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CAPES

Volume 6, Número 1, Jan/Abr - 2002

ARTIGOS DE PESQUISA

 

O trabalho administrativo do enfermeiro sob a ótica dos administradores hospitalares

 

Nurses management by hospital administrators point of view

 

El trabajo administrativo del enfermero sobre la óptica de los administradores hospitalares

 

 

Andrea BernardesI; Janete Rodrigues da Silva NakaoII; Yolanda Dora Martinez ÉvoraIII

IEnfermeira Doutoranda em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
IIEnfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
IIIEnfermeira. Professora Livre Docente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP

 

 


RESUMO

Esta investigação surgiu da necessidade de entendermos alguns questionamentos acerca das atividades administrativas executadas pelo enfermeiro e da relação delas com a assistência de enfermagem. Para isso, utilizamos a categorização adotada por Xavier et al. (1987) que em seu estudo buscou compreender e conceituar a assistência de enfermagem. O objetivo desta pesquisa foi verificar o entendimento dos administradores hospitalares acerca das ações administrativas realizadas pelo enfermeiro e qual a relação delas com a assistência de enfermagem. Optamos por utilizar a análise temática de conteúdo descrita por Bardin (1977) como técnica para análise dos dados. Através da análise dos dados, concluímos que o enfermeiro deve executar ações administrativas. No entanto, não deve realizá-las em demasia em detrimento da assistência ao cliente. Deixamos a proposta da continuidade desta pesquisa utilizando os próprios enfermeiros com os sujeitos da investigação.

Palavras-chave: Administração em enfermagem. Assistência de enfermagem. Gerenciamento.


ABSTRACT

This investigation emerged from the need to understand some questions about management activities performed by nurses and their relation to nursing care. We used the categorization adopted by Xavier et al. (1987) who tried to understand and conceptualize nursing care. The purpose was to verify the comprehension of the hospitals managers on nurses management actions and the relation of these actions to the care. We used the thematic content analysis described by BARDIN (1977) as a technique to analyze data. We concluded that nurses must perform management actions. However, management activities must not be performed in excess to the detriment of the care to the client. Therefore we suggest the continuation of this research using the nurses as the subjects of the investigation.

Keywords: Nursing management. Nursing care. Management.


RESUMEN

Esta investigación surgió de la necesidad de atender algunos cuestionamientos acerca de las actividades administrativas ejecutadas por el enfermero y de la relación de éstas, con la asistencia de enfermería. Para esto, utilizamos la categorización adoptada por XAVIER y cols. (1987), quienes en su estudio, buscaron comprender y conceptuar la asistencia de enfermería. Los objetivos de ésta investigación fueron comprender el trabajo administrativo realizado por el enfermero en la perspectiva de los administradores hospitalares, verificar su entendimiento acerca de las acciones administrativas realizadas por el enfermero y la relación de las mismas con la asistencia de enfermería. Optamos por utilizar el análisis temático de contenido, descrito por BADIN (1977) como técnica para el análisis de los datos. A través del análisis de los datos, concluimos que el enfermero debe ejecutar acciones administrativas. Sin embargo, no debe realizarlas en detrimento de la asistencia al cliente. Dejamos como propuesta, la continuidad de ésta investigación utilizando los propios enfermeros como sujetos de la investigación.

Palabras claves: Administración en enfermería. Asistencia de enfermería. Gerenciamiento.


 

 

INTRODUÇÃO

Desde o início da enfermagem como profissão, há dúvidas no entendimento do papel administrativo do enfermeiro. No entanto, sabemos que, para que uma organização possa apresentar padrões satisfatórios de trabalho, é fundamental que exista um serviço bem estruturado e apoiado numa administração eficiente. Surge então a necessidade de entender o significado dessa administração e a relação dela com a assistência de enfermagem.

Além disso, com o aprimoramento técnico - científico da medicina e o crescimento da indústria hospitalar que favorecem maior número de intervenções no processo saúde - doença, se intensificam as atividades burocráticas que afastam ainda mais o enfermeiro do cliente, já que ele passa a desempenhar ainda mais funções administrativas.

O enfermeiro ocupa a posição de gerente e líder da assistência de enfermagem e, conhecendo a essência do trabalho dessa equipe, delega funções aos subordinados hierarquicamente.

Segundo Almeida & Rocha (1999), esta liderança do enfermeiro é enganosa pois, no momento em que ocupam cargos de chefia, inicia-se o processo de distanciamento do paciente, da equipe, enfim, das atividades dirigidas ao objeto de saúde que é o cliente.

Não se pode, no entanto, reduzir a importância do trabalho administrativo do enfermeiro já que, segundo Oliveira (1972), assegura o encadeamento do trabalho assistencial e acaba juntando as partes do todo fragmentado.

O fato é que o enfermeiro, executando em excesso as atividades administrativas, especialmente as burocráticas, acaba relegando a pessoa doente a plano inferior aos interesses institucionais. Isto gera insatisfação do cliente que acaba sofrendo as conseqüências advindas da organização formal.

O enfermeiro deve assumir funções administrativas tendo como foco de atenção o cliente e não a instituição.

Ao enfermeiro não cabe apenas competência técnica, é necessário competência administrativa para que lhe seja possível o gerenciamento de sua unidade e a organização da assistência de enfermagem prestada aos pacientes sob os seus cuidados. Nessa expectativa, administrar é também prestar assistência de enfermagem ao paciente.

Ferraz (1989) expõe que o mundo do enfermeiro não está ao "redor do paciente", não está "ao redor do cuidar", mas está "ao redor da instituição hospitalar burocrática, onde através de sua função administrativa, presta-se à manutenção desse sistema onde o paciente não tem norteado as ações dessa organização..." (p.47).

Concordamos com a idéia da autora e reiteramos que há uma forte tendência acadêmica em não considerar a "administração" como uma função essencial, já que acarreta um distanciamento do cliente.

Cabe, então, ressaltar que esse distanciamento ocorre na medida em que o enfermeiro executa atividades administrativas voltadas para os interesses institucionais e não para a administração da assistência, pois esta volta-se primordialmente ao cliente.

No entanto, se os enfermeiros exercem atividades administrativas e são comprometidos com os objetivos da organização, eles estão mantendo a burocratização. Trevizan (1998) ressalta que as atividades administrativas burocráticas e não-burocráticas diferem, pois as últimas não são regidas por normas, dependem mais da competência do indivíduo, dão lugar à criatividade. Enquanto a função burocrática é comandada pelo compromisso com a organização, a não-burocrática é mais orientada pelo compromisso com a profissão.

Pode-se entender que é importante a inserção do enfermeiro na burocracia hospitalar, até porque ele precisa conhecer as normas e rotinas institucionais, além de permitir maior espaço na instituição. Porém, o enfermeiro jamais deve deixar de lado sua competência profissional, sua autoridade, sua autonomia e seguir normas e regras previamente elaboradas por outros. Ele deve planejar suas ações e as de seu pessoal, visando primordialmente o cliente. Portanto, o exercício da função administrativa deverá sempre estar centrado na assistência ao cliente, pois assim será possível atender suas necessidades e o enfermeiro realizar-se como profissional.

Assim compreendido, concordamos com Trevizan (1998) quando diz que "...o exercício da função administrativa reside na administração da assistência de enfermagem, além de envolver a implementação de ordens médicas e as expectativas da organização hospitalar..." (p.112).

Xavier et al. (1987), buscando compreender e conceituar a assistência de enfermagem, identificaram procedimentos, tarefas e atividades que as categorias de enfermagem vêm realizando. Dessa análise, identificaram algumas semelhanças que permitiram a categorização desse conjunto em:

· Ações de natureza propedêutica e terapêuticas complementares ao ato médico e de outros profissionais - são aquelas determinadas em função do ato desses profissionais. As ações propedêuticas complementares apoiam o diagnóstico e o acompanhamento do processo. As terapêuticas complementares são as que asseguram o tratamento.

· Ações de natureza terapêutica e propedêutica da enfermagem - são aquelas que têm o foco de atenção na organização da totalidade da atenção de enfermagem prestada à clientela. Elas caracterizam a necessidade de tempo e continuidade do trabalho de enfermagem.

· Ações de natureza administrativa - têm por essência a organização do processo de trabalho coletivo na enfermagem. São referentes ao planejamento, gestão, coordenação e supervisão e avaliação da assistência de enfermagem.

· Ações de natureza complementar de controle de risco - sua essência prende-se à queda da probabilidade de agravos à saúde e/ou de suas complicações. O caráter de complementaridade refere-se ao fato de essas ações serem desenvolvidas pelo coletivo de profissionais de saúde.

· Ações de natureza pedagógica - incluem todas as ações de treinamento, formação e educação continuada dirigida à força de trabalho de enfermagem empregada na rede de serviços.

 

OBJETIVO DO ESTUDO

Verificar o entendimento dos administradores dos hospitais acerca das ações administrativas realizadas pelos enfermeiros e qual a relação delas com a assistência de enfermagem.

 

METODOLOGIA

Local da investigação

O presente estudo realizou-se no município de Ribeirão Preto que conta com 11 hospitais, sendo dois públicos, quatro filantrópicos e cinco particulares.

Optamos por realizar este estudo nos hospitais privados e filantrópicos por possuírem forma semelhante de organização do trabalho, além de termos experiências de trabalho em alguns deles, o que facilita a obtenção dos dados.

Tipo de estudo

A investigação consiste em uma pesquisa não experimental, descritiva, realizada segundo a metodologia quanti-qualitativa.

Para obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas com os administradores dos hospitais. Os dados obtidos foram submetidos à Análise Temática de Conteúdo que Bardin(1977) define como "um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens"(p. 38).

Os dados, após analisados, foram agrupados de acordo com a classificação de Xavier et al.(1987) que buscavam compreender e conceituar a assistência de enfermagem categorizando-a em um conjunto de ações já mencionadas.

Sujeitos da pesquisa

Participaram do estudo, o grupo de administradores hospitalares que atuam em seis dos oito hospitais privados e filantrópicos do município de Ribeirão Preto. A exclusão de duas instituições se deu pela não discordância em participar do estudo.

Técnica para coleta de dados

Para a coleta de dados, utilizamos a entrevista com preenchimento de um Instrumento de Coleta de Dados.

Segundo Marconi & Lakatos (1986), a entrevista trata-se de uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica, que permite a informação necessária ao investigador.

Foi utilizada a entrevista semi-estruturada que, segundo Minayo(1994), é a que articula a entrevista aberta e a estruturada. Na primeira, é oferecida liberdade ao participante de abordar o tema proposto. Na segunda, há perguntas previamente formuladas.

Tratamento dos dados

As informações coletadas nas entrevistas foram submetidas à técnica de análise de conteúdo, segundo Bardin (1977). Inicialmente, procedeu-se a organização do material por meio de uma leitura flutuante das informações obtidas para em seguida dar seqüência às diferentes fases da análise de conteúdo que se organizam cronologicamente em: 1- pré-análise; 2- exploração do material; 3- tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos elementos entrevistados da área administrativa.

Entre os seis participantes, 50% são do sexo masculino e 50% do sexo feminino, sendo que três deles têm idade variando entre 31 e 40 anos, dois entre 41 e 50 anos e um com 51 anos. Quanto à escolaridade/formação, ao tempo de admissão no hospital, ao cargo que ocupa e à experiência de trabalho necessária, segue-se o quadro:


Quadro 1 - Clique para ampliar

 

Vale ressaltar que, entre os sujeitos que ocupam o cargo de administrador das instituições em estudo, há uma que tem formação em enfermagem. Também o indivíduo que ocupa o cargo de Gerente Operacional trabalhou por 20 anos como técnico de enfermagem e tem apenas dois anos de experiência como administrador. Apesar da diferença de nomenclatura quanto ao cargo que ocupam, podemos afirmar que as funções desses indivíduos são semelhantes.

 

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS COM OS ADMINISTRADORES DOS HOSPITAIS

PERGUNTA 1

- Na sua visão, o que você espera do trabalho do enfermeiro?

Ao serem questionados sobre o que esperam do enfermeiro, os profissionais da área administrativa mostraram que o foco central de atuação do mesmo, segundo a classificação adotada por Xavier et al.(1987) se inclui nas "Ações de Natureza Administrativa". Classificamos assim as seguintes falas:

"... que o enfermeiro desenvolva de modo objetivo o seu trabalho."

"...que o enfermeiro seja líder, etc...."

"... que o enfermeiro tenha uma visão abrangente."

Notamos que liderança, capacidade de objetivos e coordenar o trabalho a ser desenvolvido são os aspectos do trabalho do enfermeiro que os administradores esperam encontrar.

Encontramos também algumas respostas que se incluem nas "Ações de natureza terapêutica e propedêutica da enfermagem":

"Atendimento do paciente tanto do ponto de vista profissional como profissional..."

"Eficiência na conduta profissional."

Outras ações citadas pelos administradores voltam-se para a queda da probabilidade de agravos à saúde e/ou de suas complicações, o que XAVIER, et al.(1987) chamam de "Ações de natureza complementar de controle de risco". Vejamos a seguinte fala:

"Espero empenho e dedicação intensa em todos os sentidos em prol do bom atendimento aos pacientes."

Entendemos que, se houver empenho e dedicação no atendimento ao cliente, certamente haverá redução da probabilidade de riscos ao mesmo.

PERGUNTA 2

- Na sua experiência profissional, o que faz o enfermeiro?

Os profissionais entrevistados demonstraram que o que eles esperam do trabalho do enfermeiro condiz com a realidade vivenciada, já que a maioria citou que os enfermeiros fazem mais ações administrativas.

Obtivemos resposta que se inclui nas "Ações de natureza terapêutica e propedêutica da enfermagem":

"...orientação e acompanhamento das medicações e técnicas executadas por auxiliares de enfermagem."

Através dessa fala, percebemos a preocupação com a organização da totalidade da atenção de enfermagem prestada aos clientes, que traduz ações de enfermagem, embora também ressalte a importância da supervisão que se relaciona às ações administrativas. Refere-se ainda às "Ações de natureza pedagógica", pois sugere treinamento e educação continuada dos auxiliares de enfermagem.

Observamos que as expectativas voltam-se para as "Ações de natureza administrativa" e que na percepção dos administradores, os enfermeiros executam maior número de atividades nessa área:

"Supervisão das atividades de enfermagem..."

"O enfermeiro é que coordena toda a atividade de enfermagem dentro do contexto hospitalar."

"Planeja, supervisiona a assistência ao paciente."

Notamos que esse último profissional enfatiza a administração como parte da assistência de enfermagem.

PERGUNTA 3

- O que você entende por "Ações Administrativas"realizadas pelo enfermeiro?

Apenas uma das respostas enfocou o trabalho administrativo do enfermeiro assegurando o trabalho assistencial, como podemos verificar nesta fala:

"Elaboração de projetos de assistência ao paciente."

Na análise de Xavier et al. (1987), tal fala se enquadra nas "Ações de natureza terapêutica e propedêutica da enfermagem" uma vez que a elaboração de projetos de assistência visa a organização de totalidade da atenção de enfermagem prestada à clientela.

A maioria das respostas, no entanto, acerca do entendimento que os administradores têm das "Ações Administrativas" realizadas pelo enfermeiro, referem-se à parte burocrática:

"...elaboração de comunicação de faltas..."

"...assinatura em requisição de materiais... etc"

"... encaminhamentos de atestados dos funcionários ao Departamento Pessoal."

Tais falas cabem na definição do termo "burocracia" definido por Trevizan et al. (1998), pois, não dá margem à criatividade, é impessoal, segue normas da instituição, além de não depender da competência do indivíduo.

As demais respostas cabem nas "Ações de natureza administrativa":

"... solicitações de medicações..."

"... previsão e provisão de materiais..."

"... recrutamento e seleção de pessoal de enfermagem..."

PERGUNTA 4

- Você acha que os enfermeiros deste hospital executam "Ações Administrativas"? Em caso afirmativo, quais?

Para os administradores, 100% dos enfermeiros executam tais ações, fato já evidenciado nas duas primeiras questões.

No entanto, nenhuma das respostas salientou a administração como um meio de se atingir uma melhor qualidade na assistência de enfermagem. Algumas respostas, mais uma vez, retratam atividades burocráticas:

"Elaboração de manuais de organização..."

"Requisição de materiais específicos."

As demais respostas são pertinentes à macro-administração, ou seja, extrapola a administração da assistência de enfermagem. São elas:

"Responsabilidade total do hospital no noturno."

"...cumprimento de normas e rotinas."

"... cuidados com o ambiente físico."

"... reuniões com funcionários..."

Tais falas evidenciam o afastamento do cliente, relegando-o a um segundo plano, ou seja, incentiva-se os interesses do hospital em detrimento das necessidades do paciente.

PERGUNTA 5

- Em sua opinião, essas "Ações Administrativas" fazem parte da assistência de enfermagem? Em caso afirmativo, como?

Relativo a essa questão, 100% dos administradores responderam que SIM, entendendo que administrar é prestar assistência. A segunda parte da questão se relaciona a como essas ações integram a assistência de enfermagem. 50% dos profissionais da área administrativa disseram que o trabalho administrativo do enfermeiro acaba beneficiando indiretamente o cliente, ou seja, mesmo sem prestar uma assistência direta, o enfermeiro quando planeja, coordena, gerencia suas ações, ou quando avalia os resultados, tem por objetivo o aumento da qualidade de atendimento ao cliente. Essa realidade pode ser evidenciada a seguir:

"Todas as ações administrativas e assistenciais bem feitas e organizadas refletir-se-ão no bem-estar do paciente."

"Administrando, o enfermeiro consegue melhor distribuir as rotinas diárias."

Salientamos que nos surpreendeu que todos os administradores consideram que administrar é uma forma de prestar assistência. Esperávamos que considerassem a administração como forma de resolver problemas que beneficiariam a instituição.

PERGUNTA 6

- Como você percebe a assistência prestada ao paciente pelo enfermeiro?

Relativo a essa questão, sentimos que, de maneira geral, os administradores acham deficiente a assistência prestada pelo enfermeiro, visto que executam em demasia ações administrativas burocráticas em detrimento das assistenciais. Afirmamos isso com base nas seguintes falas:

"Deve ser a continuação do atendimento médico e administrativo..."

"A assistência deveria ser prestada mais de perto."

Apesar de cinco dos seis administradores acharem deficiente, um deles acha adequada a assistência prestada pelo enfermeiro.

"... através de pesquisa realizada pelo serviço social... acho adequada."

Nessa fala, o profissional faz uma avaliação do enfermeiro em relação à assistência prestada por ele com base em resultados de pesquisa realizada com pacientes e responsáveis. Notamos que ele próprio não tem uma percepção clara sobre a conduta do profissional.

PERGUNTA 7

- Em sua opinião, é o enfermeiro o elemento ideal para executar tais "Ações Administrativas"?

100% dos administradores consideram que sim, ou seja, a função administrativa é adequada para o enfermeiro, já que, segundo os administradores, é ele quem tem (ou deveria ter) o preparo e o conteúdo para a execução dessas ações relacionadas à assistência de enfermagem. Pelas falas abaixo, essa afirmação fica mais clara:

"O corpo de enfermagem tem vivência direta nas atividades hospitalares..."

"Porque o enfermeiro, na sua formação, tem a atenção voltada para o paciente..."

"... é o profissional dentro da complexidade hospitalar que interage com todos os outros serviços..."

Cabe acrescentar que, segundo um dos administradores, as atividades burocráticas como passar escala a limpo, levar comunicados ao Departamento Pessoal, etc. poderiam ser executadas por uma secretária, assim haveria mais tempo para o cliente, que é a razão de existência do hospital.

 

CONCLUSÕES

Notamos que o enfermeiro envolve-se em demasia com atividades que visam os interesses da instituição, executando ações administrativas burocráticas em detrimento das assistenciais.

Este estudo partiu da necessidade de se entender alguns questionamentos acerca das atividades administrativas executadas pelo enfermeiro. Para um melhor entendimento, utilizamos a classificação adotada por Xavier et al. (1987) que procuraram conceituar a assistência de enfermagem categorizando-a nas diversas ações já citadas.

Percebemos pelos dados obtidos que a expectativa dos administradores em relação ao trabalho administrativo dos enfermeiros é que os mesmos executem mais este tipo de atividades, ou seja, que tenham capacidade de coordenar, operacionalizar uma assistência mais adequada.

Após serem levantadas as expectativas, os profissionais foram questionados a respeito do que faz o enfermeiro. Este estudo nos demonstrou que o que o enfermeiro faz condiz com o que os administradores esperam do trabalho executado por ele, ou seja, atividades administrativas na maioria das vezes.

Em relação ao entendimento das "Ações Administrativas" realizadas pelo enfermeiro, notamos que a maioria dos administradores demonstraram ter conhecimento sobre o assunto. No entanto, vale ressaltar que grande parte das respostas evidenciaram uma tendência a entender ações administrativas como aquelas relacionadas à burocracia e o cumprimento das exigências institucionais.

Os administradores foram questionados a respeito da execução ou não de "Ações Administrativas" nos respectivos hospitais. Em todos eles (100%), os enfermeiros executam tais ações. Quando citaram quais são essas atividades administrativas, demonstraram congruência com a resposta anterior, ou seja, as atividades que eles entendem ser de natureza administrativas são, na sua maioria, as executadas pelo profissional de enfermeiro.

Frente à dificuldade de entendimento do verdadeiro papel do enfermeiro, inclusive pelo próprio profissional, sentimos a necessidade de questionar aos administradores se eles consideram que as "Ações Administrativas" fazem parte ou não da assistência de enfermagem. Para nossa surpresa, 100% deles responderam que sim, entendendo que administração é também uma forma de prestar assistência, pois administrando, o enfermeiro beneficia o cliente, garantindo maior qualidade no atendimento do mesmo.

Contraditoriamente, quando questionados sobre como percebem a assistência prestada ao paciente pelo enfermeiro, os administradores concordaram em dizer que é deficiente, pois o enfermeiro executa demasiadamente ações administrativas em detrimento de outras ligadas à assistência. Nesse momento, parece que os administradores desvinculam as atividades administrativas da assistência de enfermagem.

Analisando as respostas obtidas relativas à opinião dos administradores sobre o enfermeiro como elemento ideal para executar as "Ações Administrativas", pudemos avaliar que 100% deles consideram que sim, ou seja, há uma homogeneidade por parte dos entrevistados de que a função administrativa é adequada para esse profissional. Isso porque é o enfermeiro quem tem o preparo e o conhecimento para a execução dessas ações relacionadas à assistência de enfermagem.

Colocados tais fatos, podemos dizer que, para os administradores, o enfermeiro deve executar ações administrativas e que elas são de extrema importância para a assistência de enfermagem, visto que direta ou indiretamente o cliente hospitalar é beneficiado através da garantia da qualidade no atendimento.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1986. 231p.

MINAYO, M.C.S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. 80p.

OLIVEIRA, M.I.R. Enfermeira como coordenadora da assistência ao paciente, 1972. 87p. Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; Ribeirão Preto.

TREVIZAN, M.A. et al. Shuggling for the establishment of a new ethics to nurses managerial work. In: WORLD CONGRESSION MEDICAL LAW, 12. Siófok, Proceeding. Hungary, 1998. p. 656-66.

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NOTA

1Trabalho apresentado no 52º Congresso Brasileiro de Enfermagem em 2000.

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