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CAPES

Volume 12, Número 2, Abr/Jun - 2008

REFLEXÃO

 

Práticas culturais familiares e o uso de drogas psicoativas pelos adolescentes: reflexão teórica

 

Family culture practices and psychoactive drug abuse by adolescents: theoretical reflection

 

Las prácticas culturales familiares y el uso de drogas por los adolescentes: reflexión teórica

 

 

Hellen RoehrsI; Maria Helena LenardtII; Mariluci Alves MaftumIII

IMestre em Enfermagem. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cuidado Humano de Enfermagem ? NEPECHE ? UFPR. E-mail: hellenroehrs@yahoo.com.br
IIDoutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Sênior do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da UFPR
IIIDoutora em Enfermagem. Professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da UFPR

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é refletir acerca da temática das drogas na adolescência e da influência das práticas culturais familiares. A construção da identidade para os adolescentes toma contornos significativos no período da adolescência; nesta, está em jogo um conjunto de fatores que os despertam para uma nova perspectiva de olhar a vida com significados próprios. A família em nossa sociedade constitui sistema básico, com ampla diversidade de valores, formas de organizar o seu modo de vida e exercer funções, como o cuidado à saúde de seus adolescentes. A existência de um conjunto de valores, crenças e práticas familiares constituem o referencial cultural que guia as ações da família. Nestas ações conjuntas encontram-se alguns "vícios familiares", entre os quais o uso das drogas, que corresponde a um problema familiar e social que atinge não somente a saúde física e mental da pessoa que as utiliza, mas toda a sociedade. Apontam-se possibilidades de aculturação de crenças e hábitos mais saudáveis por meio do trabalho individual, realizado com as famílias.

Palavras-chave: Adolescente. Relações Familiares. Drogas Ilícitas. Cultura.


ABSTRACT

This article objectifies to reflect on teenage drug abuse as well as the influence of cultural family practices. Identity build-up takes on meaningful outlines in adolescence, when an array of factors is at stake which brings new outlook to life with unique meanings. Family in our society takes up a basic system, with a broad value diversity, organizational ways of living and functioning such as teenagers' health care. The existence of a set of family values, beliefs and practices take up the cultural background which guides family actions. These actions entail some "bad family habits" such as drug abuse, a social and family problem affecting not only an individual's physical and mental health but also society as a whole. Possibilities of introduction of healthier beliefs and habits are pointed out by means of individual work carried out with families.

Keywords: Adolescent. Family Relations. Street Drugs. Culture.


RESUMEN

Se tiene como objetivo, en este artículo, reflexionar acerca de la temática de las drogas en la adolescencia y la influencia de las prácticas culturales familiares. La construcción de la identidad para las personas jóvenes toma contornos significativos en el periodo de la adolescencia; en esta está en juego un conjunto de factores que despiertan para una nueva perspectiva de mirar la vida con significados propios. La familia en nuestra sociedad constituye sistema básico, con amplia diversidad de valores, formas de organizar su modo de vida y ejercer funciones, como el cuidado a la salud de sus adolescentes. La existencia de un conjunto de valores, creencias y prácticas familiares constituyen el referencial cultural que conduce las acciones de la familia. En estas acciones conjuntas se encuentran algunos "vicios familiares", entre los cuales, el uso de drogas, lo cual corresponde a un problema familiar y social que afecta no solamente la salud física y mental de la persona que la utiliza, pero de toda la sociedad. Se apuntan posibilidades de aculturación de creencias y hábitos más saludables por medio del trabajo individual, realizado con las familias.

Palabras clave: Adolescente. Relaciones Familiares. Drogas Ilícitas. Cultura.


 

 

INTRODUÇÃO

O consumo de drogas psicoativas é considerado problema de ordem social, não somente em função de sua alta freqüência, mas principalmente devido às conseqüências prejudiciais para a saúde dos indivíduos e, conseqüentemente, para a sociedade1.

Segundo pesquisas realizadas em 1997, cerca de 75% dos estudantes afirmaram ter consumido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida e 30% já haviam usado até se embriagar 2. Em outro estudo, realizado pela Organização Mundial da Saúde em 2006, foi identificado que o uso do cigarro, álcool e outras drogas ilícitas está entre os 20 maiores problemas de saúde no mundo, sendo que o tabaco é responsável por 9% dos casos de morte, e o álcool, por cerca de 3,2% 3. A realidade mundial atual mostra que a farta disponibilidade da droga faz com que o álcool, o tabaco e até drogas consideradas mais pesadas estejam muito próximos das crianças e adolescentes. O álcool é comercializado com insuficiente controle governamental, tornando uma das drogas psicoativas de maior acesso e de uso mais freqüente pelos adolescentes 4.

A população de crianças e adolescentes corresponde aos segmentos da sociedade mais vulneráveis em face do uso indevido de drogas psicoativas, doenças sexualmente transmissíveis (DST) e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Atualmente constata-se um número cada vez maior de pré-adolescentes recorrendo ao uso de drogas; conseqüentemente, a iniciação começa cada vez mais cedo. A fase da experimentação das drogas ocorre, normalmente, entre os 10 e 12 anos4, e, apesar de muitas vezes ocorrer apenas de maneira experimental, podem-se notar padrões de comportamentos que são observados na vida adulta e indicam a necessidade de instituir medidas preventivas nessa etapa do desenvolvimento 5.

Conquanto a adolescência seja vigorosamente marcada por processos biológicos, as transformações pelas quais passam os adolescentes também resultam de processos inerentes ao pertencimento familiar6. Este representa forte influência e determina diferenças significativas sobre o estilo em projeção de vida dos adolescentes. Estudos revelam que as práticas culturais familiares muitas vezes são estímulos para a fase da experimentação e continuidade de uso das drogas 4. Entende-se, no estudo em tela, por práticas culturais aquelas que são reflexos das necessidades que os indivíduos apresentam, permeadas pelos sistemas de valores e crenças adquiridos na família.

O presente artigo é fruto, primeiramente, de discussões realizadas em sala de aula, na disciplina "Concepções do pensamento filosófico-antropológico aplicadas à enfermagem", do Curso de Mestrado em Enfermagem do Programa de Pós- Graduação em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. A idéia da temática emergiu especificamente do conteúdo da disciplina referente às discussões das práticas culturais em sociedade e, em razão das significativas citações pelos participantes, da existência de práticas familiares não saudáveis, as quais são assimiladas pelos adolescentes e demais membros da família. Para a avaliação final da disciplina, foi elaborado este artigo, com o objetivo de refletir acerca da temática das drogas psicoativas na adolescência e da influência das práticas culturais familiares. Para ajudar no embasamento teórico, foram realizadas buscas em bases de dados na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e no acervo da biblioteca da Universidade Federal do Paraná.

 

CULTURA, ADOLESCÊNCIA E DROGA

O exame em torno da problemática do consumo da droga já tomou diversos caminhos reflexivos. Este que se apresenta nos remete a uma breve tentativa de aproximação por meio da análise cultural; para tanto, é essencial valer-se do conceito de cultura de alguns autores que se assemelha na linha de definição.

A cultura deve ser vista "como conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições pelas quais as pessoas se inter-relacionam. E esta interação origina a organização social, sua modificação e sua transmissão pelas gerações". Em razão dessa passagem por gerações, torna-se um processo acumulativo, "resultado de todas as experiências repassadas pelas gerações que a antecederam" 7:295.

Cultura é conceito complexo em razão de representar uma teia de significados a serem interpretados. A compreensão adequada do conceito de cultura é a própria compreensão da natureza humana.

O homem é o único ser possuidor de cultura e isso o distingue dos outros animais. É possuidor de diversas capacidades como a comunicação oral, fabricação de instrumentos, modificação da natureza para adequar as suas necessidades e transmissão dos conhecimentos. Diante disso, ele é, em parte, resultado do meio cultural no qual foi socializado e, desta forma, é um herdeiro de longo processo acumulativo no que se refere ao conhecimento e à experiência adquirida pelas sucessivas gerações que o antecederam8.

O surgimento da cultura se deu a partir do momento em que a primeira regra foi inventada, pois, para o homem viver em sociedade, surgiu a necessidade da criação de normas que definem como a pessoa deve se comportar e estabelecer padrões de convivência8.

O homem é um ser capaz de transgredir as suas próprias regras, e, diante das dificuldades impostas pelo existir, ele busca novas normas mais adequadas às necessidades humanas9. A capacidade de inventar também pode ser motivo para a desobediência de suas regras, pois o homem está em constante busca de novas representações de si mesmo.

Na busca de novas experiências, há o rompimento com a tradição e, em conseqüência, ocorre ruptura com o sistema social. Desta forma, cita-se como exemplo o surgimento dos movimentos que se iniciaram a partir dos anos de 1950, em que se questionava as estruturas sociais e familiares autoritárias, que chegavam a escolher até mesmo os casamentos. Os anos de 1960 foram marcados pelo surgimento do movimento hippie que rompeu de forma massiva com os padrões familiares e sexuais hegemônicos daquela época. Os hippies pregavam o amor livre sem preconceito e um mundo alternativo com novas maneiras de ser, pensar e se relacionar, momento em que houve, mediante o uso de drogas, diversas experiências místicas e alterações dos estados de consciência com o objetivo de alcançar a liberação da sexualidade, além de ajudar a supor tar as frustrações e proporcionar prazer momentâneo 10. Um exemplo disso foi a divulgação pelo mundodos movimentos hippie ocorridos nos Estados Unidos e na Europa, com seu modo de vida alternativo, sexualidade liberal e uso de substâncias psicotrópicas, o que causou um aumento do uso de drogas de um modo geral no mundo10.

O consumo de drogas está ligado à convivência familiar e em sociedade. Não se conhece nenhuma sociedade que não tenha recorrido ao seu uso, com as finalidades mais diversas possíveis 10; assim, pode-se afirmar que se trata de uma prática humana, milenar e universal. Desde os tempos mais remotos, o homem utiliza as substâncias psicoativas que têm conotação religiosa ou terapêutica11. Isto pode ser explicado devido à existência da imitação dos padrões culturais estabelecidos até mesmo de maneira inconsciente pela sociedade 8.

Os antigos gregos utilizavam o ópio, considerado presente dos deuses, para acalmar os enfermos. Esta droga também era utilizada em alguns países do oriente, entre os séculos XVIII e XIX, para ajudar a suportar as difíceis restrições econômicas vividas por estes povos. A maconha era utilizada desde 1730 como analgésico na China e por alguns povos africanos e asiáticos. O álcool, por intermédio da figura do vinho, integra os cerimoniais religiosos judaicos, cristãos e alguns rituais do candomblé. Da mesma forma, observa-se o uso das bebidas fermentadas em quase todas as civilizações. Em rituais religiosos de vários grupos, as drogas alucinógenas são utilizadas como forma de obter experiências místicas, curar as doenças das pessoas e pedir proteção aos deuses. Podemos citar a inalação do fumo pelas pessoas que previam o futuro nos oráculos gregos, a ingestão de botões do cactus peyote pelos incas e maias; o mastigar de folhas da planta cannabis sativa nos países andinos 12.

Há que se considerar que o uso de substâncias psicoativas faz parte da sociedade humana em todos os tempos; alguns povos a utilizavam para fins terapêuticos, enquanto outros a usavam em seus ritos religiosos. Cada sociedade possui uma cultura que pode variar de acordo com o local e a época em que se encontra. Deste modo, a cultura está em constante mudança dos padrões ideais da sociedade, de forma a adequá-las aos acontecimentos reais. Conquanto, é fundamental compreender esta dinâmica para mediar e ou amenizar os conflitos entre as gerações e entender as diferenças entre os povos, no sentido de aceitar serenamente o novo mundo que está por vir 8,13.

Da mesma forma que a sociedade se transforma ao longo dos tempos, o homem passa por transformações, o que a antropologia denomina ritos de passagem, que se constituem ritos que acompanham toda mudança de lugar, estado, posição social de idade, podendo se concretizar por um ritual de distanciamento do indivíduo da sua estrutura social, para posteriormente, retornar com um novo status. Dentre estas passagens, a adolescência é a que se pode constatar de maneira mais evidente a ocorrência de tais transformações, que acontecem em um ritmo acelerado, exacerbado e, ao mesmo tempo, em várias áreas do viver, biológicas, psicológicas, comportamentais e sociais. O rito de adolescer é caracterizado por diversos conflitos, quando o jovem não só está vivendo uma transformação física, mas também complexas mudanças em sua personalidade, o que, por conseguinte, gera várias alterações no seu modo de olhar e ser no mundo 4.

Nessa passagem do adolescer é comum observar a oposição das idéias e valores pela necessidade de testar, agredir e contrariar as normas impostas pelos pais ou pela sociedade em busca de novas experiências e desafios. O adolescente acredita ser ilimitado, mas, ao mesmo tempo, sente-se, em muitas ocasiões, imaturo e inseguro, o que o torna vulnerável, tanto fisicamente como intelectualmente. É nesse momento que o adolescente procura descobrir e firmar a sua identidade e seu espaço no mundo. Surgem dúvidas e questões de várias ordens, desde como viver a vida, modos de ser, de estar com os outros, até a construção do futuro relacionado às escolhas. Essas características e situações fazem com que ele fique exposto a inúmeros riscos, dentre os quais se pode elencar o uso de tabaco, álcool, e outras drogas, bem como seus desdobramentos, como se envolver em acidentes automobilísticos, brigas violentas, iniciação sexual precoce e outros tantos 4, 11, 15.

 

A DROGA NO CONTEXTO FAMILIAR

Na atualidade, observa-se que as pessoas bebem para comemorar um casamento, a vitória do seu time de futebol, o nascimento do filho, enfim, há diversas circunstâncias em sociedade em que a droga, mesmo a lícita, tem a função de fazer parte de um momento especial da vida das pessoas, das famílias, dos grupos.

Oferecer a "espuma da cerveja" para as crianças é uma prática freqüente nas festas familiares 10. Culturalmente, também observamos que é sinônimo de bem receber alguém em sua casa, quando se oferece uma bebida ao visitante, como, por exemplo, no Brasil, a oferta do cafezinho e da cerveja. Na região sul do país, o vinho muitas vezes é oferecido para crianças, em tenra idade; preparado com adição de água, é utilizado durante as refeições como suco. O significado desta bebida é que fortifica o corpo e o sangue, só faz bem, principalmente para o coração.

É incomum encontrarmos lares que não possuam bebidas alcoólicas e demais variedades de drogas, como sedativos, calmantes e anfetaminas utilizados pelos pais como "medicamentos". O alcance dos adolescentes a essas substâncias fica facilitado, e é possível constatar que o consumo associado dessas drogas ao vinho ou outras bebidas alcoólicas foi largamente utilizado nas décadas de 1970 e 1980, conhecido como "boletas" sendo ainda presente nos dias atuais 14.

A mídia, como fonte incrível de transmissão de conhecimento, possui grande influência sobre os membros de uma família. É o caso das propagandas de bebidas alcoólicas e cigarros veiculadas nos meios de comunicação, que estimulam o consumo dessas drogas denominadas lícitas, socialmente toleradas e legalmente permitidas. Determinadas marcas de bebidas e/ou cigarros fazem analogias à riqueza, sucesso, prestígio e ao estado de felicidade.

Outro exemplo desastroso é a forma física divulgada pela mídia, que dita os estereótipos de perfeição, gerando preocupação constante com o peso e busca do ideal de beleza, que significa um corpo magro 12. Em razão disto, com freqüência constatamos no seio familiar a preocupação excessiva com dietas alimentares associadas às substâncias como as anfetaminas e outras drogas nocivas, dentre estas osanabolizantes utilizados pelos jovens do sexo masculino para estimular seu crescimento muscular, a fim de alcançar satisfação estética ditada como perfeita 10.

Essa evolução de práticas culturais dificultam o desenvolvimento saudável da criança e do jovem 1. De modo geral, e como aspectos interferentes, associa-se o uso de drogas medicamentosas como modo de anestesiar a pressão do mundo e o sofrimento causado pela fome, miséria, pobreza, solidão, desamor e falta de dinheiro. São motivos intrinsecamente ligados à vontade de fugir da realidade difícil e sôfrega em que o sujeito se encontra.

A droga representa um paraíso artificial, cuja função é descarregar tensões em busca de um equilíbrio interno capaz de levá-lo a viver uma vida que ele não tem, mas que deseja ter a qualquer preço, ainda que o preço seja a desilusão da realidade ao final do efeito da droga 11.

O homem é um produto do meio em que está inserido 8. A vida social é uma troca constante, um contínuo dar e receber. Nessa esteira de raciocínio, a família é responsável pelos seus jovens e adolescentes. É no âmbito familiar que se constrói o ser humano, compartilha os preceitos de moralidade e humaniza seus membros na proporção em que são satisfeitas as suas necessidades, permitindo-se o desenvolvimento adequado da personalidade1. Isto é corroborado pelos resultados de uma pesquisa realizada pela Associação Parceria contra as Drogas em capitais brasileiras, que apontou como fator positivo a proximidade da família com o intuito de diminuir a chance de o adolescente se envolver com álcool, cigarro e outras drogas 10. Entretanto, acredita-se que não basta os familiares estarem próximos ao adolescente, são imprescindíveis os exemplos positivos que os membros adultos representam para esta pessoa que está em pleno desenvolvimento. O cenário familiar é contexto de construção de práticas culturais, de modo de olhar e de agir engendrado em uma intrincada rede de símbolos e significados.

A família corresponde ao primeiro núcleo de aprendizado de muitos conhecimentos e crenças, que são construídos, compartilhados e imitados, sendo transmitidas as primeiras regras e valores associados ao convívio social, fazendo com que o jovem possua base para um desenvolvimento psicoemocional adequado quando adulto. Assim, famílias que fazem uso de drogas como o álcool e o cigarro colocam em risco o sentimento de segurança e proteção da criança e comprometem seus códigos de moral 4, 10. Sendo assim, é necessária uma atitude familiar essencialmente positiva no sentido da alteração de hábitos, e esta deve acontecer primeiramente nos membros adultos, pois eles se constituem modelos para os adolescentes.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação e a saúde do adolescente em família assumem vital impor tância, pois implicam experiências familiares positivas, quando se consideram as suas necessidades para se afirmar como pessoa. Expor aos adolescentes os instrumentos necessários que promovam comportamentos saudáveis diante das influências negativas da vida social é função inerente aos membros familiares adultos. À medida que o adolescente vai se desenvolvendo, os processos se relacionam mais fortemente com a capacidade dos membros da família para criar um espaço relacional, que permita a expressão de comportamentos positivos e dos limites de cada membro familiar. As relações de cumplicidade e o tempo compartilhado em família provocam relação protetora e sensível. São formas de cuidar que requerem um alto nível de implicação e envolvimento entre os membros da família, especialmente a sensibilidade dos mais velhos em relação aos exemplos. Os modelos que os familiares adultos representam para os adolescentes são significativos para a construção das práticas saudáveis de vida dos adolescentes.

Considera-se a dinâmica pedagógica que busca o empoderamento pessoal o exercício necessário para cada membro familiar, por ser aquele que leva ao fortalecimento das intenções de mudanças das práticas relacionadas às drogas. A capacidade dos membros familiares adultos de questionarem os seus próprios hábitos encoraja-os à aquisição de novas identidades, aculturação de práticas que são trazidas como padrões ideais, consideradas como bons exemplos ao familiar adolescente. É preciso nutrir as potencialidades em cada membro familiar para a tomada de consciência dos comportamentos negativos com o intuito de atingir abertura para o diálogo.

A aculturação de práticas culturais familiares saudáveis em relação ao assunto em tela considera-se um processo complexo e dinâmico que se constrói de modo gradativo, assimilando-se outros hábitos apontados a partir das relações vivenciadas entre a família e o apoio de profissionais especializados a promoverem a capacidade de enfrentar com sucesso novas práticas.

Este artigo tratou de assunto complexo, e entende-se que há necessidade de realizar estudos longitudinais que visem aprofundar o conhecimento sobre o cotidiano das famílias e suas práticas culturais relacionadas às drogas e a influência destas sobre o membro adolescente.

Para a erradicação de padrões de comportamento, são indicados os modelos voltados às práticas saudáveis, alicerçadas no diálogo crítico entre família e adolescente, em que a força para a mudança é nutrida coletivamente. Esta representa a promoção de práticas que envolvem a aculturação de hábitos num processo de reconhecer, de promover e de desenvolver habilidades nos envolvidos. Tem como meta mobilizar instrumentos e recursos necessários para o controle e/ou alteração de comportamentos familiares em suas próprias vidas.

 

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Recebido em 10/10/2007
Reapresentado em 06/11/2007
Aprovado em 18/11/2007

 

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