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Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
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CAPES

Volume 6, Número 1, Jan/Abr - 2002

DISCURSO

 

Desafios da enfermagem e perspectivas de ação da EEAN1

 

Nursing challenges and EEAN's prospects

 

Desafíos de la enfermería y perspectivas de la acción de la EEAN

 

 

Maria Antonieta Rubio Tyrrell

Drª. Profª Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da EEAN/UB/UFRJ e Presidente da ABENFO Naciona. Membro da Diretoria do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Mulher - NUPESM/DEMI/EEAN. Pesquisadora 1c do CNPq

 

 


RESUMO

O presente texto trata do discurso de posse da Diretora eleita, da Escola de Enfermagem Anna Nery - EEAN/UFRJ, gestão 2002-2006, proferido em 19/02/2002. Nele aborda-se o significado da data em que foi incorporada a primeira turma de enfermeiras da EEAN, em 1923, e seu impacto enquanto saudação de bem-vindas a todas as futuras gerações de alunas. Apresenta-se em forma cronológica os nomes e mandatos de todas as Diretoras da Escola, como uma forma de prestar homenagem, neste ano em que completamos 79 anos de história. Destaca-se resumidamente o papel político social do país e sua influência na Universidade e na EEAN. Enfatiza-se o papel da Escola considerando que a sociedade conclama a Universidade, com urgência e esperança, para que seja vanguarda para o desenvolvimento, na sua condição privilegiada de deter a elite intelectual. Descreve as propostas de trabalho da nova Diretoria apontando os desafios e perspectivas de ação.

Palavras-chave: Enfermagem. Discurso.


ABSTRACT

This text is related to the inauguration speech of Anna Nery School of Nursing's (EEAN/UFRJ) elected Dean for the 2002-2006 period, made in February 2nd, 2002. Here we look into the significance and the impact of the date when the first class of EEAN's nurses was incorporated, in 1923, as a welcome salutation to all future generations of students. We present, in chronological order, the names and terms of of all deans, as a means of paying them tribute, in the year when we complete 79 years of history. We highlight, briefly, the political and social role of the country and its influence in the university and EEAN. The role of the School is emphasized, considering that society demands the university, with urgency and hope, to be the leading edge for the development, since it has the privileged condition of holding the intellectual elite. It also describes the work proposals of the new board, pointing out the challenges and prospects for the School.

Keywords: Nursing. Speech.


RESUMEN

El presente texto trata del discurso al asumir el cargo de Directora de la Escuela de Enfermería Anna Nery - EEAN/UFRJ, gestión 2002-2006, proferido en 19/02/2002. En el abordamos el significadode la fecha en que fué incorporada la primera promoción de enfermeras de la EEAN en 1923 y el impacto cuanto al saludo de bien venidas a todas las futuras generaciones de alumnas. Presentamos de forma cronológica los nombres y los mandatos de todas las Directoras de la Escuela, como una forma de prestar homenaje, neste año en que completamos 79 años de história. Destacamos de forma resumida el papel político-social del país y su influencia en la Universidad y en la EEAN. Se enfatiza el papel de la Escuela considerando que la sociedad conclama a la Universidad, com urgencia y esperanza, para que sea vanguarda para el desarrollo, en su condición privilegiada de detener la élite intelectual. Se describen las propuestas de trabajo de la nueva Directoria aseñalandose los desafios y las perspectiva de acción.

Palabras-claves: Enfermería. Desafios.


 

 

O dia 19 de fevereiro é para as enfermeiras da Escola de Enfermagem Anna Nery um dia de muito júbilo, em outras palavras é um dia de festa e significa o dia em que a escola recebeu no seu recinto as suas primeiras alunas, em 1923. A história registra que um ano depois a primeira turma festejando essa data como grandiosa, deliberou que ela fosse denominada Dia das Bem-vindas; esta vez com a conotação de que a Escola abriria os seus salões para receber as suas amigas. Muitos eventos de grande relevância foram comemorados nessa data e nela sempre lembrando a Mrs. Ethel Parsons e a primeira Diretora da Escola, Miss Louise Kienninger.

É claro que neste pronunciamento, nesta data em que comemoramos 79 anos de vida e neste ano que atingimos 30 anos de Pós-Graduação stricto-sensu não posso omitir a citação de todas (14) as Diretoras que já dirigiram tão dignamente a EEAN, e o faço como uma justa homenagem: Louise Kienninger (1922-1925); Loraine G. Denhardt (1925-1928); Bertha L. Pullen (1928-1931 e 1934-1938); Rachel Haddock Lobo (1931-1933); Lays Neto dos Reys (1938-1950); Waleska Paixão (1950-1967); Maria Dolores Lins de Andrade (1967-1971); Elvira de Felice Souza (1971-1975); Cecília Pecego Coelho (1975-1980); Cilei Chaves Rhodus (1980-1985); Vilma de Carvalho (1986-1989), primeira Diretora eleita por voto direto do corpo social); Raimunda da Silva Becker (1990-1993); Maria Cecília Cordeiro Pedro (1994-1997) e Ivone Evangelista Cabral (1998-2001), todas bem-vindas!

Hoje, após 79 anos, estamos, uma vez mais, comemorando esta data, embora com simplicidade, mas com o significado da grandeza desta cerimônia na qual toma posse a 15ª Diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery, sendo a primeira do Novo Milênio, da Era de Aquário, da época que, segundo Leonardo Boff, é Tempo de Transcendência. Para mim, em que pese os 28 anos de trabalho na EEAN, inicia-se um novo rumo e um grande desafio para transpor os limites da enfermagem e poder alcançar (com a ajuda de Deus, do corpo social desta escola e das autoridades desta universidade) a essência da vida e da existência, e aqui refiro-me à cidadania e à justiça social. É, neste espírito de comemoração e de reconhecimento de nossos direitos, com o encanto desta festa, que me declaro com muita honra e satisfação empossada como Diretora desta Escola, que sejam todos bem-vindos à poderosa Escola de Enfermagem Anna Nery, isto no dizer do saudoso Professor e Magnífico Ex-Reitor da UFRJ - Horácio Macedo; a primeira a ser implantada no Brasil no modelo de Enfermagem Nigthingale e a primeira a implantar nos programas de Pós-Graduação os Estudos Comparados Latino-americanos e um Curso de Doutorado na América do Sul (UNT/Trujillo/Peru). Todos sejam bem-vindos: professores (ativos e aposentados), alunos e ex-alunos (de graduação e pós-graduação), funcionários (ativos e aposentados), autoridades presentes e/ou representadas, todos os amigos, meus familiares, todos sejam bem-vindos!.

Falar sobre nosso processo eleitoral é falar de um movimento de uma comunidade que muito me honra representá-la, que acredita na verdade e principalmente uma luta pela democracia; é falar sobre tempo de transcendência mesmo, por isto denominamos a nossa chapa de Transcendência, que, em nosso entender e concordando com o grande poeta argentino Martín Fierro, tempo significa "a tardança daquilo que está por vir ". E, por isto, sem querer quebrar nossa alegria nem o encanto desta festa, conforme afirmamos em nossa carta de intenções ao concorrer para o cargo de Diretora, não podemos deixar de registrar que nos preocupam muitas questões do ponto de vista mais amplo, considerados os aspectos históricos, políticos e sócioeconômicos que abrangem um estado de crise nacional e internacional que se dá em dois níveis de relações. De um lado, as relações do Estado com a Sociedade e de outro, da Universidade brasileira com a Sociedade.

Nesse sentido, não podemos deixar de reconhecer que a Universidade brasileira vive um processo de forte transformação, principalmente no que se refere à sua função histórica e social. Nessa perspectiva, há que considerar seu conflito interno e a busca de alternativas de consenso e fortalecimento de empreendimentos de interesse institucional comum favorecendo o critério de inclusão e de respeito para obter uma harmonia no trabalho cotidiano. Assim, acreditamos que todas as pessoas envolvidas nesse processo têm um compromisso com a gestão acadêmica na luta pela melhoria da qualidade de ensino, da pesquisa, da extensão universitária e no entendimento e atendimento às novas demandas sociais.

Nesse contexto, a Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade do Brasil/UFRJ está inserida e, como consequência, depara-se com grandes desafios na formação de pessoas livres, críticas e responsáveis para o pleno exercício da cidadania, da democracia, da solidariedade e da equidade social. Dessa forma, também é necessário rever e atualizar as temáticas e os projetos relacionados com os processos de globalização neoliberal e dos programas de ajustes, dos impactos nas áreas da educação, da saúde e do trabalho, em especial, o mercado de trabalho no qual se insere e atua a enfermagem. Portanto, é fundamental a atualização temática - no plano das idéias e das ações - do ponto de vista econômico, científico, tecnológico, social, político e cultural, para assim considerar sua influência nos cinco Departamentos, três Coordenacões gerais, oito Núcleos de Pesquisa, no Diretório Acadêmico, em todos os Programas e na própria Escola.

Nossas propostas relacionadas durante a campanha eleitoral num quantitativo de 23, embora classificadas em nossa carta de intenções como lutas necessárias para novos empreendimentos (12) e ações que visam a continuidade dos empreendimentos (11), traduzem dez grandes perspectivas de trabalho da nossa gestão e que passo a enunciar:

1. gerenciamento acadêmico e administrativo participativo com aproveitamento do potencial humano de que dispomos;

2. valorização do ambiente, do relacionamento interpessoal e do respeito às pessoas independente de cargos, qualificações, categorias do corpo social e de outros critérios de exclusão, consideradas as potencialidades e as limitações de cada um;

3. promoção de uma política de qualificação do corpo social e de estratégias que assegurem melhores condições de estudo e de trabalho;

4. apoio e fortalecimento das condições de infra-estrutura para a melhoria dos quantitativos e qualitativos da produção científica e técnico-cultural;

5. previsão de estratégias para o fortalecimento dos Cursos de Pós-Graduação, Graduação e Extensão consolidando suas articulações (internas e externas) com a Pesquisa;

6. apoio ao Centro de Documentação, à Biblioteca, à Central de Eventos, à Secretaria dos Cursos e à continuidade da Revista de Enfermagem e da Editora da Escola Anna Nery;

7. fortalecimento do processo de integração da EEAN com o complexo hospitalar da UFRJ e fora desta não só com a rede pública, mas principalmente com a rede privada bem como favorecer o processo de participação comunitária;

8. ampliação das parcerias entre a EEAN e seus Departamentos com a mídia e a UTV, com os movimentos sociais, as redes, as ONGs, as Associações de Classe e da sociedade civil, os conselhos comunitários e outras instâncias com representações dos usuários;

9. promoção de estratégias para o desenvolvimento dos Núcleos de Pesquisa e de estratégias de apoio para suas interfaces de articulação (interna e externa) e de realização de eventos técnico-científicos;

10. incentivo à ampliação de convênios internacionais com instituições de Ensino Superior de Enfermagem e afins, bem como intercâmbios, projetos bilaterais ou multicêntricos de pesquisa.

Meu manifesto explícito é que, mesmo considerando o momento crítico em que vive a sociedade brasileira, dirigir a Escola de Enfermagem Anna Nery da UB/UFRJ representa uma ousadia e pressupõe coragem para enfrentar esses grandes desafios que, na minha opinião pessoal, convergem em dois aspectos fundamentais: a missão institucional e o compromisso com a sociedade e o papel de vanguarda para o desenvolvimento. Aqui, há que considerar que a sociedade conclama a universidade, com urgência e esperança, para que seja vanguarda para o desenvolvimento, na sua condição privilegiada de deter a elite intelectual; há que compreender também que a sociedade espera que a universidade desempenhe seu papel social, oferecendo pistas, rumos e propostas concretas diante de tamanho desafio de enfrentar, entre outros tantos problemas, aquele que, na minha opinião pessoal, é o mais grave e que se relaciona com a administração da miséria (não só de dinheiro, de recursos humanos, materiais, mas também a miséria dos afetos e das emoções).

Nesse sentido, a sociedade requer estratégias mais seguras e emancipatórias para os grandes problemas educacionais e de saúde doença de que a população brasileira padece. Os típicos produtos do espírito humano podem degenerar na instrumentalização dos homens, mas igualmente podem frutificar na construção de alternativas de humanização; e aqui reafirmamos nosso compromisso com a educação como fator fundamental da cidadania e da produtividade (DEMO, 1997). E entendemos a enfermagem como uma profissão da área da saúde, liberal, autônoma e de necessidade político-social. Acreditamos na enfermagem como uma prática social aplicada, no dizer da Profª. Drª. Maria Cecília Puntel de Almeida, da EERP/USP; uma arte da técnica, da estética e da ética, no dizer da Profª. Drª. Elvira de Felice Souza, da EEAN/UFRJ; uma prática viva - efêmera, graciosa e perene, no dizer da Profª. Drª. Vilma de Carvalho, da EEAN/UFRJ e uma prática subjetiva-ecológica, no dizer da Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo, da EEAP/UNIRIO. Em suma, entendemos a ENFERMAGEM COMO A MAIS BELA DAS ARTES, no dizer de sua fundadora Miss Florence Nightingale.

Assim, para finalizar, poderiamos dizer muitas coisas e expressar muitas reflexões sobre transcender, ma,s em suma, gostaria de registrar que em tempo de transcendência somos seres de Protest-Ação. Isto significa um desafio, talvez, o mais secreto e escondido do ser humano, onde homens e mulheres somos seres de ação de protesto. E, assim, nos declaramos críticos, protestando continuamente, recusando-nos a aceitar a (triste) realidade na qual estamos mergulhados porque somos mais e nos sentimos maiores do que tudo o que nos cerca (BOFF, 2000, p. 22).

Muito obrigada a todos os que aqui compareceram.

 

NOTA

1 Discurso proferido em 19/02/2002, por ocasião da posse da Diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ, no Pavilhão de Aulas, na cidade do Rio de Janeiro - RJ.

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