ISSN (on-line): 2177-9465
ISSN (impressa): 1414-8145
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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Ministério da Educação
CAPES

Volume 20, Número 3, Set/Nov - 2016



DOI: 10.5935/1414-8145.20160056

PESQUISA

Perspectivas metodológicas para o uso da teoria fundamentada nos dados na pesquisa em enfermagem e saúde

Jose Luis Guedes dos Santos 1
Alacoque Lorenzini Erdmann 1
Francisca Georgina Macedo de Sousa 2
Gabriela Marcelino de Melo Lanzoni 1
Ana Lúcia Schaefer Ferreira de Melo 1
Josete Luzia Leite 3


1 Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, Brasil
2 Universidade Federal do Maranhão. São Luiz, MA, Brasil
3 Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Recebido em 09/02/2015
Aprovado em 21/10/2015

Autor correspondente:
Jose Luis Guedes dos Santos
E-mail: jose.santos@ufsc.br

RESUMO

A adoção da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) na pesquisa em enfermagem e saúde é crescente. No entanto, observa-se a utilização de diferentes estruturas e modelos, o que gera dúvidas entre pesquisadores. Dessa forma, apresenta-se este estudo com o objetivo de refletir sobre as diferentes perspectivas metodológicas da TFD, destacando seus aspectos históricos, conceituais, estruturais e operativos. A TFD fundamenta-se por concepções teórico-epistemológicas com possibilidades de uso sustentado em três vertentes metodológicas: clássica, straussiana e construtivista. Tais vertentes apresentam especificidades que viabilizam modi operandi diferentes, baseados em concepções e paradigmas epistemológicos próprios, frutos da evolução do processo de construção do conhecimento científico. Para garantir o rigor na utilização do método e respectiva produção de novos conhecimentos, a definição da perspectiva metodológica deve ser realizada de acordo com a problemática descrita, o olhar do pesquisador sobre a realidade e sua postura epistemológica.


Palavras-chave: Pesquisa qualitativa; Pesquisa em enfermagem; Pesquisa metodológica em enfermagem.

INTRODUÇÃO

Por que refletir sobre o uso da TFD?

A pesquisa qualitativa estuda fenômenos inseridos em contextos naturais, tentando entender ou interpretar os significados e as percepções que as pessoas constroem acerca dos mesmos. Para captar a diversidade de significados que podem ser atribuídos a fatos ou experiências, os dados são coletados por meio do contato direto com os participantes que vivenciam o problema em estudo. Na análise dos dados, os pesquisadores utilizam o dinâmico processo de raciocínio indutivo e dedutivo para estabelecer temas/categorias/conceitos cada vez mais abstratos, por meio de habilidades que envolvam sensibilidade e criatividade visando a uma compreensão complexa e detalhada do objeto investigado1.

Existe um campo diverso de abordagens, como suporte para a pesquisa qualitativa, entre elas a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) ou Grounded Theory (GT). Trata-se de método indutivo-dedutivo, ou seja, a construção da teoria requer a interação entre o fazer induções (indo do específico para o amplo), produzindo conceitos a partir dos dados; e o fazer deduções (indo do amplo para o específico), gerando hipóteses sobre as relações entre os conceitos derivados dos dados, a partir da interpretação1,2. Dessa forma, o foco da TFD é compreender as experiências e interações de pessoas inseridas em um determinado contexto social, buscando evidenciar estratégias desenvolvidas diante de situações vivenciadas1-4.

A proposta da TFD centra-se, portanto, na ação-interação humana, tornando-a um referencial metodológico relevante para a área da enfermagem e saúde, cujas práticas baseiam-se nas interações constantes entre pacientes, familiares e equipe de trabalho1-4. Na pesquisa em enfermagem, por exemplo, a TFD contribui para otimizar o cuidado prestado às pessoas e coletividades a partir da compreensão de perspectivas e experiências vivenciadas diante de uma doença ou condição específica de saúde4,5. Em função disso, a TFD é uma das abordagens qualitativas mais utilizadas na pesquisa em enfermagem nas últimas décadas5-9.

No entanto, observa-se que a TFD tem sido apresentada nos relatórios de pesquisa e produções científicas brasileiras de forma heterogênea, tanto na estrutura formal quanto nos processos analíticos utilizados pelos pesquisadores. Essa condição pode ser justificada em virtude das oposições referidas em publicações internacionais pelos criadores do método - Glaser e Strauss - e suscita os seguintes questionamentos: em que aspectos os autores se contrapõem? Como a TFD reconstituiu-se a partir da cisão de Glaser e Strauss? Que outros autores têm contribuído para novas vertentes ou perspectivas metodológicas da TFD?

Alguns estudos já têm envidado esforços na busca de elucidar tais questões. Na literatura científica da enfermagem brasileira, há estudos que discutem, por exemplo, aspectos conceituais e operacionais do método5,8,9, como também características e aptidões do pesquisador no desenvolvimento da TFD5. Porém, existe ainda a necessidade da realização de estudos nacionais específicos, tanto para ajudar a compreender a evolução do método - como vem ocorrendo internacionalmente - quanto para auxiliar pesquisadores interessados em utilizá-la8.

Com base no panorama exposto e para contribuir com a produção do conhecimento sobre a TFD, o objetivo do presente estudo foi refletir sobre as diferentes perspectivas metodológicas da TFD, com destaque para os seus aspectos históricos, conceituais, estruturais e operativos.

O texto está organizado didaticamente em dois tópicos. Primeiramente, descreve-se o percurso histórico e evolutivo da TFD. Na sequência, destacam-se as três principais vertentes ou perspectivas metodológicas do método e discutem-se suas características centrais.

TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS: DA EMERGÊNCIA ÀS POLARIDADES

A TFD foi desenvolvida na década de 1960, nos Estados Unidos, pelos sociólogos Barney G. Glaser e Anselm L. Strauss, como uma alternativa à tradição hipotético-dedutiva da época. Glaser tem origens acadêmicas na Universidade de Columbia, com ampla formação em métodos empíricos e na teoria sociológica, que também incorporou a psicologia social para estudar a influência do sistema social na conduta individual, segundo métodos quantitativos. A formação acadêmica de Strauss, por outro lado, tinha origens na Universidade de Chicago, de forte tradição qualitativa e de abordagens críticas no desenvolvimento de teorias10.

A partir da junção dessas duas escolas de pensamento, o método da TFD foi desenvolvido por Glaser e Strauss em 1965, durante estudo sobre os relacionamentos entre médicos e pacientes terminais. Nessa época, os funcionários dos hospitais raramente falavam sobre a morte ou mesmo reconheciam o processo de morrer de pacientes gravemente enfermos. Dessa forma, a equipe de pesquisa observou o modo como ocorria o processo da morte em ambientes hospitalares e a forma pela qual os pacientes terminais tomavam conhecimento do fato de estarem morrendo e como lidavam com essa informação. Glaser e Strauss deram aos seus dados um tratamento analítico explícito e produziram análises teóricas sobre a organização social e a disposição temporal da morte3,4,10. Nesse sentido, a pesquisa apresentou-se inovadora pelo conteúdo, pelo método e pelas criativas conexões entre ambos10,11.

À medida que construíam as suas análises do processo da morte, eles desenvolveram estratégias metodológicas sistemáticas que poderiam ser adotadas por cientistas sociais para o estudo de outros temas, o que culminou com a publicação do livro The discovery of Grounded Theory, em 1967. Nessa obra, Glaser e Strauss articularam e apresentaram suas estratégias metodológicas e defenderam o desenvolvimento de teorias a partir da pesquisa baseada em dados ao invés da dedução de hipóteses analisáveis a partir de teorias existentes. Tal método foi denominado de Grounded Theory, um processo contínuo e sistemático de coleta e análise para geração e verificação dos resultados3,10. O resultado desse processo é um modelo descritivo, no qual são especificadas as condições necessárias e suficientes para a existência de um fenômeno ou o papel do fenômeno em determinado processo social.

Dessa forma, Glaser e Strauss desafiaram o paradigma positivista da época, segundo o qual a pesquisa qualitativa era uma evidência anedótica, assistemática e tendenciosa. A partir dos seus estudos, mostraram que a pesquisa qualitativa poderia ir além de estudos descritivos e desenvolver explicações teóricas sobre o comportamento humano10,12. Assim, o principal objetivo deles com a abordagem sistemática da TFD era mostrar que os resultados correspondiam exatamente ao que era questionado aos participantes do estudo10,11,13.

Nesse contexto de desenvolvimento inicial do método, é importante esclarecer a relação da TFD com o interacionismo simbólico. Como Strauss tinha experiência na realização de estudos enfocando processos de interação, condutas humanas e papéis sociais apoiados na corrente do interacionismo simbólico, considera-se que a TFD tem suas origens nessa perspectiva teórica3,4,10. Entretanto, o interacionismo simbólico não é necessário para legitimá-la como método de investigação científica, o que suscita o questionamento: quais referenciais teóricos podem ser utilizados no desenvolvimento de uma TFD?

O olhar para os processos interacionais na TFD pode ser ancorado em referenciais que explorem a articulação das relações, interações e associações entre os sujeitos inseridos em um contexto social dinâmico e plural. Um exemplo é o pensamento complexo ou teria da complexidade2,8, que possibilita uma interpretação intersubjetiva a partir das relações múltiplas dos fenômenos que se interconectam e se complementam.

Apesar do êxito obtido, Glaser e Strauss, com o tempo, passaram a divergir quanto aos procedimentos metodológicos da TFD. Enquanto Glaser mantém-se fiel aos princípios da TFD baseando-se no empirismo objetivo para a condução das suas investigações, Strauss deslocou o método para a verificação e incorporou novos instrumentos de análise, como a descrição interpretativa dos dados3,11,14,15. Dessa forma, ocorre a ruptura entre os autores e os dois passam a trilhar caminhos diferentes.

O novo posicionamento teórico de Strauss em relação ao método culmina com a publicação do livro Basics of Qualitative Research: Techniques and Procedures for Developing Grounded Theory, escrito em parceria com Juliet Corbin. Os trabalhos de Strauss e Corbin focalizam a aplicação da TFD, apresentando instrumentos para que os pesquisadores utilizem-na como método científico. Acrescentam a ideia de que a geração da teoria ocorre a partir de uma relação colaborativa entre pesquisadores e participantes do estudo, criando as bases para a perspectiva construtivista do método. Vale destacar que a principal responsável por essas modificações foi Corbin, pois Strauss faleceu em 1996, antes de finalizar a segunda versão de seu livro10,12,13.

Glaser, por sua vez, segue defendendo o método da TFD na sua abordagem primária, sem considerar outros procedimentos analíticos. Para o autor, a TFD segue a máxima que a realidade passa, mas as ideias permanecem. Nesse sentido, achados são logo esquecidos, mas não as ideias. Portanto, deve-se privilegiar a produção de ideias, concepções e modelos teóricos. Assim, o caráter transcendental da TFD revela-se na transposição de dados para o nível abstrato, elevando-se o nível de abstração pela inclusão e integração de descrições prévias ou de teorias preexistentes. É justamente a interação entre códigos substantivos e teóricos que caracteriza a TFD como um método de pesquisa analítico-indutivo. A codificação teórica, ao estabelecer novas conexões e transformá-las em ideias relevantes, determina o caráter original da teoria15.

Portanto, a principal diferença entre os pontos de vista de Strauss e de Glaser sobre o método é a flexibilidade do primeiro e o pragmatismo do segundo. Strauss compreendia a TFD como um modelo analítico de apoio aos pesquisadores composto por um conjunto de recomendações. Entretanto, a criatividade do pesquisador lhe permite utilizar outros meios e tecnologias para conduzir a investigação. Nesse contexto de discussão sobre o caráter construtivista do método, a partir dos anos 2000, uma autora ganha destaque: Kathy Charmaz.

Charmaz defende que a TFD "alia duas tradições opostas e concorrentes"4. De um lado, o positivismo da Universidade de Columbia, representado por Glaser e sua formação quantitativa, que resultou em rigorosos métodos de análise. Do outro, a influência da escola de Chicago na pessoa de Strauss, o qual valorizou os significados sociais subjetivos que emergem da ação humana, revelando a tradição filosófica pragmática. Essa abordagem sugere ao pesquisador focar o seu olhar para "o que" e "como", pois ressalta que a pesquisa sempre ocorre em contextos diversos que compreendem múltiplos aspectos sociais, históricos e políticos1.

Entretanto, Glaser e Strauss preocuparam-se em esclarecer que a teoria deve emergir dos dados mediante investigação social, o que significa adotar um processo estratégico para produzir e analisar informações e, por conseguinte, alcançar conceitos que servem para descrevê-los e explicá-los. Sob esse prisma, indicam que a TFD emerge de dados sistematicamente agrupados e analisados em um processo de investigação, sendo a formulação da teoria algo indispensável para o conhecimento aprofundado dos fenômenos sociais14,15.

Charmaz defende a Teoria Fundamentada Construtivista e introduz uma nova perspectiva, em especial no que diz respeito aos procedimentos analíticos1,3. A autora considera os avanços teóricos e metodológicos para apresentar um modo de fazer a TFD apoiada em diretrizes flexíveis e coloca-se contrária a Glaser e Strauss quando diz que nem os dados nem as teorias são descobertos, ambos são construídos "por meio de nossos envolvimentos e das nossas interações com as pessoas, as perspectivas e as práticas de pesquisa, tanto passados como presentes"4. Defende que sua abordagem oferece "um retrato interpretativo do mundo estudado e não um quadro fiel dele"4, portanto os significados e expressões dos participantes da pesquisa são construções da realidade.

Para ilustrar as principais obras que marcam o desenvolvimento da TFD, apresenta-se a Figura 1.

Figura 1. Principais obras no desenvolvimento da Grounded Theory. Florianópolis, 2014. Fonte: Adaptado de Bandeira-de-Melo e Cunha15. Os títulos das obras estão em inglês em referência ao idioma original em que foram publicadas, pois nem todos os livros foram traduzidos para o idioma português.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DAS DIFERENTES VERTENTES OU PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS DA TFD

A partir das polaridades surgidas ao longo do percurso evolutivo do método da TFD, três principais vertentes ou perspectivas metodológicas delinearam-se: clássica (também chamada de glauseriana); straussiana (denominada também como relativista ou subjetivista); e construtivista3,4,12,13. O Quadro 1 apresenta as características centrais dessas três correntes.

Quadro 1. Demonstrativo das características centrais da TFD, segundo as vertentes metodológicas. Florianópolis, 2014
  Clássica Straussiana Construtivista
Paradigma epistemológico Positivismo Pós-positivismo Construtivismo
Identificação do problema de pesquisa  Emergente  Sem necessidade de aprofundamento na revisão inicial de literatura  Experiência  Pragmatismo  Literatura  Sensibilização de conceitos  Específicos de cada disciplina
Condução da investigação e desenvolvimento da teoria Ênfase na emergência dos dados por meio do processo de indução e da criatividade do pesquisador Modelo paradigmático de verificação Co-construção e reconstrução de dados em direção à teoria
Relação com os participantes Independente Ativa Co-construção
Coleta de dados Ênfase em observação e entrevista Ênfase em observação, entrevista e análise de documentos, filmes e vídeos Ênfase em entrevistas intensivas. Incentiva o uso de múltiplas fontes
Análise de dados/Codificação  Codificação aberta  Codificação seletiva  Codificação teórica  Codificação aberta  Codificação axial  Codificação seletiva  Codificação inicial  Codificação focalizada
Diagramas e memorando Intensificação no uso de memorandos Valorização dos diagramas e memorandos Flexível
Avaliação da teoria  Aplicabilidade  Operacionalidade  Relevância  Modificabilidade  Ajuste  Compreensão  Generalização teórica  Controle  Congruência e consistência da teoria em relação ao contexto  Interpretação reflexiva do pesquisador

Fonte: Adaptado de Hunter et al.13

Quadro 1. Demonstrativo das características centrais da TFD, segundo as vertentes metodológicas. Florianópolis, 2014

A seguir, apresentam-se algumas especificidades dos principais aspectos apresentados no Quadro 1, conforme cada uma das vertentes metodológicas da TFD.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DE PESQUISA

A questão de pesquisa, de modo geral, é definida mediante a contextualização da problemática de estudo sustentada por evidências ou vazios de conhecimentos sobre a realidade em foco, ou seja, como os processos relacionais e interativos acontecem nas experiências ou vivências dos sujeitos inseridos neste contexto de interações ou movimentos de trocas. Porém, como cada uma das vertentes da TFD é decorrente de um paradigma epistemológico diferente, a elaboração da pergunta de pesquisa pode sofrer variações conforme a perspectiva assumida.

Além disso, durante o processo de pesquisa, outras questões poderão dinamicamente emergir a partir da coleta de dados. Isso ocorre à medida que hipóteses vão sendo construídas e revelam novas possibilidades para o problema de pesquisa e para as perguntas que orientarão a entrevista1,11,15.

Seguindo essa linha de pensamento, é necessário abordar uma questão polêmica presente no processo de construção de uma TFD. Trata-se da influência de ideias/noções/paradigmas preestabelecidos e descritos na literatura sobre procedimentos de coleta e análise dos dados. A ideia de que a TFD dispensa a realização de uma revisão de literatura preliminar à realização do estudo está presente entre os pressupostos da vertente clássica do método.

Esta busca pela neutralidade do pesquisador é controversa para sua atuação junto ao processo de coleta e análise dos dados na pesquisa qualitativa. Para além de uma abordagem numérica de um determinado objeto de estudo, o compromisso com rigor científico e imparcialidade dos resultados do estudo dá-se por meio da busca detalhada dos elementos qualificadores em suas diversas dimensões. Assim, nas perspectivas contemporâneas da TFD, a revisão de literatura é um recurso que orienta o pesquisador no delineamento do tema investigado, na descrição da problemática de estudo e delimitação do objeto a ser investigado. Portanto, pode ser realizada no início do estudo para contextualizar a problemática em investigação e também ao longo do processo de pesquisa, para preencher as necessidades teóricas que emergem ao longo da análise dos dados. A literatura também auxilia na elaboração de hipóteses, delimitação de propriedades de categorias e na definição dos códigos teóricos.

Dessa forma, é na contextualização da problemática de estudo que se vislumbram os vazios de conhecimentos tanto na dimensão conceitual quanto na dimensão processual, do modo como as relações, interações e associações sociais acontecem e que novas compreensões sinalizam, a partir dos significados que os sujeitos que as vivenciam são capazes de explicitar. A consulta à literatura pode ser útil na busca de respostas a perguntas como: qual fenômeno está presente nesse contexto? O que já se sabe sobre o mesmo? Como avançar? Que significados possuem para as pessoas que os experienciam? São movimentos que possuem um curso no tempo? Com que intensidade de significância ou importância?

Cabe também destacar que o foco da TFD é a busca de significados sobre tais movimentos, e não significados existenciais para o ser pessoa ou para o seu viver e nem significados sobre a imagem que a pessoa projeta ou que representa para ela. Portanto, diferencia-se de um estudo fenomenológico ou de representações sociais, ou de outros que também buscam a compreensão da essência do fenômeno ou condição.

COLETA DE DADOS

A entrevista é a principal técnica utilizada na TFD. No entanto, conforme a problemática de estudo, outras técnicas de coleta de dados podem ser utilizadas, como observação, entrevista em grupo, grupos focais, análise de documentos e figuras/fotografias ou expressões gráficas. A coleta de dados por meio de múltiplas fontes é incentivada principalmente pela perspectiva construtivista da TFD, como estratégia para reconstruir de forma mais fidedigna a experiência dos sujeitos4,10.

Nesse sentido, Charmaz adverte que o foco da entrevista, bem como das perguntas de pesquisa, altera-se à medida que o pesquisador opta por uma abordagem objetiva ou construtivista. Para a primeira, a ênfase é nas suposições e significados atribuídos pelos participantes ao fenômeno em estudo. Na segunda, o pesquisador busca informações sobre cronologia, ambientes e comportamentos. Portanto, a TFD construtivista prioriza o uso de entrevistas abertas e em profundidade, também chamadas de entrevistas intensivas4.

PROCESSO DE CODIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A construção de uma TFD requer do pesquisador criatividade, curiosidade, pensamento crítico e sensibilidade teórica no processo de codificar e analisar os dados5. Para alcançar tais habilidades, cada vertente do método propõe estratégias específicas.

Glaser e Strauss não esclarecem a diferença entre categoria e conceito nos seus estudos. Porém, Strauss e Corbin asseveram que conceito é uma "representação abstrata de um fato, de um objeto ou de uma ação/interação que um pesquisador identifica como importante nos dados"14. A categoria, por sua vez, é um agrupamento de conceitos "de grande poder analítico porque tem o potencial de explicar e de prever", portanto com alto nível de abstração. Isso significa que, no processo de análise, inicialmente o pesquisador identifica os conceitos que, agrupados, darão origem às categorias, reafirmando dessa maneira que estas "são conceitos derivados dos dados"14. O esforço do pesquisador nessa fase analítica é no sentido de delimitar os atributos que são designados por Strauss e Corbin como propriedades, com a finalidade de detalhar o conteúdo das categorias. Isso é, os conceitos avançam e consolidam-se em termos de propriedades e dimensões.

Strauss e Corbin apresentam uma abordagem estruturada e sistemática para a análise dos dados em três etapas. A codificação aberta, como a primeira etapa do processo de análise, é caracterizada pelo processo da microanálise, valorizando incidentes e os códigos in vivo para evitar que a análise fique restrita à redução dos dados. A segunda etapa é a codificação axial, que tem como objetivo especificar as propriedades e as dimensões de uma categoria e consiste em um processo de reagrupamento dos dados "para gerar explicações mais precisas e completas sobre os fenômenos"14. Os autores justificam esse processo para que o pesquisador estude tanto a estrutura como o processo de desenvolvimento do fenômeno.

O reagrupamento conceitual em que figuram estrutura e processo denomina-se de paradigma e possui componentes básicos: as condições (explicam por que e como as pessoas respondem ao fenômeno), e podem ser causais (fatos que influenciam o fenômeno ou quais fatores causaram o fenômeno), intervenientes ou interventoras (influenciam as estratégias ou alteram o impacto das condições causais) e contextuais (que criam circunstâncias que as pessoas respondem por meio de ações e interações); consequências (resultado do uso das estratégias e permite explicações mais completas). Dessa forma, o objetivo da codificação axial é "desenvolver sistematicamente as categorias e relacioná-las"14.

A última etapa é a codificação seletiva, cujo objetivo é integrar e refinar categorias em um modelo analítico, que consiste na definição da categoria central para em seguida descrever os conceitos em termos de propriedades e dimensões em busca de consistência interna14. Portanto, na abordagem straussiana, o pesquisador apresenta um paradigma (modelo visual) em que identifica fenômeno central, contexto, condições intervenientes, explora condições causais, especifica estratégias e delineia consequências.

Glaser defende a realização da codificação teórica e descarta a necessidade da codificação axial, uma vez que conecta novamente os elementos fragmentados15. Dessa forma, no procedimento de análise, os códigos teóricos diferenciam-se dos substantivos tanto em nível de abstração como em tipo por se situarem num nível conceitual mais abstrato que não se referem a modelos de integração. A função integradora dos códigos teóricos é fundamental para gerar uma teoria que possua significado, pois sem eles a sutileza da interação entre categorias é perdida. Devem ser selecionados pelos pesquisadores à medida que esses forem emergindo dos dados e considerados relevantes e úteis para a integração de subcategorias e categorias, e, consequentemente, para elaboração da teoria15.

Na perspectiva construtivista, Charmaz estimula o pesquisador a teorizar sob a dimensão interpretativa que "aprofunda os significados e processos implícitos e, logo, é mais evidente"4. Entretanto, destaca que, na prática, as fronteiras entre as dimensões positivista e interpretativa podem não ser tão claras e que a condição de teorizar é por si só eclética. Isso é, o pesquisador tem a liberdade de utilizar a forma que melhor se ajusta aos seus objetivos, pois o "equilíbrio entre as proposições teóricas [...] e o número e a densidade das abstrações depende do público-alvo do pesquisador que utiliza a teoria fundamentada, do seu propósito, bem como de suas inclinações teóricas"4.

Charmaz preconiza que o processo de codificação para análise dos dados seja realizado em pelo menos duas etapas: codificação inicial e focalizada. Na codificação inicial, o pesquisador estuda rigorosamente seus dados e conceitua suas ideias por meio de códigos que podem ser estabelecidos palavra por palavra, linha a linha ou incidente por incidente. A codificação focalizada, por sua vez, permite ao pesquisador separar, classificar, sintetizar, integrar e organizar grandes quantidades de dados, com base nos códigos mais significativos e/ou frequentes, visando à conceituação do material empírico. Para realização do processo de análise, dois critérios devem ser considerados: o ajuste (identifica se a teoria se ajusta às experiências dos participantes) e a relevância (para avaliar se a teoria tem relevância enquanto esquema analítico que interpreta as relações entre os processos)3,4.

As codificações palavra por palavra e linha a linha ajudam o pesquisador a ver o que é conhecido sob uma nova perspectiva, enquanto a codificação por incidentes auxilia o descobrimento de padrões e contrastes a partir da identificação de propriedades e dimensões do fenômeno. Os códigos "in vivo" são termos específicos ou amplamente utilizados pelos participantes4 e servem como marcadores do discurso e dos significados desses sujeitos. Tais códigos permitem ao pesquisador desenvolver uma compreensão mais profunda do acontecimento analisado.

Diante das diferenças entre as etapas de codificação de cada perspectiva metodológica da TFD, é fundamental o registro detalhado nos relatórios de pesquisa sobre o modo de utilização do método em consonância com os seus referenciais teórico-filosóficos norteadores. Nesse sentido, é mister salientar que o uso isolado das etapas de codificação da TFD para análise de dados em estudos qualitativos não legitima a denominação de um estudo como TFD.

Um dos requisitos para o desenvolvimento do processo analítico da TFD é a sensibilidade teórica. Trata-se da habilidade do pesquisador em reconhecer diferenças e variações nos dados, em termos conceituais, no processo de codificação e na interpretação dos significados. Tal capacidade baseia-se no conhecimento adquirido a partir da literatura científica, na experiência profissional, pessoal e, especialmente, na experiência do pesquisador no processo analítico da TFD3-5,14. Por esse motivo, a TFD é considerada, ao mesmo tempo, arte e ciência. É arte pela habilidade do pesquisador em nomear categorias, formular perguntas, realizar comparações e agrupar dados brutos em um esquema integrado e inovador. É ciência pelo rigor científico e metodológico que deve ser mantido na análise dos dados14,15.

Para desenvolver a sensibilidade teórica e alcançar o equilíbrio entre ciência e criatividade, as correntes clássica15 e construtivista4 orientam a utilização de gerúndios no processo de codificação como estratégia para auxiliá-lo a detectar processos e fixar-se aos dados, pois transmitem "forte sensação de ação e sequência"4. A adoção desse tempo verbal confere maior dinamicidade aos conceitos e facilita compreendê-los em termos de ação/interação.

Para concluir este tópico, é relevante uma menção ao uso de recursos tecnológicos no processo de análise de dados da TFD, como os softwares para análise de dados qualitativos. Esses softwares podem ajudar o pesquisador a organizar as informações e armazená-las em pastas de maneira conveniente para o fácil acesso aos trechos de falas brutas, imagens e códigos relacionados. Além disso, é possível gerar uma imagem visual dos códigos, temas e de suas inter-relações por meio dos diagramas, o que favorece o processo de comparação dos dados e a concepção do diferente nível de abstração dos dados qualitativos3. A utilização desses recursos tecnológicos não é requisito para o sucesso na elaboração de uma TFD. Entretanto, pode ser uma importante ferramenta de integração de pesquisadores em uma investigação de grande porte, na qual esteja prevista o compartilhamento de banco de dados.

USO DE DIAGRAMAS E MEMORANDOS

Os diagramas são recursos visuais que promovem a integração das distintas fases da investigação e têm como objetivo clarear as conexões entre os elementos da teoria emergente. Já os memorandos são registros que contêm produtos de análise e objetivam o desenvolvimento de conceitos. Ambos configuram-se como estratégias analíticas, considerados registros da análise - que pode ser feita manualmente ou por meio de softwares para análise de dados qualitativos14.

Especificamente na dimensão coleta de dados, as três perspectivas metodológicas da TFD sugerem a utilização de diagramas e memorandos como estratégia para orientar o pesquisador ao longo da realização da pesquisa. Os diagramas e mapas conceituais contribuem para apresentar visualmente as categorias e suas conexões ao longo do processo de pesquisa4. Além disso, ao utilizar os diagramas como recurso de análise dos dados, o pesquisador exercita o estabelecimento de relações conceituais, o que facilita a construção de hipóteses e conceitos.

VALIDAÇÃO DA TEORIA, DO MODELO OU DA MATRIZ TEÓRICA

O objetivo da TFD é gerar uma teoria ou explicação teórica unificada para um processo, uma ação ou uma interação moldada por uma visão de um grande número de participantes expressa nos dados coletados1,11,14. Assim, a etapa de validação consiste em apresentar a teoria - ou modelo teórico ou matriz teórica - construída, com as categorias e suas relações até atingir o fenômeno ou categoria central a profissionais experts no método ou na temática em estudo e/ou ao grupo ou parte do grupo de participantes da pesquisa14.

Vale pontuar que o resultado da TFD é uma teoria de nível substantivo, ou seja, escrita por um pesquisador próximo a um problema específico ou população de pessoas1. Já uma teoria formal tem a capacidade explanatória de aplicar seus conceitos a um mesmo fenômeno, que se desenvolve em contextos e situações diversas. Portanto, a TFD é uma explicação teórica de um problema delimitado a uma área distinta, ou seja, de estudo particular3,4.

Entre as três vertentes da TFD, é a corrente straussiana que confere maior importância à etapa de validação da teoria, considerando-a um critério fundamental para imprimir rigor científico e para a consolidação dos resultados da pesquisa14. A maior ênfase de Strauss à validação da teoria pode estar relacionada a sua proposta sistemática para a análise e organização dos dados nos componentes do modelo paradigmático.

Nesse sentido, há quatro critérios centrais para julgar a aplicabilidade da teoria ao fenômeno estudado:

  1. Ajuste: se a teoria é fiel à realidade deve se ajustar à área substantiva estudada;

  2. Compreensão: a teoria deve ser compreensível e fazer sentido tanto às pessoas estudadas quanto aos estudiosos da área focalizada;

  3. Generalização teórica: se o estudo é baseado em dados compreensíveis e em interpretação conceitual extensa, a teoria deve ser abstrata o bastante e incluir variação suficiente para torná-la aplicável a outros contextos relacionados àquele fenômeno;

  4. Controle: a teoria deve prover controle, pois as hipóteses que propõem relações entre conceitos podem ser usadas para guiar ações posteriores14.

No tangente à etapa de validação, Glaser defende a capacidade de modificação da teoria à medida que surgem novos dados15. Com relação à adaptação da teoria, é importante readaptar constantemente as categorias aos dados ao longo do desenvolvimento da pesquisa. Enfatiza que categorias pré-existentes podem adaptar-se aos dados, entretanto o papel do pesquisador é desenvolver "adaptação emergente" entre os dados e categorias pré-existentes, garantindo que estas continuem funcionais. O nível conceitual transcende os dados, indo para além deles tanto com relação ao seu uso quanto à temporalidade.

Dessa forma, a validação visa à comprovação de que o modelo teórico é representativo da realidade investigada. Também possibilita discutir sua aplicabilidade a outros contextos de tempo e espaço, admite modificações e incorporações de novos elementos que visem ao aprimoramento dos conhecimentos relativos ao fenômeno investigado.

À GUISA DE CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vislumbrando novas possibilidades

Neste estudo, procurou-se refletir e destacar aspectos históricos, conceituais, estruturais e operativos das três principais perspectivas metodológicas da TFD que podem ser usadas na pesquisa em enfermagem e saúde: clássica (também chamada de glauseriana); straussiana (denominada como relativista ou subjetivista); e construtivista. Cada uma dessas concepções teórico-epistemológicas apresenta especificidades que viabilizam modi operandi diferentes, baseados em concepções e paradigmas epistemológicos próprios, frutos da própria evolução do processo de construção do conhecimento científico.

É consenso entre os experts do método que a teoria emerge lentamente por meio de um rigoroso processo de formulação e integração de conceitos a partir de um esquema lógico, sistemático e explicativo, que revelam profundo conhecimento dos fenômenos sociais. Nesse sentido, a construção de uma TFD requer conhecimento térico dos seus principais elementos constituintes, além de tempo e dedicação do pesquisador.

O conhecimento, as reflexões e, progressivamente, o domínio sobre o método avançam, sobretudo pela maior utilização da TFD nas investigações. Dessa forma, é natural que, nesse caminhar, sejam apresentadas novas construções e contribuições. Os procedimentos da TFD de Strauss e Corbin apresentam-se de forma sistemática e estruturada, facilitando o aprendizado e a utilização do método, em especial, para pesquisadores iniciantes. Entretanto, para garantir o rigor nessa utilização e respectiva produção de novos conhecimentos, a definição da perspectiva metodológica deve ser realizada de acordo com a problemática em estudo, o olhar do pesquisador sobre a realidade e sua postura epistemológica.

O domínio do método pelo pesquisador é um aprendizado que acontece pesquisando, refletindo e decidindo sobre as múltiplas possibilidades ou caminhos a seguir, transitando entre as certezas e incertezas de ter escolhido o mais adequado. Cada experiência de uso da TFD é sempre um novo aprender! Assim, destaca-se a necessidade de novos estudos visando identificar e analisar o modo como a TFD tem sido utilizada na pesquisa em enfermagem e saúde, a fim de contribuir com o desenvolvimento contínuo do método.

REFERÊNCIAS

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