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ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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CAPES

Volume 20, Número 4, Out/Dez - 2016



DOI: 10.5935/1414-8145.20160087

PESQUISA

A história oral e pesquisa documental como itinerário de pesquisa na enfermagem: um estudo bibliométrico (2000-2014)

Sheila Saint-Clair da Silva Teodosio 1
Edilene Rodrigues da Silva 2
Maria Itayra Padilha 2
Maiara Suelen Mazera 2
Miriam Susskind Borenstein 2


1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil
2 Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

Recebido em 02/04/2016
Aprovado em 03/06/2016

Autor correspondente:
Maiara Suelen Mazera
E-mail: maiaramazera@gmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Analisar a aplicação da história oral temática associada à pesquisa documental catalogados no Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem, no período de 2000 a 2014.
MÉTODOS: Estudo qualitativo documental. Considerou-se 26 teses e 49 dissertações, que adotaram a história oral temática e documental como itinerário de pesquisa como fontes importantes para a sistematização do conhecimento histórico da enfermagem.
RESULTADOS: Verificamos que no Sudeste brasileiro são contabilizados o maior número de estudos, perfazendo um total de 16 teses e 27 dissertações, seguido da região Sul, com nove teses e nove dissertações e região Nordeste com dez dissertações. O referencial teórico de escolha é Pierre Bordieu, sendo utilizado por 22 estudos seguido de Michel Lowi, Michelle Perrot, Karl Max e Michel Foucault.
CONCLUSÃO: A história oral e documental tem sido parte importante dos Programas de pós-graduação no país, ampliando a criação de uma rede de pesquisa e pesquisadores em história da enfermagem.


Palavras-chave: História da enfermagem; História; Documento; Pesquisa

INTRODUÇÃO

O debate historiográfico vem sofrendo consideráveis transformações, especialmente a partir do século XX, ocasionada pela ruptura iniciada na França, no ano de 1929, de um novo paradigma no campo do conhecimento histórico, que apontava para novos direcionamentos, no que diz respeito à produção historiográfica. "A escola dos Annales foi o primeiro movimento historiográfico nascido no próprio campo da pesquisa histórica"1:139. A historiografia da Antiguidade Clássica, a qual buscava como fonte para a construção de seus relatos os testemunhos diretos, que havia predominado até finais do século XIII, perde no século XIX o prestígio que tinha. Surge, então, a história tradicional que influenciada pelo Positivismo, concentrava sua atenção nos feitos dos grandes homens, estadistas, generais e, também, em personalidades eclesiásticas. A história tinha como propósito descrever, apenas por meio de documentos, as sociedades passadas e suas transformações1.

O movimento dos Annales produz transformações no campo da história apresentando uma tripla possibilidade de estudos históricos: novos problemas, novas abordagens, e novos objetos para a história. Para Jacques Le Goff e Pierre Nora, novos problemas colocam em causa a própria história, novas abordagens modificam os setores tradicionais da História e novos objetos trazem novas possibilidades no campo epistemológico da história2. Assim, nesse novo paradigma, a história do século XX passa a ser conhecida, também, por ser uma história do tempo presente, pela singularidade de coexistir com testemunhos vivos, trazendo para a pauta dos historiadores os depoimentos orais3. O grande marco da história oral foi a criação, em 1940, do primeiro projeto formal de história oral, na Universidade de Colúmbia, Nova York, na qual Allan Nevins, historiador da Universidade de Colúmbia, publicando biografias de grandes personalidades da história norte-americana3,4. O movimento da história oral se amplia, nas décadas de 1960 e 1970, quando se passa a entender e estudar os movimentos sociais como feminismo, direitos civis, protestos antivietnam, além da preocupação com as minorias e menos favorecidos como os negros e as crianças3.

No Brasil, a instalação dos primeiros programas de história oral constitui um marco da história oral no país: a criação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), sediada pela Fundação Getúlio Vargas, no estado do Rio de Janeiro, em 1973, e o Laboratório de História Oral da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1975.

O primeiro texto publicado a usar a expressão "história oral" foi resultado da dissertação de mestrado de Carlos Humberto P. Corrêa, da Universidade Federal de Santa Catarina, intitulado História Oral: teoria e técnica, que em 1977, delineava critérios para a definição da história oral nos trópicos5:90.

Não obstante os esforços envidados nos anos 1970, somente na década de 1980 com o processo de redemocratização do país a história oral realmente floresceu. Nos anos 1990, observa-se um acréscimo significativo da história oral, principalmente no ano de 1994 e 1996, quando foram criadas, respectivamente, a Associação Brasileira de História Oral e a Associação Internacional de História Oral6.

Em que pese o avanço da história oral no Brasil e no mundo ainda encontra-se controvérsias acerca da terminologia da mesma entre os estudiosos do tema. Para uns ela configura como uma disciplina, outros a apresentam como uma técnica e existem alguns que a veem como um método. Nesse estudo compreende-se que:

História oral é um conjunto de procedimentos que se iniciam com a elaboração de um projeto e continuam com a definição de um grupo de pessoas (ou colônia) a serem entrevistadas, com o planejamento da condução das gravações, com a transcrição, com a conferência do depoimento, com a autorização para seu uso, arquivamento e, [...] com a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas7:35.

De acordo com Padilha, Borenstein, (2005), a história oral pode ser dividida em três modalidades distintas: História oral de vida, que é decorrente de narrativas, as quais dependem da memória; História oral temática, que foca-se em um ponto central capaz de levar à objetividade, permitir a interlocução documental e a delimitação temática, e, Tradição oral, que se ocupa de descrições mais detalhadas da vida cotidiana8.

Nesse texto, focalizamos a investigação nos estudos sobre história no itinerário de pesquisa da enfermagem, com destaque para as modalidades da história oral temática e pesquisa documental. Em conformidade com Meihy; Holanda, "a história oral temática é sempre de caráter social e nela as entrevistas não se sustentam sozinhas ou em versões únicas". Assim, é comum nos estudos de história oral a associação dessa modalidade com a pesquisa documental9:38.

A pesquisa documental, segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani, vem sendo valorizada por pesquisadores, especialmente das Ciências Humanas e Sociais, por perceberem a importância e valor das informações que podem ser coletadas de documentos9. Ressaltam que esse tipo de pesquisa possibilita a compreensão da questão em estudo, bem como a reconstrução da contextualização histórica e sociocultural de determinado fato ou momento vivido. O documento se constitui como uma fonte importantíssima para a pesquisa documental que tem como foco a busca de informação em materiais que, nunca receberam tratamento analítico científico, como jornais, relatórios, fotografias, atas, entre outros materiais. Para alguns estudos, o documento é caracterizado como a principal fonte da pesquisa8,10. Ao relatar sobre a importância da escolha do método utilizado na pesquisa documental, os autores dizem que a pesquisa documental é um método de escolha e de verificação de dados; visa ao acesso às fontes pertinentes, e, a esse título, faz parte integrante da heurística de investigação11.

Portanto, a história oral temática e a pesquisa documental tem sido utilizada por pesquisadores no desenvolvimento de seus estudos. Na enfermagem, a pesquisa histórica vem ganhando força entre os pesquisadores, a partir de 1980, "com a preocupação em compreender a enfermagem como parte de um processo histórico, social, cultural, político e de gênero"12:534.

Observa-se, ainda, que nos últimos anos, os enfermeiros têm utilizado a história oral temática, associada a pesquisa documental, enquanto itinerário de pesquisa em suas teses, dissertações, monografias, livros e artigos. As bases de dados têm registros cada vez mais frequentes acerca desses estudos.

Com base nessa compreensão, a temática central do estudo abrange a pesquisa histórica na enfermagem, buscando evidenciar a expansão das pesquisas centradas na história oral temática e na pesquisa documental, bem como a sua importância para o conhecimento científico da profissão e para o resgate da sua memória. Espera-se que este estudo possa contribuir com o incremento da pesquisa histórica na enfermagem, em geral, e da história oral em particular. Assim, para justificar o estudo parte-se do entendimento de que o método investigativo da história oral se apresenta como uma contribuição para os estudos da enfermagem permitindo-lhe se debruçar sobre novos problemas e novas temáticas possibilitando: novos olhares sobre a trajetória da profissão, o resgate de sua memória e a construção do seu devir.

Este estudo tem como objetivo analisar a aplicação da história oral temática associada à pesquisa documental, publicados pela enfermagem brasileira e catalogados pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (CEPEn-ABEn), no período de 2000 a 2014.

MÉTODOS

Entendendo a importância da história para o registro das memórias e lembranças da enfermagem, desenvolveu-se um estudo qualitativo, utilizando-se o método da pesquisa documental, com o intuito de identificar a produção científica dos enfermeiros (dissertações e teses) relativa ao aporte metodológico da história oral temática e pesquisa documental.

O estudo foi norteado pela seguinte questão: Qual a aplicação da história oral temática associada à pesquisa documental, nos estudos publicados pela enfermagem brasileira e catalogados pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (CEPEn-ABEn), no período de 2000 a 2014?

As fontes de pesquisa foram as dissertações e teses registradas no catálogo "Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (CEPEn-ABEn), em sua versão disponível on line13.

Considerou-se as teses e dissertações, que adotaram a história oral temática e documental no itinerário de pesquisa, como fontes documentais importantes para a sistematização do conhecimento histórico da enfermagem.

As fontes estão na origem, constitui o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica [...]. Assim, as fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é delas que brota e flui a história. Elas, enquanto registros, enquanto testemunhos dos atos históricos são fontes do nosso conhecimento histórico, isto é, é delas que brota, e nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da história14:29.

A escolha do CEPENa deu-se por constituir-se em um banco de dados dos estudos científicos, para o qual as teses e dissertações dos programas de enfermagem defendidas no Brasil, são encaminhadas, tendo assim, um reconhecido trabalho de organização e preservação de documentos históricos da enfermagem.

O presente estudo foi realizado por meio das seguintes etapas: identificação do tema e da questão norteadora; estabelecimentos dos critérios de seleção da amostra; busca e seleção dos estudos na base de dados; tabulação dos dados em planilha eletrônica, construção de tabelas e gráficos para análise e discussão dos resultados. Estabeleceram-se como critérios de inclusão: dissertações e teses, produzidos por enfermeiros, cujo aporte metodológico contemplasse a história oral temática e pesquisa documental, incluídos nos Catálogos do CEPEn, no período de 2000 a 2014, no Brasil. Como Critérios de exclusão foram definidos: trabalhos que utilizaram a história oral de outras modalidades como, história oral de vida e denominadas de tradição oral, biografias; e produção de autores internacionais.

A delimitação do período foi definida por ser 2000 o ano em que se inicia os registros on line de teses e dissertações CEPEn e, o ano de 2014, por ser o último ano dos registros no catálogo de defesas de dissertações e teses. A busca pelo material ocorreu no período de novembro de 2014 a fevereiro de 2016.

Inicialmente, a busca se deu por consulta dirigida pelo índice por assunto, utilizando a terminologia: história e história da enfermagem. No levantamento das fontes, observou-se que alguns estudos catalogados não tinham as características da pesquisa histórica, bem como outros que, não obstante apresentasse um desenho metodológico da pesquisa histórica, não figuravam como tal. Assim, tivemos o cuidado de realizar a leitura cuidadosa de alguns resumos que, a priori, tivessem alguma relação com a temática da história.

Na coleta de dados, foram identificadas 75 estudos no CEPEn, com publicações concernentes a história oral temática e pesquisa documental. O fluxograma abaixo apresenta o percurso da coleta de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, é relevante destacar que os resultados da pesquisa descrevem, unicamente, a produção científica da enfermagem registrada na base do CEPEn no espaço temporal de 2000 a 2014, e referentes àqueles estudos que adotaram o aporte metodológico da história oral temática e pesquisa documental, não representando, portanto, toda a produção de teses e dissertações publicados nesse período da enfermagem brasileira, em geral, e da pesquisa histórica em particular.

No que se refere ao tipo de trabalho, foram identificados no CEPEn 26 Teses de doutorado e 49 dissertações de mestrado (Figura 1). Observa-se que, mesmo considerando a expansão dos cursos de doutorado da área de enfermagem, ainda há um predomínio de publicação em história oral temática e documental das dissertações nos programas de mestrado. Esse fato pode se explicar tanto pelo grande quantitativo de cursos de mestrado existentes no Brasil, como também pelo tempo de elaboração e defesa das dissertações ser inferior ao das teses favorecendo, assim, as publicações em um período mais curto. Embora o catálogo do CEPEN on line tenha começado a ser veiculado em 2001, nele estão contidas as defesas de dissertações e teses do ano de 2000, as quais configuram nos resultados deste estudo, conforme o Gráfico 1.

Figura 1. Fluxograma representativo da busca por estudos na área de história oral publicados pela enfermagem brasileira, incluídos nos Catálogos do CEPEn, no período de 2000 a 2014, Florianópolis, 2016.

Gráfico 1. Demonstrativo do número de Teses e Dissertações por ano de defesa. Fonte: Dados da pesquisa, Florianópolis, 2016.

O quantitativo de teses e dissertações catalogadas no CEPEn, no período de 2000 a 2014, apresentado nos gráficos acima, revela que as produções das Dissertações tem oscilado com momentos de crescimento e momentos de declínio. Contudo, é perceptível que a partir do ano de 2005, a publicação das teses vem num crescimento contínuo e regular podendo se equiparar as dissertações, se considerarmos o tempo de defesa e também o número de programas de pós-graduação em cada um dos níveis. Para ilustrar o crescimento dos Programas de Pós-Graduação (MA: Mestrado Acadêmico, MP: Mestrado Profissional, DO: Doutorado) em Enfermagem no Brasil, podemos dizer que "em maio de 2013, a área contava com 63 programas de pós-graduação stricto sensu (26MA e DO, 02DO, 21MA e 14MP), totalizando 89 cursos (28DO, 47MA e 14MP), assim, distribuídos por região: 2,3% (02MA) no Norte; 20,2% (05DO, 11MA e 02MP) no Nordeste; 9,0% (02DO, 05MA e 01MP) no Centro-Oeste; 49,4% (15DO, 21MA e 08MP) no Sudeste e 19,1% (06DO, 08MA e 03MP) no Sul. Esse quantitativo de cursos stricto sensu da Área de Enfermagem representava 1,7% do total de cursos de pós-graduação brasileiros e 9,7% dos da área de Ciências da Saúde"15:84.

Vale ressaltar que esse crescimento é consonante tanto com o fortalecimento da pós-graduação em Enfermagem quanto com o avanço da pesquisa de história oral enfermagem brasileira. No entanto, considera-se que ainda precisa ser muito estimulada a produção de Teses e Dissertações na área de história da enfermagem, principalmente no que se refere a história oral temática e pesquisa documental.

Para avaliar as regiões mais predominantes em termos de estudos históricos que utilizaram a história oral e a pesquisa documental, apresentamos, a seguir, o Gráfico 2 abaixo:

Gráfico 2. Demonstrativo de Teses e Dissertações de acordo com a região geográfica dos Programas de Pós-graduação. Fonte: Dados da pesquisa, Florianópolis, 2016.

Por conseguinte, observando o Gráfico 2, identificamos que, o Sudeste brasileiro é a região geográfica, onde são contabilizados o maior número de estudos, perfazendo um total de 16 teses e 27 dissertações defendidas nos programas de pós-graduação em enfermagem com as referidas temáticas, seguido da região Sul, com nove teses e nove dissertações e região Nordeste com dez dissertações.

No que se refere às instituições em que os estudos foram elaborados, o Gráfico 3, abaixo, reforça o predomínio das Universidades e Escolas de Enfermagem do sul e sudeste já observado na figura anterior.

Gráfico 3. Demonstrativo de Teses e Dissertações de acordo com os Programas de Pós-graduação em enfermagem. Fonte: Dados da pesquisa, Florianópolis, 2016.

A predominância das teses e dissertações na região Sudeste tem aderência ao fato de que a maior parte dos programas de pós-graduação se localizam nessa região. E em consonância a esse dado, a predominância dos grupos de pesquisa em História da Enfermagem e saúde também garantem essa concentração.

A análise dos dois gráficos acima reforça estudos anteriores que reconhecem, o avanço das publicações acerca da história da enfermagem no Brasil, mas, ainda com predomínio das regiões Sul e Sudeste, apontando, assim, a necessidade da ampliação desses estudos em outras Universidades e Escolas de Enfermagem das demais regiões do país16,17.

Um outro dado analisado, foi a distribuição das teses e dissertações de acordo com o referencial teórico utilizado e presente nos resumos apresentados. Vale destacar que essa informação apresenta limitações, considerando que nem todos os estudos enfocam qual o referencial teórico utilizado.

Atinente ao referencial teórico adotado pelos pesquisadores de Enfermagem, na área de história, percebeu-se uma supremacia de Pierre Bordieu, sendo utilizados por 22 estudos de tese e dissertações, alguns desses pesquisadores utilizaram o referido autor juntamente com Michel Lowi, Michelle Perrot e Karl Max. O teórico Michel Foucault foi utilizado por seis estudos. O gráfico 4, deixa evidente esse predomínio, tendo os demais autores uma menor utilização nos trabalhos estudados, como: Gramsi, Freidson, Chauí, Nobert, Holbwacs, Minayo, entre outros. Verificamos também que muitos estudos (26) não citam o referencial teórico que foi adotado na investigação. Padilha; Borenstein, em artigo sobre a produção histórica da enfermagem, já alertavam da necessidade de se explicitar o referencial estudado, na perspectiva da socialização do conhecimento da história da enfermagem no Brasil18:673.

Gráfico 4. Demonstrativo das Teses e Dissertações quanto ao referencial teórico adotado. Fonte: Dados da pesquisa, Florianópolis, 2016

No que se refere às temáticas estudadas, identificou-se que a história oral temática tem se revelado, predominantemente, um instrumento importante no sentido de possibilitar uma ampliação dos objetos de estudo. A análise dos dados demonstrou que a história dos cursos, notadamente, da graduação em Enfermagem e das instituições hospitalares, são as temáticas mais presentes nas publicações. Percebe-se, ainda, mesmo que em menor dimensão, a escolha de outras temáticas que apontam para: a construção das estratégias políticas para a ocupação de espaços de poder e da organização política da categoria; a questão de gênero; a prática e identidade profissional, e o cuidado da enfermagem. Este estudo corrobora pesquisa anterior na qual "os artigos de história da enfermagem analisados por Padilha et al, (2013) identificou cinco grandes áreas de produção de conhecimento em história da saúde e enfermagem: identidade profissional da enfermagem; institucionalização da enfermagem; escolas de enfermagem; entidades organizativas; e especialidades de enfermagem"19:698.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou evidenciar a adoção e expansão da pesquisa histórica na enfermagem, principalmente a história oral, classificada como temática e documental, e a sua importância para o conhecimento histórico da profissão e para o resgate da sua memória. Muito embora se reconheça que existem outros métodos para estudar a pesquisa histórica na enfermagem, optou-se por um estudo de natureza bibliométrica, considerando-se a abrangência do estudo.

Alguns desafios ainda devem ser enfrentados na pesquisa histórica da enfermagem, um deles é o registro sobre a adoção do referencial teórico-metodológico. Ainda, observa-se na produção tanto de teses quanto de dissertações um número significativo de publicações que não explicitam a adoção do método histórico, nem tampouco o referencial teórico que sustenta essa modalidade de pesquisa. Essa é uma tarefa que urge ser cumprida tendo em vista a necessidade do reconhecimento científico e socialização da pesquisa histórica na enfermagem. Outro desafio é o estímulo à criação de linha de pesquisa histórica nos programas de pós-graduação fundamental para expansão e fortalecimento da pesquisa histórica na enfermagem brasileira

Convém lembrar a limitação deste estudo por ter sido realizado em uma única base de dados, todavia os resultados podem ser considerados relevantes pelas análises que eles geram, possibilitando novos estudos mais abrangentes. Sugere-se que em trabalhos futuros se ampliem a pesquisa para outros bases de dados.

Espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir com a identificação dos programas que tem adotado a pesquisa em história oral como itinerário de pesquisa na enfermagem, proporcionando aos pesquisadores da área a possibilidade de troca de experiências e, quiçá, a criação de uma rede de pesquisa e pesquisadores em história da enfermagem facilitando, assim, a realização de trabalhos interinstitucionais.

Enseja-se, ainda, que a história oral, na enfermagem, possa avançar cada vez mais enquanto itinerário de pesquisa e venha a configurar-se em uma grande área de investigação por meio das pesquisas orais em suas diferentes modalidades, pois se debruçando sobre sua trajetória histórica, a enfermagem pode ensejar novas possibilidades de construção do seu vir-a ser.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o desenvolvimento deste estudo.

Apêndice 1
Quadro 1. Demonstrativo das Teses e dissertações por título, tipo, ano e Instituição localizados na base de dados do CEPEn.
Título Tipo Ano defesa Instituição
Enfermeira como agente estratégico para a implantação das propostas de contracepção do CPAIMC: 1975-1978 (A). Dissertação 2001 UFRJ-EEAN
Cotidiano da enfermagem no Hospital de Caridade de Florianópolis, no período de 1953 a 1968 (O). Tese 2001 UFSC
Estratégia de ensino-aprendizagem no curso de graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ: a história do seniorato (1982-1989). Tese 2001 UFRJ-EEAN
Defesa de direitos profissionais dos enfermeiros: um estudo comparado Brasil/Peru: 1980-1985 (A). Dissertação 2001 UFRJ-EEAN
Implantação da vacina BCG-ID: um desafio para as enfermeiras de saúde pública do Rio de Janeiro: (1967-1973). Dissertação 2001 UERJ
Enfermagem no velho Hospital D. Pedro II: Santa Cruz, 1920-1954 (A). Dissertação 2001 UERJ
De bruxa a enfermeira: uma herança do gênero feminino. Dissertação 2001 UFRJ-Esc. A. Pinto
Parteiras, médicos e enfermeiras: a disputada arte de partejar (Rio de Janeiro - 1934/1951). Tese 2001 UFRJ-EEAN
Circunstâncias sócio-históricas de criação e implantação do curso de enfermagem da UFPI. Tese 2001 UFRJ-EEAN
Movimento participação na Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Santa Catarina, na visão de suas principais lideranças. Tese 2001 UFSC
Criação e consolidação do curso de enfermagem na Universidade de Brasília: uma história de tutela (1976-1986). Dissertação 2002 UNB
Luta pela inserção do ensino de enfermagem em Alagoas: a Escola de Auxiliares de Enfermagem, 1949/1955 (A). Tese 2001 UFRJ-EEAN
Incorporação da tecnologia terapêutica na assistência de enfermagem à criança: o caso do Hospital dos Servidores do Estado/Rio de Janeiro nos anos 60. Tese 2001 UFRJ-EEAN
Enfermagem e a aliança da Igreja com o Estado: Escola de Enfermeiras Luiza de Marillac. Dissertação 2002 UFRJ-EEAN
História da Escola de Enfermagem Hermantina Beraldo: gestão Celina Viegas. Dissertação 2002 UFMG
Histórias de saúde e doença: narrativas de idosos atendidos em um serviço de saúde. Tese 2001 USP-R. Preto
Sobre a criação do Hospital Santa Tereza de Ribeirão Preto: outras raízes de uma história. Dissertação 2001 USP-R. Preto
Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Pará: caminhos percorridos - (1946-1988). Dissertação 2001 UFRJ-EEAN
Enfermeiras e suas práticas na rede básica de saúde de Campinas nas décadas de 70 e 80 (As). Dissertação 2002 Univ. Est. Campinas
Avançando em direção ao passado: a luta pela construção/consolidação do SUS em Mossoró/RN. Dissertação 2002 UFPB
Advento de uma especialidade na enfermagem: o caso da Unidade de Câncer Infantil do Instituto Nacional de Câncer (1957-1962). Dissertação 2002 UFRJ-EEAN
Vida e o tempo de Rachel Haddock Lobo como diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery: (1931-1933) (A). Dissertação 2002 UFRJ-EEAN
Representações e memória coletiva: um estudo da identidade profissional da enfermeira. Dissertação 2003 UFGO
A Escola Anna Nery (EAN) no "front" do campo da educação em enfermagem e o (re)alinhamento de posições de poder (1931-1949). Tese 2004 UFRJ-EEAN
Relações institucionais Escola Ana Nery (EAN)/Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB) (1957-1963). Dissertação 2005 UFRJ-EEAN
Histórias da atuação de enfermeiras no combate e controle da tuberculose na Paraíba no período de 1950 a 1980. Dissertação 2005 UFPB
Passado e presente: a enfermagem do Hospital Universitário "Onofre Lopes". Dissertação 2005 UFRN
A criação do Distrito da Associação Brasileira de Enfermagem em Volta Redonda-RJ: 1953-1956. Dissertação 2006 UFRJ-EEAN
O projeto político-profissional da enfermagem brasileira sob a ótica dos presidentes da ABEn/PR no período de 1980 a 2001. Dissertação 2006 UFSC
Primórdios da enfermagem profissional na cidade do Recife Pernambuco: raízes da pré-institucionalização da formação do campo organizacional (1922-1938). Tese 2006 USP
Sobre o tempo: elogio à instituição negada. Tese 2006 USP-R. Preto
Unidade Integrada de Saúde Mental da Marinha do Brasil: um espaço de luta da enfermagem militar (1982-1989). Dissertação 2006 UFRJ-EEAN
A história de uma prática de cuidar do cliente com HIV/aids: o emergir de um saber dos enfermeiros do Hospital Universitário Gaffré e Guinle, 1983-1987. Dissertação 2007 UFRJ-Esc. A. Pinto
Memórias dos profissionais de enfermagem do Hospital Nereu Ramos em época de aids (1986-1996). Dissertação 2007 UFSC
Registros de uma prática: anotações de enfermagem na memória de enfermeiras da primeira escola nightingaleana no Brasil (1959-1970). Dissertação 2007 USP
Nova ordem social na luta contra a Tuberculose e a reconfiguração da assistência de enfermagem do Hospital Estadual Santa Maria. Dissertação 2007 UFRJ-EEAN
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz: da Santa Casa de Misericórdia à Congregação das Irmãs da Providência de GAP (Itajubá, 1953-1959). Tese 2007 UFRJ-EEAN
Reconfiguração do espaço social da Escola de Enfermagem Anna Nery no contexto da reforma universitária de 1968 (A). Dissertação 2007 UFRJ-EEAN
Ordem no Hospício: primórdios da enfermagem psiquiátrica no Brasil (1852-1890) (A). Tese 2008 UFRJ-EEAN
Lutas simbólicas no processo de incorporação do quadro social da Faculdade de Enfermagem Hermantina Beraldo à Universidade Federal de Juiz de Fora: 1977-1983. Tese 2008 UFRJ-EEAN
História da terapia comunitária na Atenção Básica em João Pessoa/PB: uma ferramenta de cuidado. Dissertação 2008 UFPB
Política de saúde e a história dos transplantes na Paraíba: depoimentos de médicos pioneiros à luz da história oral temática. Dissertação 2008 UFPB
Curso de Enfermagem da Universidade Católica de Petrópolis: a construção de um ethos profissional. Tese 2009 UFRJ-EEAN
Hospital Colônia Sant'ana: reminiscências dos trabalhadores de enfermagem (1951-1971). Dissertação 2008 UFSC
Enfermagem em Santa Catarina em tempos de tuberculose: padrões de conhecimento de cuidado de uma época (1943-1960). Tese 2009 UFSC
Abandono ao tratamento: desafio para o controle da tuberculose. Dissertação 2009 UFPA
Cursos de especialização em enfermagem - Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac - Faculdades São Camilo/RJ (2001-2007). Dissertação 2009 UFRJ-EEAN
Hospital Colônia Sant'Ana: o saber/poder dos enfermeiros e as transformações históricas (1971-1981). Tese 2010 UFSC
Construção da enfermagem gerontológica no Brasil: 1970-1996. Tese 2010 UFSC
Cotidiano dos profissionais de enfermagem no Hospital Sanatório Alcides Carneiro em Petrópolis (1977-1979). Dissertação 2010 UFRJ-ESC. A. Pinto
Ensino superior de enfermagem no Município de Uberaba, MG: raízes da institucionalização. Dissertação 2010 USP-R. Preto.
Ser enfermeiro negro na perspectiva da transculturalidade do cuidado. Dissertação 2010 USP-SP
Reconfiguração do campo da educação superior de enfermagem no Estado do Rio de Janeiro: 1996-2006. Tese 2010 UFRJ-EEAN
Trajetória histórica da reabilitação na cidade de São Paulo. Dissertação 2010 USP-SP
Crianças nascidas expostas ao HIV sob a perspectiva da orfandade e da institucionalização. Dissertação 2010 UFC
Análise do processo de implementação da sistematização da assistência de enfermagem: um estudo de caso. Tese 2010 UnB
Pós-graduação em enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande: percorrendo os caminhos de sua história. Dissertação 2011 FURG
Inserção da fisioterapia em Florianópolis (1979-1992). Dissertação 2011 UFSC
Historicidade das práticas de cuidado na Maternidade Carmela Dutra (1956-2001). Tese 2011 UFSC
Vivenciando a sexualidade e a incontinência urinária: histórias de mulheres HTLV positivas. Dissertação 2011 UFBA
A enfermeira na Marinha do Brasil: a historiografia do corpo auxiliar feminino da reserva da Marinha (1980 a 1997). Dissertação 2012 UFSC
Enfermagem no hospital universitário: Trajetória histórico-política. Dissertação 2012 UFC
Tecitura da identidade profissional da primeira turma do curso de graduação em enfermagem da Universidade Federal de Alagoas: contribuição do corpo docente - 413 1973/1977. Dissertação 2012 UFAL
Casa de Saúde Esperança em Juiz de Fora-MG: uma visão histórica sobre a Enfermagem Psiquiátrica 1994-1998. Dissertação 2012 UFRJ
Atuação das enfermeiras no processo de implantação do programa saúde da família em Teresina (1996-2001). Dissertação 2012 UFPI
Traços identitários da enfermagem do hospital universitário Dr. Miguel Riet Correa Júnior nas trajetórias profissionais dos enfermeiros. Dissertação 2012 FURG
A saúde mental em Alagoas: trajetória da construção de um novo cuidado. Tese 2012 USP
A implantação das políticas públicas de saúde em aids no município de Florianópolis-SC. Tese 2012 UFSC
Evolução das práticas de cuidado dos trabalhadores da saúde às pessoas com HIV/aids, em um hospital referência em doenças infecto contagiosas de Santa Catarina: no período de 1986 a 2006. Tese 2012 UFSC
Devir cuidadora de prematuro após a alta hospitalar e os dispositivos constituintes da continuidade da atenção. Tese 2013 UFMG
Hospital Infantil Joana de Gusmão de Florianópolis (SC): o poder das enfermeiras na organização e implementação do Serviço de Enfermagem (1977-1991). Dissertação 2013 UFSC
Egressas japonesas da Escola de Enfermagem da USP: memória histórica da década de 70. Dissertação 2014 USP
A unidade de transplante de medula óssea em Santa Catarina: a contribuição das enfermeiras (1997-2009). Dissertação 2014 UFSC
Cotidiano das alunas pioneiras da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto: 1953 - 1957. Dissertação 2014 USP
Formação e processos identitários de enfermeiros no Rio Grande do Norte: memória de egressos (anos de 1970). Tese 2014 UFSC
Quadro 1. Demonstrativo das Teses e dissertações por título, tipo, ano e Instituição localizados na base de dados do CEPEn.

REFERÊNCIAS

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a O CEPEN foi criado em 17 de julho de 1971, e destina-se a incentivar o desenvolvimento e a divulgação de pesquisa em enfermagem, organizando e preservando documentos históricos da profissão. É considerado maior banco de teses e dissertações na área de Enfermagem no Brasil.

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