o sistema único de saúde e a política de assistência integral à saúde da mulher.

 

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