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Volume 6, Número 1, Jan/Abr - 2002

EDITORIAL

 

As repercussões do século XX: desafios da enfermagem da nova era

 

 

Isabel Cristina dos Santos Oliveira

Doutora em Enfermagem. Coordenadora de Ensino de Graduação e Corpo Discente da EEAN/UFRJ. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Membro da 1ª Diretoria Colegiada do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem Hospitalar. Pesquisadora/CNPq

 

 

Nos primórdios de um novo milênio, as questões históricas, socioculturais e econômicas, entre tantas outras, imprimem um tempo de reflexão crítica acerca das repercussões de um dos séculos mais importantes na história da humanidade o século XX.

No tocante às questões inerentes à enfermagem, este novo tempo exige dos profissionais, cada vez, a apreensão da profissão como prática social e a construção de um saber de cunho técnico e científico específicos, com vistas ao fortalecimento do seu espaço na comunidade científica.

Torna-se necessário a tomada de consciência quanto à vivência e participação neste momento de profundas e extensas mudanças no fazer e pensar em enfermagem, tendo em vistas que " estamos construindo a história de uma época".

Os artigos deste volume permitem uma "pequena viagem" nas tendências da prática da enfermagem em diferentes vertentes, no século XX, que estão influenciando fortemente o alvorecer do século XXI.

Os anos 30 e a deflagração da 2ª Guerra Mundial demarcam um período relevante na história do setor saúde no país, que se caracterizou pela implementação das ações curativas em detrimento das ações preventivas. Três artigos desta revista contribuem para o maior entendimento do contexto histórico-social da época e da história da enfermagem brasileira.

O avanço tecnológico no contexto mundial teve grande impulso, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, ganhando dimensões significativas no Brasil. A crescente industrialização no pós-guerra possibilitou avanços em determinadas áreas, na saúde, com a importação e utilização em grande escala de equipamentos e a criação das primeiras Unidades de Tratamento Intensivo(UTIs) entre o final da década de 60 e o início dos anos 70, tendo como origem os centros de recuperação cirúrgica de hospitais universitários. Os riscos ocupacionais no contexto do cuidado intensivo; as experiências vivenciadas pelo paciente após a alta de uma Unidade de Tratamento Intensivo; e a atuação do auxiliar de enfermagem num centro cirúrgico especializado em cirurgia cardíaca remetem o leitor para uma reflexão criteriosa no uso da tecnologia, como um instrumento privilegiado para a transformação da prática no setor saúde, em destaque na enfermagem.

O artigo "Prática criativa da enfermagem psiquiátrica: fatores intervenientes no seu desenvolvimento", que enfoca a prática numa área específica em diferentes serviços de saúde do Estado do Rio de Janeiro, traz à tona as transformações de um cuidar diferenciado decorrente da Reforma Psiquiátrica instituída no século XX, que valoriza a singularidade de cada paciente, criticando, de forma contundente, o modelo nosocomial.

Neste horizonte que distingue o novo milênio, firmam-se novas áreas de atuação da enfermagem, entre elas a capacitação profissional dos estudantes para lidar com a criança portadora de deficiência mental, com vistas a entender a discriminação e segregação social deste grupo e a necessidade de uma intervenção específica, visando a integração na sociedade. Um texto que faz parte deste número abre novas possibilidades para a enfermagem no tocante à deficiência mental.

A grande expansão da sociedade nas questões econômicas e sociais reflete diretamente no setor de serviços, desafiando diferentes campos de atuação, entre eles a administração dos serviços de enfermagem. Um outro texto enfoca as diferentes facetas do modelo administrativo adotado no cenário hospitalar, enquanto outro artigo ressalta um novo modelo gerencial para projetos de saúde, em destaque na área de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, no caso, a síndrome de imunodeficiência adquirida.

No final do século XX, uma temática trouxe inquietações para a enfermagem, trata-se do acelerado envelhecimento populacional decorrente da melhoria do padrão de vida(alimentação, habitação, saneamento básico, educação, entre outros). No Brasil, o envelhecimento demográfico inicia-se na década de 60 com a redução da taxa de natalidade associada ao aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de mortalidade. As causas da inserção de idosos numa instituição asilar é o foco da pesquisa apresentada neste número da revista, demonstrando a relevância de estudos na área de gerontologia e geriatria neste início do século XXI, visando a formação de recursos humanos na área de enfermagem para atender essa clientela.

Para avançar nas indagações e reformulações que envolvem a prática da enfermagem neste próximo milênio, torna-se premente assumir o grande desafio na consolidação da pesquisa científica, visando a legitimação da profissão. Um texto conclama a responsabilidade da enfermagem, destacando os marcos fundamentais da pesquisa e sua institucionalização através de publicações de autoria de figuras importantes da profissão, bem como a criação de cursos de pós-graduação "stricto sensu" e eventos pertinentes à temática. Um outro texto constitui um marco na história em construção por enfocar as linhas de pesquisa e prioridades de enfermagem, as quais foram discutidas na Oficina de Pós-Graduação ocorrida em 1999 por ocasião do 51ºCongresso Brasileiro de Enfermagem e o 10º Congreso Panamericano de Enfermeria em Florianópolis-Santa Catarina.

Neste cenário de crises, desafios e perspectivas do século que se inicia, a Diretora eleita da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro destaca os 79 anos de história da enfermagem, representada pela EEAN, e reafirma os desafios desta época diante da crise que atinge a universidade brasileira, em particular a UFRJ na qual está inserida a EEAN.

Neste momento, apenas as palavras do escritor Guimarães Rosa: "Os rios não querem chegar, mas querem apenas ficar mais largos e mais profundos".

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