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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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CAPES

Volume 20, Número 4, Out/Dez - 2016



DOI: 10.5935/1414-8145.20160107

PESQUISA

Influência da rede social no processo de amamentação: um estudo fenomenológico

Maria Helena do Nascimento Souza 1
Antonella Nespoli 2
Regina Célia Gollner Zeitoune 1


1 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2 Università degli Studi di Milano-Bicocca. Milão, Italia

Recebido em 03/06/2016
Aprovado em 25/09/2016

Autor correspondente:
Maria Helena do Nascimento Souza
E-mail: mhnsouza@yahoo.com.br

RESUMO

OBJETIVO: Compreender a influência da rede social de mulheres durante o processo de amamentação.
MÉDODOS: Pesquisa qualitativa embasada no referencial da fenomenologia sociológica de Alfred Schutz e na abordagem de rede social de Sanicola, realizada em uma unidade de atenção primária à saúde de Monza - Itália. Foram entrevistadas 11 mulheres por meio de entrevista semiestruturada.
RESULTADOS: Na análise compreensiva foram desveladas três categorias: apoio familiar cotidiano, conselho de profissionais para vencer dificuldades e perspectiva de compreensão e apoio. Os membros da rede social que mais influenciaram na decisão e continuidade da amamentação foram: marido, mãe da participante, amigas e enfermeira. O relacionamento com estes significou auxilio, orientação e expectativa de compreensão e apoio.
CONCLUSÃO: O conhecimento da rede social constitui em um importante subsídio para que profissionais de saúde possam buscar a interação e o fortalecimento dessa rede, bem como propiciar ações mais eficazes de promoção, proteção e apoio à amamentação.


Palavras-chave: Rede Social; Apoio Social; Aleitamento materno; Enfermagem

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que o leite materno deve ser oferecido, exclusivamente, como única fonte de nutriente, para a criança até os seis meses de idade. Contudo, nota-se que as experiências de não sucesso com a amamentação ou de desmame precoce, estão presentes em diversas sociedades1-3. Entende-se por desmame precoce, a introdução de qualquer tipo de alimento complementar na dieta da criança que até, então, se encontrava em regime de aleitamento materno exclusivo, antes dos seis meses de vida1,2.

Em 2013, de acordo com a OMS3, a taxa de crianças que receberam, exclusivamente, leite materno entre zero a seis meses de vida foi de 36%. Essa situação é ainda mais crítica nos países da Europa, onde, no período 2006 a 2012, apenas 25% das crianças foram amamentadas apenas nos primeiros seis meses de vida. O relatório da OMS mostrou que em 21 países europeus em média 13% das crianças foram amamentadas somente ao longo dos primeiros seis meses de vida, evidenciando taxas muito abaixo das recomendações internacionais4.

Na Itália, a investigação realizada pela Sociedade Italiana de Pediatria, em 2015, revelou que após o parto 90% das mulheres amamentam, exclusivamente, seus filhos. No entanto, no momento da alta hospitalar essa taxa cai para 77%, aos quatro meses, 31% das mulheres continuam com o aleitamento materno exclusivo e aos seis meses pós-parto apenas 10% destas estão amamentando de forma única. Como possíveis causas do desmame precoce, foram citadas as diferenças socioeconômicas e geográficas, que constituem em barreiras para que as mulheres possam ter uma assistência à saúde de qualidade e serem acompanhadas no processo da amamentação5.

No Brasil, a partir dos anos 90, alguns estudos sobre amamentação mostraram a importância de considerar a mulher como um ser que tem a possibilidade de escolha, apresenta certa sensibilidade, história, cotidiano e que necessita de ter alguém ao lado que lhe dê apoio e cuidado6-9.

Nessa perspectiva, entende-se que para a compreensão dos fatores condicionantes do ato de amamentar, seja necessário considerar tanto os aspectos biológicos quanto os sociais, envolvidos nessa prática.

Com relação aos fenômenos biológicos que interferem na prática da amamentação, há uma vasta literatura a esse respeito, pois, durante anos foram predominantes os conceitos do tipo: "amamentar é natural", "toda mãe tem leite", "o leite materno tem tudo que seu filho precisa", "protege contra infecções", e outros. Entretanto, após inúmeras campanhas educativas de promoção ao aleitamento materno, permanece a questão: por que algumas mães não apresentam sucesso na amamentação exclusiva, mesmo conhecendo todas as vantagens do leite materno para a criança2,5,9,10?

Essa questão revela que na prática, a amamentação não é instintiva nem automática, é uma ação que está fundamentada na subjetividade e na vivência das mulheres, sendo condicionada pelas relações estabelecidas com os membros da rede social das mesmas.

Por rede social, entende-se um "conjunto de relações interpessoais que determinam as características da pessoa, tais como: hábitos, costumes, crenças e valores", sendo que dessa rede, a pessoa pode receber ajuda emocional, material, de serviços e informações11.

As redes sociais podem ser de natureza primária e secundária. Nas redes primárias, os vínculos estabelecidos são caracterizados pelas relações de parentesco, de amizade ou de vizinhança. As redes secundárias podem ser caracterizadas pelas relações com instituições (instituições de saúde, educação, assistência social e outras), organizações do terceiro setor ou com os locais onde a pessoa tem um vínculo empregatício11.

Na literatura internacional, verificou-se que há uma lacuna no conhecimento referente a abordagem teórico metodológica de rede social de mulheres italianas que vivenciam a amamentação, pois a maioria dos estudos são do tipo quantitativo e apontam aspectos relacionados as vantagens do aleitamento materno para a criança e para a mãe, tempo de amamentação, valor biológico do leite materno, mitos e conhecimento materno5,12,13.

Dessa forma, a maioria das pesquisas voltadas para a temática do aleitamento materno apontaram os aspectos biológicos que estão envolvidos nessa prática1,10,14. Em complementação, os estudos qualitativos que abordam os condicionantes sociais, como a influência de apoio social ou rede social na amamentação, bem como os estudos de abordagem fenomenológica, vêm ampliar a compreensão do fenômeno da amamentação6-8.

Diante do exposto, este estudo teve como objetivo compreender a influência da rede social de mulheres ao longo do processo de amamentação.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada na ocasião do estágio pós-doutoral no Corso di Laurea in Ostetricia da Università degli Studi di Milano-Bicocca, em Monza - Itália.

Neste estudo, foram utilizados os referenciais de abordagem teórico-metodológica de rede social descrita por Sanicola11 e da fenomenologia sociológica de Alfred Schutz15, que possibilitaram a identificação da rede social, bem como a compreensão das intencionalidades que permearam a ação das mulheres ao se relacionarem com os membros de sua rede, durante o processo da amamentação.

De acordo com Schütz15, o homem é um ser social, vive em um mundo compartilhado com seus semelhantes, com as coisas e consigo mesmo. Nessa relação, o homem se expressa por meio de sua situação biográfica, que corresponde à sedimentação de todas as suas experiências anteriores e do estoque de conhecimentos que esta tem à mão, os quais irão motivá-lo para a ação.

Schütz define ação como sendo a conduta humana projetada de maneira intencional. Ao projetar a ação, a pessoa antecipa um comportamento - expressa um propósito - sendo que as possibilidades de fazê-lo estão diretamente ligadas aos elementos do presente vivido15.

Nessa perspectiva, a fim de compreender a ação subjetiva da pessoa, Schütz15 destacou a importância de apreender os motivos que geram determinado comportamento ou conduta. Para tanto, considerou como "motivos para", aqueles definidos como algo que se quer realizar, objetivos que se procuram alcançar, que apresentam uma estrutura temporal voltada para o futuro, constituindo o ato projetado, ou seja, o estado de coisas imaginado a ser realizado pela ação futura. E como motivos-porque as razões evidenciadas nos acontecimentos já concluídos, tendo assim, uma direção temporal voltada para o passado15.

Com base nesses conceitos, verificou-se que a abordagem da fenomenologia sociológica constituiu em um caminho para a compreensão do significado das relações sociais vivenciadas pelas mulheres que amamentam, uma vez que a prática da amamentação é uma ação social permeada de motivações, razões e subjetividades.

Participaram do estudo 11 mães de crianças menores de seis meses. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: mulheres com idade superior a 18 anos, que tiveram parto acima da 37ª semana gestacional, amamentaram a criança, aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídas as mulheres mães de crianças que necessitaram de internação em unidades de terapia intensiva e àquelas que apresentaram doença que contra indicou a amamentação.

O instrumento de coleta de dados foi composto por dados sociodemográficos e pelas seguintes questões que nortearam a entrevista fenomenológica: "- Fale-me quais são as pessoas que estão presentes na sua vida; - Em algum momento você precisou de ajuda, ou teve alguma dificuldade para amamentar a criança? Com quem você contou? - Por que você procurou ou contou com essa(s) pessoa(s)? e - O que você tem em vista ou o que você espera quando se relaciona com ela(s)?"

A coleta de dados foi realizada em uma unidade de atenção primária à saúde de Monza - Itália, durante quatro quintas-feiras do mês de março de 2010, na ocasião em que estavam agendadas as consultas de enfermagem pediátrica para crianças de zero a seis meses de idade. Após as consultas, as mulheres foram convidadas a participar da pesquisa e a entrevista foi realizada em uma sala reservada da própria unidade.

Ao longo do relato, as participantes indicaram as pessoas ou famílias que estavam próximas ou distantes do seu contexto familiar, as instituições que frequentavam durante o período da amamentação e os tipos de vínculo que possuíam com os membros de sua rede social, conforme propõe Sanicola11.

As entrevistas cessaram na 11ª depoente, quando emergiram repetições de ideias nas falas, sendo possível apreender o típico da ação das mulheres que possuíam filhos menores de seis meses com vivência na prática da amamentação no contexto estudado.

Após as entrevistas, os depoimentos foram transcritos e traduzidos para a língua portuguesa. Para garantir o anonimato das participantes, as falas foram identificadas com a letra M seguida de um número arábico correspondente a ordem da entrevista.

Para a análise dos depoimentos, foram seguidos os seguintes passos: leitura atenta e detalhada dos depoimentos que foram transcritos na íntegra, visando à apreensão da ação refletida e da ação motivada das mulheres participantes do estudo; agrupamento dos trechos das falas que expressavam ideias em comum referentes à ação das mulheres na relação com os membros de sua rede primária ou secundária e; compreensão do típico da ação das mulheres por meio da análise compreensiva16.

O estudo seguiu os parâmetros éticos e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Ospedale San Gerardo e Università degli Studi di Milano-Bicocca, di Monza, Itália, sob o protocolo nº 2/4 Verbale della reunione del Senato Accademico de 08/02/2010, de acordo com os procedimentos para os estudos observacionais com seres humanos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A faixa etária das entrevistadas variou entre 27 e 40 anos, sendo que seis possuíam idade superior a 35 anos. Dez participantes eram primigestas, viviam com o marido e trabalhavam fora do domicílio. Oito realizaram o Pré-Natal. Em relação à idade da criança: seis eram menores de três meses e cinco possuíam entre quatro a seis meses de vida. Quanto ao tempo de aleitamento materno exclusivo: quatro participantes amamentaram por menos de um mês, três amamentaram no período de 2 a 5 meses e quatro estavam amamentando unicamente seus filhos que se encontravam no primeiro trimestre de vida.

Quando questionadas sobre a composição de sua rede social, as entrevistadas revelaram a presença dos membros: mãe, pai, marido, filho, irmãos, avós, tios, cunhada, sogra, vizinhas, amigas, colegas e profissionais de saúde do hospital maternidade e da unidade primária de saúde. No entanto, a maioria das mulheres referiu que durante a fase em que estavam amamentando, os membros de sua rede social que estiveram mais presentes foram: o marido, a mãe, uma amiga e a enfermeira da unidade de atenção primária à saúde.

Os resultados mostraram que a mulher que amamenta, em seu mundo da vida, pertence a um contexto relacional. Nesse mundo da vida, a ação da pessoa sempre está voltada para alguém, ela não vive só, vive em relacionamentos com outras pessoas, uma relação face a face, uma relação eu-tu, uma relação eu-nós17.

De fato, os membros da família ocupam o primeiro lugar de referência para a mulher que vivencia o processo de amamentação. Ao longo dessa fase, devido à proximidade com a rede social primária, ela tem a possibilidade de compartilhar conhecimentos, experiências, hábitos e condutas18.

Corroborando com os resultados do presente estudo, pesquisa realizada em uma comunidade do Rio de Janeiro - Brasil, também mostrou que as mulheres na fase da amamentação apresentaram um forte vínculo com sua rede social primária, caracterizada por: mãe, companheiro, amigos e vizinhos. Essa pesquisa também mostrou a importância de um relacionamento de familiaridade com os membros da rede social para garantir o sucesso e aumento do tempo de aleitamento materno7.

A identificação da rede social das mulheres entrevistadas possibilitou uma visão global do contexto relacional das mesmas, bem como a compreensão da influência desses relacionamentos no processo da amamentação, desvelando o típico da ação dessas mulheres.

Para Schutz, a tipificação refere-se a uma representação invariante da ação da pessoa ou de um grupo social que vivencia uma situação semelhante, que a torna homogênea, abstendo-se das características individuais. Portanto, a apreensão do típico da ação oportuziza o conhecimento anônimo e objetivo do fenômeno estudado, o qual se desvelará a partir das vivências e experiências subjetivas e intersubjetiva15.

Nessa perspectiva, na análise compreensiva dos depoimentos emergiram três categorias, sendo duas relacionadas ao motivo porque: - apoio familiar cotidiano e - conselho de profissionais para vencer dificuldades e uma relacionada ao motivo para: - perspectiva de compreensão e apoio. Essa última categoria foi desvelada a partir da resposta à questão: "o que você tem em vista ou o que você espera quando se relaciona com ela (pessoa citada na descrição da rede social)?", remetendo ao típico da ação das mulheres que vivenciam o período da amamentação.

Apoio familiar cotidiano

As participantes do estudo ao vivenciarem a amamentação puderam contar com o apoio de familiares que ofereceram companhia, ajuda no cuidado da criança e auxílio no cumprimento das tarefas domésticas, como pode observado nos trechos das falas:

[...] me fazia companhia. Ela (cunhada) estava comigo pela manhã (M4).

[...] ela (mãe) vem à tarde. Me faz companhia, me dá uma mão e me ajuda com ela (M7).

[...] meu marido me ajuda em casa, quando ele chega, porque ele trabalha. É ele quem faz a comida. (M6)

Minha mãe estava aqui conosco na primeira semana. Depois ela foi embora e chegou minha sogra. Depois voltou minha mãe ... Meu marido é muito atento, me deu e está me dando muito apoio. (...) Pegou férias para ficar comigo (M10).

[...] em casa meu marido me ajudava com as outras coisas enquanto eu amamentava (M11).

Essas falas nos remetem aos motivos porque presentes na relação das participantes com os seus familiares, que fazem parte da sua rede social primária. Tais motivos são acessíveis somente quando a ação se torna um ato passado, ou seja, quando ela já foi realizada15.

Resultados semelhantes também foram encontrados em estudos nacionais e internacionais sobre a temática do apoio social à mulher que amamenta, evidenciando a importância do apoio da família, principalmente na fase inicial da amamentação. Esses estudos apontam para o fato de que para uma mãe amamentar com sucesso, não basta apenas a opção pela prática do aleitamento materno, ela deve estar inserida em um contexto social que a ajude a levar essa decisão adiante6,7,9,12,18.

O fato da maioria das mulheres estudadas ter referido que além do marido, contaram com a presença da mãe, sogra, cunhada ou de uma amiga, evidencia o predomínio de uma figura feminina familiar ao lado das mesmas.

A influência da figura feminina no apoio à amamentação reforça a ideia de que o gênero feminino renomeia a mulher como uma cuidadora de confiança, dada a prerrogativa dessa figura, na maioria das vezes, ter sido mãe, possuir experiência com relação à maternidade e ao aleitamento materno6,7,19.

Conselho de profissionais para vencer dificuldades

A segunda categoria relacionada ao motivo porque intitulada de: conselho de profissionais para vencer dificuldades, foi expressa pelos seguintes trechos de depoimentos:

[...] O momento do aleitamento foi dramático. Ela não pegava, tive pouco leite... Ela (enfermeira) me deu muitos conselhos, que eu experimentei todos e vi que quase todos funcionaram (M4).

Fui ao hospital para ter conselhos [...] para entender que aquilo que eu passo talvez outra pessoa também passe (M10).

[...] no início eu não queria amamentar porque meu peito estava dolorido (...) Vim aqui (na unidade de saúde) quando estava um pouco em crise ... Aqui me sinto bem. Se eu tenho problemas, faço perguntas e recebo apoio (M8).

[...] ele não pegava. Por sorte tive uma enfermeira que me aconselhava e me ajudava, porque tive rachadura e meu mamilo era grande e dava ânsia de vômito nele. (...) Depois tive mastite e ela me disse o que fazer. Os conselhos que ela me deu me ajudaram. (...) Antes eu achava que as dificuldades eram só para algumas pessoas, não pensava que eu tinha que prestar atenção. Me vi com as dificuldades, mas a enfermeira me ajudou. (M9).

Com relação à presença de membros da rede secundária, caracterizada principalmente por profissionais de saúde, verificou-se que as enfermeiras foram citadas como aquelas mais envolvidas com a mulher durante o processo de amamentar. Corroborando com outros estudos, foi desvelado que a rede secundária constitui um importante ponto de apoio para a mulher que amamenta, principalmente na ocasião em que surgem as dificuldades6,7,9,18,20.

Nesse sentido, ressalta-se a importância da assistência prestada por profissionais de saúde à mulher ao longo do período da lactação e do reconhecimento da rede social da mesma, possibilitando que esta se sinta amada, valorizada, consciente que pertence a alguém, levando-a a enfrentar os principais problemas ocorridos durante a fase da amamentação e a escapar da condição de isolamento e de anonimato7-20.

Perspectiva de compreensão e apoio

Na busca dos motivos para que expressavam a intencionalidade das mulheres durante o processo da amamentação, ou seja, o que elas esperavam ao se relacionarem com sua rede social primária e secundária, emergiu a categoria perspectiva de compreensão e apoio, expressa nas seguintes falas:

[...] espero continuar vindo aqui, ser compreendida e apoiada. (...) No início achava que não iria conseguir amamentar. (...) Porém, graças a L (enfermeira) que me seguiu por tanto tempo, consegui amamentar. (M5)

[...] (referindo-se à mãe) Espero uma compreensão, uma ajuda de quem tem mais experiência do que eu (M2).

[...] (referindo-se ao marido) espero paciência, compreensão e ajuda. (...) Espero que se eu tiver algum problema, possa vir aqui e ter algum conselho, mesmo que seja para ouvir que está tudo bem (M1).

[...] não espero nada de particular, só a atenção e o apoio de irmã. (M11)

[...] Eu estava sozinha no Hospital, minha irmã morava longe. Então M (enfermeira) me visitava, me acompanhou até em casa, vinha comigo nas consultas... [...]. Espero respeito e continuar a amizade com ela. (M3)

Ao longo da fase da amamentação, as mulheres mencionaram a expectativa de serem compreendidas e apoiadas pelos membros de sua rede social e destacaram a intenção de manter as relações como um aspecto positivo para superar as dificuldades e obterem sucesso na amamentação.

A mulher que amamenta se mostrou como pessoa singular, que na vivência da amamentação tem exigências ontológicas como a exigência de ser compreendida e de estar em relação com alguém, estabelecendo uma relação eu-tu do tipo face a face15.

De acordo com alguns estudos, é relevante que as relações interpessoais entre a nutriz, os familiares e os profissionais de saúde, mediante a troca de experiências entre eles, sejam levadas em consideração no planejamento e estabelecimento de ações de promoção ao aleitamento materno7,12,13,20. Dessa forma, na prática assistencial, o profissional deve favorecer a verbalização dos anseios, expectativas e dificuldades, inerentes a uma vivência que, muitas vezes, é nova, possibilitando uma intervenção mais eficaz, de acordo com a singularidade e cotidiano de cada mulher16,17,19-21.

As categorias constituídas, a partir do sentido da ação subjetiva das mulheres, estabeleceram relação com os seus parentes, amigos e profissionais de saúde, na vivência da amamentação, permitiram apreender a razão e a intencionalidade, bem como o típico da ação das mesmas. Assim, a partir da análise compreensiva dos motivos para foi possível desvelar que o típico da ação das mulheres ao vivenciarem a amamentação nos seis primeiros meses de vida da criança, ao se relacionarem com sua rede social, se caracteriza pelas expectativas relacionadas à necessidade de poder contar com familiares e profissionais que lhes compreendam e ofereçam apoio diante das dificuldades com a amamentação.

CONCLUSÃO

Com o presente estudo, foi possível compreender, mediante as experiências de vida das mulheres, que amamentar implica o envolvimento de diversas razões e intencionalidades, não dependendo unicamente de conhecimentos sobre vantagens e técnicas de aleitamento materno ou apenas de uma decisão prévia.

Ao longo da entrevista fenomenológica foi possível constatar que essa fase foi provida de um sentido para as mesmas. Por terem sido olhadas em sua singularidade, as mulheres sentiam-se livres para falarem da sua vida e de suas relações, deixando-se mostrar como sujeito e protagonistas de sua história num contexto em que amamentar envolve mais fatores que dar o seu próprio leite para a criança.

Verificou-se, assim, que compreender as relações que se estabelecem entre a mulher que amamenta e os membros de sua rede social, implica abrir-se a uma realidade que transcende aspectos biológicos envolvidos no processo da amamentação, que não se restringe às orientações clássicas sobre vantagens de aleitamento materno, mas que é permeada de significados e intencionalidades. Nesse contexto, a presença de outras pessoas pode constituir em uma ajuda durante o período em que a mulher está amamentando.

Na vida cotidiana, as mulheres contaram com o apoio dos membros da rede primária, que lhes auxiliam nas tarefas domésticas e no cuidado com a criança e buscaram a rede secundária, quando necessitaram de conselhos de profissionais de saúde para resolverem problemas com a amamentação. As expectativas de compreensão e apoio constituíram o típico da ação de tais mulheres durante a fase do aleitamento materno.

O presente estudo limita-se ao fato dos dados terem sido colhidos em um determinado mês e em uma única unidade de atenção primária à saúde da cidade de Monza, Itália. Talvez, a inclusão de outras unidades nos permitissem realizar generalizações ou captar outros fatores típicos da ação de mulheres que vivenciam a amamentação no contexto italiano.

No entanto, verificou-se que a utilização do referencial da Fenomenologia Sociológica de Alfred Schutz, e da abordagem de rede social, na investigação de mulheres que vivenciam o fenômeno do aleitamento materno, possibilitou a compreensão da influência do contexto relacional dessas mulheres e representou um importante subsídio para o trabalho de equipes multiprofissionais, no que tange ao planejamento de ações voltadas para a promoção, proteção e apoio à amamentação, bem como para o fortalecimento da rede social das mulheres que amamentam.

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