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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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CAPES

Volume 19, Número 2, Abr/Jun - 2015



DOI: 10.5935/1414-8145.20150042

PESQUISA

Rede de apoio social de puérperas na prática da amamentação

Lisie Alende Prates 1
Joice Moreira Schmalfuss 2
Jussara Mendes Lipinski 3


1 Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria - RS, Brasil
2 Universidade Federal da Fronteira Sul. Chapecó - SC, Brasil
3 Universidade Federal do Pampa. Uruguaiana - RS, Brasil

Recebido em 18/04/2014
Aprovado em 08/04/2015

Autor Correspondente:
Lisie Alende Prates
E-mail: lisiealende@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: Conhecer a rede de apoio social das puérperas na prática da amamentação.
MÉTODOS: Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, utilizando pressupostos da pesquisa participante, realizada por meio de entrevista com 21 puérperas.
RESULTADOS: O meio familiar ocupou o primeiro lugar na referência das entrevistadas, representado, principalmente, pelas mães das puérperas e outras mulheres da família. A amamentação aparece como um ato permeado por mitos, crenças e valores repassados de geração em geração, sendo fortemente influenciada pela rede de apoio social da puérpera.
CONCLUSÃO: Enfatiza-se a importância de se conhecer, incentivar e valorizar a presença da rede de apoio social da puérpera, durante a amamentação, de forma a permitir sua participação e colaboração na adesão e manutenção dessa prática.


Palavras-chave: Aleitamento materno; Rede social; Apoio social; Família; Enfermagem.

INTRODUÇÃO

Desde o seu nascimento, os indivíduos tecem ligações, sendo que uma das primeiras ligações estabelecida ocorre entre os membros da família. Nesse contexto, a família é percebida como um sistema de relações contínuas interligadas, instituída por laços de parentesco e por uma rede de apoio social para a sua própria sobrevivência. Portanto, a família representa o agente socializador primário que pratica o cuidado, que dá apoio e orientações, que ensina a viver, amar, sentir, a se cuidar e cuidar do outro1.

Nesse sistema de ligações, a saúde dos sujeitos é estreitamente ligada às crenças, valores, tradições e relações da rede de apoio social, uma vez que estes têm o poder de influenciar na forma como os indivíduos percebem e vivenciam o processo de saúde-doença, interferindo, também, nas necessidades de cuidados e na forma como as famílias cuidam de seus membros. Ante essa perspectiva, a família passou a se constituir em objeto de investigação, de trabalho e de cuidado da enfermagem.

Em consequência disso, tem-se verificado a importância de criar redes de apoio social a públicos-alvo como, por exemplo, às gestantes e às puérperas, principalmente, no que concerne à promoção e manutenção da amamentação. Ressalta-se que esta prática ainda é ligada a crenças, valores e mitos, os quais, muitas vezes, não são valorizados pelos profissionais de saúde e, que embora negligenciados, representam fatores responsáveis pela interrupção precoce da amamentação2.

Assim, entende-se que o apoio dado à mulher por familiares, amigos e vizinhos durante o processo gravídico-puerperal é de suma importância, podendo ser considerado um determinante na adesão e manutenção da amamentação. Entretanto, além do sistema familiar, outros sujeitos também exercem papel fundamental para o sucesso da amamentação, entre estes, os profissionais de saúde3-5, os quais também compõem a rede de apoio social da puérpera.

Salienta-se que o termo rede de apoio social é polissêmico, uma vez que tem sido investigado por áreas de conhecimento, as quais têm atribuído um sentido próprio. Sendo assim, cabe ressaltar que, no presente estudo, optou-se pela conceituação de rede de apoio social como um sistema constituído por diferentes indivíduos pertencentes à esfera social, que fornecem apoio, em diferentes âmbitos, ou seja, emocional, material, educacional, entre outros6.

Diante do exposto, amamentar, entre tantos aspectos, envolve o apoio de familiares e profissionais de saúde, imprescindíveis para superar as dificuldades vivenciadas pelas mulheres e suas famílias. Logo, entende-se que a existência de uma rede de apoio social, durante a prática da amamentação, pode ser um fator determinante para a sua adesão e manutenção e a, consequente, introdução precoce de outros líquidos e alimentos na dieta da criança7,8. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi conhecer a rede de apoio social das puérperas na prática da amamentação.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, utilizando pressupostos da pesquisa participante. O estudo foi realizado com 21 puérperas em aleitamento materno exclusivo e complementar, vinculadas a partir da primeira consulta de pré-natal à rede básica de saúde de um município da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul (RS) e residentes neste município.

O critério norteador para inclusão de novas participantes na pesquisa seguiu as orientações9 de que, nas pesquisas qualitativas, o número de participantes não deve seguir aspectos numéricos, uma vez que, nesse tipo de abordagem metodológica, pondera-se que os participantes devem compor um conjunto diversificado, deter os atributos que se pretende investigar, e representar um número suficiente que permita a reincidência de informações, o que se denomina por saturação de dados. Portanto, considerou-se que o número de participantes referido contemplou, por meio da saturação de dados, o objetivo desta pesquisa.

O estudo foi realizado nos domicílios das puérperas, sendo estes localizados em zona central e periférica do município. As puérperas que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e setembro de 2012, por meio de entrevistas que tiveram uma duração média de 30 minutos. Entre os questionamentos apresentados às participantes, no roteiro de entrevista, estavam os seguintes: "Quando você tem alguma dúvida relacionada com a amamentação, quem é a primeira pessoa que você procura? E por que você procura essa pessoa?". Diante destes questionamentos, as participantes discorreram sobre suas vivências e os indivíduos que compõem sua rede de apoio social na prática da amamentação.

Os dados do presente estudo foram analisados, conforme referencial de análise de conteúdo do tipo temática9, perpassando-se as seguintes fases de desenvolvimento: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

O presente estudo respeitou a Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), sob o número de registro UNIPAMPA/CEP 030.2011, no ano de 2011. As participantes do estudo foram esclarecidas quanto aos objetivos do estudo e quanto à sua participação voluntária.

Ressaltou-se às participantes que sua participação não representaria, a princípio, nenhum risco às dimensões física, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual. Contudo, destacou-se que alguns sentimentos poderiam ser mobilizados durante as entrevistas, pois alguns questionamentos poderiam fazê-las refletir sobre suas experiências de vida. Caso ocorresse algum desconforto, a entrevistadora disponibilizou-se a conversar a respeito dos sentimentos envolvidos na situação, e afirmou que a entrevista poderia ser suspensa e remarcada, ou não, para uma nova data. Ainda foi esclarecido às participantes que elas tinham liberdade para se retirarem do estudo, sem qualquer punição ou constrangimento.

A participação no estudo não envolveu nenhum benefício financeiro às participantes, tampouco qualquer despesa. Contudo, como benefícios indiretos às participantes, destacou-se a produção de conhecimentos referentes à prática da amamentação. No que se refere ao anonimato, também foi informado às participantes que a fim de preservar suas identidades, elas seriam identificadas com a letra "E" de entrevistadas, seguida pela numeração de 1 a 21.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das entrevistas desenvolvidas, foi possível conhecer a rede de apoio social das puérperas na prática da amamentação. Nessa perspectiva, os profissionais de saúde apresentaram pouco destaque nas falas, sendo que apenas duas participantes afirmaram tê-los como uma fonte de apoio.

Quando eu tenho alguma dúvida, eu procuro a enfermeira do posto (E21).

Eu costumo procurar o médico (E5).

Além dessas, outras duas participantes declararam que, além de buscar ajuda profissional, também solicitavam auxílio aos familiares (mãe e irmã) e vizinhas.

Geralmente quem me ajuda é a minha mãe e a minha irmã, mas eu também falo com o médico (E6).

Eu falo com o médico, falo com as vizinhas que também já tiveram bebê (E1).

Com exceção dessas quatro puérperas, as demais não mencionaram, em suas falas, o profissional de saúde como alguém que fazia parte de sua rede de apoio social na prática da amamentação. Representando, assim, um achado diferente de um estudo realizado em Porto Alegre/RS, o qual identificou os profissionais de saúde da rede básica como as principais referências de cuidado das mulheres participantes da pesquisa, principalmente, quando estas necessitavam de ações de proteção e de recuperação10.

Tal divergência gerou reflexões e questionamentos sobre os motivos que levaram as mulheres a não considerar os profissionais de saúde em suas falas. Entre os variados motivos atrelados, acredita-se que as participantes percebem os profissionais de saúde apenas como fontes de informação e não de apoio e, portanto, estes não são considerados como pertencentes às suas redes de apoio social. Sendo assim, na ocorrência de intercorrências ou dúvidas referentes à amamentação, elas buscam indivíduos que possam lhes fornecer apoio, como os familiares e outras pessoas significativas de sua rede de apoio social.

Portanto, infere-se que as puérperas tendem a procurar, primeiramente, seus familiares, para que estes possam auxiliá-las diante de determinada problemática, pois estes, acima de tudo, representam a sua rede de apoio social. Assim, muitas vezes, além de fornecer ajuda, esses atores, também, fornecem informações sobre o aleitamento materno11, ficando os profissionais de saúde com uma participação muito restrita nesse processo.

O mesmo fenômeno, também, foi identificado em outros estudos1,5, nos quais os familiares das puérperas foram identificados como as suas principais referências para o cuidado na prática da amamentação. Esse fato demonstra que os profissionais, por alguma razão, vêm perdendo sua credibilidade diante da prática da amamentação e que há a necessidade de identificar os motivos que estão levando as puérperas a procurá-los com menor frequência.

Nesse estudo, além de observar que o meio familiar representava a principal rede de apoio social das mulheres, verificou-se que os sujeitos que possuem alguma experiência anterior com amamentação também fornecem apoio às puérperas. Esse achado pode ser demonstrado na fala, a seguir.

Eu costumo falar com alguém que já tenha amamentado, que tenha alguma experiência, já tenha passado por isso (E17).

Entre os sujeitos com experiências anteriores relacionadas à prática da amamentação, identificou-se a avó da puérpera. Esse sujeito foi mencionado por uma das participantes.

A primeira pessoa que eu procuro é a minha vó. Ela sempre sabe a melhor coisa a fazer (E20).

Nessa perspectiva, observa-se que as avós são consideradas como indivíduos que detém conhecimentos, os quais estão balizados, principalmente, nas suas experiências de vida. Com isso, as avós orientam as mulheres mais jovens, ou as menos experientes, acerca das práticas de cuidado que foram anteriormente validadas por elas e que, dentro dos seus contextos sociais, são socialmente aceitas, valorizadas e respeitadas.

Além das avós, também, foram destacados outros sujeitos com experiências prévias, como as sogras das puérperas.

A minha sogra tem me ajudado muito (E2).

Se tenho uma dúvida, eu falo com a minha sogra (E4).

Eu procuro a minha sogra. Ela já passou por isso, sabe como é (E20).

Dez participantes ainda destacaram as suas próprias mães como principais referências, representando, assim, os sujeitos mais referidos entre todas as entrevistadas.

A primeira pessoa que eu procuro é a minha mãe (E8).

A mãe me ajuda em tudo. Eu sempre pergunto primeiro para ela (E15).

Frente ao exposto, percebe-se que as avós, as mães e as sogras são vistas como indivíduos detentores de sabedoria, conhecimento e experiência. Verificou-se que a figura da avó, tanto da puérpera quanto do lactente, é bastante presente e significativa na cultura da população estudada, sendo que para muitas mulheres ela é referida como essencial e eterna orientadora das tradições.

A importância da avó deve-se, principalmente, ao fato desta já ter constituído uma família e já ter vivenciado a maternidade e a própria amamentação, fazendo com que, muitas vezes, possua inúmeros conhecimentos advindos de suas experiências adquiridas ao longo dos anos. Dessa forma, a avó torna-se a fonte mais importante de informações sobre os processos de lactação e amamentação1,5,12,13. Esse destaque fornecido às avós, também, justifica-se pelo fato dessas estarem presentes no contexto familiar, influenciando-o sobremaneira no período puerperal. Nessa fase, as mulheres encontram-se mais sensíveis e vulneráveis às pressões e aos conselhos/orientações de terceiros, buscando a transmissão de aprendizados5,14.

No entanto, há de se considerar que sua influência pode favorecer ou dificultar o ato de amamentar, pois ao transmitir sua experiência, ela, também, transmite crenças, mitos e tradições enraizados no contexto familiar, os quais, muitas vezes, não possuem comprovação científica e diferem das recomendações atuais1,12,15. Portanto, é preciso destacar que algumas avós provem de uma geração que desvalorizava o leite materno e não o considerava como a única fonte de alimento para a criança. Sendo assim, mesmo com boas intenções, algumas vezes, elas podem repassar orientações errôneas, que podem contribuir para o desmame precoce14.

Entretanto, há de se considerar que, em alguns casos, as avós, assim como as mães das puérperas e suas sogras, também, reconhecem que não possuem informações suficientemente atualizadas e, buscam encontrá-las na perspectiva de prolongar o aleitamento materno. Dessa forma, podem contribuir na implementação dos cuidados necessários à família em processo de amamentação.

Logo, para que estes indivíduos possam promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, faz-se necessário proporcionar espaços que possam envolvê-las e nos quais seja possível o debate de questões que permeiam a prática da amamentação. Assim, o apoio destas poderá ser um elemento facilitador para a manutenção da amamentação.

Da mesma forma, o apoio de outros indivíduos da rede também é fundamental. Nesse sentido, além das avós, mães e sogras, outros familiares também foram mencionados pelas participantes. Contudo, de forma menos expressiva, como pode ser verificado nas falas, a seguir.

Eu também pergunto para minha irmã, assim como a minha vizinha, ela também já tem filhos e amamentou (E10).

A minha tia me ajuda também (E19).

Eu ligo para minha prima e ela me explica aquilo que eu não sei (E13).

Eu ligo para minha irmã e pergunto como ela fazia [problemas na lactação] (E7).

Observou-se que, em outro estudo, estes sujeitos (irmãs, tias e primas) não foram destacados5. Acredita-se que esses familiares tenham sido referenciados no contexto da rede de apoio social das participantes durante a prática da amamentação por justamente serem mulheres, visto que, tradicionalmente, o apoio, nesse período, advém de outras mulheres.

Além dos familiares, outros sujeitos que compõem a rede de apoio social da puérpera também foram citados, conforme pode ser visto na sequência.

Estou sempre procurando minhas vizinhas. São elas que me ajudam (E11).

Quando eu tenho alguma dúvida, eu procuro as minhas amigas (E2).

Geralmente, eu falo com as minhas amigas que já são mães (E3).

As vizinhas sempre ajudam. Elas falam como aconteceu [aspectos da amamentação] com elas (E1).

Portanto, além dos familiares, as demais pessoas da rede de apoio social da mulher, como vizinhas e amigas, também possuem importância durante o período da amamentação, exercendo papel fundamental para o sucesso desta prática, apoiando-a e valorizando-a16. Essas pessoas apresentam potencial de estimular a mulher a amamentar, mesmo quando esta já está decidida a introduzir leites artificiais17. Portanto, a partir do suporte emocional e psíquico de pessoas próximas, a mulher se sente mais segura e acolhida, e sua comunidade transforma-se em um local de aprendizado e apoio da prática da amamentação18.

Embora tenham sido apenas quatro puérperas a citarem suas amigas e/ou vizinhas como as primeiras pessoas a serem procuradas na ocorrência de dúvidas com relação à amamentação, pôde-se perceber que as experiências de terceiros também foram significativas para as mesmas durante o período da amamentação.

Eu converso sempre com a minha vizinha. Até pouco tempo atrás, ela estava amamentando a filha, mas eu noto que ela tinha muito mais leite que eu (E10).

Assim, destaca-se que algumas puérperas compararam suas vivências com as de outras mulheres de sua comunidade, principalmente, quando estas se relacionaram a problemas na lactação. Além disso, a fala de E10 também evidenciou as diversas influências que perpassam o cotidiano da puérpera e que reforçam mitos e crenças ligados à prática da amamentação.

Salienta-se, também, que mulheres com experiências anteriores com amamentação podem ser encontradas tanto no contexto familiar quanto na comunidade. Nesse sentido, tradicionalmente, as mulheres mais experientes da rede de apoio social da mulher transmitem suas experiências e dão apoio às novas mães e, por isso, geralmente são mais procuradas por estas19.

Finalmente, ainda pôde-se perceber que o companheiro não foi destacado por nenhuma das participantes na vivência da prática da amamentação, diferentemente de um estudo que concluiu que das oito nutrizes primíparas entrevistadas, sete indicaram o pai do bebê como alguém fundamental dentro da rede de apoio social da puérpera10. Destaca-se, também, que, durante as entrevistas, houve momentos nos quais, além dos questionamentos, também foram realizadas orientações às puérperas, e os companheiros optaram por se ausentar, demonstrando certo desinteresse com o assunto que estava sendo discutido.

Entretanto, acredita-se que o companheiro consiste em um importante aliado, tanto no exercício da maternidade quanto na lactação, podendo proporcionar auxílio valioso e total apoio à mulher nesse período5,13,20. Em relação à amamentação, particularmente, o pai pode influenciar positiva ou negativamente. Assim, em alguns casos, eles têm o potencial de estimular as mulheres a prosseguirem amamentando. Enquanto que em outras situações, podem apresentar sentimentos de ansiedade, ciúme, rejeição, exclusão, dificuldades sexuais, muitas vezes, abandonando suas companheiras, especialmente, nas madrugadas em que ficam sozinhas amamentando. Tais atitudes, positivas ou negativas, envolvem, na maioria das vezes, a compreensão da amamentação pelo pai5.

Assim, se o pai percebe a importância da amamentação, ele pode mostrar-se como um agente incentivador, protetor e apoiador da amamentação. Porém, se este vislumbra a amamentação como uma prática negativa, que o exclui do cuidado de seu filho, ele pode apresentar-se pouco colaborativo, incomodado, inferior, deslocado e incompetente, acreditando que não possa participar desse ato, já que a amamentação é uma exclusividade da mãe. Além disso, ele também pode incomodar-se por estar recebendo menos atenção da companheira, manifestando sentimentos de frustração e ansiedade.

Nesse contexto, essas atitudes poderiam ser modificadas, se houvesse maior comunicação entre o casal, com vistas a reduzir as reações negativas diante da amamentação, sensibilizando-o para o seu papel na saúde integral da mulher e da criança12,13. Considerando, assim, a amamentação não apenas como uma prerrogativa da mulher, mas sim como uma responsabilidade assumida e compartilhada pelo casal11.

Desse modo, o pai pode aumentar o suporte oferecido à companheira e ao bebê, estimulando o seu vínculo com o recém-nascido, ajudando efetivamente a mulher de forma partícipe e cúmplice, e auxiliando na manutenção do aleitamento materno. O envolvimento do pai apresenta-se, então, como um elemento fundamental, sendo que a sua inclusão nas ações de promoção do aleitamento materno mostra-se muito positiva21.

No entanto, destaca-se que os serviços de saúde raramente possibilitam o acesso e a participação dos pais no seguimento do período gravídico-puerperal de suas companheiras, o que dificulta ainda mais a sua inclusão no processo de amamentação. Contudo, o pai e os demais sujeitos citados neste estudo compõem a rede de apoio social necessária para o estabelecimento e continuidade do aleitamento materno13.

CONCLUSÃO

Este estudo permitiu conhecer a rede de apoio social de puérperas na prática da amamentação, identificando que esta rede pode ser composta por familiares, indivíduos da comunidade e profissionais de saúde. No presente estudo, a rede de apoio social das puérperas foi representada, principalmente, pelos familiares e indivíduos do contexto comunitário, entre eles, as mulheres. Os profissionais de saúde emergiram, em algumas falas, contudo, demonstraram ter um papel muito restrito dentro desta rede.

Diante dos achados desta pesquisa, enfatiza-se a importância dos profissionais de saúde em conhecer a rede de apoio social da puérpera, durante o processo de amamentação; mais do que isso a necessidade de que os serviços de pré-natal e puerpério envolvam, incentivem e valorizarem a participação desta rede nos programas de incentivo à amamentação, de forma que esta possa participar e colaborar com essa prática. O apoio de familiares, amigos, vizinhos e profissionais de saúde, durante o período de amamentação, é imprescindível, podendo configurar-se como um determinante na adesão e manutenção da amamentação.

Logo, entende-se que essa rede de apoio social pode influenciar a mulher frente à decisão em amamentar. Destacando-se que a mulher quando opta em aderir e manter essa prática, não está expressando apenas a sua decisão, mas também os significados construídos durante toda a vida, seu contexto cultural e de vida, suas motivações e vivências, seus conhecimentos, suas reflexões sobre experiências passadas, os acontecimentos durante a infância, as experiências de seus familiares e amigos, as interferências da mídia, os saberes científicos de cada época histórica e cultural, e a própria influência exercida por sua rede de apoio social.

Desse modo, ressalta-se a importância de valorizar os contextos nos quais as puérperas estejam inseridas, pois estas terão, durante todo o processo de lactação, a influência de sujeitos, que compõem sua rede de apoio social nesse momento, e os quais possuem inúmeros saberes acerca da amamentação e dos cuidados com o recém-nascido. Saberes estes que serão confrontados, constantemente, com os conhecimentos científicos adquiridos nos serviços de saúde, podendo acarretar em dúvidas e ansiedades na mulher.

Por conseguinte, acredita-se que os profissionais de saúde devem se aproximar e considerar o contexto familiar e comunitário, assim como as crenças, mitos, tabus e valores culturais imbricados neste processo, para que possam desempenhar o papel de apoiadores e incentivadores da amamentação. É fundamental conhecer os saberes e experiências da rede de apoio social da puérpera, no intuito de implementar ações que permitam às mulheres superar os obstáculos e vivenciar plenamente a amamentação.

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