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Volume 10, Número 3, Jul/Set - 2006

COMUNICAÇÃO BREVE

 

A percepção auditiva da paralinguagem do paciente após tireoidectomia subtotal: ensino e pesquisa em enfermagem

 

 

Aline da Costa MarinsI; Sílvia Teresa Carvalho de AraújoII

IEscola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. e-mail: adacostamarins@yahoo.com
IICoordenadora e orientadora do Projeto. Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

 

Ao delinear o objeto de investigação através de bolsa de iniciação científica, com financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), já havíamos adotado como correta a premissa de que a assistência de enfermagem deve ser repleta de conhecimentos científicos capazes de desenvolver a sensibilidade nas relações humanas. A valorização da comunicação, especialmente do tipo não-verbal, define o grau de complexidade das respostas do corpo, como aquelas resultantes da ordem física, biológica, social, espiritual, psíquica e energética do sujeito no processo de enfermagem¹.

Associando os dados das pesquisas às experiências em campo de estágio supervisionado na graduação, verifiquei que o paciente, durante a recuperação anestésica de tireoidectomia subtotal, experimenta a dor, fadiga ou outra sensação, produzindo um diálogo interno, consciente ou não, que se exterioriza, como conseqüência, através de diferentes manifestações corporais.

Nesta etapa cirúrgica, o ato de cuidar enriquece-se quando o observador, o profissional de enfermagem do centro cirúrgico, percebe e decodifica as expressões não-verbais cinésicas e de paralinguagem do paciente, para que, assim, possa adequar a singularidade do cuidado.

Nessa busca, os gestos, as posturas, as expressões fisionômicas e os sons ganham relevo no cuidado, pois resultam de outras sensações desagradáveis e incômodas sentidas e utilizadas pelos pacientes para se comunicarem. Cabe ao profissional de enfermagem desenvolver, continuamente, habilidades técnicas e humanas para intervir, o que demanda o desenvolvimento de sua capacidade em se comunicar².

Ao elaborar um instrumento de observação de campo, buscamos não só a percepção auditiva da paralinguagem e as cinesias manifestadas pelo paciente, mas também analisar como o profissional de enfermagem percebe e atende as necessidades implícitas nessas manifestações.

Se a paralinguagem é traduzida como diferentes sons do aparelho fonador que não se traduzem em palavras, ao investigá-la de forma sistematizada, compreendemos, juntamente com a cinesia do paciente, suas tentativas de se fazer entender.

A relevância deste estudo traduz-se na possibilidade de abertura dos sentidos, para redimensionar o olhar aos aspectos intersubjetivos presentes na interação com os pacientes submetidos à tireoidectomia subtotal no pós-operatório. Do tipo exploratório-descritivo, o estudo está utilizando o método de observação não-participante e está sendo realizado no setor de recuperação anestésica (RA) do centro cirúrgico de um hospital de grande porte do Rio de Janeiro.

O roteiro de observação sistematizada utiliza a vivência adaptada dos sentidos sócio-comunicantes do corpo, criada por Araújo³, para exercitar a amplitude dos sentidos. A observação ocorreu durante a primeira hora de recuperação anestésica, e foi realizada, posteriormente, uma entrevista com os pacientes para a compreensão das sensações atribuídas às manifestações observadas.

O estudo, com duração prevista para dois anos (junho/2005 maio/ 2007), foi aprovado pelo CEP do cenário de pesquisa e encontra-se em andamento. Até agora contempla a observação e entrevista com seis sujeitos entre 20 e 60 anos, de ambos os sexos, rastreados no mapa operatório e observados quanto ao tipo de cinesia corporal e paralinguagem. Esses pacientes, apresentaram grande mobilidade corporal, o que pode estar influenciado não só pelos efeitos medicamentosos, como também intensificados pelos efeitos resultantes do distúrbio endócrino manifestado por estes pacientes.

Quanto à decodificação da paralinguagem manifestada pelos sujeitos, pode-se perceber a tosse e o grunhido. Os sinais paralingüísticos demonstram sentimentos, características da personalidade, atitudes, relacionamento interpessoal e autoconceito4. Os sujeitos da pesquisa, por terem sido submetidos a um procedimento cirúrgico próximo às cordas vocais, inicialmente apresentavam uma dificuldade de verbalização.

As cinesias mais significativas foram mobilidade dos braços, pescoço, cabeça, mãos, abertura parcial e total dos olhos, elevação de tronco em 45° e 90°. Quanto às suas validações, podemos destacar a sonolência, dor, agitação, incômodo, chamamento, ansiedade, agradecimento, rejeição, proteção e atenção.

A maioria das manifestações não-verbais foram percebidas pela equipe de enfermagem que os assistia. Entretanto, o atendimento às mesmas era tardio, efetuado somente após três ou mais tentativas do paciente, muitas vezes seguidas de verbalização. A comunicação deve estabelecer uma interação efetiva com o paciente, com o objetivo de oferecer-lhe apoio, conforto e informação, e despertar seu sentimento de confiança e de auto-estima5.

O setor de recuperação anestésica possui como característica uma equação que relaciona inúmeras variáveis relacionadas a ambiente, pessoas e tarefas, o que pode resultar em um cuidado muitas vezes mecânico, técnico e rotineiro.

Este estudo incluirá mais dez sujeitos e buscará ampliar e aprofundar a análise. Neste sentido, é importante priorizar a percepção da comunicação não-verbal no cuidado ao paciente submetido à tireoidectomia subtotal, pois, apesar de ele possuir uma certa limitação orgânica devida ao efeito anestésico, consegue comunicar-se através de movimentos corporais e sons a serem levados em consideração, para que suas necessidades sejam atendidas com qualidade.

Palavras-chave: Percepção Auditiva. Comunicação. Tireoidectomia. Pesquisa em Enfermagem. Educação em Enfermagem.

 

Referências

1. Figueiredo NMA, Machado WCA, Porto IS. Dama de Negro X Dama de Branco: O cuidado na fronteira vida-morte. Rev Enferm UERJ 1995 out;3(2):139-49.

2. Saes SC, Araújo STC. O cuidado de enfermagem através dos sentidos corporais do cliente em diálise peritoneal: uma abordagem sociopoética. Esc Anna Nery Rev Enferm 2004 ago;8(2):259-66.

3. Araújo STC. Os sentidos corporais dos estudantes no aprendizado da comunicação não-verbal do cliente na recepção pré-operatória: Uma semiologia da expressão através da sociopoética [tese de doutorado]. Rio de Janeiro (RJ) Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2000.

4. Silva MJP. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo (SP): Ed Loyola; 2002.

5. Stefanelli MC. Comunicação com paciente: teoria e ensino. 2a. ed. São Paulo (SP): Robe Ed; 1993.

 

 

Recebido em 20/10/2006
Reapresentado em 30/10/2006
Aprovado em 12/11/2006

 

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